Como Ser um Príncipe - Interativa

Magia, loucura, paraíso e pecado - Parte II


Dia 15 - Madrugada

—Isso realmente machuca os pés. - Riley reclamou, andando rígida até uma cadeira onde ela pode sentar e aliviar os pés cansados pelo salto. Ela fez uma careta engraçada de alívio e depois outro para o próprio sapato, como se eles fossem monstros. A música continuava quase de uma maneira repetitiva e o baile continuava tão energético quanto estava horas atrás. - Eu acho que nunca usei coisas assim em minha vida!

Andressa riu e apoiou o braço no encosto da cadeira da amiga, mantendo-se de pé.

—Para de reclamar! Conte-me o que você achou de dançar com o príncipe!

Riley arregalou os olhos e contraiu os lábios. Ela não havia dançado muito bem e não queria falar sobre isso. E aos olhos dela, fora a dança que piorara a dor que sentia nos pés.

—Você também dançou com ele, Dressa. Por que está me perguntando isso? - Respondeu então, já cansada.

Suas personalidades mantinham-se escondidas por de trás das máscaras escuras, mas elas haviam criado um vínculo na recepção das selecionadas no dia anterior. E de um jeito que só as mulheres se entendem, elas sabiam quem eram sem precisarem se apresentar de novo.

Ao lado delas, mas mantendo-se em silêncio e mexendo ocasionalmente em uma mecha rosa de seu própria cabelo que caia do penteado alto, Gwendolyn Seasher Pryx ouvia o que as amigas diziam e tentava não ficar nervosa, ou ao menos não aparentar nervosismo, com o fato de que faltavam poucas meninas para Liam tirar para a valsa... E ela era uma delas.

Gwen gostava de músicas e se orgulhava em conhecer a maioria delas, porém a selecionada preferia cantar e tocar instrumentos a ser vista dançando. Era flexível, mas era apenas uma dançarina razoável enquanto o Príncipe Liam Éire mostrava-se eficiente em todos os passos.

Andressa rapidamente apontou para ela.

—E quanto a Gwen? Ela ainda não sabe como é dançar com o príncipe.

Riley abanou a mão, despreocupada.

—Ela vai saber logo. - Depois sua voz ganhou uma entonação diferente, quase histérica e seus olhos castanhos se arregalaram: - Bom, ela vai saber bem logo.

Gwen se virou, ainda com um dedo enrolado no cabelo como uma criança que é pega chupando o dedo, no momento em que o Príncipe Liam se aproximava delas, sorridente.

—Senhoritas.

Elas se curvaram numa reverência e Riley tentou esconder a vontade que tinha de permanecer sentada. E Gwen disfarçou todo e qualquer sinal de nervosismo de sua expressão.

—Se não me falha a memória, - Liam disse com um sorriso comportado. - não posso deixar a noite acabar sem ter a honra de dançar com a senhorita.

Ele se curvou e estendeu a mão para Gwen. Ela viu a cena passar em câmera lenta, já esperando por tudo isso. Colocou então sua mão na dele e permitiu-se soltar o ar que sequer percebera que prendia.

Enquanto ela se afastava pode ouvir Andressa lamentar-se que gostaria da dançar de novo e comentar que vira o sr. Keyes dançando com outras selecionadas.

—Acha que ele também vai dançar com a gente?

—Espero que não. - Riley resmungou e gemeu.

E Gwen não pode ouvir o resto da conversa, pois Liam a guiara para o centro da pista de dança. Mas sua aguçada imaginação a levou a caminhos de imprevisibilidade que ela tinha curiosidade em descobrir: Será que esse modo extrovertido de Dressa lidaria bem com esse modo infantil de Riley, ora animado e ora preguiçoso? Será que essas diferenças romperia os laços dessa amizade das três ou apenas os fortaleceria?

Apenas quando o príncipe tocou em sua cintura e a puxou para mais perto, Gwen voltou-se para a realidade, sabendo que o seu gosto por fantasiar o futuro as vezes a fazia esquecer-se do momento e de vivê-lo.

Ela não disse nada quando os primeiros acordes foram tocados pela banda e eles se mexeram conforme o ritmo, tendo consciência de cada passo que dava e cada olhar que eles recebiam.

—Eu não deveria dizer isso... - Liam inclinou-se para sussurrar próximo ao ouvido da jovem de dezoito anos. - Mas essa máscara não esconde sua personalidade.

Gwendolyn não se surpreendeu, e, inclusive, soltou uma risada baixa, divertida.

—Então eu deveria me sentir lisonjeada. Ou insultada. - Ela comentou com eloquência. - Mas tenho consciência que o meu cabelo rosa é bastante singular.

Liam não pode fazer nada além de concordar com um charmoso sorriso.

—Mas eu confesso que além de saber reconhecê-la, nada mais sei sobre a senhorita. - Ele argumentou e conforme o ritmo da música crescia, ele a girou pelo salão e Gwen percebeu que não precisava se esforçar muito para acompanhar os seus passos: Liam era um pé de valsa, mas o mais importante, era também um perfeito cavalheiro e tinha a firmeza necessária para sua companheira não se perder em meio aos giros. - Tenho certeza de que há muito mais a saber sobre a senhorita.

A selecionada ficou um pouco incomodada, como se o pedido do príncipe fizesse uma ligeira coceira em seu subconsciente. Não gostava de falar sobre ela mesma e revelar seu interior. Embora fosse apaixonada por palavras e se expressasse perfeitamente escrevendo, ela tendia mais aos gestos e demonstrações físicas de suas capacidades, não gostando de falar sobre si mesma, mas apenas ser ela mesma.

Ao invés de responder, ela voltou a pergunta ao seu companheiro:

—Eu posso afirmar que alguma coisa sabe sobre mim. - Ela falou, lembrando de suas entrevistas com inúmeros funcionários durante a inscrição para a Seleção. - Por que não me diz o que conhece até agora?

Ele ficou visivelmente surpreso e um pouco nervoso, pois perdeu o ritmo da música em um de seus impecáveis giros. Porém ele se esforçou ao máximo para se recompor.

—Bom, seu nome é Gwendolyn Seasher Prix... E eu tenho certeza de que estou pronunciando corretamente, pois o sobrenome da senhorita aparece com frequência nas mídias. - Liam tentava ainda aparentar a confiança de poucos segundos atrás. - Filha de produtores e direitos de cinema da província de Longford, próximo da capital. - Depois ele deu uma curta risada e, tentando fazer uma brincadeira, disse: - Assisti vários filmes coordenados por seus pais. Pode duvidar, mas havia uma televisão de tela de plasma na minha fazenda.

Gwen não conseguiu se impedir de gargalhar, agora sim surpresa com o comentário do herdeiro.

—Acredito que Vossa Alteza tenha tido uma vida bem diferente da minha... ou de qualquer outro nobre, por ter vivido nos campos.

Liam ganhou um brilho diferente no olhar, como se estivesse se lembrando de como sua vida era em Wicklow Hills e pareceu relaxar, o que também deixou Gwen mais aliviada.

Com um sorriso e um tom conspiratório, ele se inclinou mais uma vez na direção dela e sussurrou:

—Uma vida melhor que todos esses nobres tenha certeza.

♕♕♕

Calçando scarpin com um degradê de brilhos rosa, cada passo de Alegra Ravenna Prince era definitivamente marcado por confiança e determinação.

Assim, rumou em direção a ninguém menos que a Rainha Kiara, que conversava com alguns convidados. Como não podia perder tempo esperando o príncipe convidá-la para um dança, tinha que aproveitar o baile e usufruir de sua nova vida no Palácio Real como se devia.

—Vossa Majestade! - Ela disse em alto tom para ser ouvida acima da música, e se curvou numa profunda reverência quando a rainha virou-se em sua direção.

Quando ergueu-se notou, satisfeita, o sorriso educado da soberana.

—Minha cara, como posso ajudá-la?

—Muito pelo contrário. - Alegra respondeu com um grande sorriso charmoso. - Não há nada para mudar, está tudo perfeito. Vim agradecê-la por ter me recebido no Palácio Real com tanta classe e cuidado. É de longe a melhor das anfitriãs.

A Rainha colocou a mão no peito, mais surpresa que lisonjeada.

Entretanto ela não precisou dizer mais nada, pois Alegra continuou falando.

—E tenho certeza de que conforme a Seleção avance ficarei cada vez mais encantada por todo esse capricho. - Parando um segundo para idealizar um futuro como a Escolhida do príncipe, ela se adiantou e disse com um suspiro deslumbrado: - Mal posso imaginar os requintes de um casamento real...

Kiara sorriu, sem conseguir esconder a sua surpresa com a confiança da jovem. E aproveitando a situação como uma oportunidade de analisar aos bons modos do herdeiro de Nova Irlanda, sugeriu:

—Creio então que a senhorita teve uma primeira dança promissora com o Príncipe Liam. Ele é um excelente dançarino.

A selecionada tocou sua própria bochecha com a ponta dos dedos, em um gesto incontrolável quando se sentia subitamente insegura. Ela tinhas algumas sardas salpicadas nas maçãs de seu rosto e via nelas o único detalhe que abalava sua autoconfiança; mas felizmente a maquiagem feita para o baile disfarçava as suaves manchas e Alegra teve que se lembrar disso para tirar a mão do rosto e erguer o queixo novamente, mais segura de si mesma.

A questão era que ela ainda não havia dançado com o príncipe e o pouco que sabia sobre ele eram aquelas matérias superficiais de jornais que contavam apenas o lado político da história. Mas talvez, em suas idealizações, ela talvez viesse a se apaixonar por Liam... e ele por ela.

Pois, embora seus pés fossem bem firmados no chão e calçados em elegantes saltos altos, Alegra tinha a cabeça erguida que ocasionalmente alcançava as nuvens.

Ela não sabia onde a Seleção a levaria, mas tinha certeza de que precisava plantar o que queria colher. Por isso, abriu um sorriso ainda maior para a rainha e se preparou para jogar sua próxima carta.

Porém Caitlin, a assessora da Seleção, apareceu por trás de Alegra, tocando-lhe em seu ombro e a fazendo calar-se de surpresa.

—Ah, eu te achei. - A srta. Dublin mentiu, ligeiramente ofegante. Curvou-se numa reverência para cumprimentar a rainha e depois retomou a sua função e interromper a conversa entre a monarca e a jovem de dezoito anos. - Espero que essa senhorita não tenha revelado a sua identidade, afinal não é esta a intenção do Baile de Máscaras.

Kiara inspirou fundo e de modo educado respondeu:

—Não. A senhorita manteve o seu mistério.

—Fico aliviada. - Caitlin suspirou e pareceu de fato mais calma com a confirmação da rainha. Desceu a mão pelo braço de Alegra e fechou os dedos em torno de seu cotovelo. - Se me der licença, essa senhorita está sendo requisitada em outro canto e irei guiá-la até lá.

Com um gesto simples a rainha permitiu que as duas se afastassem e logo Alegra percebeu que os passos de Caitlin foram ficando cada vez mais urgente, e o seu aperto no braço dela um pouco mais forte.

—Você está louca? - Ela sibilou para a selecionada quando já estavam longe o suficiente. - O que pretende ao ir conversar com a rainha logo no baile de recepção?

Alegra se livrou de seu aperto com uma careta de frustração. Postou-se de firme em frente a Caitlin para respondê-la.

—Exatamente o que todas as garotas que estão aqui querem: Um lugar no Palácio. Um lugar na monarquia.

A senhorita Dublin deixou os ombros caírem, decepcionada. Com um tom mais calmo, explicou:

— Está apelando, srta. Prince. Confie em mim, a senhorita não quer ficar marcada na memória da rainha como a garota que se sujeitou a uma abordagem baixa, uma bajulação barata, para destacar-se dentre as demais selecionadas! - Caitlin alisou o seu vestido verde com cuidado. - Por sorte não revelou a sua identidade.

Mas Alegra tinha certeza de que ficaria marcada nas lembranças da Rainha Kiara... e que isso era algo bom, que lhe traria consequências positivas conforme a Seleção avançasse.

Então trocou o peso do pé e revirou os olhos, frustrada com a sugestão de que ela não era uma pessoa memorável.

—Não preciso reafirmar a minha confiança e o meu lugar nesse castelo. Preciso criar vínculos com a minha futura família. Eu sou ruiva. Ela não irá esquecer de mim assim tão fácil.

E assim como se aproximou com segurança e determinação, se afastou desfilando em seus estilosos saltos.

♕♕♕

—Liam! - Maire Éire abriu um grande sorriso quando o príncipe se aproximou do canto onde ela e Douglas conversavam.

O jovem beijou a bochecha da mãe, mas não parecia atento ao próprio gesto. Disperso, olhou para os dois lados, resmungando algumas somas para si mesmo.

Maire segurou o braço do filho, esperançosa por um pouco de atenção. Estava com tanto orgulho dele que tinha que se esforçar para não apertar suas bochechas na frente das meninas, dos jornalistas e dos monarcas do país.

—Oi, gente. - Liam cumprimentou os pais. - Estão se divertindo?

A condessa apertou os olhos, mas não entendeu o que o filho disse. Ela se esforçava muito para manter-se ciente das conversas e dos acontecimentos ao seu redor, e ela sempre pode contar com sua família para ajudá-la com isso. Não era apenas a linguagem de sinais que tinha relevância para a sua compreensão, precisava ter uma boa articulação ao falar, expressividade nos movimentos e feições, e olhar para a pessoa durante a conversa.

Mas Liam parecia ter esquecido de tudo aquilo de repente.

—Está tudo bem. - Douglas respondeu, confiante. Segurava uma fina taça de champanhe em uma das mãos e a outra ele tocou nas costas de Maire, percebendo que ela estava se sentindo excluída da interação. - Estava conversando com sua mãe sobre os seus primos. Liguei para o seu tio hoje, perguntar como andam as coisas na fazenda, e ele me disse que Álan...

Douglas não esqueceu dos detalhes necessários à comunicação com Maire. Olhou diretamente nos olhos dela e a expressão no rosto da morena se suavizou, finalmente entendendo o assunto da conversa.

Mas puxar assunto não foi apenas uma estratégia para permitir a interação de Maire, como também uma tentativa de capturar a atenção de Liam e tentar segurá-lo por perto alguns instantes.

Porém, não adiantou.

—Eu preciso ir. Pela cara de Ronan, eu esqueci de dançar com alguma menina. - Ele se inclinou outra vez e beijou a bochecha da mãe, que já não entendia mais nada. - Nos vemos depois. Aproveitem a festa!

E com a mesma rapidez que apareceu ali, ele foi embora.

Maire sentiu-se fora de contexto. Como se ela fosse uma formiga que encolhia cada vez mais em um mundo que só aumentava. Douglas, por sua vez, soltou um suspiro pesado e bebeu de uma vez o último gole de bebida de sua taça. Colocou-a de lado e esfregou as costas da esposa, percebendo o quanto ela estava magoada.

—Quer dançar?

Ela facilmente entendeu o que ele dizia. E ela, como sempre, não abriu mão de passar mais alguns minutos com o marido.

♕♕♕

Quando Liam se inclinou pela décima quinta fez frente a uma selecionada naquela noite para lhe tirar para dançar, de fato não esperava a resposta que recebeu:

—Estava esperando que Vossa Alteza realmente tivesse esquecido de mim.

Liam se esticou e observou, surpreso, o rosto contrariado de Charlotte Wonder O'Dornan. A jovem tinha cabelo castanho claro e uma franjinha solta que caia sobre o seu rosto, da qual ela frequentemente tinha que soprar para longe. Mas o que mais consternou Liam fora os lábios pressionados num bico incomodado.

—Há algum problema, senhorita? Não sabe...

—Eu odeio valsas. - Ela soltou repentinamente. - Sou horrível dançando e... não há nada mais chato que valsas!

Liam então teve que rir e depois coçou a nuca, sem encontrar palavras para dizer.

Charlotte suspirou, observando a expressão sem jeito de Liam. Ela não era boa em lidar com sentimentos e na maioria das vezes não dava a mínima para ele, ainda mais se fossem os seus sentimentos. Mas ao encarar a situação de Liam como um todo – ser o novo herdeiro da Nova Irlanda e ter a obrigação cavalheiresca de tirar cada uma das selecionadas para uma valsa – ela não pode impedir aquele ímpeto próprio de ajudar da forma que podia.

Ela levantou-se mesmo sem vontade e tomou a mão do príncipe, o que o deixou imensamente sorridente – Charlotte tinha consciência de que ele se preocupava com o grupo de jornalistas, que se mantinham distantes, porém muito atentos a cada detalhe do baile.

Quando alcançaram o centro da pista de dança e Liam a auxiliou a se posicionar corretamente e ele lhe prometeu com um tom de desafio na voz:

—Sei que vou mudar sua opinião sobre valsas.

E antes que Charlotte pudesse responder a nova música se iniciou e o herdeiro ao trono guiou-a pelo salão com talento. Ela mal conseguiu respirar nos primeiros segundos da música, atenta para todos os movimentos que ele fazia e que ela deveria acompanhar. Ligeiramente zonza pelas luzes da pista de dança.

—Você está indo bem. - Liam lhe assegurou.

—E você mente mal! - Ela arquejou, tentando não olhar para baixo e coordenar os próprios pés, algo que fazia por impulso. Com sua atenção dispersa, ela se desculpou rapidamente pela forma de tratamento: - Eu digo, príncipe. Vossa Alteza. Não quis dizer "você" intencionalmente.

Liam não conseguiu se impedir de rir, ao ver a confusão de Charlotte.

—Olhe para mim, não para os seus pés. E dará tudo certo.

Ela rapidamente ergueu o olhar na direção dele, como se aquela fosse sua única salvação e ficou de fato surpresa quando ele a girou três vezes seguidas e ela não pisou na barra do próprio vestido lilás.

Liam também sorriu com o sucesso.

—Eu disse, pode confiar em mim. Sou um excelente dançarino. - Comentou sem modéstia.

Charlotte sustentou seu olhar, novamente sem conseguir respirar direito.

Ela vinha de uma família nobre e já havia estado presente em diversos eventos reais antes, onde, inclusive, tivera contato com Liam Éire, que na época era apenas o filho do Conde e da Condessa de Wicklow Hills e não um príncipe.

Nunca foram próximos e se mantinham em cordialidades respeitosas quando tinham que se comunicar. Devido a isso, o que sabia de Liam era um acúmulo de primeiras e segundas impressões e até mesmo casualidades que lhe mostravam um garoto simpático e engraçado. Lembrava-se perfeitamente do dia em que ele tropeçara em um armadura da decoração e derrubara assim suco de uva no vestido de uma senhora que até então gabava-se de seu fino vestuário.

Desse modo, Charlotte sabia que Liam tinha um bom coração e havia provado que ele tinha o talento para ser um excelente dançarino, mas guardava receios quanto a capacidade do príncipe... em ser um príncipe.

Entretanto, não disse nada e conseguiu esboçar um sorriso, depois de encará-lo por tanto tempo, embora estivesse corada e visivelmente constrangida.

A música enfim terminara e Liam beijou sua mão com elegância.

—Espero ter mudado sua opiniões sobre valsas.

Charlotte não podia dizer quanto a valsa, mas Liam havia de fato mudado algo dentro dela.

♕♕♕

Fora do grande salão de baile do castelo o ar era mais gélido, alertando quanto a aproximação do inverno.

A música da festa era abafada, como um pano de fundo ou uma trilha sonora do momento, que falava de amor a primeira vista.

A selecionada presenteou-se com alguns minutos sozinha naquele cenário pacífico. Não tinha certeza se sua realidade era mais próxima da movimentação e o barulho do interior ou da calmaria e silêncio do exterior. Sabia apenas que sua vida tomaria um dos dois lados no decorrer da Seleção, esse concurso inacreditável que havia caído de cabeça.

—O que você está fazendo aqui fora? Está tudo bem?

A voz atraiu sua atenção e ela se virou para o jovem a sua frente, vestido em um terno sob medida e uma máscara que realçava seus olhos castanhos.

Ela se surpreendeu e voltou a pergunta para ele:

—O que o cavalheiro faz aqui fora?

Ele ficou sem jeito e enfiou as mãos no bolso. Deu de ombros, sorrindo.

—Tomando um pouco de ar? - Sugeriu.

A moça o analisou com cuidado e curiosidade. Ele, em reação ao silêncio dela, insistiu uma outra vez em lhe perguntar se estava tudo bem e depois confessou:

—É um pouco estranho, mas eu não sei te reconhecer com essa máscara. Eu nem mesmo sei o seu nome.

Ela ergueu as sobrancelhas e sorriu, reconhecendo a tentativa do jovem de descobrir quem ela era.

—Pelo o que eu sei, essa é a intenção das máscaras.

O cavalheiro concordou silenciosamente e ela se aproximou, gostando dessa inusitada tranquilidade da noite. Uma calmaria que ela desconhecia.

—É uma noite bonita. - Disse com cuidado e observou o céu ao lado de seu companheiro.

—De onde eu venho, as noites têm mais estrelas. A região é mais escura, com pouca luz elétrica, então é mais fácil de vê-las.

—Sente falta da sua casa? - A selecionada perguntou, erguendo o rosto para observá-lo.

—De algumas coisas, sim. - Ele contou, erguendo um sincero sorriso de canto de boca, que a deixou paralisada por alguns segundos. - Mas aqui é bem melhor. Em geral. - O jovem se virou para observá-la, mantendo o sorriso, e ela teve que se lembrar que o tempo ainda corria. - E a senhorita, sente falta de seu antigo mundo?

Quando ele se virou para olhá-la, ainda com aquele sorriso torto nos lábios, algo dentro dela rachou e algo dentro dela se acendeu como uma faísca incontrolável. Os olhos dele se fixaram nos dela, sem conseguir desviar.

Num sussurro, a moça respondeu:

—Não. É perfeito aqui.

Então ela se esticou e ele se inclinou. Seus lábios se tocaram em um beijo.

Se encaixaram com perfeição. Era tão certo que parecia errado. Mas algo novo e efervescente expandiu com a mesma intensidade dentro dos dois, afirmando o contrário.

Não importava absolutamente mais nada.

Talvez, ela pensou em seus devaneios entorpecidos, fosse isso que as princesas dos contos de fadas pensaram quando beijaram seus príncipes pela primeira vez.