Isso deve servir... — murmurei baixo, enfiando o pacote no jaleco e indo até minha nave.

Serve? Acho que sim. Não sou bom com essas coisas. Na verdade, sou. Como em qualquer outra coisa que eu realmente queira ser. O porém é que nunca quis me dedicar a algo assim; até o momento.

Não sei como agradá-lo. Maybe eu devesse procurar em algum artigo na WikiHow falando sobre isso. Seria cômico se não fosse triste. "Como agradar o seu neto" google pesquisar. Isso diz muito sobre eu nunca ter sido exemplo de bom amigo.

Também não sei se agradar seria a palavra certa. Me sinto contra-parede. Sou o homem mais inteligente do universo; e ao mesmo tempo burro. Ou talvez só seja aqueles típicos momentos de baixa autoestima. É, talvez seja.

Eu sou bom com palavras; mas não palavras acolhedoras. Eu sou bom em lutas, meu corpo é consideravelmente forte e tenho ótimos reflexos; mas não sei como abraçar alguém. Eu sou bom em muitas coisas; mas distribuir afeto não é uma delas.

Talvez eu seja. Mas não o suficiente. Não o que eu considero suficiente. Ou talvez sim, pois nunca senti a necessidade de desenvolver melhor esse meu lado.

Estou me contradizendo.

Murmuro nervoso, entrando na nave, rumo à casa.

Obviamente eu já tinha notado que Morty andava deprimido. E obviamente eu sabia que ninguém além de mim mesmo teria notado — por escolha dele.

Ele disfarçava. E disfarçava bem.

Ou eu teria me enganado?

Não, isso não era uma hipótese.

Eu não sou o tipo de pessoa que se engana. Ou sou?

Estacionei a nave na garagem, e joguei a chave dela em cima da bancada de trabalho. Tirei o jaleco e levei o pacote comigo. Subi as escadas até seu quarto. Não esperei você abrir a porta — como sempre —, apenas entrei. Você se assustou, como sempre se assustava. E felizmente dessa vez não foi por eu ter te pego assistindo porno.

Você, segundos antes, estava apenas observando a paisagem através da sua janela, envolvendo seus joelhos num abraço.

Queria poder ter entrado silenciosamente para ter observado mais. A cena era fofa.

Não, não era. Me corrigi assim que percebi. Era um pensamento infantil, e deveras tolo.

Ou não?

— Rick? — você me chamou, com olhos surpresos.

Controlei-me para não reagir com surpresa, afinal eu tinha me desconcentrado dentro da minha própria mente e não teria percebido. Sua voz, qual era um tanto doce — não, não era —, tinha me trago de volta a realidade. Isso já era comum na minha vida — meus pensamentos eram rápidos demais. Não conseguia focar muito no que acontecia ao meu redor.

— Chega pra 'lá — disse, me jogando ao seu lado na cama, sentando com as costas apoiadas na parede.

Me pergunto se você quer minha presença. Se você se importa com ela.

Você permanecia com uma expressão interrogativa em seu rosto, o que era fofo — não, não era fofo.

— Trouxe algo, pirralho — Entrego o pacote.

Você pega, e demora alguns segundos para reconhecer o que era, o cenho franzido de maneira engraçada. Por um momento sinto um nervosismo; um emaranhado se formando em minha garganta. E se não fosse a coisa certa? E se não gostasse? Não, você teria que gostar. Eu nunca erro.

Mas — mesmo que de forma demorada —, você acaba reconhecendo o pacote de jujubas. E sorri. Um sorriso fofo — não, não era fofo. Era as mesmas que tinha comido semana passada durante uma aventura. Lembro de ter adorado e pedido por mais, mas não pude voltar à loja antes.

Você olha pra mim, com um brilho em seus olhos que não deixei passar, e diz um "obrigado, Rick" sincero.

Noto que continua usando as blusas de manga comprida. Você passou a usar elas assim que começou a se cortar. Começou numa quarta. Não, terça.

Me pergunto se seria útil tocar no assunto, afinal ninguém mais tocaria — por sequer suspeitar. Queria poder ler sua mente, saber se você quer que eu toque no assunto. E eu poderia ler, com alguma invenção minha. Mas sinto que não seria certo. Ou seria?

Também me pergunto se você sabe que eu sei. Talvez não. Como saberia? Bem, você não subestima minha inteligência (na maioria das vezes). Mas talvez essa seja uma das vezes em que subestima — com o pensamento tolo de que eu não iria notar sua mudança de comportamento. Ou talvez simplesmente pensa que eu não me importo. É, eu não me importo. Me pergunto o que te levou a isso, o que você anda passando e não quer falar sobre. Mas logo jogo no lixo todas essas perguntas. Afinal, eu não me importo.

Ou me importo?

Não, não me importo.

— Alguma aventura pra hoje?

Novamente você me pega distraído, e novamente eu não demonstro isso. Eu sempre estou no controle da situação, afinal. Estou? Sim, estou.

— Não, vamos descansar por hoje — digo, e você vira seu olhar em minha direção — Pode ser?

Me repreendo logo em seguida. Não preciso de sua aprovação. Talvez precise. Não, não preciso.

— Claro — sorri, e solto a respiração que prendi sem ter percebido. Irei fingir que isso nunca aconteceu.

— Certo — olho pela janela, no outro lado do cômodo, e você me acompanha no gesto.

E sem me dar conta, novamente me distraio em pensamentos, voltando à realidade somente quando você cai no sono, tombando em meu ombro.

Olho para você, sem me mexer, evitando te acordar.

É, sim, talvez, você seja fofo.

Talvez... eu me importe.

E embora eu tenha fingido que não me assustei e que não percebi, você escutou. E fingi que, no fundo, eu não tinha ficado feliz com isso. E também fingi que não notei seu sorriso discreto e bobo.

Afinal, talvez, você também se importe.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.