Como Ser um Príncipe - Interativa

Magia, loucura, paraíso e pecado - Parte I


Dia 14

Haviam velas espalhadas por todo o salão apenas para compor a mágica decoração do baile de recepção das selecionadas. Dezenas de flores brancas e de diferentes tons de rosa organizadas em lindos arranjos pelo ambiente imediatamente enlouqueceram Ali Siobhan Mackiney. Ela precisava se esforçar para não apontar para todos as flores e ditar seus nomes. Se as tulipas holandesas cor-de-rosa estivessem entre a decoração, ela perderia toda a classe que cabia dentro de seu vestido azul celeste.

Sabendo que não conseguira se conter por muito tempo, decidiu interagir com as outras garotas que estavam por perto, mesmo que não soubesse quem elas eram por causa da máscara.

—Olá! - Ela se aproximou de uma garota de vestido creme e de cabelos escuros. Falou bem alto para ser ouvida acima da música tocada pela banda. - Acho melhor eu me afastar das flores antes que eu termine a noite roubando um dos arranjos.

A garota imediatamente entendeu a língua que Ali falava e também suspirou, encantada.

—Estão lindas, não estão? Eu trabalho com jardinagem durante a semana, mas eu confesso que nunca vi combinações mais lindas!

Ali se mexeu extasiada: A primeira selecionada com quem conversava e acontecera de ela coincidentemente ter a mesma paixão que ela. Mas Ali não acreditava em coincidências, e sim em destino. Como uma boa nova-irlandesa, era supersticiosa o suficiente para encontrar a magia por trás de cada acaso da vida.

Sem conseguir se conter, estendeu a mão e confessou:

—Sou Ali.

—Sou Mirelle. - A garota retribuiu o cumprimento.

Depois ficaram olhando para cara uma da outra, até Ali voltar a falar:

—Acho que não devíamos ter revelado isso.

Mirelle riu e deu de ombros. Ela também não era boa em guardar segredos.

—Acho que apenas devemos deixar isso escondido do príncipe.

—Eu ouvi me chamarem? - Perguntou uma terceira voz, grave e calma, masculina, aproveitando a deixa.

As duas se ajeitaram imediatamente, como se estivessem fazendo algo errado, e bastou pouco para não fazerem uma reverência militar no lugar da devida demonstração de cordialidade ao Príncipe Herdeiro, postado sorridente diante delas.

—Senhoritas, - Liam Éire as cumprimentou divertindo-se. - espero que estejam gostando do baile.

—Está tudo perfeito. - Uma delas murmurou e a outra ecoou.

Ele observou as duas por apenas um segundo silencioso e depois fixou seus olhos nos de Ali, por trás da máscara escura que cobria mais da metade de seu rosto.

—A senhorita me concederia a honra ser a minha primeira dança? - E estendeu a mão, curvando-se um pouco, como um verdadeiro cavalheiro.

Ali arregalou os olhos e deixou o queixo cair. A primeira a dançar com o príncipe? Ela não conseguia acreditar. Por impulso, aceitou a mão que ele lhe estendia e ficou feliz ao perceber que Liam estava firme, transmitindo a segurança que faltava nela.

O príncipe a conduziu para o centro da pista de dança, sob os olhares de todos os convidados que se reuniram para assistir a primeira valsa. Liam a segurou pela cintura e apertou os olhos.

—Por favor, me diga que a senhorita sabe dançar.

—Meu tio gosta de ouvir músicas. - Ela respondeu sem pensar, ainda nervosa pelos olhares que recebia, nem todos assim tão apoiadores.

Liam abriu um sorriso.

—O meu tio também.

A banda iniciou então a sua valsa e Ali sentiu seu corpo se mexer quando o príncipe a conduziu ao ritmo da música.

Com seu vestido azul claro esvoaçando a cada passo que dava junto do herdeiro e usando uma misteriosa máscara que não apenas escondia sua identidade como também o rubor em sua face, ela sentiu-se como uma verdadeira princesa.

Logo deixou de se preocupar se iria pisar na barra da própria saia ou no pé de Liam e apenas deixou-se ser guiada pelo salão como se aquele momento fosse eterno. Pois além de supersticiosa, daquelas que sonhavam com experiências mágicas, também era bastante romântica.

Ela não soube se foi pelo calor do momento ou pelos vários giros que deu, mas quanto mais se perdia no rosto do príncipe, mais via uma expressão familiar. Um brilho diferente.

A música parou e eles se afastaram, com os aplausos dos convidados.

—Nós nos conhecemos de algum lugar? - Ali perguntou repentinamente, um pouco ofegante pela dança.

Liam sorriu para ela enquanto se curvava para beijar sua mão.

—Acredito que essa pergunta vai contra a intenção das máscaras.

Antes que Ali pudesse explicar o que deu a entender como apenas uma brincadeira, eles já tinham se afastado e o momento acabado. Mas a magia permaneceu bem viva na memória.

♕ ♕ ♕

—Desejo ao Príncipe Liam toda a sorte de Nova Irlanda para saber escolher sua prometida, pois está será uma tarefa difícil em meio a tanta beleza e carisma. - O Rei Donavan terminava o seu discurso, em pé no centro do salão, onde recebia a atenção e silêncio de todos. Mas a sua ligeira piadinha fez os convidados rirem com educação. Ele prosseguiu para finalizar: - Senhoritas, espero que tenham uma excelente estadia aqui no Palácio e que o tempo que passarem aqui seja o melhor de todos.

Ele ergueu a sua taça e os demais convidados seguiram o seu gesto.

—Um brinde à Seleção!

Todos vibraram, comemorando. E inclusive os funcionários aplaudiram.

Em pé, próxima a uma das mesas do salão de baile, Brianna Olívia Fraser, uma das selecionadas de dezenove anos, refletindo sobre as palavras do monarca, também ergueu sua taça para o alto.

Então o zíper em suas costas cedeu e se abriu por completo com o gesto.

Para alguém sempre elegante e discreta, aquilo era quase um pecado.

Olhou para trás para ver se alguém havia percebido. Discretamente tentou subir o zíper sozinha, mas o tecido era delicado demais para ser lidado com apenas uma mão.

Seus olhos foram então para o outro lado do salão onde os repórteres e cinegrafistas registravam alguns detalhes do baile. Felizmente eles estavam longe o suficiente para que sua vulgaridade não fosse manchete de capa no dia seguinte.

Se afastou deles, indo cada vez mais para o fundo do salão, até encontrar uma das garotas com máscara e vestido igual o seu, porém não verde claro, mas vinho. Uma selecionada.

—Ah, ainda bem que eu te encontrei! - Brianna sussurrou aliviada. Se havia alguém que pudesse ajudá-la nessa situação seria uma selecionada, as únicas pessoas que compartilhavam a mesma aventura que ela. Virou-se de costas para a menina e pediu que ela lhe ajudasse a subir o zíper.

—Oh. - A outra fez, surpresa. Hesitou por alguns segundos e então decidiu ajudar Brianna.

Enquanto a desconhecida segurava o tecido do vestido e subia o zíper, Brianna comentou, com um suspiro pesado.

—A minha criada é muito atenciosa, mas ela é um pouco desorganizada. Inexperiente. - Brianca mordeu os lábios, lembrando de sua auxiliar e de como ela quase desarrumou o seu cabelo quando a ajudou a vestir o vestido. - Ela deve só estar nervosa...

—Acabei. - Declarou a outra selecionada, sem muita paciência.

Brianna se virou e sorriu para sua ajudante.

—Obrigada. Você salvou a minha pele... literalmente. - Depois ela fez uma careta, nunca foi muito boa em contar piadas.

A garota olhou para ela, visivelmente irritada, assoprando a franja solta para longe do rosto. Bufou.

—Só tente permanecer dentro do vestido até o fim da festa.

E sem dizer mais nada se afastou.

Brianna esfregou uma mão na outra, desconfortável e também surpresa com a grosseria. Seja lá quem aquela garota fosse, a selecionada de Donegal, a província mais ao norte, tentaria evitá-la ao máxima ao longo da Seleção.

Não deixaria que um momento como esse a abalasse e interferisse na magia da noite. Mas Brianna não deveria sustentar a ilusão de que todas as selecionadas se veriam da mesma forma que ela as vê: Não como inimigas, mas como companheiras. Pois, embora compartilhando a mesma situação, as meninas tinham maneiras de pensar diferente e ela não podia exigir mudanças dela.

Inspirou fundo e expirou. E ficou feliz ao perceber que o seu vestido não se abrira novamente.

Quanto à sua criada, Brianna sabia que ela precisava de um pouco mais de incentivo e confiança para deixar o nervosismo de lado e realizar as suas tarefas com mais eficiência. Com um sorriso determinado, ela prometeu a si mesma tornar-se parceira de sua ajudante.

Quanto ao baile... A garota de olhos verdes escuros deu um profundo suspiro. Era bem mais fácil ficar em sua zona de conforto, em sua conchinha, mas ela sabia que a seleção era um grande desafio quando se inscreveu e que quebraria as barreiras de sua personalidade. Estava determinada a encarar mudanças, a começar um novo capítulo em sua vida, do qual ela não tinha certeza de nada.

Assim, de cabeça erguida, voltou ao baile, preparada para novas aventuras.

♕ ♕ ♕

Com uma reverência eles se despediram.

Sutilmente Ronan se aproximou do príncipe, com sua postura inflexível, e o informou:

—O senhor já dançou com todas as senhoritas de vestido vermelho e azul. Sugiro a de laranja agora.

Liam ajeitou o terno, confiante.

—Modéstia a parte, Ronan, acho que estou detonando hoje. Sou o melhor anfitrião que a Nova Irlanda já teve.

—O senhor realmente ignorou a modéstia. - Ronan não poupou um sorriso de canto de boca. - Algum comentário sobre essa última senhorita de vermelho... ou bordô... ou, sério, Caitlin inventa esses nomes de cor? - O guarda reclamou, apertando os olhos para ler as informações que extraiu de Caitlin sobre as meninas.

O Éire dá dois tapinhas no ombro do novo amigo.

—Eu entendi o que você quis dizer. Anote que essa menina é bem quieta... e um pouco irônica. Acho que ela estava com um pouco de medo de fazer algo errado. - Liam disse e franziu a testa, olhando para a direção em que a garota havia partido. Deu de ombros e sorriu para Ronan: - Ainda vou juntar todas essas peças e descobrir o nome de cada menina com quem eu dancei hoje.

—Sim, senhor. - Ronan concordou com um sorriso de quem também estava se divertindo com a situação.

O olhar do herdeiro bateu então em outro ponto do salão, onde estavam agrupados os repórteres que cobriam o evento.

—Como os invasores estão se comportando hoje? - Perguntou ao seu mais novo cúmplice. Liam sabia que todo o mistério das máscaras havia lhe subido à cabeça e que tudo parecia fazer parte de um filme de ação.

Ronan, por sua vez, não estava tão maluco quanto seu amo e demorou alguns segundos para entender de quem ele falava. Seguindo o mesmo olhar do príncipe, entendeu que se tratava dos jornalistas.

—Eles parecem inofensivos hoje. - O guarda informou. - Gravam algumas danças, tiram fotos dos convidados e comem todos os aperitivos que lhe são oferecidos.

Ainda assim, Liam se remexeu, incomodado.

—Vai dar certo. - Ronan lhe prometeu pacientemente.

—O meu reinado? - Éire murmurou sem pensar.

—O baile. - Ronan respondeu devagar. - Um passo de cada vez, alteza.

E o próximo passo era de dança. Liam rumou em direção a próxima garota que tiraria para a valsa, mas seu inconsciente ficou remoendo incertezas.

♕ ♕ ♕

Acompanhando o brinde do Rei, Elizabeth Adam Morris tomou alguns goles de sua champanhe.

Perto dela, Caitlin Dublin, Shawn Keyes e outra selecionada, vestida de roxo, imitaram o gesto. Mas Elizabeth exagerou um pouco mais e bebeu todo o conteúdo da taça num piscar de olhos e comentou em seguida, ainda saboreando o gosto da bebida:

—Hmm. Se alguém tivesse colocado veneno nos drinks, eu já estaria morta.

Caitlin engasgou com as palavras da selecionada e colocou a mão na boca para não cuspir o que já havia bebido.

—Srta. Morris! - Ela a repreendeu com os olhos arregalados.

Shawn segurou uma risada e a outra garota apontou para Elizabeth.

—Eu sabia que ela era Elizabeth! Mesmo com essa luz, o cabelo azul é inconfundível.

A assessora apenas revirou os olhos. Sabia que ela mesma não devia revelar o nome das meninas, mas a situação foi bastante inesperada. Ela logo ficou sem graça.

Para Elizabeth, o pouco que captara de Caitlin nesse único dia de convivência, não fora uma primeira boa sensação. A srta. Dublin parecia preocupar-se demais com os detalhes e exigir o cumprimento das regras ao pé da letra. E a selecionada de cabelos azuis não era boa em cumprir ordens.

Tinha um espírito quase indomável que não se importava muito com o que as pessoas achavam de suas atitudes e decisões. E tudo que dizia era sempre a mais pura honestidade, o que fazia com que ela soltasse vários comentários sem pensar. Mas dessa vez ela concordou que ter sugerido morrer envenenada em meio a uma grande festa no Palácio Real, além de dramático, foi extremamente inadequado.

Por sorte, nenhum anfitrião ouvira.

Mas Elizabeth logo deu de ombros para aliviar a tensão.

—Só disse isso porque estou ficando entediada.

—E você acha que morrer envenenada animaria a festa? - A outra selecionada retrucou, com ironia. Colocou a mão na cintura e deslocou o peso do corpo em um dos pés. - Seria o tipo de atenção desnecessária.

Elizabeth revirou os olhos.

—Não é nada disso. Isso está entediante porque só podemos dançar com o príncipe. Somos em quinze e ele é apenas um. - Ela deu um grande suspiro que fez os seus ombros abaixarem. - Não há mais nada a fazer além de dançar. Preciso fazer algo ou até o fim da noite estarei bêbada. - Com uma careta de esforço, ela recusou o garçom que aproximou-se para encher sua taça.

Caitlin refletiu por alguns momentos e depois deu um tapinha no ombro de Shawn.

—Não vejo nenhum mal nisso, afinal a senhorita já dançou com o príncipe. Vá dançar com Elizabeth, sr.Keyes. Aproveitem a noite! - Ela empurrou o ajudante para cima da selecionada daquele seu jeito agitado e intimista. - Enquanto isso, eu irei falar com os jornalistas para que não fique nenhum mal entendido dessa situação.

Antes que ela se afastasse, a outra garota jogou a sua franja ruiva para trás e reclamou:

—E eu não irei dançar?

—O príncipe ainda não te tirou para a valsa, senhorita. É prudente esperar que isso aconteça primeiro antes de dançar com qualquer outro cavalheiro. - Caitlin explicou pacientemente e depois foi embora, sem mais delongas.

A selecionada suspirou, frustrada.

—Eu não vou ficar aqui parada. Vou procurar algumas pessoas importantes para conversar... - e determinada o suficiente para fazer uma loucura, ela se foi, desfilando sobre os saltos roxos brilhantes.

Ficou uma situação estranha depois que as duas damas saíram.

Shawn pigarreou, desconfortável.

—Acho que o meu dever seria impedi-la de fazer coisas estúpidas. Mas eu sou novo nesse serviço, então... - Com um sorriso renovado ele estendeu a mão para Elizabeth que a aceitou, sorrindo também.

Shawn a levou até a pista de dança e a conduziu na valsa. Comparando com os passos impecáveis do príncipe, o assistente não era o melhor dançarino. Sabia as regras e acompanhava o ritmo, porém era travado nos movimentos, como se estivesse nervoso.

Dançar também não era o excepcional de Elizabeth, mas ela se esforçava.

Entretanto, cada vez que eles giravam, ela se sentia mais zonza. Algumas cenas apareceram em sua cabeça, sirenes de uma ambulância e luzes de uma sala de cirurgia. Percebendo que algo estava errado, ela tentou focar o seu olhar em Shawn, mas a sensação de vertigem voltou rapidamente.

—Eu acho que preciso sentar um pouco. - Ela murmurou, sentindo a cabeça mais pesada.

Shawn a ajudou a se sentar e olhou para ela com atenção.

—Acho que a senhorita bebeu champanhe demais.

—Eu nunca deveria ter feito aquele comentário. - Elizabeth apertou a ponte do nariz e massageou a região. Embora não estivesse de fato envenenada, ela deveria saber que bebidas em excesso, ainda mais para ela que não estava acostumada a isso, não faziam bem ao corpo. E sua despreocupação, às vezes, aproximava-se da imprudência. - O destino tem um péssimo hábito de pagar com a mesma moeda, não é mesmo?

♕ ♕ ♕

A princesa Eileen pegou a taça de champanhe da bandeja do garçom e experimentou um gole da bebida, com o dedo mínimo levantado. Depois virou-se para a filha e comentou:

—É uma pena que o Príncipe Caleb não está aqui para dançar com você esta noite, querida.

Sienna sentiu-se corar imediatamente.

Felizmente ela foi salva pelo gongo e não precisou responder, pois Liam Éire caminhou em sua direção e mãe e filha se curvaram numa reverência obrigatória. Ele as cumprimentou com cordialidade.

—Permita-me uma dança, Lady Sienna.

A loira aceitou o braço que ele lhe oferecia antes se dar conta de sua decisão, pois ela estava desesperada para esquivar do assunto que sua mãe iniciara. Ainda não havia lhe contado sobre o término com o Príncipe Caleb do País de Gales. Na verdade, ela não havia contado a ninguém.

Liam a guiou para o centro do salão e, para um "fazendeiro", ele se mostrou um surpreendente pé de valsa.

—Achei que Vossa Alteza tivesse se aproximado para me dizer que se arrepende do que foi dito em nosso último encontro. - Sienna murmurou, referindo-se ao que ocorrera em outro dia, quando Liam a comparou a vaca.

—Eu poderia dizer que sinto muito – Liam respondeu sem perder a elegância. - Mas a verdade é que eu não sinto.

Sienna sentiu seu sangue ferver no mesmo instante. Mordeu a língua para se acalmar, pois não precisava de um escândalo frente a família real, as desconhecidas selecionadas e os repórteres. Sabia que havia muitos olhos sobre eles nesse momento.

—Então por que estamos dançando?

—É importante que você, embora tenha renunciado por sei lá qual motivo, seja vista comigo. Assim mostra que está a favor e confortável com a minha posição.

—Não tão confortável. - Ela resmungou, subitamente incomodada com a braço dele em sua cintura.

Ele que até então evitou olhá-la, focou toda a sua atenção na filha do falecido príncipe herdeiro.

—É claro, você preferia estar dançando com o seu noivo.

Os músculos de Sienna se enrijeceram e ela travou o seu maxilar. Não gostava desse assunto e gostava ainda menos do novo morador do castelo falando sobre o seu relacionamento. Mas ele obviamente não pareceu se importar com o incômodo dela e continuou falando.

—Fiquei sabendo que você e o segundo filho do Reino de Gales estão juntos há vários anos. - Liam respirou fundo e falou o que passava por sua cabeça de uma só vez: - Vocês provavelmente têm alguma intimidade. Está se atentando aos cuidados necessários, Sienna? Por que, sabe, está ficando difícil de esconder a barriga nesse vestido apertado.

A lady sequer ficou surpresa com aquela acusação.

—Muito sutil, Éire. - Ela falou com desdém. Liam a girou mais vezes conforme o ritmo da música. Quando pararam com os giros ela continuou, agressiva: - A sua abordagem me envergonha: Me tirar para dançar para me atordoar com acusações de... promiscuidades. E dizer que eu estou gorda! Você definitivamente não sabe como falar com uma mulher.

—Mas... você está grávida? - O jovem insistiu.

Sienna urrou o mais baixo que pode.

—É claro que não, seu idiota! Eu não passo muito tempo a sós com Caleb e além disso... ele beija tão bem quanto uma porta.

Liam afrouxou o aperto na cintura dela, surpreso.

—É um casamento de fachada?

A Lady girou os olhos, imensamente frustrada. Liam estava no meio de uma Seleção com quinze pretendentes e ele ainda não entendia o funcionamento dos relacionamentos na monarquia.

—Por que isso sequer é importante para você? - Ela reclamou. - Você parece uma crianças às vezes.

Estava prestes a dizer para ele cuidar de sua própria vida, porém Sienna percebeu que Liam estava ligeiramente abatido com as últimas revelações. Como desde pequena fora treinada para aprender as engrenagens políticas e sociais da realeza, ela pesou as palavras e reações do príncipe e seu raciocínio a levou para a resposta em pouco tempo.

Se eu tivesse uma relação mais próxima de Caleb, haveria uma pequena possibilidade de eu estar grávida. E se eu tivesse um filho antes de você ser coroado rei... Ele entraria na sua frente na linha de sucessão ao trono.

A música enfim terminou e os convidados aplaudiram a banda. Sienna e Liam ficaram se olhando por mais alguns segundos, ambos em choque.

Sentiam-se surpresos com as revelações do outro e incomodados por confessarem algo íntimo; para ela, o seu casamento arranjado, que também passou a ser algo assustador aos olhos do príncipe, e para ele, sua tentativa de se livrar da coroa.

Ela nunca havia pensado até então como era ultrajante a condição de ter que se casar com um homem do qual ela nunca amou.

Ele nunca havia pensado em abdicar seu título até insinuar isso em voz alta.

Eles mal se conheciam e a situação era, no mínimo, estranha.

Sem fazerem as devidas reverências, cada um virou para um lado e se afastou, odiando terem trazido o inconsciente à tona.