POV. Carollyn Barton.

– Uma das principais razões para Dom Quixote ser considerado um clássico da literatura mundial é sua história recheada de valores morais e... SENHORITA BARTON, VOCÊ ESTÁ PRESTANDO ATENÇÃO? - gritou a professora de Filosofia.

Ergui a cabeça da carteira e olhei-a. Mortais.

– Hãn ham – concordei.

– E sobre o que dizia?

– Algo chato e patético que não vai ajudar em nada da minha vida, sem dúvida – ergui as sobrancelhas.

– É mesmo? – a professora cruzou os braços – E se eu lhe der uma suspensão, mocinha?

Troquei um olhar com Caroline e sorri.

– Você não vai fazer isso – falei com a voz doce – Não vai me dar suspensão. Agora, continue dando sua aula, dê-me uma boa nota na prova e finja que eu não existo.

Ela piscou por alguns segundos, assentiu e continuou sua aula. Perfeito. Ainda bem que esta já é a última aula, acho que eu não conseguiria alguém mais alguma.

Meu nome é Carollyn Barton (não, seus engraçadinhos, eu não tenho nada a ver com o Clint Barton), tenho dezesseis anos e sou uma Conjuradora das Trevas, Sirena. Vivo em Londres e moro e estudo no Reformatório Skull Para Crianças Problemáticas. Tenho cabelos castanhos escuros cacheados, olhos dourados de Conjurador das Trevas (antes eram azuis) e pele pálida.

O sinal tocou. Carol veio até a minha mesa.

– Levante logo – disse a simpatia em pessoa – Temos que ir nos trocar para o show do Green Day!

Ah, é. Esqueci que era hoje. Caroline Stair é minha melhor amiga desde que eu ajudei-a a conseguir pudim (amizades duradouras começam com pudim); ela tem cabelos ruivos com grandes doses de castanho, pele mais ou menos bronzeada e, assim como eu, tem que usar os óculos escuros para esconder os olhos dourados. Ela é uma Conjuradora Empática das Trevas.

Fui praticamente arrastada até o nosso dormitório. Os dormitórios aqui no Reformatório são para duas pessoas cada. Após eu terminar de trocar de roupa, encontrei Carol saltitando – e olha que, para saltitar, ela deve estar muito ansiosa.

– Será incrível – disse Carol enquanto descíamos as escadas em direção ao portão principal – Eu já decorei todo o repertório desta noite!

– Você é a única nerd de Green Day que existe – falei.

– Nerd? Não, prefiro o termo mais inteligente que você – ela respondeu. Mostrei-lhe a língua.

Já estávamos a caminho da arena onde o show aconteceria quando um homem começou a andar em nossa direção. Devia ter uns duzentos anos, barba branca, olhos azuis e um nariz torto.

– Olha, é o Papai Noel! – falou Carol.

– Não seja boba, garota! Aquele é o Gandalf! – respondi.

– Ou pode ser um mendigo!

– Ér... Na verdade, meu nome é Dumbledore – falou o homem quando estava próximo de nós – Eu...

– ELE É UM MENDIGO ASSALTANTE! – gritou Caroline para a rua – SOCORRO! AHH!

E começou a espancar o velho com a sua bolsa de couro. Dumbledore tropeçou e caiu no chão, ainda apanhando. Aquilo foi tão engraçado que nem tentei parar a briga, só fiquei rindo feito uma abobada.

– Pare com isso! – exclamou Dumbledore jogando a bolsa longe – Eu não sou nenhum mendigo assaltante! Sou um bruxo, diretor de uma escola de magia!

– Um diretor assaltante? – tentou Carol.

– NÃO!

– Ah, tudo bem, não precisa ser grosseiro...

– Senhoritas, tenho muito a informá-las – disse ele – Por favor, venham comigo.

– E o show do Green Day? – choramingou Carol.

– Você pode atacar o Billie Joe outro dia, agora vamos seguir o Gandalf! – exclamei puxando-a.

Arrastei Carol até um café, sentamo-nos e Dumbledore nos pagou dois cupcakes (ele é o diretor assaltante mais legal da Terra!).

– Escutem – começou ele calmamente – Eu sei que vocês são Conjuradoras, mas um de seus pais era bruxo. Portanto, vocês são bruxas também.

– Não é bruxa, é Conjuradora! C-O-N-J-U-R-A-D-O-R-A!!! – soletrei para o analfabeto.

– Vai dar tudo no mesmo.

– EU VOU TE MATAR, SEU VELHO!!! SEGURA MEU CUPCAKE!!! SEGURA MEU CUPCAKE!!! – exclamei dando meu cupcake para Carol. Confundir bruxo e conjurador é MUITO patético e me irrita muitíssimo.

Demorou uns dois minutos para eu me acalmar, então respirei fundo e sentei-me na cadeira novamente. Gandalf disse que nós somos metade bruxas e metade conjuradoras. Muito louco.

– Espere um segundo – disse Carol - Se todo bruxo vai para Hogwarts aos onze anos, e nós temos dezesseis, porque nossas cartas não vieram?

– Para falar a verdade, ninguém queria duas Conjuradoras das Trevas entre os alunos – falou o diretor.

– Claro, se não meu brilho iria ofuscá-los! – respondi jogando meu cabelo para trás – Quando é que nós vamos para essa escola?

– As aulas começam semana que vem. Vocês devem comprar seus materiais no Beco Diagonal, que fica aqui em Londres mesmo – ele nos entregou um folhetinho – Aqui tem tudo que precisam.

SOU UM BRUXO, E AGORA?

Descobrir sua linhagem mágica é algo maravilhoso! O primeiro passo, obviamente, é fazer compras no Beco Diagonal, localizado ao norte de Londres, tendo sua entrada no bar Caldeirão Furado. Não nos responsabilizamos por fraturas provocadas por corujas esfomeadas.

– Legal – disse lendo – Bem legal.

– Vocês devem comprar todo o material que utilizarão este ano – ele entregou outra folha – Devem comprar varinhas, vestes, materiais para poções, um bichinho de estimação legal... Essas coisas.

– Posso levar um crocodilo? – perguntou Carol.

– Não.

– Um mamute? – perguntei.

– Não.

– Um pinguim?

– Não.

– Um leopardo?

– Não.

– Uma enguia elétrica?

– Não mesmo.

– Um Tiranossauro Rex?

– Boa sorte em tentar encontrar um.

– Um leão?

– Apesar de ter sentido, não.

– Um falcão?

– Repito minha resposta anterior.

– Um macaco? – tentei.

– Oh céus, macacos não – Carol estremeceu – Eles são malignos!

– Enfim... Encontro-as semana que vem, senhoritas – e assim, ele se teletransportou para algum outro lugar. Sinistro.

– Isso é horrível – disse Carol.

– Sermos bruxas?

– Não, eu perder o show do Green Day! Já deve estar na metade agora! Eu vou matar aquele velho!