Posso até parecer uma filha desnaturada, por minha mãe vir de tão longe por minha causa, mas estava louca para ficar com Ed, no entanto, era quase impossível, porque minha mãe e manteve ocupada o tempo todo. Cinema, shopping, passeio e o restaurante à noite, enquanto pensava o que ele estaria fazendo, se tinha saído com amigos, encontrado com algumas das garotas com quem ficou, Tati, Drica, Luciana, Teresa, sei lá quantas mais.

— Você está calada, Paula — minha mãe comentou, quando jantávamos em um restaurante famoso, que ela estava doida para conhecer.

— Só impressão sua — Eu lhe dou um sorriso não verdadeiro.

— Eu sei que teve estar triste por causa do fim do seu namoro. Afinal, você não me contou porque terminaram, parecia ir tudo tão bem, entre vocês dois.

— Eu já disse que foi incompatibilidade de interesses. Felipe andava muito ocupado, sem tempo para mim, então, nós acabamos de nos afastar.

— É claro que ele andava sem tempo, ele é estudante de medicina, você deveria entender isso — ela me repreendeu, a resposta chegou na ponta da língua, queria dizer que ele era um traidor, mas eu a engoli, com um gole d‘água. — Não foi por causa do seu colega de quarto foi? Afinal, que rapaz gostaria que sua namorada morasse com um homem, principalmente, bonito como aquele — ela observou, tive que rir.

— Ele é bonito mesmo, mas isso não influenciou em nada o que aconteceu entre mim e Felipe. Simplesmente, não tinha que ser.

Ela não ficou muito conformada com a minha explicação, porém, não queria contar-lhe a verdade, não queria me recordar toda a dor da traição.

Quando voltei ao apartamento, Ed não estava lá, meu coração afundou em um charco de ciúmes, mas coloquei minha máscara de indiferença, no entanto, não conseguia parar de pensar no que ele estaria fazendo.

Dividi a cama com a minha mãe, contudo, não preguei os olhos, enquanto ela dormia, placidamente, ao meu lado. Lá pelas tantas, ouvi a porta da frente ser aberta e, em seguida, a do banheiro ser fechada, dei um tempinho e me levantei.

No corredor, esperei a porta ser aberta, outra vez.

— Oi — disse, assim que Ed apareceu — Preciso usar o banheiro.

— Onde está a sua mãe?

— Dormindo na minha cama.

Sem falar mais nada, segurou a minha mão e me puxou para dentro do banheiro, fechou a porta, me imprensou contra ela, começou a me beija com intensidade, cheio de desejo, que eu correspondi com desejo igual.

Fiquei impressionada com a capacidade dele de improvisar, em pé, em um espaço tão pequeno, tentamos fazer o mínimo barulho possível, e foi muito bom, o segredo dava uma apimentada a mais ao prazer. Ao voltar para o meu quarto e me deitar na cama, toda satisfeita, verifiquei que minha mãe continuava a dormir, sem se mexer.

Com certeza, ela não podia desconfiar da minha verdadeira relação com meu colega de apartamento, senão, não me deixaria morar mais ali. Sendo assim, tomávamos muito cuidado, com nossos breves encontros clandestinos e dos nossos beijos furtivos.

Durante todo o tempo da visita, Ed, ou melhor Eduardo, se comportou de um modo impecável, angariando a simpatia de minha mãe.

Depois de alguns dias, minha mãe foi embora, alegando que ficou tempo demais longe do meu pai, o que o tornaria um tanto irascível.

— Vai contar para ele sobre Ed? — perguntei receosa.

— Você omitiu esse fato de nós por muito tempo, Paula — respondeu, sem disfarçar sua mágoa. — Mas, serei junta, não vi nada demais de você estar morando aqui, como esse rapaz. Por isso, irei interferir ao seu favor.

Fiquei um tanto inquieta, mas ter minha mãe do meu lado era uma vitória e tanto, sabia como ela influenciava a opinião do meu pai.

Bem, foi melhor do que eu esperava, mesmo tendo que ouvir um sermão do meu pai, pelo telefone, sobre confiança, enquanto apenas concordava com que ele dizia, mas foi apenas isso, ele parecia bem mais tranquilo em relação ao meu colega de apartamento.

E agora? Nós dois sozinhos naquele apartamento, qual será o nosso tipo de relação? Amigos com benefícios como com Teresa? Ou um namoro passageiro igual a Tati? Ai! Por que eu estou assim? Calma! Deixe as coisas seguirem o seu ritmo, sem pressão, aproveite apenas os bons momentos.

Então, prosseguimos assim, beijos, abraços, amassos, reversando as camas, às vezes, o sofá, a cozinha, o chuveiro, tínhamos muita imaginação, sempre que podíamos. Eu fazia descobertas inesperadas sobre mim mesma.

Com o tempo, fiquei muito sem jeito, de contar tudo que estava acontecendo para a minha amiga Ju, pois não sabia como ela iria reagir a essa novidade, para isso, criei coragem no intervalo das aulas.

— Ju, tenho uma novidade, que pode parecer um tanto estranha para você — comecei, com cautela.

— Não vai me dizer que voltou com Felipe? — rebateu, um tanto exasperada.

— Não tem nada a ver com Felipe — Eu a tranquilizei com um sorriso, ela suspirou aliviada.

— Ainda bem, não vale a pena tentar com alguém assim — afirmou, com ar de sabedoria.

— Assim como?

— Assim tão inconstante, não confiável, que só faria você sofrer no final. Então, afinal, qual é a novidade?

— Novidade? Nada demais, deixa para lá.

— Como assim?

— Era só uma bobagem, vamos voltar para aula.

No fim de semana, houve o primeiro teste, ele iria sair sozinho, ficaria em casa comigo ou me convidaria para sairmos juntos?

Sexta à noite, estava bastante ansiosa quando cheguei em casa, imaginando se deveria ser eu a tocar no assunto, se deveria tomar a iniciativa de convidá-lo para sair, então, esperaria o momento certo, mas não tive oportunidade pois Ed chegou tarde, naquela noite.

— Oi, desculpe, mas eu tive um trabalho.

— Tudo bem, não tem porque se desculpar.

— Vou tomar um banho — disse, depois de me beijar, indo em direção ao corredor.

— Você vai sair hoje? — perguntei de modo falsamente natural.

— Não pensei em ficar em casa hoje, podemos fazer algo para comer. O que acha?

— Ótimo — respondi, um pouco mais aliviada, no entanto, percebi que havia algo errado. Podia ser só impressão, talvez, estivesse cismada, insegura.

E minhas suspeitas vão ficando mais fortes ao passar dos dias, mesmo que tudo parecesse muito bem, havia uma nuvem quase impercebível no olhar de Ed, que sempre negava com um sorriso encantador quando perguntava se havia lago errado, me beijando, com certeza para me distrair e para de pensar sobre isso.