Okay! Tudo bem! Já tinha percebido que aquilo era um sonho. Claro! Jamais encontrar-se-ia em uma banheira vitoriana cheia de uma água cristalina que vira sangue, literalmente, em uma piscar de olhos. Admitiu. Talvez em tempos antigos fizesse (lê-se: Fez) coisa do gênero. Porém não foram essas circunstancias que denunciaram a ilusão de sua pervertida mente, mas sim o prazer dividido com a mulher de pele clara manchada em vermelho. Podia ser um sonho, mas como dizem: ‘Se está no inferno, seja o capeta’ ou qualquer coisa parecida. Segurava as coxas femininas enquanto sua dona gemia seu nome e brincava com seu pescoço frio. Ele riu vitorioso quando a Hellsing reclamou aos sussurros por ter seus movimentos pausados pelas mãos masculinas em seu quadril. Sabia que aquilo era um sonho porque jamais teria a mulher dessa forma, ela jamais se entregaria de bom grado, tão facilmente. Ou talvez sim! Talvez ela faria tudo isso, mas não antes de tortura-lo o máximo que puder, e era esse sadismo que o excitava. E até que ponto do sadismo ela iria? Ele esperava que além do máximo deste. Estava realmente acostumado com a servidão.

“Mestre” o gemido feminino o interrompeu pelo que seria a terceira vez, mas por ele ouvido a primeira.

“Oh! Não, minha Senhora! Prefiro seu sadismo, não me chame assim” Tentou pedir enquanto sentia as mãos finas em seu peito. Ouviu um riso divertido, mas não o entendeu.

“Mestre” Escutou outra vez reclamando qualquer coisa em seguida “Mestre” dessa vez dou-lhe os ouvidos, a voz parecia mais aguda e mais distante. Cada vez mais distante, quase sumindo, para depois reaparecer mais alta e mais próxima. Reclamou qualquer coisa abrindo os olhos.

“Mestre!” A policial estalava os dedos em frente ao seu rosto, ela carregava uma expressão de repreensão que se tornou divertida.

“O que você quer, Policial?” Resmungou se arrumando na cadeira para voltar a dormir.

“Não, não, não! O Senhor mandou acordá-lo de manhã!” Ela protestou quando ele voltou a fechar os olhos.

“Boa noite, Policial” Decidiu ignora-la e tentar voltar para seu agradável sonho anterior.

“O Senhor quem sabe” Ela desistiu saindo da sala, mas parou no batente da porta “Mas sua encomenda chegou!” Sorriu batendo a porta.

A última frase foi o suficiente para o par de olhos vermelhos se abrirem e acompanharem um sorriso maléfico. Agora lembrara porque a deu a ordem à Policial.

Mais ou menos um mês atrás encomendou algo para o dia excêntrico que seria hoje. Festival da Renascença. Todo ano a cidade fazia um, mas dessa vez a Rainha daria seu apoio moral e econômico, com maior orçamento a festividade prometeu ser grandiosa, com uma pequena simulação de jogos medievais e com a rara presença da nobreza britânica, devidamente caracterizada. Integra, claro, deu uma de suas crises de criança mimada, não queria ir de maneira nenhuma, achava perda de tempo e de recursos, mas como é um bom cãozinho da Coroa, bastou uma ordem severa para confirmar presença (com muita má vontade) ao evento.

O pacote de papel pardo que lhe foi entregue embalava o que seria seu maior trunfo. Um vestido longo de veludo vermelho com detalhes em fios de ouro, nem um pouco parecido com os das princesas de sua época, claro, mas cairia muito bem para a ocasião. Carregava o pacote pelos corredores enquanto viajava mentalmente imaginando a Hellsing preenchendo o vestido. Estava com uma verdadeira cara de paisagem quando entrou no escritório por uma das paredes.

“Mas que diabos?” Integra levantou uma sobrancelha encarando o vampiro de frente trajando o que seria uma exagerada armadura de cavaleiro medieval de um prateado tão escuro que quase alcançava o negro da longa capa que o acompanhava de modo sombrio. Respirou fundo encarando o maldito sorriso. Contou até dez mentalmente tirando os óculos. “Primeiro: tire essa merda de sorriso da cara, Segundo: que diabo faz acordado a essa hora da manhã? Terceiro: Que porra de roupa é essa?”

“Meu traje a caráter para o festival de hoje à tarde” Ele sorriu “E esse é o seu” Estendeu-lhe o compacto pacote pardo. Integra cruzou os braços o encarando. “O vestido está a sua altura” riu “Eu juro!”

“Pensei que você, mais do que ninguém, saberia que esse tipo de vestimenta tinha objetivo de proteção ao frio, logo jamais caberia nessa modesta embalagem!” Sorriu vitoriosa.

“Ah! Mas é claro que eu sei como eram, afinal, já tirei vários deles” Sorriu malicioso quando o sorriso dela desmanchou “Mas...” Colocou o pacote na mesa de madeira entre eles “Os tempos são outros, um vestido um pouco mais moderno para uma mulher moderna” Acenou com a cabeça.

“Por que está vertido de cavaleiro se não passa de um servo?” Jogou confiante.

“Porque estou escrito no pequeno campeonato de combate com espadas” Integra abriu a boca para soltar algo ácido, mas foi interrompida “Espero ganhar o torneio, para ter como prêmio final” Segurou o queixo da mulher com uma das mãos “O beijo de uma bela dama, claro que em meu tempo ganhávamos muito mais do que um beijo, mas por hora só ele já basta” Aproximou-se, provocante, o rosto do dela que estava mais frio que o normal. Foi afastado antes que pudesse tentar algo.

“O que te faz achar que vai ganhar?” virou-se em direção a janela com o maior escárnio que podia demonstrar.

“Já lhe roubei tantos beijos, mais um é fácil!” Respondeu dando de ombros. A Hellsing rolou os olhos.

“Me refiro a justa”

“Duelo” corrigiu.

“Foda-se”

“Caso não se lembre das aulas de história de Arthur, fui o melhor de minha época” Sorriu metido.

“Depois de tantos anos usando o par de armas de fogo?” Riu alto “Está deveras enferrujado, no mínimo”

“Ponha o vestido, à tarde veremos quem está certo!” Desapareceu da sala deixando o rastro de sua maldita risada.

Alucard estava mais ansioso do que nunca (salvo a noite maldita do maldito francês) Fizera sua inscrição com bastante antecedência e aproveitou à tarde anterior aos desafios para verificar a autenticidade da festa. Nada parecida com sua época, como já imaginava. A clareira do bosque de um dos parques escolhidos para o festival estava enfeitada com bandeirinhas de papel colorido e vibrante, com barracas de comida, bebida e inutilidades para todos os lados, além de pessoas fantasiadas, erroneamente ao ver do vampiro. Algumas garotas queriam se mostrar para seus pares usando vestidos apertados, decotados e/ou sensuais de mais para a época, tudo o que tinha pedido para por no de Integra, e a costureira fez um bom trabalho, tinha as medidas da mulher de cor, cortesia (roubada) de Walter que as tirou há alguns meses para o vestido vitoriano para o baile de São Valentin da Rainha. Enquanto passeava pela sombra entre o festival acabou por criar um fanclub de adolescentes com hormônios à flor da pele, aquele dia estava prometendo ser maravilhoso. Com exceção de uma coisa: Um maldito cheiro de uma erva qualquer que lhe incomodava as narinas. Descobriu que o maldito cheiro vinha do chão, aquela clareira não estava ali por acaso, foi feita ‘acidentalmente’ por uma queimada e no chão enfiaram toda palha e erva seca que encontraram a fim de esconder o crime ambiental. Não sabia se era o eucalipto seco ou a própria terra e raízes queimadas que o atrapalhava, mas o estava tirando do sério.

O incomodo era irrelevante se comparado com seu pseudônimo subindo das chaves de grupo do torneio. Riu lendo o nome escrito. ‘Cavaleiro Negro’ responsabilidade de seu recém formado fan club. Além disso as garotas criaram um apelido para o pseudônimo: “Sir Darkness” Alucard só podia rir com as adolescentes que o perseguiam, adorava ganhar toda a atenção do mundo. Mas ainda não tivera a que mais queria. Não encontrara Integra em nenhum lugar do festival (que se arrastava a algumas horas), para ajudar nem mesmo o doce cheiro do sangue virgem da Hellsing era reconhecível entre o cheiro de pinho, grama, eucalipto e terra queimada. Mas não importava, ela poderia se esconder onde fosse, quando ele desarmar seu último oponente teria o prêmio, de uma forma ou outra.

Olhou para o nome posto na chave ao lado da sua. Riu com gosto, a ponto de todos na tenda de descanso o encararem, com ódio, claro, estava na final invicto, assim como seu próximo oponente: Sir D'Arc. Colocou o capacete e pegou a espada sem corte obrigatória para o torneio, uma pena, em sua época a última luta era com lâminas perfeitamente afiadas.

Seu ego cresceu quando entrou na arena, não é para menos, seu clubinho cresceu com as vitórias, aproveitou o momento para procurar por Integra na arquibancada, mas foi impedido pela garota policial gritando-lhe boa sorte da arquibancada, assim como aquele mercenário. Admitiu, a menina ficou muito bonita com a fantasia de camponesa. Sua atenção foi interrompida quando o outro oponente entrou na arena. E para sua surpresa, esse também tinha um pequeno fan club. Ouviu um burburinho sobre ele antes de ir a campo. Fez pequena fama porque não tirava o capacete, mesmo depois da luta. Passou os olhos pelo adversário, sentiu dó por um instante, ele era bem menor que o Velho Vampiro, decidiu que pegaria leve, para o bem da honra do rapaz, seria muito cruel (até para ele) humilhar o jovem na frente de toda aquela gente em êxtase.

Estava se divertindo no decorrer de três minutos de luta, claro que preferiu maneirar em suas ‘habilidades extras’ desde o inicio do torneio, caso contrário seria injustiça de mais, mas nessa luta estava especialmente relaxado até quase ser acertado no abdômen pela espada cega. Ferveu-lhe o sangue gelado inicialmente, ganhou espaço entre o oponente e decidiu que ia se divertir mais dessa vez.

“Quero ver o rosto de meu oponente, Sir D’Arc” Pronunciou em voz alta tirando o próprio capacete, queria mesmo saber, quase ganhou um golpe, não que o machucaria, mas um toque já era perto de mais.

O outro cavaleiro rodou a empunhadura da espada nas costas da mão direita. O Vampiro entendeu aquilo como um não, mas a platéia decidiu incentivar o convite e o oponente de armadura prateada e brilhante não teve outra escolha. Abaixou a espada segurando, com a mão livre, o capacete próximo ao pescoço, tirou o equipamento revelando fios dourados presos em um cabo de cavalo baixo já completamente desalinhado.

Alucard sorriu surpreso com a revelação, por essa não esperava. Integra levantou o rosto imponente voltando a levantar a espada.

“Sir D’Arc?” Perguntou cínico.

“Já ouvir falar de Joana D’Arc, Alucard?” questionou cruzando as espadas. O Servo apenas riu com o trocadilho com o nome. Mas ele notou o olhar severo da Rainha sobre sua mestra. A loira terá que se desculpar por derrotar facilmente metade dos jovens nobres. Andaram alguns passos ainda com as lâminas cruzadas.

“Não foi Deus que pediu para lutar comigo, foi?” Divertiu-se tentando penetrar na defesa da mulher.

Integra preferiu ignorar, estava concentrada na luta. Travaram as lâminas novamente.

“Por que preferiu a armadura? O vestido não a agradou?” Questionou dando-lhe uma investida a qual a mulher se desvencilhou.

“Tempos modernos, servo” Sorriu barrando a lâmina dele com a sua “Vermelho não é minha cor” Completou divertida voltando a andar em círculos com a ponta de sua espada mirada ao rosto do homem.

“Digo o contrario, minha senhora, vermelho de fato é sua cor” investiu mais uma vez, agora com mais sucesso, aproximou-se da mulher que lutava para barra-lo com sua espada, estava perto de mais podia sentir a respiração quente e ofegante dela. “Sua lingerie vermelha é prova disso” Sussurrou malicioso.

Integra irritou-se empurrando-o, dessa vez com maior facilidade. Segundos depois de diversos ataques derrubou-o no chão. Ele estava com aquele maldito sorriso vitorioso, mesmo estando a milímetros de uma espada apontada para si.

“Vai facilitar porque sou mulher?” Tocou-lhe o pescoço descoberto com a ponta da lâmina, enquanto esperava a resposta sentiu os olhos censurantes da rainha sobre si.

“Não minha senhora, foi um descuido de minha parte” Ele riu quando ela levantou uma sobrancelha “De distraí imaginando-a com a dita lingerie” sorriu malicioso com a mestra nervosa enfiando a ponta da espada no solo próximo ao rosto do homem no chão.

A identidade do tal Sir D’Arc causou desconforto para os demais cavaleiros, mas nada que uma hora de discussões regada à bebida não tenha resolvido. No fim, Integra ganhou o torneio, nada muito estranho, afinal costumava sempre ter um lugar no podium em campeonatos de esgrima. Mais uma menção honrosa que os rapazes nobres teriam que aceitar perder para a Hellsing.

Tirava algumas partes da armadura quando Alucard apareceu na área reservada da tenda.

“Desapontou muitas garotas, Sir, elas achavam que teriam um par essa noite” Referiu-se ao fanclub que o Sir D’Arc criara sem querer.

Integra limitou-se a um aceno com a cabeça sem virar-se para ele, nem era preciso, ele já estava bem próximo quando deu por si.

“Ganhou, oficialmente, o torneio” pronunciou baixo “Devo cumprir o trato!”

Antes que a loira pudesse vangloriar-se por estar certa o tempo todo lábios frios preencheram os seus em um beijo realmente inesperado, tão inesperado que estava congelada, voltou a si quando não sentiu mais o formigar em seus lábios.

“Não foi esse o acordo” Foi só o que conseguiu pronunciar ainda com os olhos fechados.

Alucard riu.

“Claro que foi, o vencedor ganha um beijo!”