– A resposta é não! – O diretor Rubens negou pela décima vez desde que eu entrará por aquela porta. – Eu já expliquei e vou explicar de uma maneira clara agora: Você não está autorizada a participar da competição.

– Isso é um ultraje! Eu quero participar, eu posso ganhar a competição. – Tentei argumentar, mas estava sendo em vão. O diretor estava decidido e eu não sabia como fazer muda-lo de opinião.

– Ano passado tivemos problemas, lembra senhorita Machado? – Perguntou e eu assenti, pois todo mundo lembrava o acidente envolvendo uma flecha no pé de uma retardada que nem sabia segurar um arco direito – Eu não posso receber mais um processo, essa escola não tem mais espaço para trágicos acidentes!

– Mas por causa de uma retardada você quer punir todas as mulheres?

– Está decidido Alice e não voltarei atrás. – Falou naquele tom de “terminamos por aqui”. – E eu não quero ver a senhorita na competição, estamos entendidos?

Bufei e murmurei um “sim” antes de me levantar e sair da sala. Eu não desistiria do meu objetivo, só precisava de um plano B. Andei até o refeitório já que estava na hora do almoço e servi uma gororoba sem gosto no meu prato e sentei-me à mesa junto com minhas duas outras amigas, Letícia e Manuela. Ambas estavam entretidas falando de maquiagens e artistas de televisão que nem prestaram atenção em mim e minha subida falta de fome. Minha mente trabalhava a mil para achar uma solução simples e infalível, mas aquela falação em minha volta não estava ajudando em nada.

– O que foi Alice? – Escutei Manuela perguntar lançando sua atenção para mim.

– Competição de arco e flecha. Diretor. Lee. – Respondi com palavras chaves, pois não estava animada para explicar tudo de novo. E, torcia para que elas entendessem o que eu queria dizer.

– O.k. Vamos por partes. – Letícia disse largando seu garfo dentro do prato e apoiando seu corpo em seus braços cruzados em cima da mesa. – Primeiro problema, qual é da competição de arco e flecha?

– Vocês não sabem? – Perguntei mostrando minha indignação na voz. – Está lá no mural, escancarado para quem quiser ver, só faltou estar com letras grandes e em negrito.

– Não passamos na frente do mural hoje. – Manu contou em tom de desculpas.

– Mulheres não podem participar da competição de arco e flecha! – Contei com a voz elevada... Na verdade, eu gritei e muitas pessoas me olharam achando que eu era doida.

– Porque não? – Letícia indagou e não parecia tão revoltosa quanto eu. Eu duvidava que minhas amigas fossem ficar irritadas com aquele fato, afinal, elas diziam que arco e flecha não eram para damas!

– Lembra-se da retardada do ano passado? Aquela menina com o cabelo que toca os pés? – Questionei e as duas assentiram. – Então, o diretor não quer acidentes como aquele.

– Mas isso é injusto, você é a melhor nesse esporte! – Letícia reagiu e eu olhei apontando minhas mãos em minha direção como quem dissesse “isso, é essa reação que eu quero ver”.

– Eu sei, é tão injusto.

– Tá, mas aonde o Lee entra nessa história? – Manu perguntou e ela não parecia tão interessada em começar um movimento feminista na escola, não tanto quando Letícia que havia tomado as dores por mim.

– O de sempre, oras. – Respondi em tom óbvio e com revirar de olhos para ser mais dramática e mostrar que a situação me agrada. – Ele teve a audácia de dizer que era melhor do que eu e que ganharia de mim, se eu pudesse competir.

– Vocês ainda vão se casar, só digo isso! – Manuela murmurou e eu fiz questão de ignora-la, pois não estava a fim de entrar naquela discussão de “vocês vão se casar”.

Manuela sempre disse que eu me casaria com Lee, se não me cassasse, nós nos pegaríamos no armário de vassouras da escola (porque minha amiga sempre imaginava os flagras em armários de vassouras, vai entender) ou iriamos aparecer namorando a qualquer momento. É claro que tudo não passa de uma grande invenção da mente desocupada e romântica de Manu.

Eu e Lee? Por favor!

Ele é o cara mais chato, idiota e babaca que eu conheço. E se isso não bastasse, ele sempre acha que vai ganhar de mim nas competições, e ele só está na frente por uma questão de sorte, pois todos sabem que eu sou melhor do que ele. Enquanto o meu placar contava com 45 pontos, o de Lee contava com 46 pontos. Mas quem está contando, não é mesmo?

Olhei para Letícia e vi um sorriso malvado e brilhante brotar de seus lábios.

– Eu tive uma ideia brilhante. – Respondeu olhando para mim e depois para Manu. – Mas vai dar um pouco de trabalho... E você não pode ficar de frescura.

– Eu vou provar que sou melhor que Lee?

– Com toda a certeza.

– Então, eu topo.