Eu tentava acreditar que estava tudo bem, que a impressão que Ed andava mais calado e distante, era só na minha cabeça. Mesmo assim, não conseguia disfarçar ou mentir para mim, quando percebia as trocas de mensagens continuas com alguém e como ele ficava depois disso. Comecei a criar um monte de teorias na minha cabeça, quem sabe, ele estava cansado de brincar de casinha comigo. Sentia saudades das noites irresponsáveis, de dividir sua cama com garotas diferentes.

Em uma sexta à noite, entrei no quarto dele e o encontrei deitado na cama, digitando no seu telefone, testa enrugada, ar compenetrado, preocupado, parando quase imediatamente quando me viu, dando um sorriso que não lhe chegou aos olhos. Colocou o telefone de lado, se levantou e me deu um beijo.

— Vou escovar os dentes e já volto — disse, já que dormíamos juntos, todas as noites, e sumiu pela porta.

Fiquei sozinha no quarto, me acomodei na cama, tentando ignorar o telefone do outro lado, que brilhava por uma mensagem recebida.

Não! Eu não podia fazer isso, era uma quebra de confiança, não era justo, mas era tão tentador, poderia acabar com aquela agonia, talvez, não fosse nada demais, só trabalho da faculdade ou do estágio. E se não fosse? Também seria bom, pois aí teria que tomar uma atitude, seja ela qual fosse. Teria que decidir rapidamente, antes de ele voltar. Pronto! Eu me estiquei para o outro lado, apertei o botão e lá estava, uma mensagem de De. De?

“Até amanhã, no Travis às 12”.

Fiquei olhando para a tela até que escurecer outra vez, querendo adivinhar. De? Seria homem ou mulher, não dava para saber, mas, sabia que o Travis era um dos restaurantes prediletos de Ed, devia estar combinando um almoço. Provavelmente, não com um colega de faculdade, talvez, alguém do estágio, algum trabalho. Voltei, depressa para o meu lugar, ao ouvir a porta do banheiro ser aberta, me acomodei no travesseiro, com ar inocente, quando ele voltou e se deitou ao meu lado, me puxando contra ele. E quando ele começou a me beijar, tento não pensar em mais nada.

Logo de manhã cedo, como já era de esperar, Ed anunciou que não iria almoçar comigo, pois tinha um compromisso, algo ligado a um trabalho na faculdade, uma névoa de incerteza me envolveu, enchendo a minha cabeça de bobagens. Seria verdade ou não? Tentei manter minha expressão impassível, mas fiquei com muito medo, por causa da minha história com Felipe, de toda mentira descoberta de um modo tão doloroso. Não queria passar por isso outra vez, não queria viver com essa dúvida, sei lá até quando.

E se eu fosse lá, só para dar uma olhada, saber o que estava acontecendo, não seria muito bonito, sair por aí, espionando o ... namorado? Afinal, ele era meu namorado?

Antes do meio dia, ele se despediu, falando que não sabia a hora que voltaria, banquei a compreensiva, fingi que não tinha importância. Esperei ele sai, dei um tempo e sai logo atrás, me sentindo muito mal por estar agindo assim, mas não podia viver com toda aquela insegurança.

O restaurante ficava em uma ruazinha calma, um pouco distante do nosso apartamento, mesmo assim, dava para ir a pé, no entanto, parecia que nunca chegava, enquanto imaginava tudo o que eu poderia encontrar ali.

Ao avistar o letreiro com o nome do lugar, parei, fiquei em dúvida se deveria ou não prosseguir, se queria ou não saber a verdade, se não era melhor dar meia volta, esquecer, esperar os fatos se desenrolarem. Por que me antecipar?

Não, eu não poderia conviver com essa dúvida, então, dei um, dois passos à frente, parei diante da vitrine do restaurante que deixava ver as mesas lá dentro. Não foi difícil enxergar Ed sentado e ao lado dele, uma mulher bem bonita. Os dois conversavam de um modo bem descontraído, tanto que ela segurou a mão dele sobre a mesa de um modo bastante íntimo e carinhoso, foi como uma faca fincada no meu coração, queria fugir dali para não ver mais nada, mesmo assim, não conseguia desviar meu olhar daquela cena. Estava tão absorta, que uma moça bonita me pediu licença para passar e quase não a ouvi, mas sai da frente. Para a minha surpresa, ela foi direto para a mesa onde estava Ed e a outra mulher bonita, se cumprimentaram com beijos no rosto, foi nesse instante, que Ed desviou o olhar e me viu parada, lá fora, se assustando. Em um reflexo, eu me virei e comecei a andar rápido, sem olhar para trás, só parei quando uma mão, no meu braço, me impediu de seguir a diante e me virou. Ed e eu ficamos frente a frente, olhos nos olhos, em longos segundos de silêncio.

— Paula, o que está fazendo aqui? — perguntou, surpreso.

— Se estava cansado de mim, por que não me falou, Ed? Por que mentiu? — indaguei, em um misto de raiva e tristeza.

— Cansado de você? Que bobagem é essa? — Ele estava aturdido.

— Você está marcando encontro escondido com outra mulher, ou melhor, outras mulheres?

— Não é nada disso...

— Não me venha com mentiras!

— Ed, há algo errado? — Paramos e olhamos para uma das moças bonitas, que estava bem atrás de nós.

— Não, nada, De. — Ele parecia sem graça.

A moça dá um passo à frente, me deu um sorriso simpático.

— Você deve ser, Paula. Sou Denise, irmã mais velha do Eduardo — ela se apresentou e meu queixo, literalmente, caiu. Bastou uma simples olhada para conferir a semelhança entre os dois. — Por que não almoça conosco?

Eu só queria que o chão se abrisse para desaparecer dali, morrendo de vergonha, por causa daquela cena toda.

— Vamos, Paula — Ed segurou a minha mão e me puxou em direção do restaurante. Fui sem resistência.

— Desculpa — sussurrei só para ele ouvir.

— Desculpa, também, não devia mentir para você, desse jeito — respondeu no mesmo tom.

Entramos no restaurante, onde a outra moça bonita esperava alheia ao drama que aconteceu lá fora.

— Desculpe a confusão — Ed disse a moça, quando nos sentamos. — Silvia é a namorada de Denise e Paula, a minha namorada — ele nos apresentou, trocamos cumprimentos educados.

— Prazer!

O quê? Namorada dele! Foi isso mesmo que eu ouvi?

O almoço prosseguiu amistosamente. Entendi o porquê de tantos segredos, afinal, Denise queria assumir suas opções e sua relação com Sílvia, por isso, queria conversar com o irmão mais novo, era o primeiro membro da família que sabia da novidade, queria o seu apoio.

Mais tarde e mais relaxados, despois do almoço, voltávamos para casa, a pé, bem devagar, quando ele segurou a minha mão, sem nenhum acanhamento, entrelaçamos os dedos.

— Não devia ter mentido para você — ele disse, constrangido.

— Não devia mesmo, depois do que aconteceu antes, sabia que eu ficaria desconfiada por qualquer coisa. Simplesmente, você poderia ter dito que almoçaria com sua irmã.

— Ainda, estou me acostumando com uma relação mais séria.

— De ter uma namorada? – perguntei, com um sorriso na voz.

— Sim, de ter uma namorada.

Paramos um de frente ao outro, olhos nos olhos.

— Então, vamos contar para todo mundo que estamos juntos, que somos um casal?

— Por que não? Para que esconder? Podemos fazer isso hoje mesmo, agora mesmo. Ei, todo mundo! Essa moça bonita aqui é a minha namorada! — ele começou a gritar, para o espanto das pessoas que passavam à nossa volta, alguns nos olhavam com reprovação, outros não escondiam o sorriso.

— Você é louco! — falei, sem acreditar, sem disfarçar a minha alegria.

— Sim, sou louco por você! — Ele me abraçou, se inclinou e me beijou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.