Eu não poderia acreditar naquilo. Não, eu apenas não poderia acreditar naquilo. Bufei de indignação e assoprei minha franja que insistia em cair sobre meus olhos me impedindo de ler aquele anuncio maldito. Ali, com grandes letras e em negrito dizia que mulheres não poderiam participar do arco e flecha. Aquilo era inadmissível! Como não poderíamos participar do meu querido arco e flecha?

Olhei para o lado com os braços cruzados esperando mais alguma mulher se revoltar com aquele fato e, quem sabe, começarmos uma revolução naquela escola cheia de babacas. Mas não havia ninguém. Nem uma misera alma feminina para se revoltar comigo… Talvez elas ainda não tenham visto o anuncio. Decidi esperar – mesmo que fervilhando por dentro – até a hora do almoço.

Dei meia volta e andei em direção ao meu armário com raiva. Eu ainda não entendia o porquê de terem cortado as mulheres desse esporte! O meu esporte favorito, e eu poderia apostar que era melhor que muitos daqueles babacas que se diziam machos, humph, aposto que correriam que nem mulherzinhas só de verem minha flecha acertando o centro o alvo. Bati a porta do armário e segurei os cadernos contra o peito tentando me acalmar e quando estava prestes a ir a minha aula de francês ouvi aquela voz irritantemente aveludada me chamar.

– Algum problema Machado? – Perguntou como quem achasse divertido me ver naquela situação, embora eu não duvidasse naquela hipótese.

O olhei irritada, não apenas irritada com o fato de eu ter sido excluída da competição, mas porque só de estar perto de Lee eu ficava mais irritada do que o normal. Era só escutar sua voz doce com jeito sarcástico, olhar seus olhos escuros quase pretos que eu me sentia irritada, incomodada com algo que nunca soube definir direito.

– Ser excluída da competição de arco e flecha é um problema? – Perguntei ajeitando melhor os cadernos em meus braços e revirei os olhos com o seu sorriso divertido nos lábios.

– Você é engraçada Machado, querendo se meter no esporte de homens, tsc tsc. – Provocou abrindo o seu armário e guardando seus cadernos de história lá dentro, e pegou de geografia.

– Esporte de homens? Por favor, que século você vive? – Indaguei horrorizada com aquilo. – Sou muito melhor do que você.

– Duvido muito, você sabe que arco e flecha é o meu esporte. – Informa fechando o armário e me olhando com aqueles olhos que diziam muito mais do que sua boca anunciava, tinha algo a mais neles, sempre teve e eu nunca consegui o decifrar.

Revirei os olhos com aquela declaração. Eu já havia o visto atirar e, de fato, o garoto era bom, só não era melhor do que eu. E não era arrogância, era apenas um fato comprovado pelos troféus que eu exibia no meu quarto. Eu era boa, e eu não aceitaria ser deixada para o lado… Eu teria que ir reclamar com o diretor!

– Você é tão engraçado Lee, mas aposto que eu ganho de você na competição. – Repliquei com um sorriso sem graça nos lábios.

– Eu até apostaria com você, mas você leu as regras, não há espaço para mulher nesse jogo. – Lembrou. – Quem sabe o ano que vem Alice. – Meu nome soava estranho vindo dele, até porque eu estava acostumada com o “Machado” e não com “Alice” vindo de Lee.

Eu o vi se afastar de mim e um plano em minha mente estava se formando. Eu não ficaria longe daquela competição, de nenhuma maneira. Eu ia conversar com o diretor e ele entenderia o meu lado. Se não entendesse, faria uma passeata e qualquer outra mobilização em peso até conseguir o que queria e não aceitaria um não, jamais! Eu iria participar dessa competição, venceria de Lee e o faria engolir aquele sorriso arrogante que carregava consigo ou eu não me chamava Alice Machado.