Purum pu ti pa pa tá... — Batucava na mesa enquanto esperava. Poderia sair dali correndo através de um portal. Poderia deixar um de seus clones no seu lugar. Poderia simplesmente ignorar tudo que estava acontecendo, mas sabia , no fundo, que tinha que resolver isso.

Resmungou, revirando os olhos, impaciente.

Só estava ali a cinco minutos, mas parecia um século.

— Olá novamente, senhor Sanchez! — ouviu a voz infantil da enfermeira novamente — Achei o formulário, desculpe a demora — sempre sorrindo, entregou em suas mãos as folhas e uma caneta.

— Tanto faz, só me deixa preencher logo essa merda.

Ela não se abalava pelos seus xingamentos, ao contrário de seu humor, que se irritava com sua forma feliz de agir.

Colocou todos os dados "corretamente", indo logo para a ala hospitalar, ignorando as medidas de cuidado que o médico ao lado da enfermeira tentou lhe passar.

Assim que saiu da vista dos médicos e enfermeiros, diminuiu o ritmo de seus passos, para ter tempo de pensar.

O que falaria? O que faria? Como deveria agir?

Nunca pensou que passaria por essa situação.

Não era costume seu se sentir nervoso ou preocupado, mas agora estava, e não sabia como lidar com isso.

Ficaria para sempre ali refletindo, com suas mãos nos bolsos de seu jaleco e sua testa franzida, mas quando se deu conta já estava na frente da porta.

De um suspiro profundo, que mais parecia que estava bufando. Colocou sua máscara de "foda-se", e adentrou no quarto.

Procurou, e rapidamente achou.

— E aí, Morty.

Sua voz chamou atenção do garoto na maca, que arregalou os olhos em sua direção.

Ele estava ali? Rick Sanchez realmente tinha vindo o visitar?

Piscou algumas vezes, temendo ser uma miragem causada pelos diversos remédios injetados em suas veias.

Observou boquiaberto o avô se sentar na poltrona ao lado de sua maca e encará-lo.

Ficaram momentos em silêncio, até que a ficha caiu pro mais novo e ele virou o rosto, envergonhado pela situação em que estava.

— O que foi? — Perguntou o mais velho, preocupado pela súbita mudança de humor do outro. Tinha feito algo errado? Provavelmente sim, pensou.

O outro demorou a responder.

Se for tirar sarro com a minha cara... — começou, dando pequenas pausas em uma palavra e outra — só faz logo. — ouviu a voz chorosa do neto.

Respirou fundo, passando a mão no rosto com força, pensando em como teria aquela conversa.

A verdade é que nunca tinha passado por coisa parecida. Não estava preparado pra isso. A situação mais próxima que tinha experimentado, ele estava no lugar do Morty.

Pôs-se a observar o estado físico do outro.

Estava todo enfaixado, coberto de curativos. Roxos pelo corpo inteiro e olheiras profundas. O cabelo já estava nos ombros, e ele estava mais velho. Tinha 16 agora.

Hãã... Como você está?

Ao ver a cara de "como você acha que estou?" de seu neto, percebeu que foi uma pergunta estúpida. Mas o garoto riu logo depois.

— Não sei dizer. Preferia estar morto.

— Deu de perceber. — conseguiu arrancar uma risada fraca, porém sincera, do menor.

Novamente, o silêncio se abateu sobre eles. Rick ficava olhando ao redor e batucando no apoio da poltrona, nervoso.

— Por que não desembucha logo? — olhou para o neto e o viu com o semblante irritado — Anda, me chame de tolo, estúpido, dramático, infantil. Ande! Eu sei que está pensando nisso, assim como todos os outros!

Agora ele estava chorando e isso deixava Rick ainda mais deslocado.

— Calma, porra! — respondeu alto. — Calma, Morty. Olhe, eu não sei o que dizer, mas certamente não é esse tipo de coisa que quero dizer.

Morty arregalou os olhos, secando suas lágrimas com a palma da mão e se acalmando.

Como não conseguiu articular nenhuma resposta decente em sua mente, decidiu-se por mim apenas jogar tudo que estava pensando para fora. Se arrependeria depois? Provavelmente, mas não aguenta mais.

— Escute, pirralho. Eu sei que pareço não me importar, e em alguns momentos eu não me importo. Mas eu não quero perder você, ok filho da puta? Então para de chorar pensando nessas merdas. Sim, eu já tinha percebido que você estava em depressão a um bom tempo, quando você começou a usar essas roupas de manga comprida pra ocultar os cortes no pulso. E não, eu não acho isso idiota até por que existe uma explicação cientifica do por que as pessoas fazem isso! Eu só não falei nada por que não sabia o que dizer! — Ele não parava de falar, enquanto Morty escutava tudo espantado.

— Eu fiquei desesperado quando soube que você tentou se matar se jogando daquele prédio, e me acho burro pra caralho por não ter tentando falar com você antes. Por mais que eu já tenha passado por isso, eu não sei o que dizer. Me desculpe, ok?!

Rick apertava com toda sua força o apoio da poltrona, e mais parecia estar brigando com o neto, pelo seu tom de voz; sua face demonstrando raiva.

Uma enfermeira abriu a porta correndo, achando que eles estavam brigando. O clima foi cortado e os dois olharam assustados para a porta. Quando ela viu que estava tudo bem, pediu desculpas e se retirou, indo chamar um médico, pois estava na hora de Morty tomar seus remédios.

Assim que lhe aplicaram todos os remédios, ele acabou caindo no sono, por que eles tinha efeitos e um deles era sonolência.

Ele dormiu por horas seguidas, acordando somente quando já estava de noite.

Abriu os olhos, ainda grogue. Seu quarto hospitalar estava completamente escuro, já devendo passar da meia-noite. Pensou em tudo que ouviu de seu avô.

Ele se importava, afinal. E diferente de sua família, o entendia. Ficou surpreso quando ouviu que o outro já tinha tentado suicídio. Não esperava por isso.

Virou-se para o lado na maca, pretendendo voltar a dormir. Tomou um susto, pois em meio a escuridão do quarto, reconheceu Rick dormindo na poltrona.

Já tinha acabado o horário de visita, ele já deveria ter ido embora; pensou, até ver a arma de portais em sua mão.

Sorriu.

Levantou com dificuldade, tentando não fazer barulho. Seu corpo protestava contra os movimentos; sabia que não deveria levantar.

Com cuidado, deitou com seu avô na poltrona, se acomodando ao seu lado.

Quando estava quase pegando no sono, sentiu Rick o abraçando.

— Boa noite, pirralho.