Como Ser um Príncipe - Interativa

Eu posso te ler como uma revista


Dia 13

Os passos de Caitlin Dublin eram firmes e precisos. E todas as selecionadas notaram isso.

Skyla Armstrong-Jones I, caminhando junto das demais pelos corredores até os seus dormitórios, também não deixou de perceber a firmeza da mulher que auxiliaria e coordenaria as selecionadas até quando a Seleção chegasse ao seu fim.

A figura de Caitlin fez a loira lembrar-se da própria mãe e da superioridade dela, assim, induziu a si mesma a pensar se toda aquela postura traria mais vantagens ou desvantagens.

A srta. Dublin parou de repente e virou-se novamente para as meninas. Como estava próxima dela, Sky pode ver a empolgação nos olhos da mulher.

—Os seus quartos ficam a partir daqui. Aquelas que moram na região sul e leste seguem a direita e as demais, a esquerda. Os quartos estarão então por ordem alfabética do nome das selecionadas. Os primeiros corredores – Caitlin apontou para os seus dois lados. - terão cinco quartos, se nenhum desses for o seu, continue adiante que o corredor fará outra curva guiando aos demais quartos.

Ela falava tão rápido que as jovens não se surpreenderam quando uma delas, em meio as outras, resmungou:

—Eu sou péssima em geografia.

Sky virou-se para trás para ver quem havia dito aquilo, mas a garota era apenas mais uma entre catorze desconhecidas.

Caitlin fez uma pausa, refletindo sobre o comentário e depois continuou, como se nunca o tivesse ouvido.

—Os guardas e as empregadas estarão aguardando-as frente a seus quartos. Não é permitido andarem pelo castelo sem supervisionamento e todas devem estar em seus dormitórios até as dez horas. Estejam prontas amanhã no horário do café da manhã, que será passado às senhoritas, e logo após iniciaremos os preparativos para o baile.

Houve um murmurinho entre as garotas a respeito dessa última informação. Algumas não conseguiam acreditar que iriam realmente a um baile e outras não conseguiam se aguentar de ansiedade.

E Sky se remexeu, incomodada com tantas ordens e principalmente com o fato de que teria que ser acordada amanhã. - Se o castelo poderia produzir as maiores festas, os mais bonitos vestidos, as mais deliciosas comidas, ele também exigia o cumprimento de milhares de regras, difíceis de ver em outro lugar a não ser ali.

Sky mordeu os lábios, cansada. Sabia cumprir regras, apenas não gostava delas.

Caitlin entrelaçou suas próprias mãos em frente ao corpo e abriu um sorriso animado.

—Espero que as senhoritas gostem dos quartos.

Com apenas um sinal de cabeça, todas se enfileiraram, pegaram suas chaves, e seguiram pelos corredores, cada uma o seu caminho. Sky virou a esquerda e andou e andou e virou o corredor para os próximos quartos e andou até finalmente chegar ao seu dormitório: O último.

Para a filha de um marquês que vivia cercada por inúmeros criados e uma cidade que a aclamava, ficar com o último quarto era a maior mudança que o Palácio proporcionara até agora.

—Inovações são boas. - Ela disse a si mesma com um sorriso e se aproximou do quarto, mostrando-lhe sua chave.

—Bem vinda, srta. Armstrong-Jones. - Ele falou seguido de uma reverência programada. Ele depois se ajeitou, contraiu as sobrancelhas, como se estivesse em dúvida e então disse com sua voz grave e melódica: - É o último quarto, mas algumas pessoas dizem que os últimos são sempre os melhores.

Ela sorriu em resposta e agradeceu com um aceno.

O guarda se afastou e a deixou entrar no quarto. E não precisou nem dar o segundo passo porta a dentro para perder o fôlego.

A cama de dossel era a primeira coisa que chamava atenção ao entrar. Os lençóis eram brancos e as almofadas verdes-limão - Nova Irlanda realmente gostava dessa cor. As janelas eram enormes e a porta da sacada dava para uma vista exclusiva de um dos jardins do castelo, que embora estivessem um pouco escurecidos pelo cair da noite e das aproximação das pesadas nuvens de chuva, não deixava de ser estonteante.

Os azulejos do banheiro, os abajures dos dois lados da cama, o gesso com detalhes dourados nas paredes e o cheiro suave de lavanda que espalhava-se pelo ambiente. Eram todos detalhes muito impressionantes, quase mágicos.

Sky não podia negar que tudo era de muito bom gosto.

Passou a mão pelo colchão e depois sentou-se nele, cansada. Era apenas o primeiro dia e ele já havia sido imensamente cansativo. O dia seguinte seria inteiro de preparativos seguido do pomposo baile de recepção para as selecionadas. Embora sua vida no estado de Mayo também fosse recheada de muitos requintes, nada comparava-se a grandiosidade dos eventos no Palácio.

Só então que notou a presença da criada, quieta próxima da porta.

—Seja bem vinda, senhorita Jones. Eu sou Clarice. Vejo que está cansada, deseja que eu lhe traga um chá, um suco, um copo de água?

—Não. Obrigada. - Sky respondeu cuidadosamente, notando que a funcionária apenas alguns anos mais velha que ela parecia envergonhada. - Eu acredito que ficarei bem o resto da noite. Nos vemos de manhã?

Clarice deu um passo para frente e outro para trás, hesitante. Concordou então com as mãos tremendo.

—Está tudo bem... - Sky insistiu em dizer ao ver o tamanho do nervosismo da criada.

—Por que você se inscreveu na Seleção? - Ela soltou de repente, como se não conseguisse impedir as palavras. - Você... A senhorita gosta da Dinastia Éire?

Sky apertou os olhos, um pouco assustada. Tentou entender os motivos dessa pergunta, mas vendo que Clarice estava com os nervos a flor da pele, decidiu apenas responder com paciência, antes que alguma coisa ainda mais estranha pudesse acontecer:

—Foi ideia dos meus pais. Mas... - ela gesticulou para os caprichos de seu quarto. - São inovações. Nunca há como saber o que esperar delas, apenas podemos ajudar a torná-las... melhor.

A criada prendeu a respiração, depois se mexeu agitadamente e foi embora sem dizer mais nada.

Skyla mordeu os lábios. Olhou novamente para o seu quarto, repercutindo as palavras de Clarice em sua mente. Ainda era cedo para ela entender a criada e saber os motivos de suas hesitações. Mas inovações são coisas boas.

—Inovações são boas. - Reafirmou para si mesma, buscando a segurança que estava ali há poucos minutos.

♕ ♕ ♕

Havia começado a chover em torno das nove horas da noite. A água caia pesada por todo o estado de Dublin e os vizinhos, mas conforme a ventania de outono alterava o curso da chuva também destinava a sua curta duração sobre o território.

Talvez fosse pela certeza de que o barulho da tempestade se encerraria logo que Éileen insistia que Sienna continuasse tocando a mesma melodia no piano repetidas vezes. Mas, talvez e mais provavelmente, era apenas o seu perfeccionismo exigente.

—Está fora de ritmo. - Ela declarou, andando de um lado para o outro da sala de música, insatisfeita. - Você se perde completamente quando muda de oitavas. Toque de novo. Desde o começo.

Sienna perdeu o ritmo de vez. Tirou os dedos da tecla e os pousou no colo. Estava cansada e algo dentro dela sabia que não adiantava insistir mais nessa música, não enquanto apenas o que sentia ouvindo ela era a sua própria raiva.

—É a sexta vez que você me faz tocar desde o começo. - Reclamou descaradamente e depois se lamentou: - Amanhã é o baile, acho que deveríamos ir dormir mais cedo...

Éileen passou as mãos pelo rosto enquanto ainda andava pela sala de um lado para o outro. Com a música interrompida, agora podia-se ouvir o som de seus saltos batucando no assoalho de madeira.

—Não, não, não... - Ela resmungou entre um misto um cansaço e irritação. - Monarcas não abandonam ou menosprezam a importância de uma tarefa para se pouparem para a próxima. Eles fazem todas as suas obrigação com intensidade.

Sienna virou-se, ainda sentada no banquinho acolchoado do piano, e observou a mãe com receio. Éileen sempre foi extremamente detalhista e exigente, super valorizava as aparências e os costumes. A lady, por sua vez, sempre fora próxima da mãe e admirava ela de todas as maneiras. Porém, após o falecimento do Príncipe Keegan a relação entre as duas ficou fragilizada, como se ele fosse a peça que as mantinha juntas.

Assim, Sienna demorou um segundo para responder, ainda com tanto receio quanto irritação:

—Eu não sou uma monarca. Sequer sou uma princesa.

—Porque você quis assim! - A mãe rebateu imediatamente e suas bochechas logo adquiriram uma coloração avermelhada. - Você foi egoísta, Sienna. Jogou fora tudo o que eu e seu pai lutamos para te dar! Você deixou aquele moleque, Liam, o seu primo de quarto grau usar a sua coroa!

Sienna abriu a boca, incrédula com as palavras da mãe. Mentiras, acusações...

—Você sabe que ele não é meu primo de verdade, não é? Há algumas falhas nas entranhas da linhagem dessa família! - Sienna a lembrou com um tom acusatório e maldoso. - Sabe de uma coisa, mãe? Eu fui egoísta, mas eu fui tão egoísta quanto você! Era o seu sonho me ver como rainha e quando eu renunciei você se ofendeu. - Ela fez uma pausa, recuperando o fôlego. Odiava-se por estar com os nervos a flor da pele nesses últimos dias, ela costumava ser mais calma. E as coisas costumavam dar mais certo. Com um suspiro pesado, completou: - E ficará assim pelo resto da vida. Eu nunca serei uma rainha.

Éileen não escondeu a exaustão e apertou o alto do nariz, mantendo os olhos fechados.

—Não diga isso. Atrai má sorte. Príncipe Caleb ainda é o segundo regente do País de Gales. - Sussurrou sem olhar para a filha.

Os ombros de Sienna murcharam.

—Às vezes parece que eu nem te conheço.

Sem dizer mais nada ela se afastou. Pensando em seu pai, em Liam, em Caleb. Em sua mãe. A jovem de vinte e quatro anos desejava que as coisas voltassem a ser como eram um mês atrás.

Sozinha em seu quarto puxou uma pequena caixa da madeira de baixo da cama e gostou daquela sensação de inocência e magia que sempre vinha a tona quando revirava aqueles pequenos pedaços de papel cheios de recordações.

Sobre o monte de lembranças havia uma foto de seu pai, fazendo careta para a fotografia enquanto Sienna, aos seus catorze anos, ria da cara dele. Mas a imagem do Príncipe Keegan em seu leito de morte se sobrepujou a primeira com eficiência. Era uma doença antiga que estava adormecida em seu corpo durante muitos anos, controlada sempre com remédios caros, mas nas últimas semanas nada mais fizera efeito. Acontecera tudo muito rápido.

Ela apertou os lábios com força e enfiou a foto no fundo da caixa. Não se permitindo reviver o momento, revirou os papeis, em busca de qualquer outro assunto mais agradável. Foi então que, de tanto mexer e remexer em seus itens de valor sentimental que ela notou que faltava a sua mais recente – mas não a melhor - aquisição: A carta de Caleb a abandonando.

Sienna perdeu o ar.

Não se lembrava de ter rasgado a carta, como tivera vontade de fazer. Lembrava-se de estar comendo colheradas de sorvete e de ter sido pega em flagrante. Então percebeu que perdera a carta aí. Ela deve ter escorregado para dentro do estofamento do sofá.

A lady agarrou a cabeça com as duas mãos.

—Essa não! - E não demorou muito para Sienna se lembrar também que aquele sofá que comera a sua carta fora levado ao Salão das Selecionadas e que agra estava rodeado e perdido entre milhares de desconhecidas com um enorme potencial de descobrir o seu mais novo segredo: Que ela fora chutada.

E que as relações entre Nova Irlanda e o País de Gales estavam comprometidas.

♕ ♕ ♕

Dia 14

A força vinha da terra, do vento e do sol. E da coroa em sua cabeça, claro.

Ao seu redor estavam todas as outras meninas com aquele jeito comum, sem sal ou açúcar. Todas idênticas, como fantasmas com o mesmo vestido sem cor e graça. Queriam o príncipe, que permanecia ao seu lado.

—Bom dia!

A voz que cantarolou não pertencia ao cenário idílico de seus sonhos. Era um maldito intruso.

Veronika Égan abriu primeiro um olho e depois o outro e resmungou quando os raios de sol da manhã embaçaram sua visão por um segundo.

—Que porcaria você está fazendo? Que horas são?

A criada abriu as janelas depois de ter puxado as cortinas e respirou com otimismo o ar externo. Virou-se para a selecionada de que estava encarregada e sorriu com confiança.

—São sete da manhã. O seu primeiro café da manhã no palácio começa em meia hora.

Veronika puxou o travesseiro e cobriu o rosto, insistindo em continuar na cama. Murmurou algo que soou como "você atrapalhou o meu sono de beleza". A criada se aproximou, insistente, e puxou suas cobertas, o que fez a garota de cabelos castanhos escuros e olhos azul-água bem claros pular de susto.

—Eu estou no Exército por acaso?

Em pé, a jovem pode observar melhor a funcionária. Ela tinha os olhos verdes, típico irlandeses, covinhas permanentes dos dois lados do rosto e rugas que marcavam suas bochechas e o canto de seus olhos. Era mais velha que a maioria das criadas encarregadas de assistir às selecionadas. Deveria ter mais de sessenta anos.

Seu nome era Odete, e Veronika a conhecera ontem quando chegara ao seu quarto, mas, mesmo sem conhecer a senhora há muito tempo, era indiscutível a vivacidade, animação e otimismo exacerbados da mulher. Além disso, ela tinha uma grande perda de audição e não ouvia muito bem as ordens que recebia. - Detalhes que levariam a senhorita Egan à loucura, com certeza.

Veronika colocou as mãos na cintura e empinou o nariz:

—No meu sonho eu era Scarlett O'Hara. Eu não dependia de ninguém, não precisava de um homem... e tinha uma coroa na minha cabeça. - Ela falou devagar, para esclarecer a importância de tudo aquilo. - Você estragou um sonho muito bom.

Como para enlouquecê-la, Odete sorriu, achando graça.

—Não sei quem é essa daí, mas o dia está ensolarado e perfeito para você ir tomar café da manhã e começar o seu primeiro dia no palácio. Se quer que o seu sonho se torne realidade, tem que lutar por ele. - Curvou-se para frente e tocou a ponta do nariz de Veronika, depois se afastou, caminhando apressada com suas pernas curtas. Gritou por sobre o ombro: - Vou preparar o seu banho!

Sozinha em seu imenso quarto, ela apertou os olhos e tentou manter a calma. Odiava pessoas constantemente positivas e simpáticas com todo mundo, aos seus olhos, elas lhe pareciam totalmente falsas.

Mas abriu os olhos e encarou a linda vista dos jardins dos castelos. Absorveu os raios de luz que entravam no quarto, embora não gostasse de acordar cedo, ela amava dias ensolarados. E como Scarlett O'Hara, a protagonista de um filme muito antigo que seu pai tinha em sua coleção de relíquias, gostava de lembrar: Era um novo dia.

A chuva da noite anterior finalmente passara, e um arco-íris marcava o céu. Os novo-irlandeses ficavam sempre mais alegres em situações assim, e as crianças sempre saiam às ruas, literalmente procurando duendes com potes de ouro.

Logo após o farto café, o dia no Salão das Selecionadas finalmente começou.

Milhares de acessórios de cabelo e maquiagem, dezenas de funcionários para massageá-las, hidratá-las, penteá-las, maquiá-las e atendê-las durante todo o dia. Cada menina tinha sua própria penteadeira no salão de belezas. E a de Veronika era bem no meio.

Depois de ter ficado com o último quarto do corredor à direita devido a infelicidade de seu nome começar com uma das últimas letras do alfabeto, sentar-se no meio de todas as suas correntes definitivamente aumentava a sua autoestima. E valorização.

Todas usavam o mesmo robe de cetim cinza, mas Veronika inclinou-se e olhou-se no espelho. Passou a mão na própria pele e deu um sorriso presunçoso. As selecionadas poderiam estar todas na mesma posição e até mesmo com os mesmos trajes, mas Égan era ambiciosa e sabia que não demoraria muito tempo até ela se destacar entre as demais.

♕ ♕ ♕

Anne Marie Chevallier girou um pequeno dado em sua mão enquanto observava o movimento das pessoas a sua volta. Todas as selecionadas recebiam ajuda para os preparativos de beleza para o baile e Caitlin Dublin corria de um lado para o outro, preocupando-se com todos os detalhes, o que fazia a selecionada lembrar-se de sua mãe e da capacidade dela de ser exigente. A jovem, distraída, pressionou o dado entre o polegar e o indicador, depois girou os dedos e então apareceu outro dado idêntico entre o indicador e o médio.

Sua atenção voltou-se para eles por um momento, nem um pouco surpresa com sua habilidade de ilusão. Mas o gesto a fez pensar sobre todos os preparativos para o baile que aconteciam.

—Por que mesmo as selecionadas vão usar vestidos iguais? - Questionou educadamente a sua criada que aplicava uma pomada na ponta do cabelo loiro da selecionada de dezenove anos.

A mulher olhou-a pelo reflexo do espelho e respondeu com gentileza:

—É o baile de recepção para as selecionadas e as senhoritas precisam ser vistas dessa maneira. Além disso, o objetivo é fazer o príncipe conhecer vocês primeiro pela personalidade. Por isso as máscaras. E os vestidos são de cores diferentes, mas o modelo é o mesmo para que Vossa Alteza não desvende a personalidade das senhoritas a partir do estilo.

Anne refletiu sobre isso e depois brincou:

—Qual é, ele é um garoto. Descobrir a personalidade de quinze meninas apenas pela roupa é um pouco apelo, não é?

—É uma ideia da srta. Dublin. - A criada alertou com um olhar perigoso, mas os lábios contraídos num sorriso difícil de esconder.

Anne virou ligeiramente a cabeça para o lado para observar Caitlin mais uma vez.

Ela era tão espontânea quanto determinada. Era extremamente organizada e habilidosa em liderar as situações. Provocava facilmente a confiança dos outros e os fazia querer mantê-la sempre por perto. Anne desejou que sua mãe fosse mais assim.

Aproximando-se de uma maneira desajeitada, mas ao mesmo tempo sorrateira, Shawn Keyes tocou o ombro de Anne e perguntou se estava tudo certo por ali.

—Só um pouco incomodada com essa ideia de ter vários clones do mesmo vestido no baile desta noite. - Inconscientemente ela girou o dado entre os dedos de novo. Vestidos iguais, truques de mágica... Cartas do mesmo baralho. Um monte de técnicas ilusórias. Ela se esclareceu, para mostrar que não estava tão consternada com essa regra, mas que apenas a achava desnecessária: - É como se fossemos todas irmãs gêmeas... e mal nos conhecemos.

Shawn refletiu sobre suas palavras, com os lábios apertados e o queixo consequentemente enrugado – sua melhor careta de esforço.

—É, pensando bem, será um pouco estranho. Mas no pouco tempo em que estive nesse Palácio, a única coisa que tenho certeza é: Nunca se esperar o mínimo de Caitlin, há sempre um outro plano por trás do primeiro. - Atrás de Anne, a mulher que arrumava seus cabelos concordou com veemência. Shawn deu de ombros. - Talvez, em breve, elas serão mesmo suas irmãs.

Anne pensou em sua irmã mais velha, Ariel. Embora tivessem personalidades bem diferentes, elas eram bem próximas. Assim, ao olhar para todas as outras catorze selecionadas que se arrumavam no salão, a loira viu oportunidades, e não mais competidoras.

Ela ergueu o rosto para olhar Shawn novamente e lhe perguntou, animada:

—Tem irmãs, senhor Keyes?

—Duas. - Ele disse e começou a mexer nos acessórios de maquiagem que estavam sobre a mesa, aparentando desconforto. - Uma está falecida... e a outra parece querer seguir o mesmo destino.

A selecionada arregalou os olhos, surpreendida com a seriedade das notícias, mas principalmente com o desdém com que Shawn as contou. Ele parecia mais irritado com a situação, como uma criança que não ganha o presente que esperava de aniversário, e envergonhado, pois ainda mexia nos acessórios sobre a mesa, que triste ou melancólico. Ou qualquer outra reação esperada.

Anne ficou bastante curiosa, mas não se atreveu em perguntar detalhes.

Novamente, girou o dado em seus dedos e com um movimento rápido ele se duplicou. Shawn assobiou surpreso.

—Como você fez isso?

Anne agilmente fez os dados voltarem a ser apenas um. Ela o entregou para Shawn e sorriu:

—É só uma questão de perspectiva.