Come Back

Criança, Mulher ou Prostituta


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- Vai mesmo ficar com essa cara o dia todo?

- Me deixa em paz – Me debrucei sobre a mesa e soltei um longo suspiro.

O movimento estava fraco, meio de semana e tempo nublado, diferente de mim, não parecia muito atraente para os californianos. O restaurante estava vazio, Timmy saíra e eu estava sozinha com aquele babaca.

- Não! Olha pra mim – ele puxou meu queixo, me obrigando a encará-lo – O que aconteceu depois que eu fui embora?

- Ela chegou e... eu bati pra caralho nela

- O quê?

- É, eu acertei a cara dela na maçaneta – soltei uma pequena risada sem querer e ele sorriu de volta

- To começando a ficar com medo de você Wade – ele continuou rindo, mas logo sua expressão normalizou – Ela fez então? – ele fez uma pausa breve – Ela te traiu com o Jimmy?

- Sim, e ele acabou se apaixonando por ela

- Espera, o quê?

- É, ele me deu um fora, praticamente disse que ela fode melhor do que eu.

- Esse cara é um babaca, e como você está?

Soltei o ar e deixei minhas costas deslizarem pelo encosto da cadeira

- Exausta – Notei que ele desviou os olhos e mordiscou de leve o lábio inferior, ele queria falar algo – O que é Samuel?

- E que eu... – ele engoliu a saliva – E quanto a nós?

- Esquece, foi um breve deslize, não tem como dar certo.

- Por que não? – Ele se aproximou mais de mim – Eu sei que em algum lugar ai dentro você sente alguma coisa por mim

De uma maneira muito estranha eu realmente sentia, mas não era como eu sentia por Jimmy, não chegava nem perto. Apesar de que caso Jimmy preferisse Joy, talvez eu fosse obrigada a abrir mão do que eu sentia por ele e agir meramente em função da minha tarefa de não deixá-lo morrer. Mas isso era exatamente o que eu não queria. Uma vida depois de ter provado o sabor do Sullivan seria uma vida de que? Eu tinha certeza que nada se igualaria ao sabor dele, e talvez eu me condenasse a uma vida de dissabores, depois de ter provado o melhor que minha própria vida poderia me oferecer. Sam era um ótimo rapaz, mas nunca conseguiria ser o suficiente pra mim, não depois de eu já ter sentido o calor do corpo e o sabor dos lábios de Jimmy.

- Sam acho que vai ser melhor se nós não nos envolvermos. Só traria mais dor e sofrimento, você não merece isso.

- Mas Allie...

- Talvez em uma outra época.

Outra época, minha época. Nela eu sou apenas uma maluca solitária, não tem espaço pra alguém lá. Quando eu voltar para casa isso tudo não vai ter passado de um sonho.

Claro que eu já tinha imaginado várias vezes em como seria quando eu voltasse, se Jimmy ainda faria parte da minha vida e se minha vida seria menos monótona, mas é claro, eram apenas sonhos. O próprio Jimmy já provou pra mim que não damos certo, ele cuspiu isso na minha cara, na verdade.

Me levantei me desfazendo dos meus devaneios

- Chega de jogar conversa fora, precisamos lavar alguns pratos antes que Timmy chegue e chame a gente de imprestáveis. Anda Sammy

Senti minha cintura sendo bruscamente puxada e um nariz deslizar suave pela curvatura do meu pescoço.

- Não quero lavar pratos

- Sam por favor...

Com a mesma intensidade ele girou meu corpo para que eu o encarasse, seus braços já me mantinham colada ao seu tórax.

- Pare de lutar

Seus lábios se juntaram ávidos aos meus, mas dessa vez eu não estava muito certa se queria aquilo, permaneci um tanto estática enquanto ele aprofundava o beijo e passeava as mãos pela minha silhueta.

- Alison?

Afastei Sam um pouco assustada e ofegante, olhei para o visitante ali, ele parecia muito surpreso, talvez ainda não estivesse a par de tudo que estava acontecendo.

- Zacky, ahm, oi...

- Mas o que...??

- Samuel acho melhor ir lavar os pratos, já vou indo te ajudar.

- Tem certeza? – ele lançou um olhar desafiador para Zacky

- Tenho, falo com você depois

Sam assentiu com a cabeça e me deixou a sós com o moreno de olhos maravilhosamente verdes.

- Não consigo acreditar no que meus olhos acabaram de ver! Que porra foi essa? Deu pra trair o Jimmy também? Caralho! Nunca imaginei isso de você Wade!

- Cala a porra da boca Baker! Não faz nem noção de tudo que aconteceu entre eu e Jimmy nos últimos dias.

Me joguei derrotada na cadeira novamente, ele puxou uma delas para ele e se sentou ao meu lado.

- Okay, parece que estou um bocado desinformado. Sei que não somos próximos, mas se quiser – ele deu uma longa respirada – pode falar que talvez eu sirva pra alguma coisa.

- Uau, amansou tão rápido, achei que ouviria alguns xingamentos antes de chegar nessa parte.

Ele riu sonoramente

- Acredite, eu sei o que é beijar alguém por causa de uma briga idiota com alguém realmente importante – ele se calou por um breve instante – Na verdade acho que já fiz até coisa pior.

Minha vez de sorrir

- Obrigada

- Fica tranquila, eu não tenho nenhuma moral pra te julgar. Agora pega uma 40’ pra mim, não vou querer ouvir isso totalmente sóbrio.

Me levantei, peguei a garrafa no freezer, fiz menção de entregá-la a ele mas não o fiz

- Espera, pensei que fosse o cara comportado dos Sevenfolds

Ele tomou a garrafa da minha mão e sorriu

- Não, esse aí é o Matt – ele deu um gole breve na cerveja e completou – Eu sou o espertinho. Agora coloca tuas dores pra fora mulher.

- O Jimmy comeu minha irmã gêmea – falei dando de ombros, tentando fingir que aquilo não significava muito – Eu descobri e ele aproveitou pra jogar na minha cara que eu era muito comportada e que ela não fazia ele se sentir uma pessoa tão ruim. E não se preocupe, o lance com o Sam não é nada demais, ele é só um garoto.

- Ei espera, você tem uma irmã gêmea?

Dei um soco no braço dele

- Por acaso ouviu alguma coisa do que eu disse? – Soltei uma gargalhada – E sim, pode-se dizer que ela existe e tem a minha cara – Peguei a garrafa dele e deu um longo gole – Merda, isso realmente soa muito pior quando se está sóbria.

- É só isso? Se for só isso acho que está perdendo seu tempo com esse garoto, olha Wade, eu vou ser sincero, acho que existe uma possibilidade considerável do cabeção realmente gostar de você.

- Não ouviu as coisas idiotas que ele disse pra mim.

- Alison você é meio lenta né? Cara o Jimmy é um idiota e pessoas idiotas dizem coisas idiotas, mas eu se fosse você não desistia tão fácil, isso é, se você realmente gostar dele.

- Mas eu... eu tenho medo

- Foda-se a porra do seu medo. Não to falando pra virar uma rebelde sem causa nem nada, mas você as vezes age como se fosse a mãe dele. Talvez ele tenha razão, talvez você deva agir um pouco mais como namorada dele. O Jimmy é um cara complicado Allie, e se você quiser manter sua cabeça sem chifres vai ter que dançar conforme a música dele – ele enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno cartão – Toma.

Ele estendeu o cartão pra mim, havia um endereço e nele.

- Ta dizendo pra eu ser uma prostituta? Se ele quiser uma é só voltar pra Lea. E o que é isso? – Falei lendo o cartão

- Era o motivo de eu ter vindo aqui, amanhã é aniversário do Little Johnny, ele pediu pra eu passar aqui e te convidar, acho que ele já sabe da sua briga com o Sullivan, caso contrário bastaria chamar o Jimmy que ele logo te arrastaria pra lá – ele abriu um meio sorriso – Você deveria ir

- Eu não sei Zacky...

- Olha não é questão de ser prostituta ou não, mas pensa, se ele quisesse uma mãe ele voltava a morar com a Barbara, você é uma mulher adulta e independente, sabe o que faz de si mesma, mas se continuar só brincando de enfermeira corre o risco de cair na mesma mesmice que virou o relacionamento dele com a Lea – Ele virou o restante do conteúdo da 40’ garganta abaixo – Não vou ficar insistindo, você faz o que quiser, mas se serve de incentivo, meu aniversário é poucos dias depois do dele e garanto pra você que não chegará nem perto da diversão do aniversário do Johnny, o nanico sabe fazer uma farra como ninguém, acho que vai gostar.

Zacky se levantou e pagou pela cerveja, depois foi embora. Fiquei mais alguns segundos olhando para o cartão rabiscado, a letra provavelmente do Johnny.

Pra ser sincera eu tinha medo de me aproximar de Jimmy e ouvir o mesmo que eu ouvira ontem, ou talvez algo ainda pior. Bom, talvez fosse a minha vez de falar.

- Allie, o que ele queria?

Entrei na cozinha e já fui atacada com as perguntas dele.

- Me convidar pro aniversário do Johnny

- Você não vai né?

- Ainda estou pensando, mas acho que vou.

- Por que? Você não precisa mais andar com essas pessoas

- São meus amigos Sam, me acolheram quando eu cheguei.

Ele pareceu ficar um pouco irritado, largou o pano que usava para secar os pratos na mesa.

- Você vai pra que? Por causa daquele babaca do Sullivan? – ele socou com força a mesa de metal – Será que você é tão burra assim Allie? Vai deixar ele te fazer de boba até quando?

- Sam isso não é da sua conta!

- Não é da minha conta? Você vai voltar pra ele e como nós vamos ficar?

- Quê? NÓS? Não existe nós Samuel.

- Mas Allie...

Levei as mãos à cabeça

- Samuel eu tenho uma missão a cumprir, e até eu completá-la não posso ficar com você. Agora chega, não vamos mais entrar nesse assunto, senão eu vou ser obrigada a pedir demissão.

- Então – ele engoliu seco, provavelmente tentando não explodir e falar uma porção de coisas que eu já sabia – Você vai no aniversário do Johnny?

Jimmy

Ódio. Era possível? Olhar a própria imagem no espelho e sentir ódio? Por que é exatamente isso que sinto. Olha só pra mim? 28 anos de quê? Álcool, drogas, transas miseráveis, e algumas notas musicais. Se eu morrer, o que vou deixar pra trás? Além da banda não existe mais nada me conectando nessa vida, nenhum laço de sangue, nenhum filho, nenhuma família com meu nome além da que meu pai formou, se eu morrer, cairei no esquecimento em pouco tempo. Afinal, pessoas solitárias tem o que pra se fazerem lembrar?

Me afastei do espelho e caminhe pelo quarto, a cartela de comprimidos estava a minha espera, tomei os daquela hora, ela ficaria orgulhosa se soubesse que eu estava tentando sobreviver mais um dia. Merda. Será que é tão difícil passar dois segundos sem me lembrar dela?

A irmã gêmea tinha sido uma puta de uma babaquice, confesso. Mas eu não sei explicar. Quando Leana apareceu na minha porta alguns meses atrás eu quis me afastar, com a Joy foi diferente, a principio eu pensei em desmascará-la ali mesmo, na frente de todo mundo da banda, mas o meu desejo de saber onde ela queria chegar falou mais alto. Observando aquela menina notei que havia mais da minha Allie do que eu imaginava nela, a mesma risada, o mesmo modo de andar, o mesmo olhar assustado. Era possível que irmãs gêmeas possuíssem essa semelhança tão grande? Até onde eu sabia, gêmeos costumam ficar cada vez mais diferentes com a idade, mas não naquele caso. Ambas possuíam a mesma doçura, com a diferença que Joy era um pouco mais estúpida, talvez tenha sido aquilo que me deixara excitado. Uma garota com a doçura da minha Allie, mas quebrada, errada, idiota assim como eu.

Era muito estranho, por que no fundo eu não me senti traindo a Allie, mas eu traí não é mesmo? E ainda falei toda aquela merda pra ela. Agora não dava pra voltar atrás. A garota, a Joy, está me ligando desde ontem, mas achei que me envolver mais nisso só causaria mais feridas. Não vou enlouquecer com isso, não agora.

Aniversário do Johnny. Dia feliz. Não vou levar esses problemas para a mesa do bar, não hoje. Joguei um casaco um pouco grosso sobre a roupa, fazia frio, talvez fosse o dia mais frio do ano. Passei pela sala de cabeça baixa para não fitar o espelho, o monstro de olhos azuis não ia me deixar sossegado se eu olhasse para ele de novo, peguei um gorro e as chaves do carro. Bar do Johnny, hora de brincar de ser feliz.

- Ah vem cá seu pedaço de gente, feliz aniversário seu viado. Cacete você tá fedendo pra caralho – Ele realmente tava fedendo, sabe lá deus por que, mas é um dos meus melhores amigos, o que eu posso fazer? O empurrei depois do abraço apertado – Credo você tá cheirando a cu.

- Vai se foder Rev!

Sorri e agitei a cabeça tentando exalar aquele cheiro, depois saí caminhando pelo bar, como eu poderia supor, estava lotado. Passei por Matt e Brian, os cumprimentei rápido e fui logo para o balcão, preciso de um cerveja antes de sentar na mesa com os babacas.

Pedi uma Heineken, hoje meu sangue não aceitaria outra cerveja além daquela. Mas pra minha incrível surpresa, veio algo mais além da minha familiar garrafa verde.

- Que porra é essa? – Falei em voz alta, mas o barman deu de ombros, peguei o papel e o desdobrei. Li e reli aquilo umas três vezes, eu ainda não estava bêbado, só tinha dado um gole na garrafa. Sim, aquela era a letra dela.

Hey garoto morto, quero cortar sua garganta até todo o seu sangue vazar. Quer dizer que a xérox é a única garota má? Acho bom vir no depósito de vinhos do velho Johnny se não quiser morrer como um miserável”.

- E aí? O que é? – O barman se esticava para ler o que tinha no papel, eu estava um pouco surpreso, mas não ia ficar ali parado feito um idiota. Me levantei e fui caminhando pela multidão, caralho de onde saiu tanta gente? E cacete onde fica a porra desse depósito? Caminhei o mais rápido que eu pude até encontrar a adega.

Respirei fundo uma única vez e empurrei a porta de metal, que era consideravelmente pesada. Estava escuro e o ar parecia que era composto só de poeira, caminhei um pouco mais para dentro do ambiente, aparentemente não havia nada ali além de prateleiras cheias de vinho. Caminhei um pouco hesitante até que a luz se acendeu. Caralho.

- Allie – Não pude conter o sorriso idiota que se formou no meu rosto.

- Cala a porra da boca, ou você não sai daqui vivo.

Ela se levantou, o sutiã preto ficava perfeito nela, a pele tão branca dela combina perfeitamente. Aquela era mesmo a minha Allie? Sim, eu a reconheceria até de olhos fechados, e seminua era ainda mais fácil de reconhecer.

- O que é isso? – Ela caminhou a passos lentos até mim, estava só de langerie, o cabelo castanho um pouco desgrenhado e tentei não sorrir, ela tentava se equilibrar em um par de saltos altos, apesar de eu querer rir fiquei com medo do que aconteceria se eu o fizesse.

Espera, ai caralho, aquilo é uma faca?

- Senta – ela chutou uma cadeira para mim, eu obedeci e me sentei, apesar daquilo parecer uma brincadeira sexual muito divertida, ela parecia muito magoada, olhei para sua fisionomia e vi dor em seu rosto.

- O que vai acontecer?

- Tenho algumas perguntas pra fazer, quero que me responda com sinceridade.

- Okay

- Se tivesse que escolher entre uma criança, uma prostituta e uma mulher, o que escolheria?

- Espera, o que?

- Resposta errada – ela pressionou a faca na minha coxa

- AI!

- Responda, ou vamos ver a cor do seu sangue.

- Mulher, eu preferiria a mulher.

- Por que?

- Por que... – eu estava ficando um pouco assustado – Ah sei lá, não sei o por quê.

Ela afastou a faca e a colocou no chão

- Não foi isso o que você fez – ela se colocou de pé novamente – Olha só pra mim, estou vestida feito uma puta, agindo como uma criança por que mesmo sendo uma mulher comum, você me trocou duas vezes, uma vez por uma puta e na outra por uma criança.

- Allie eu...

- Você tem ideia de como eu me senti? – Ela estava chorando, merda, eu me sentia ainda pior quando ela começava a chorar – Você disse que eu intimidava você por que eu não era errada.

- Allie, eu fui um idiota, você não precisa mudar – me levantei e me aproximei dela, mas ela não deixou que eu a tocasse.

- Eu não disse que mudaria, espere aí – ela me impediu de avançar mais – Tenho mais uma pergunta.

- O que?

- Você realmente gostou da Joy?

- Gostei – Não dava pra mentir, ela perceberia se eu o fizesse – Mas não como eu gosto de você – Puxei-a pela cintura os olhos dela ainda pareciam zangados, eu precisava reconquistá-la, apesar de saber que ela ainda era minha – Você realmente está parecendo uma puta.

Ela sorriu um pouco entristecida.

- Se você me trair outra vez eu corto seu...

Cala a porra da boca Alison, você fala demais.