P.O.V. Jace.

Tá uma seca do caramba. Clary passa creme na Valentina e em si mesma umas vinte vezes por dia e ainda assim a pele delas fica seca.

Ela tem cuidado de tudo. Valentina tem mais problemas com assaduras no calor e mais ainda agora que está começando a engatinhar.

Clary está tomando banho e o dia vai ser cheio hoje já que temos que levar a nossa filha no médico. Depois que a médica disse que ela estava muito bem e perfeitamente saudável comemos um sanduíche no nosso restaurante preferido e levamos para o povo lá de casa.

Quando chegamos em casa Clary colocou Vale num cercadinho e foi trocar de roupa.

Ela voltou vestindo uma calça legging, uma blusa velha e chinelos. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo.

Clary foi para a lavanderia e voltou com uma vassoura, um rodo, um pano e um balde. Ela então ligou o rádio e começou a passar a vassoura na sala de estar. Bateu o tapete lá fora e o levou lá pro fundo.

Era muito engraçado ver ela varrendo e dançando ao mesmo tempo. Ela juntou a sujeira numa pá e jogou no lixo. Daí ela torceu o pano, o colocou no rodo e começou a passar no chão no ritmo da música.

Eu fiquei lá só olhando. Não sei como ela conseguiu, mas lavou os banheiros, limpou os quartos, a sala de estar, poliu a prataria, passou a enceradeira no chão de madeira, lavou os tapetes, as janelas, os pratos, a pia da cozinha, trocou as roupas de cama e colocou tudo pra bater na máquina. Almoçamos e ela continuou, passou aspirador no sofá, limpou as escadas degrau por degrau, limpou e organizou a enorme biblioteca todinha.

Quando ela acabou a casa estava... tinindo. Ela tomou outro banho, colocou a nossa filha na cama e fomos dormir.

No meio da noite sou acordado por um cutucão.

—O que foi?

—Você tá ouvindo isso?

—O que Clary?

—Tá chovendo!

Ela pulou da cama e desceu as escadas trotando e correndo. Clary saiu e ficou literalmente dançando na chuva. De camisola e descalça.

Ouvia a risada dela e a camisola de seda branca já estava transparente e grudada no seu lindo corpo cheio de curvas.

—Vem cá Clary! Vai ficar doente.

Eu tive que sair pra buscá-la e ela me beijou.

—Vamos lá pra dentro.

—O que tá acontecendo?

—Ela se empolgou com a chuva.

—É a cara dela fazer isso. E pelo seu estado você teve que ir buscá-la.

—Por ai.

—Porque você não cresce garota? Vai acabar conseguindo matar todos nós!

Ela não disse nada. Simplesmente saiu correndo.

—Porque você fez isso? Era só brincadeira! Todos merecemos um pouco de diversão.

Começamos a ouvir o piano ser tocado. Era uma música que eu nunca tinha escutado antes.

—My love, you have foud peace... you were searching for release.

Encontramos ela sentada diante do piano dava pra ouvir na voz dela que estava chorando. Dava pra ouvir os soluços no meio da música.

Quando terminou de tocar ela se debruçou sob o piano e chorou.

—Clary?

Ela não conseguia falar de tanto que chorava.

—O que foi?

—Hoje. Ela morreu hoje.

—Quem morreu hoje?

—Minha avó Madalena. Eu fiz essa música pra ela.

—Compôs uma música em 24 horas?

—É. Chama-se My Love. Meu amor.

—Você é realmente uma artista.

—É. Eu não acho que eu seja tudo isso, sei tocar piano, dançar vários gêneros musicais, cantar, tocar violino, guitarra e violão. E eu sou boa em desenhar coisas. Tenho memória fotográfica.

—É. Andar com ela na rua não é fácil.

—O que quer dizer com isso?

—É que quando eu te falo pra me encontrar na rua três você vai parar na praça central.

—Ei! Foi só uma vez!

—E teve aquela em que iríamos nos encontrar em frente a banca do senhor Anésio e você foi parar no Aflores cabeleireiros umas sete ruas pra frente.

Estavam todos rindo.

—É. Mas, eu me localizo diferente.

—Diferente como?

—Uso a minha memória fotográfica. Por exemplo, eu me guio pelas lojas, pelos pontos de referência e não pelo número das ruas.

—E porque?

—Porque eu funciono assim.

—Sei.

Depois de um exaustivo dia matando demônios e treinando pra matar demônios fomos para o nosso quarto e fizemos uma coisa que não fazíamos a muito tempo. Sexo.

P.O.V. Isa.

Isso é constrangedor. Dá pra ouvir tudo e me faz ficar morrendo de inveja, afinal eu não transo a anos.

Aposto que o Alec deve estar morrendo de inveja da Clary agora.

P.O.V. Clary.

Esse homem me deixa louca. Quando ele toca em mim por mínimo que seja me deixa pegando fogo.

—Eu amo você sabia?

—Sabia. E eu também te amo.

—Acho que nunca vou me cansar de olhar pra você. Você é maravilhosa, a minha princesa com rosto de boneca de porcelana.

Eu sorria pra ele e fazia um carinho em seu lindo rosto enquanto encarava aqueles lindos olhos verde-esmeralda.

—Você também é maravilhoso. Eu adoro os seus olhos, verde-esmeralda. São tão expressivos e brilhantes.

—Os seus olhos parecem chocolate derretido. Fico perdido neles de vez em quando.

—Bom, eu também fico perdida nos seus de vez em sempre.

Nós rimos.

—Vamos dormir. Amanhã temos que levantar cedo.

Na manhã seguinte a Isa perguntou rindo:

—A noite foi boa?

—Foi ótima. Agora, temos que treinar de novo.

Tomamos café da manhã e depois de uns minutos de espera para a comida ser digerida nós fomos ao pátio de treinamento. Eu lutei com a Isa, depois com o meu namorado e por fim com o Alec.

E ele com certeza estava cheio de raiva. Estávamos lutando, daí ele me desarmou e colocou as duas espadas no meu pescoço formando um X em torno do meu pescoço e aquilo no olhar dele era puro ódio.

—Irmão. Já chega.

—Alec. Deixa ela.

—Irmão.

—Alec.

—Alec! Solta ela agora!

Ele tirou as espadas de um jeito que uma delas cortou a minha jugular.

—Clary!

Tinha sangue pra todos os lados. Pressionei a ferida, mas não adiantava muito.

—Vocês vão ter que me levar pro hospital.

Só me lembro de ter sido colocada numa ambulância depois tudo ficou escuro.

P.O.V. Isa.

Desta vez o meu irmão pegou pesado. Entendo que ele tenha raiva dela por ter ficado com o Jace, mas cortar a jugular da Clary foi demais.

—Jace...

—Cala a boca! Se ela morrer, eu nunca, nunca, nunca vou te perdoar.

—Você pegou pesado hoje. Passou dos limites.

—Até você?

—Você cortou a jugular dela! Um dos pontos vitais! Entendo que esteja com raiva e ressentido, mas matar a Clary não vai fazer o Jace te amar ao contrário vai fazer ele te odiar!

Assim que chegamos ao hospital nós soubemos.

—Vocês são parentes da senhorita Fray?

—Sim.

Os pais dela estavam lá e a senhora Fray estava com Valentina nos braços.

—Lamentamos informar que a senhorita Fray sofreu uma grande hemorragia e não sobreviveu. Lamento.

A mãe dela caiu no chão e chorava. Até mesmo a pequena Valentina chorava.

Só vi o Jace ido pra cima do meu irmão.

—Isso é culpa sua! Por sua causa eu perdi a mulher da minha vida e a minha filha vai crescer sem uma mãe!

—Jace! Jace, machucar o meu irmão não vai trazê-la de volta.

—Ela tem razão filho. Ela se foi e não podemos fazer nada.

A mãe de Clary estava inconsolável. Ela e Jace só sabiam chorar.

Eles ficaram destruídos com a morte dela. E depois daquele dia Jace nunca mais olhou nos olhos de Alec, ele não queria nem ouvir sua voz.

—Jace...

—Eu nunca vou perdoar você. Você a matou. Cortou lhe a garganta.

—Eu sinto muito! Se pudesse voltar no tempo faria tudo diferente.

—Pois é, mas você não pode.

Disse Jace entrando no quarto e fechando a porta.

O meu irmão começou a chorar.

—Não adianta chorar sobre o sangue derramado. Você a cortou de propósito, devia saber que aquele corte a mataria. Sinto muito, mas entendo o lado dele. Você matou a mulher que ele amava porque estava com ciúmes.

—Qual é Isabelle!?

—Você não pensou nas consequências de seus atos! Tirou dele sua alma gêmea e tirou de Valentina sua mãe! Nós dois sabemos como é crescer sem uma mãe!