Come Home

Capítulo 1


Ela chegou e já foi deixando a pasta, a bolsa e o casaco no sofá sem se preocupar com a bagunça, algo incomum que demonstrava seu nível de cansaço. Olhou para a poltrona e o viu concentrado no notebook em seu colo.

- Quem é você, mulher? O que faz aqui? – ele perguntou sem tirar os olhos da tela do computador.

- Bom dia para você também, Mulder. – ela disse se aproximando dele para o que seria um beijo curto se ele não tivesse rapidamente colocado o aparelho na mesinha ao lado e a puxado para seu colo, aprofundando o beijo e lhe acariciando a face. Ela sentiu toda a tensão sair de seu corpo ante o gesto. Ele sabia exatamente o que fazer nessas situações.

- Você precisa parar com esses plantões tão longos, você já não tem mais 20 anos, sabe disso, certo? – ele lhe disse com tom de brincadeira, apesar da real preocupação em seus olhos.

- Hey, está me chamando de velha? – ela respondeu, também brincando, tentando distrai-lo.

- Velha não, mas você tem que admitir que esses plantões não te fazem bem. – agora ele estava sério, mostrando que ela não iria distrai-lo tão facilmente.

- Mulder, são ossos do ofício e você sabe disso. Não vamos discutir isso novamente, sim?

- Tudo bem, não vou insistir nisso agora, mas esse assunto não está encerrado. Por que você não vai lá para cima tomar um banho e relaxar enquanto eu preparo alguma coisa para você comer? Tenho certeza de que está faminta.

- Você quer dizer enquanto você vai na loja da esquina comprar alguma coisa pronta, certo?

- Você não acredita nas minhas habilidades na cozinha, Scully? – ante o olhar dela, ele pareceu desistir de se fazer de ofendido e admitir a verdade. - Não, eu quis dizer enquanto eu ligo na loja da esquina para eles trazerem alguma coisa. Mas só porque assim é mais rápido.

- Ahan, sei... – dizendo isso ela se levantou e subiu para tomar seu banho sem sequer imaginar o que acontecia naquele exato momento em uma fazenda do Texas.

No Texas...

Uma mulher de aproximadamente 40 anos observava o bebê de dois anos brincar com o filhote de cachorro adquirido naquela manhã pelo marido. Não se cansava de olhar para ele. Depois de tantos anos tentando engravidar, e depois de mais alguns esperando para adotar um bebê, já tinha até perdidos as esperanças. Foi quando William apareceu.
Imaginava que devia ter sido muito doloroso para a mãe biológica ser separada dele, apesar de todos lhe dizerem que ela provavelmente era alguma drogada de quem a guarda da criança fora tirada e que provavelmente nem se lembrava dele. Isso parecia errado para ela e não era aquele sentimento de que pessoas assim não existissem, mas ele parecia ter sido uma criança amada, havia algo na forma como ele a olhava que a fazia pensar que ele sabia que ela não era sua mãe verdadeira. Ela sabia que isso era impossível, ele estava há mais de um ano com ela, não podia se lembrar da mãe biológica.

Mas, mesmo assim... E ainda somava-se a isso a estranha reação dele ao ver pessoas ruivas. Ninguém entendia, William não era daquelas crianças que iam no colo de qualquer pessoa, mas, ao ver uma pessoa ruiva, já estendia os bracinhos, pedindo para ser pego e sempre caía no choro, tanto quando a pessoa não o pegava quanto quando o fazia. Isso a deixava pensar que a mãe misteriosa ou alguém próximo a ele devia ter cabelos vermelhos. Mas logo afastava esses pensamentos. Ele era seu filho, não importava o que acontecesse.

Quando o cachorro começou a latir, olhando para a porta, soube que alguém estava chegando. Pensando ser o marido, pegou William e foi até a janela, estranhando a chegada dele tão cedo para o almoço, imaginando que algo devia ter acontecido. Mas não viu o que esperava.

Dez homens bem armados se aproximavam da casa sem medo. Ela teve um pressentimento de que não poderia ser coisa boa e se apressou para a porta dos fundos com o bebê. Mas, ao chegar lá, se deparou com mais dez homens tão bem armados quanto os outros. Não tinha para onde fugir, eles a tinham visto. Tentou entrar na casa e trancar a porta dos fundos, mas nesse exato momento ouviu a da frente sendo aberta. Desesperada, se dirigiu ao escritório e trancou a porta e as janelas.

Ao pegar o telefone para ligar para a polícia, ouviu os homens começarem a forçar a porta, estava discando ainda quando conseguiram arrombá-la. Suas últimas lembranças foram William sendo arrancado aos berros de seus braços e o disparo de uma arma.