POV. Carollyn Barton

O dia primeiro de setembro amanheceu úmido e levemente chuvoso, por tanto, eu quase perdi a hora roncando na minha cama. O que foi? Tempo frio me dá sono! Hoje, porém, Carol me acordou de uma forma mais carinhosa.

- Levante – e jogou meu colchão no chão, comigo junto.

Levantei-me do chão, encarei-a e dei meu sorriso maligno.

- Dê um tapa na sua cara – ela se bateu – De novo. De novo. De novo. De novo. De...

- PARE COM ISSO! – exclamou Carol se batendo.

- Pare de se bater – ri. Carol me lançou um olhar medonho e admito que fiquei com medo, mesmo sendo uma Conjuradora das Trevas. Ruivas dão muito medo, principalmente ruivas com olhos dourados. Então corri para o banheiro e me tranquei lá, onde estaria a salvo da ruiveza de Carol.

Troquei de roupa, coloquei os óculos escuros, conferi se todos os meus materiais comprados no Beco Diagonal (quem diria que a Família Stair era rica o suficiente para comprar gelado de macarronada suficiente para um ano?). Minhas vestes, materiais para poções, facas (me gusta) e a minha varinha estavam todos na mala.

Acredite se quiser, mas Carol até conseguir manter a seriedade durante a nossa visita a loja de varinhas. A minha varinha era de carvalho negro, fibra de coração de dragão, 28 centímetros. A de Carol era de castanheiro, pelo de unicórnio, 34.5 centímetros, inflexível.

Nós fomos de ônibus até a estação King Cross, onde – segundo o folheto – deveríamos achar a Estação Nove e Meia. E adivinha? Não tinha nada entre as estações nove e dez.

- Legal – falei sarcástica – Aquele maldito mendigo nos enganou de novo!

- Espere – disse Carol estreitando os olhos e olhando fixamente para onde “supostamente” deveria estar a estação nove e meia – Se meus cálculos estiverem corretos, e eu sei que estão, a celeridade atual do vento somada a celeridade da nossa corrida deve resultar na abertura de um vórtex na linha temporal do universo, nos impelindo a uma dimensão análoga a nossa atual. Isso se...

- Fale numa língua compreensível, por misericórdia – pedi com as sobrancelhas franzidas.

- Corra até aquela parede – traduziu Carol.

Respirei fundo, segurei meu carrinho e corri até a parede. Fechei os olhos para não ver o impacto e... Ele não veio. Abri os olhos e me vi numa estação totalmente diferente.

- UH! – gritei – EU NÃO ME ESPATIFEI NA PAREDE, LÁLÁLÁLÁ! Ainda bem, eu sou bonita demais para me espatifar em paredes...

Carol surgiu logo depois e deu um sorriso vitorioso.

- Eu te disse – falou – Estou sempre certa!

- Menos quando se trata de escolher comida.

- Ah, cala a boca.

Entramos em um trem vermelho enorme, que eu presumi ser o nosso pelas enormes letras brancas formando “EXPRESSO DE HOGWARTS”. Achamos uma cabine vazia e nos sentamos lá, após guardar as malas.

Depois de vinte minutos com o trem andando, Carol dormiu (depois ela diz que eu ronco). Uma garota loira de olhos azuis usando brincos de rabanete (?) bateu na porta.

- Olá – ela tinha uma voz sonhadora – Sou Luna Lovegood.

E daí?

- Gostei dos seus brincos – falei irônica, mas ela apenas sorriu agradecendo. Affs, odeio gente que não entende sarcasmo – Sou Carollyn Barton, e aquela que está roncando é Caroline Stair.

Luna entrou na cabine – sem a minha permissão, mas enfim – e sentou-se.

- Vocês são novas em Hogwarts? – perguntou tão gentilmente que até considerei em dar-lhe uma resposta normal.

- Sim.

- Porque não receberam suas cartas aos onze anos?

- Não nos queriam por perto.

- Por quê?

- Somos... Perigosas.

- Como?

- Fazemos coisas erradas.

- Que coisas erradas?

- Você é curiosa demais.

- A curiosidade move o mundo.

Sorri. Carol vai gostar de conversar com essa garota. Mas por hora...

- Escuta aqui – tirei os óculos escuros e olhei diretamente nos olhos de Luna – Você não vai fazer perguntas sobre nós, nem sobre o que somos, nem sobre onde viemos. E também não vai mencionar que eu tenho olhos dourados. Entendeu?

Ela assentiu. Recoloquei os óculos satisfeita.

- Ótimo, podemos ser amigas, Luna. E pode me arrumar um par de brincos igual ao seu? Eu realmente gostei muito deles.

* * *

A noite já começava a cair quando chegamos a Hogwarts. Como eu previra, Carol e Luna estão conversando a horas sobre assuntos além da minha frágil compreensão – como, por exemplo, que tipo de comida era servida no café da manhã na Espanha no século XIII. Muito interessante.

Quando o trem finalmente parou, pegamos nossas malas e saímos. Um homem enorme e barbudo estava chamando:

- Primeiranistas! Primeiranistas aqui!

- Será que devemos ir até lá? – perguntei – Sabe, esse é o nosso primeiro...

- Não – disse Carol – Olhe só, é para lá que vão as crianças! Não vou ficar no meio daquelas crianças!

- Srtas. Stair e Barton? – gritou o homem quando nos viu, assentimos – Venham comigo, por favor!

Carol bufou. Puxamos nossas malas até o meio daqueles fedelhos animados para entrar em Hogwarts.

- Pessoal, meu nome é Rúbeo Hagrid, sou o guarda caça de Hogwarts – falou o homem – Eu os levarei até Hogwarts. Iremos andando até o lago, depois iremos ao castelo de barco. Sigam-me, por favor.

Nós o seguimos por uma trilha de terra, e quando a lama apareceu, eu parei, indignada. Eu não tenho essas frescuras patéticas como quebrar a unha, passar um quilo de maquiagem na cara ou ter um guarda roupa cheio de roupas de marca, mas cara... Essas botas que estou usando custaram os olhos da cara!

- EU NÃO PONHO UM PÉ NESSA LAMA! – gritei para Hagrid – SABE QUANTO UMA SIRENA GASTA COM ROUPA PARA SE MANTER SEXY? EU NÃO VOU MANCHAR MINHAS BOTAS COM LAMA!

- São só botas – disse Carol.

- Não são só botas – joguei o cabelo para trás expressando toda a minha fabulosidade – São Louis Vuitton.

E eu, com o meu intelecto superior, bolei o plano perfeito – já que Carol também não estava muito disposta a andar no meio daquele lamaçal.

- Ei, garotos – chamei um grupo de garotos de onze anos – Podem nos ajudar?

Eles assentiram na hora.

- Quero que vocês carreguem minha amiga e eu até o lago – disse com firmeza – E se nos deixarem cair, vocês vão descobrir porque eu sempre deixo as minhas unhas tão afiadas.

Resultado? Carol e eu fomos carregadas por nossos escravos até chegarmos ao lago. Eu amo ser uma Sirena! O castelo de Hogwarts se ergueu a nossa frente e, tenho que admitir, é um castelo muito bonito, o tipo de castelo que eu realmente vou adorar destruir. Os escravos nos pousaram delicadamente no chão quando chegamos ao lago.

- Entrem nos barquinhos, pessoal! – instruiu Hagrid – E são somente quatro pessoas por barco!

Carol e eu entramos em um barquinho com duas garotas. As duas tinham cabelos loiros e olhos azuis, o que me irritou, porque pessoas que tentam ser mais bonitas que eu me irritam.

- Moças, vocês não deviam estar aqui! – disse uma delas com uma voz irritantemente aguda – Deviam estar com os alunos mais velhos!

- Esse é o nosso primeiro ano, então tecnicamente, somos primeiranistas também – respondi.

- Oh – disse a outra – Eu sou Melanie Volant, e essa é minha irmã, Julia.

- E isso nos interessa por que... - disse Carol. As meninas fizeram uma cara ofendida.

- Mal educada! – exclamou Julia.

- Vocês que invadiram o nosso barco – falei.

- Esse barco não é de vocês, não tem seus nomes! – exclamou Melanie.

- Esse barco é nosso desde que nós quisemos que fosse nosso – disse Carol – É, tipo, a lógica da vida.

- Suas esquisitas! – exclamou Julia.

Carol e eu nos olhamos e chegamos a uma rápida conclusão que qualquer Conjurador das Trevas chegaria: Empurramos as duas garotas para fora do barco.

Sorri e disse para a minha melhor amiga:

- E é assim que se chega numa escola nova.

- Obedecendo aos professores?

- Não, fazendo escravos e empurrando crianças para fora de barcos.

- Touché.