— Gil. – Sara o chamou assim que o avistou.

Ela entrou correndo pela porta, na sala de espera. Gilbert ao ouvir seu nome, se levantou do banco onde estavam sentados. E a recebeu em um abraço. Eles simplesmente se abraçaram e ficaram quietos por alguns segundos.

— O que aconteceu? – Ela perguntou, sem soltar ele.

— Eu fui ver elas no quarto, Jujuba estava com febre, dor de cabeça e dores musculares. Eu não consegui pensar em nada. Só a trouxe para o hospital.

— Você fez certo, eu teria feito o mesmo. – Ela concordou.

Eles soltaram o abraço com certa relutância e sentaram-se nos bancos da sala de espera.

— Ruth está com ela?

— Sim, ela preferiu que Ruth a acompanhasse. – Ele disse com pesar. – Dr. Marcelo estava de plantão, já está atendendo ela.

— Ela ama você, Gil. Ela só demonstra do jeito dela.

— Vocês duas têm muito em comum. – Ele sorriu para ela.

Eles ficaram em silêncio mais alguns minutos. Ninguém vinha dar notícias, e agora que Ruth estava com Júlia, não era possível trocar o acompanhante. Eles estavam impacientes, e ambos tinham a mesma dúvida.

— Você acha que tem chance de voltar? – Grissom estava preocupado.

— Eu não sei Gil. Eu tenho tanto medo. Não ia suportar ver Júlia com leucemia novamente. – Admitiu.

Gilbert esticou o braço e pegou a mão de Sara, colocando-a entre as mãos dele. Eles viram então o médico de Júlia passando pelo corredor. Eles se levantaram, e mesmo sem a intenção de ir até eles, ele preferiu mudar a rota que fazia e conversar com os pais aflitos.

— Como está a Júlia? – Sara foi a primeira a perguntar.

— Nós já conseguimos baixar a febre e demos umas medicações para dor de cabeça. Eu não posso dizer nada até os exames virem. Eles podem demorar um pouco agora a noite. Teremos que esperar.

— Tudo bem.

Não. Não estava tudo bem. Sara estava assustada. Assim como Gilbert. Nesse momento, eles até agradeceram por Ruth estar com a pequena. Talvez eles não pudessem ser o suporte que a filha precisava. A dor de perder um filho era tão forte e recente, que só em pensar na possibilidade de Júlia estar novamente doente, era o maior temor deles.

Já eram quase duas horas da manhã, Sara dormia sentada na cadeira, apoiada em Gilbert que havia tirado seu casaco e colocado sobre a morena. Ele também havia tirado alguns cochilos, não por sono, talvez pelo próprio estresse. Ele foi o primeiro a ver o médico se aproximar, e então encostou de leve no ombro de Sara para que ela também acordasse.

— Os exames de Júlia saíram. – Ele se adiantou, ainda antes do casal perguntar. – Bom, é só uma gripe. Uma gripe forte, mas apenas uma gripe, totalmente normal, que toda criança pode pegar. – O médico sorriu. – Os exames de Júlia estão perfeitos, ela segue em remissão e seu corpo está combatendo a doença perfeitamente bem.

Sara agora tinha os olhos mareados, mas dessa vez de felicidade. Gilbert se sentia totalmente aliviado. Aquela era sem dúvida a melhor notícia que poderiam receber.

— Ela não precisa ficar internada, vou receitar algumas medicações para aliviar os sintomas e ela pode seguir com o tratamento em casa. Daqui a pouco, já estarei liberando ela.

— Obrigada Dr. – Eles disseram em conjunto.

Novamente Sara e Grissom se abraçaram, aliviados. Felizes. Nunca pensaram que ficariam tão felizes com uma simples gripe.

Um hora mais tarde, Sara, Gilbert, Ruth e Júlia já estavam na casa de Grissom. Sara colocou Jujuba na cama e viu Ju, que também estava deitada. A pequena acordou brevemente e perguntou da irmã, que ao saber que estava bem e em casa, virou de lado e voltou a dormir.

Sara pegava suas coisas na sala.

— Tem que ficar de olho em Ju, as duas estão sempre grudadas. Provavelmente vai ficar gripada também.

— Você não vai para casa a essa hora. – Ponderou Grissom ao vê-la pegar as coisas. – São quase três horas da madrugada. O quarto de hóspedes está no mesmo lugar, fique aqui até amanhã de manhã.

— Tudo bem. – Sara não pensou em recusar, estava exausta. Não tinha condições de ir para casa desse jeito.

Quatro horas da madrugada e Gilbert não conseguia dormir. Não depois daquele susto e sabendo que havia uma certa morena dos olhos castanhos dormindo no andar de baixo. Não importava com quanto sono estivesse, ele simplesmente não conseguia pregar os olhos. Decidiu então se levantar e ir para o escritório, ficar lá um pouco era uma boa opção, e se tivesse sono, dormiria no sofá.

Descendo as escadas viu uma cena que fazia falta em sua casa. Ele apenas sorriu diante da imagem.

Sara estava sentada de lado no sofá, com as pernas sobre ele, uma garrafa de vinho aberta sobre a mesa de centro e uma taça na mão. Ela mexia no smartphone, mas não parecia estar prestando atenção na tela, seu pensamento estava longe. Sua cabeça recostada no encosto. Estava tão longe que nem percebeu ele se aproximar. Ele voltou dois anos atrás. Como um déjà vu.

Ele esclareceu a garganta, demonstrando a presença.

— Também não consegue dormir? – Ele sorriu para ela.

— Acho que nenhum de nós dois. – Ela devolveu o sorriso. – Desculpe, mas eu invadi novamente sua adega. Precisava relaxar um pouco. – Ela levantou a taça para ele.

— Isso já foi um costume não é? Se importa se eu me juntar, como das outras vezes?

— Como das outras vezes, o vinho é seu. – Ela deu os ombros e soltou um sorriso, ela também se lembrava das tantas vezes que esse diálogo havia se repetido.

Assim como das outras vezes, Gilbert buscou uma taça na cozinha, votando Sara serviu ele que se sentou no mesmo sofá que ela, só que na outra ponta, próximo a seus pés. Ela encolheu as pernas um pouco para dar espaço a ele.

Eles beberam em silêncio e lentamente a primeira taça. Era como se conversassem sem palavras. Era como se tomasse coragem para externar em palavras tudo aquilo que estavam pensando. Mais de uma vez, pareceu que eles iam falar, um ou o outro, mas nunca saia nenhuma palavra. Até que Grissom tomou coragem.

— E o Gilbert?

— O que tem ele? – Sara sorriu. Ela sabia o que viria. Ela se lembrava disso como se tivesse sido ontem.

— Você gosta dele?

— Pergunta difícil. – Ela franziu o cenho. – Ele é um homem bem introvertido, às vezes é difícil saber exatamente o que ele está pensando ou o que ele quer. E eu mantive meu coração fechado para ele durante muito tempo, talvez mais tempo do que eu devia, ainda sim, eu achava que deveria abrir meu coração somente quando eu tivesse certeza do que eu sentia. E quando eu sentia, sentia que realmente o amava. Se tornou tarde demais. Quando eu soube que meu coração era dele, eu descobri que o coração dele não era mais meu. No começo pareceu injusto, sabe? Mas depois eu entendi que eu não podia obrigar ninguém a me amar, assim como no começo ele não podia me obrigar a amá-lo.

— Talvez ele ainda goste de você, talvez ele só tivesse medo de admitir isso por que não queria sofrer mais por um amor não correspondido.

— Talvez Gilbert tivesse que confiar em mim um pouco, e assim, quem sabe, talvez a gente realmente tivesse uma chance.

Grissom largou sua taça na mesa de centro, pegou a de Sara e largou na mesa também. Ele se debruçou sobre o corpo dela, e aproximou seu rosto, alcançando a boca dela e a beijando. O beijo foi lento, profundo e demorado, ele apoiou as mãos no sofá para não colocar todo seu peso sobre ela. Seu corpo estava entre as pernas dela, e os joelhos apoiados sobre o sofá. Sara levou a mão ao rosto de Grissom, fazendo carinho sobre a barba mal feita e deslizando os dedos dentre os cabelos grisalhos. Quando pararam de se beijar, ambos estavam com a respiração alterada, sem fôlego, e quentes.

— Eu acabo de dizer que amo Gilbert Grissom e você me beija? – Ela brincou ainda fazendo referência à antiga conversa. Seu tom era bem baixo, quase um sussurro.

— Bom, se você deixar eu vou fazer muito mais que te beijar.

Ele levou uma das mãos à cintura dela, por baixo da blusa, subindo vagarosamente sentindo o doce toque da sua pele. Como havia ansiado por fazer isso. Ela jogou a cabeça para trás, fechando os olhos e sentindo a carícia. Entregue.