Coincidence Of Love ✖ GSR

Especial ✖ Capítulo 5 (Ju)


Sara caminhou até o quarto de suas filhas, sabia que Jubs estaria no escritório com Camil estudando para as provas de final de semestre. Ju não tinha toda essa preocupação, tinha uma memória muito boa e geralmente não precisava estudar antes das provas, apenas fazia algumas pequenas revisões. Sabia que provavelmente estaria lendo ou fazendo algumas tarefas no quarto.

A porta estava aberta, ela se encostou no bastante. A filha estava sentada na cama, com o notebook sobre o colo, e se encontrava muito concentrada na tela.

— Está ocupada?

— Oi. – Ela fechou a tampa do computador rapidamente como se estivesse surpresa com a interrupção. – Não. Não estou ocupada. – Sorriu de canto.

— Está tudo bem? – Sara havia notado um certo nervosismo no tom de voz da menina.

— Uhum. – Afirmou sem convicção.

— Tem certeza?

— Tenho sim. – Respondeu rapidamente.

— Queria saber se você já recebeu resposta da faculdade?

— Ainda não. – Disse despreocupada.

— É um pouco estranho. Jubs, Hank, Camil, todos já receberam…

— Talvez a minha admissão tenha se perdido no meio do caminho. – Ela deu os ombros como se aquilo não tivesse importância. Claramente não queria falar sobre o assunto. – Tenho certeza que logo vai chegar.

Havia algo diferente em Ju. Sara sabia que ela não era de mentir ou omitir, mas isso não queria dizer que não era uma boa mentirosa quando queria. Isso a deixava na dúvida, ela estava falando a verdade? Não queria parecer desconfiada, por outro lado, também não queria correr o risco de estar deixando algo passar.

— Olha Ju, filha… – Ela suspirou. – Eu sei o quanto você é inteligente e esforçada, mas se por acaso acontecer alguma coisa e você não for aceita, você sabe que pode me falar, eu não vou ficar chateada ou decepcionada. Imprevistos acontecem…

— Mãe. – Ela disse desanimada. – Esse não é o problema. Na real, é justamente o contrário. – Ela resolveu ser sincera.

— Como assim?

— Eu fui aceita, em mais de uma. E eu não sei o que fazer. Na realidade eu fui aceita em todas que eu me inscrevi. – Ela não disse isso com orgulho e nem animação.

— Uau filha, parabéns! – Ela disse alegre, cheia de orgulho. Por um momento quis abraçar a filha e felicitá-la, mas percebeu que ela não tinha a mesma alegria. – Mas por que você não parece tão animada?

— Por que eu não consigo me decidir. Eu não sei para qual quero ir. – Admitiu. – Eu tinha dito para a Julia Dois que iria para a mesma faculdade com ela, mas nem sei se é isso que eu quero.

— Certo, você ainda tem um tempo para pensar. Mas em quantas você se inscreveu? – Perguntou curiosa, ainda cheia de orgulho.

— Em todas eu acho, todas que eu conhecia. Queria ter várias possibilidades. – Deu os ombros. – Só que quando as aceitações começaram a chegar, eu fiquei sem saber o que fazer. Teria sido mais fácil se eu só tivesse sido aceita em uma.

— Como assim em todas? – Disse surpresa. – Como você conseguiu conciliar todas as entrevistas?

— Eu dei meu jeito. – Ela fez uma careta. – Uma planilha bem organizada com todos os horários facilitou bastante.

— Por isso que ficou uma semana praticamente trancada no escritório do seu pai?

Ela confirmou com a cabeça.

— Meu Deus, você é nerd demais. – Riu.

— Que nem você? – Rebateu no mesmo tom.

Touché!

— Só que eu não sei se quero ir para a faculdade com Hank e ficar longe da Julia Dois, ou ir para a faculdade com Julia Dois e ficar longe do Hank, ou se eu quero ir para a faculdade esse ano. – Ela falou muito rápido, desabafando por fim. – Eu nunca dormi longe de casa assim, e desde que eu me lembro eu divido o quarto com essa chata da minha irmã, eu não sei se consigo ficar longe dela. – Ela respirou profundamente recuperando o fôlego. – Eu não sei o que fazer, ou pra onde ir. Não quero me arrepender…

— Se arrepender é normal e faz parte do processo, você já mostrou que tem capacidade de mudar de faculdade ou curso se você não se encaixar no primeiro que escolher. Ainda sim, eu acho que está baseando suas escolhas no motivo errado. – Sara disse sinceramente. – Você está escolhendo seu futuro, e não pode basear isso em ficar perto de Hank ou Jubs. Vocês vão se ver, conviver e tem a vida inteira para ficarem juntas, e eu sei que a mudança vai ser difícil e dolorosa.

— Eu sei, mas eu estou confusa demais. – Suspirou. – Eu as vezes acho que ainda não me encontrei, eu ainda não sei quem eu sou.

— Bom, eu não tenho dezessete anos e muitas vezes também não sei quem eu sou. – Admitiu para a filha. – Acho que se descobrir é um processo que leva uma vida inteira.

— Mãe, você sabe onde eu quero chegar, o que eu quero dizer. O papai é um super biólogo e administrador, ele toca a empresa desde que tinha uns vinte anos e faz isso super bem. Você é a gênia da informática. Julia Dois já sabe o que quer faz uns cinco anos, tá indo pra faculdade pronta. Até mesmo Hank sabe o que quer. Só que eu não. Eu gosto de tantas coisas, mas eu não sei o que eu quero fazer minha vida toda. No que eu quero trabalhar. Se eu quero tocar a empresa, se eu quero seguir teus passos ou se eu quero fazer algo diferente. Eu só queria ter mais tempo para pensar.

— Bom, você ainda tem algum tempo para pensar, as inscrições ainda estão abertas por mais algumas semanas.

— E vou ter que falar para a Julia Dois que não vou pra faculdade com ela. Ela vai ficar decepcionadíssima comigo. – Suspirou. – Não devia ter dito pra ela que iria para a mesma faculdade…

— Ela vai entender. Ela não fez a escolha dela pensando em você, fez em cima do que ela queria, dos sonhos dela. Você deve fazer em cima dos seus sonhos.

Ju ficou quieta por alguns segundos, logo percebeu que a irmã vinha pelo corredor. Camil devia ter ido embora e ela subia para o quarto. Ao notar a irmã e a mãe com uma expressão estranha, ela logo percebeu que algo estava acontecendo.

— É sobre a faculdade? – Jubs arriscou.

— É sim.

— Você já admitiu que chegaram os resultados ou vai ficar enrolando a mãe e eu por mais quanto tempo? – Ela falou simples com um sutil ar de deboche.

— Como assim?

— Ai… Ai… – Ela suspirou com ironia. – Até parece que a gente não é irmã, eu te conheço praticamente desde sempre. É obvio que tu não te inscreveu só pra uma faculdade e muito menos que não foi aprovada. – Ela deu os ombros.

— Como sabe disso? Tava escutando a conversa? – Estranhou, já questionando de maneira acusatória.

— Não escutei, embora se tivesse feito não seria um crime grave nessa casa. – Ela riu dando os ombros. – Tu ficou uma semana inteira trancada no escritório do Gil. É óbvio que não foi só uma entrevista. Foi quanto, umas quinze? – Chutou.

— Um pouco mais. – Admitiu com vergonha.

— Nerd que nem a mãe. – Jubs riu.

— Hey! – Sara se intrometeu.

— É verdade mãe. – Jubs seguia rindo. – Então, você vai comigo mesmo? Vai com o Hank? Ou vai tomar vergonha na cara e falar pra mãe o que você realmente quer fazer. – Deu os ombros.

— JULIA DOIS. – Ju disse quase como um grito.

— Tem algo que você ainda não me falou? – Sara virou-se de volta para Ju. Seu tom eram dócil, compreensivo.

Sabia que as filhas estavam em uma idade de grandes mudanças e muita confusão. Elas estavam prestes a se tornarem maiores de idade, a irem para faculdade, a mudarem sua rotina drasticamente, a sair de casa e de baixo da asa dos pais. Claro que eles ainda iam estar ali, que poderiam contar com eles a qualquer momento, mas não era a mesma coisa.

— Julia Dois fala demais. – Falou quase sussurrando.

— Por favor, eu sei que você não quer ir pra faculdade comigo, mas também sei que você tem seus sonhos. – Jubs olhou a irmã. – E que tem medo da mãe e o Gil não concordarem, mas por que não tenta..

— Ju… – Sara colocou a mão sobre a mão a filha. – O que você quer fazer?

Ju soltou um suspiro longo.

— Eu queria tirar um gap year, eu não sei… Acho que seria uma forma de me conhecer e de vivenciar novas experiências antes de ir para a faculdade. – Resignada, falou por fim.

— Certo, e qual seria a ideia? – Sara incentivou a continuar.

— Eu pensei bastante nisso. Eu queria poder conhecer vários lugares, culturas, trabalhar e ser voluntária. Nada de hotéis de luxo ou essas coisas… Sempre que viajamos, viajamos juntos, e eu não sei, eu não me sinto uma pessoa independente. Eu tenho algumas reservas que tenho guardado há algum tempo porque pensava em fazer isso…

— E se você pensa nisso há tanto tempo, por que nunca comentou?

— Não sei se conseguiria me manter só com as minhas reservas e achei que você e o pai não concordariam…

— Filha, é claro que tem que falar. Sempre. – Ela sorriu. – Eu confesso que fico com medo de você assim, solta no mundo, sozinha… Mas… Se é o seu sonho, eu acredito que tudo possa se ajustar. Eu tenho que falar com seu pai primeiro, é claro. Mas eu penso, que, por exemplo, em um primeiro momento você poderia ficar no país, conhecer outros estados, há muita cultura e diversidade aqui. E eu ficaria mais tranquila, pois seria mais fácil te ajudar estando mais perto. Depois de algum tempo, quando você tiver mais experiência e conforme você fosse se sentindo segura, pode ir conhecendo outros países, quem sabe outros continentes…

— É sério isso mãe? – Seus olhos chegaram a brilhar.

— Sim. Como eu disse, temos que falar com o Gil. Mas acho que ele concordaria também. – Ela sorriu. – Só que, temos que ter algumas regras…

— Quais? As que você quiser mãe.

— Celular sempre com bateria, não esconder caso tenha dificuldades, trabalhar… Entender que realmente não são férias… E, principalmente, terminando o ano, você tem que voltar e concluir seus estudos. – Ela sorriu.

— Esse é o plano. Sempre foi. – Ela disse com um grande sorriso.

— Então deveria ter me falado disso antes. Imagina se a Jubs não tivesse falado nada? Você talvez perdesse a oportunidade.

— Verdade. – Admitiu. – Obrigada mala.

— De nada peste! Ah, e por favor…

— Por favor, o que? – Ju sabia que vinha algum deboche.

— Não dê pra um cara em cada estados. – Disse rindo.

— MEU DEUS. – Sara e Ju disseram quase ao mesmo tempo.

— Eita, achei que eram atéias. – Jubs riu.

— Julia Dois! – Resmungou.

— Desculpa Ju, mas sua irmã está certa, embora ela pudesse ter usado palavras melhores. – Repreendeu a filha. – Você se envolve com muitos rapazes, fazer isso em uma viagem assim sozinha, poderia ser perigoso, você tem que se preservar estando sozinha.

— Eu sei mãe. Eu juro que se eu puder ir, vou ser madura e responsável. – Falou com seriedade.

— Eu sei que vai. – Disse com confiança. – Eu só quero descobrir como que vou sobreviver com uma fazendo faculdade do outro lado do país e a outra viajando pelo mundo. Vocês me odeiam tanto assim? – Riu.

— Vamos estar aqui nos feriados. – Jubs fora a primeira a falar.

— E em vários finais de semana.

— Mas pelo menos você e o Gil vão ter um pouco mais de privacidade, e vão poder se pegar em vários locais da casa que nem faziam antes. – Riu.

— Hey, como vocês… – Sara corou, não conseguiu nem completar.

— A gente sempre soube, né mãe… Só que no começo a gente não entedia bem o que era, depois que a gente cresceu que a gente entendeu o que vocês fazia de madrugada pela casa, em vários locais diferentes. – Ju riu.

— E vocês eram bem ativos. – O tom de deboche de Jubs voltou.

— Verdade, até estranhamos nunca termos ganhado nenhum irmão…

— Vocês não quiseram ter mais filhos depois do Noah?

Sara gelou. Não importava quantos anos passassem, ela nunca superaria a perda do Noah, mas ela percebeu naquele momento que as meninas nunca souberam o real motivo da briga que ela havia tido com seu marido há anos atrás. Havia sido uma das poucas coisas que eles haviam conseguido esconder das filhas.

— Não… – Respondeu com tranquilidade. – Depois do Noah, a gente decidiu em comum acordo que não queríamos mais filhos, somente vocês duas e o nosso anjinho eram suficiente, e nossa família está completa. E talvez seja por isso que me dói tanto ver vocês indo pra longe.

— Por que mãe?

— Eu passei a vida toda longe do Noah, sei que ele existe, que ele está vivo em mim, mas estamos distantes. É dificil estar distante de vocês, mesmo sabendo que é diferente. – Ela disse com os olhos mareados. – Mas, ao mesmo tempo, eu fico feliz, vocês se transformaram em mulheres lindas, maravilhosas, educadas, maduras e responsáveis. E isso não poderia me deixar mais feliz.

— Mãe! – Ju reclamou. – Agora vai fazer a gente chorar.

— Já to chorando. – Jubs admitiu.

Jubs se sentou na cama de Ju, e as três se abraçaram. Elas sabiam que em alguns meses estariam separadas, mas que o coração delas era um só, por isso, sempre estariam perto uma da outra.