A dor angustiante em seu peito não o permitia dormir. Já fazia mais de 52h que não pregava os olhos.

Levou sua mão ao seu peito, puxando sua blusa e arranhando sua pele em um movimento infantil de tentar arrancar a dor de dentro de si.

Suspirou derrotado.

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Morty caminhava lentamente de volta para casa, pensativo.

Seu avô não estava bem, por mais que não admitisse. Ele percebia, ele sentia.

Não sabia muito o que fazer a respeito disso, e parecia que sua família não se importa o suficiente para tomar alguma atitude.

Por isso, estava levando "aquilo" para ele.

A probabilidade de Rick recusar o presente era gigantesca, porém não sabia o que fazer para animá-lo. Decidiu, por fim, que uma companhia não-humana o faria bem.

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Ouviu três batidas acanhadas na porta de seu quarto, que o tiraram de seu transe depressivo.

Resmungou, pensando ser Jerry querendo lhe pedir alguma bobagem para ajudá-lo a limpar a casa.

O que foi? — Questionou, abrindo a porta mal-humorado.

— Hey, Rick — Foi surpreendido por seu neto com um sorriso amigável no rosto e...

... Uma pequena bola de pelo em seus braços. Por um momento sua máscara de raiva quase caiu. Quase.

— O que você quer, Morty? — Ergueu a sobrancelha.

O menor nada disse, apenas esticou seus braços em sua direção, expondo o que a bolinha de pelos era.

O miado baixinho que o animal soltou faria qualquer pessoa sentimental se encantar.

Rick não fez o menor movimento, e nem deu a entender que iria segurá-lo, ainda querendo uma resposta.

O garoto suspirou.

— É um presente — sorriu de novo —, para você.

A gatinha em seu colo miava de protesto por Morty não saber ajeitá-la decentemente em seu colo.

De cor laranja, branco e preto, e lindos olhos verdes, o animal era deveras astuto, mesmo sendo jovem.

— Dispenso — seu sorriso sarcástico enfeitou seu rosto.

— Não se recusa presentes — Morty ignorou, entrando no quarto sem permissão e sentando junto ao gatinho na cama do avô, afagando-o.

Ficou ali observando o filhote por um tempo, até levantar-se, sair e fechar a porta, não dando ouvidos as reclamações do cientista.

Rick se aproximou da cama onde a gatinha já dava indícios que iria dormir.

— Bem... — bufou, agachando-se e então lhe acariciando a cabeça — Por mais que você seja mentalmente e fisicamente inferior a mim... — expôs um sorriso discreto — irei lhe dar uma chance, Lana — foi assim que, carinhosamente, apelidou a pequena bolinha de pelos.

Deitou ao seu lado; e por fim, dormiu.