Chrono Crusade - After Heaven

Capítulo 8 - Finalmente


Bobby não queria dar mais informações a Claire mas, infelizmente, Myriam não se calava com aspetos técnico que ele tinha quase a certeza que Claire usaria para ter acesso ao Pandemonium.

- E então, depois de fazermos os selos, é óbvio que não íamos deixar aquilo para ali a maneira de alguém chegar lá e estragar o nosso trabalho. – continuou Myriam – O Convento manda construir edifícios ou outros monumentos em cima dos locais.

- Espera. Edifício? – Rosette lembrou-se do café – Por acaso não fizeram nenhum selo, ultimamente.

Myriam pensou um bocado. – Fomos a alguns lugares para ver se os selos ainda estavam bons mas não me lembro de nenhum selo novo.

- Não te esqueças da missão há um mês atrás. – lembrou Yura – Levantamos um selo perto daquele shopping.

- Ah sim! – exclamou Myriam – Foi onde construíram depois o café!

- Café… - murmurou Rosette. Como faria para chegar ao selo se o café estava em cima dele? Não podia destruir o edifício.

- Já chega! – disse Bobby surpreso com a ignorância das colegas – Não devemos dizer mais nada a pessoas que não são seladores.

- És tão mau, Bobby. – protestou Myriam, mas não disse mais nada referente aos selos ou ao seu trabalho.

Chateado com a situação toda, Bobby levantou-se e foi para o pátio. Como fizera tantas outras vezes, sentou-se na relva verde. Tirou o relógio do bolso de dentro e pôs-se a olhar para ele durante um bocado.

Parecia tão real que o punha nervoso. Para adicionar àquele facto, tinham informado os seladores que o relógio verdadeiro que permanecia em segredo no quarto da santa tinha desaparecido.

Passou o dedo pelos ferros que encerravam o relógio, pelo vidro azul transparente e sorriu. Tinha o fruto proibido nas mãos e queria prova-lo. No entanto, não sabia como ou onde mexer.

Tentou separar as peças douradas no topo mas nem se mexeram. Tentou bater no vidro mas decidiu não o fazer com muita força pois não queria parti-lo. Finalmente, forçou os ferros que, mal se moveram 2 centímetros, o relógio começou a emanar faíscas que envolveram o objeto.

Assustado, Bobby largou-o, deixando-o cair ao chão onde voltou ao normal imediatamente. Ainda com o coração aos saltos, pegou no relógio de novo e verificou se não estava partido. Os ferros eram as trancas. Se conseguisse abri-los conseguiria estuda-lo melhor.

Ansioso, começou a forçar os ferros.

Rosette estava verdadeiramente a divertir-se com as raparigas.

Sem a presença de Bobby o ambiente estava muito mais relaxado e era mesmo isso que ela precisava num momento daqueles.

É claro que não estava contente por Bobby andar atrás dela como uma carraça atrás de um cão. Mas não podia fazer nada por enquanto, a não ser pensar em desculpas para lhe dar quando ele fizesse perguntas.

- Então, e se quiserem reforçar um dos selos, como fazem? – perguntou Rosette seguindo o tema da conversa – Não deve ser fácil com um edifício em cima do selo.

- Há sempre uma porta secreta na base para os seladores acederem se algo acontecer. – respondeu Yura – Por isso não há risco de algo mau acontecer. Não devias preocupar-te.

- Para além disso, ontem parecias perturbada com o assunto do Aion. – lembrou Myriam – E o teu colar hoje parece diferente. Ontem parecia mais…real. Trocaste-o?

- Huh? – Rosette olhou para baixo e não notou ao principio o que a fez sentir estúpida depois porque aquilo era obviamente uma imitação – Oh, meu Deus!

- O que é que se passa? – perguntou Myriam porque Rosette tinha ficado branca de um momento para o outro.

Aquilo era mau, pensou ela. Aquilo não podia ser pior porque tinha quase a certeza que tinha sido o Bobby a trocar-lhe o colar. E agora que o contrato estava “reimplantado”, se ele se pusesse a brincar com o relógio, ela estaria morta num instante.

Levantou-se imediatamente e saiu da cantina sem mesmo se despedir de Myriam e Yura. Quando chegou à porta já conseguia vê-lo.

Começou a correr em direção a ele o mais depressa possível assim que viu que ele estava a tentar forçar a abertura.

O choque atingiu-a como uma pedra quando Bobby abriu o relógio e ela caiu antes de ter tempo de chegar a ele. Tentou levantar-se mas, pelos vistos, o corpo da Claire não estava habituado àquele tipo de dor.

- Bobby… - chamou Rosette, mas mal se conseguiu ouvir. O seu coração parecia querer saltar do seu peito e os pulmões ardiam quando tentava falar mais alto. Conseguia ouvir cada Tic e cada Tac mesmo sem estar no seu raio de audição.

Sem ver outra solução, começou a arrastar-se. Não podia continuar ali a ter pena de si mesma. Tinha de chegar ali e fechar o selo do relógio.

Quando lhe foi arrancado o relógio das mãos, Bobby olhou em frente mas não teve tempo de ver muita coisa antes de levar um murro que o deixou desnorteado.

- O que é que achas que estás a fazer!? – gritou Remmington fechando o relógio imediatamente – Tens ideia…

Remmington decidiu que nem valia a pena falar com ele, por enquanto. Virou costas e foi ajudar Rosette que estava a recuperar, ainda no chão.

- Vá lá, dá-me a mão. – pediu o padre esticando o braço em direção a Rosette – Achas que não era necessário contares-me sobre o relógio?

- Mas… - Rosette apoiou-se na mão dele e pôs-se em pé mais devagar do que pretendia. Não se orgulhava do corpo que Claire tinha treinado – O relógio só ficou assim esta manhã. Ontem à noite estava negro!

- Porque é que não estás com medo!? – barafustou Remmington – Só por estares sob o contrato, a tua vida foi reduzida a metade e por causa daquele idiota, sabe-se lá quantos mais anos é que perdeste! Devias estar a chorar!

- Eu sei. – gentilmente, Rosette tirou o relógio fechado das mãos de Remmington e colocou-o ao pescoço – Mas isto quer dizer que o Chrno está vivo.

- Pode não ser bem assim, Rosette! – reclamou ele – Outro demónio pode ter arranjado maneira de copiar o contrato que tu e o Chrno fizeram.

- Se fosse outro demónio qualquer, já teria tentado partir o selo do relógio por si só. – lembrou Rosette. Mas a calma desapareceu num instante e deu lugar à raiva quando percebeu o que aquilo queria dizer – O Chrno está em forma humana no Pandemonium!

Remmington ergueu as duas mãos para tentar acalmá-la. Os papéis tinham mudado. Agora era ela que estava revoltada.

- Já pensou nalguma coisa para tirar o Chrno de lá!? – perguntou Rosette enfrentando o Padre. Era a primeira vez que o fazia mas não lhe parecia correto deixar Chrno no Pandemonium naquela forma…mesmo que ele fosse um demónio. Daquela maneira ele não se poderia defender – Se ele for persuadido pelo Aion outra vez…

- Será que vou ter que te tirar o relógio, Rosette? – perguntou Remmington. Se ela o abrisse por pena do Chrno (o que poderia acontecer), seria um desastre – Pensa um pouco antes de agires. Para começar, temos de encontrar o Chrno e fazer com que ele rescinda do contrato.

- O quê!?

- Num destes contratos, têm que ser as duas pessoas envolventes a cancelar o acordo se não, não funciona. – explicou Remmington – Se assim o fizerem, tu recebes a tua vida de volta.

Remmington apenas não disse que o demónio em questão perderia toda a vida que a contratante lhe tinha dado até à data.

- Infelizmente, só descobriram isso depois de morreres. – murmurou o Padre tristemente.

- Eu não estou preocupada com isso! Nem sequer me importo com o contrato! – corrigiu Rosette – Mas, se ele não me tiver como contratante, vai morrer por causa da falta de energia!

- Rosette, ele já viveu muito mais do que tu! – apontou Remmington – Queres morrer jovem, outra vez?

- Os cornos! – gritou Rosette do nada – Se encontrarmos os cornos, ele pode sobreviver mesmo sem o contrato.

- E podem “viver felizes para sempre”? – gozou Remmington. Nem ele sabia como é que ela podia ter tanta compaixão por um demónio – Nunca irás ter isso com um demónio.

Rosette virou a cara, em parte porque estava zangada e em parte porque estava a corar e não queria que ele visse.

- Devíamos encontrar uma maneira de encontrar os cornos dele. – murmurou Rosette. Se ao menos o Elder estivesse ali…

- Planeiam ignorar-me durante muito mais tempo? – perguntou Bobby assustando os outros dois que realmente se tinham esquecido do terceiro elemento – Qual é essa conversa?

Rosette não respondeu. Chegou-se à frente e deu-lhe um estalo.

- Roubaste-me o relógio e estiveste a brincar com ele sem minha permissão! – exclamou ela – Porque é que fizeste isso?

- Porque é um objeto fascinante. – Bobby sorriu lembrando Rosette do sorriso perverso de Aion – Se realmente for apenas uma cópia, porque é que ficarias tão perturbada?

- Não tem a ver com ficar perturbada ou não. – disse Remmington entrando na conversa – Roubaste-lhe o objeto e isso é inadmissível para um elemento do Convento! Agora quero que…

Uma buzina começou a tocar juntamente com uma campainha que abafaram a voz do Padre antes de ele ter tempo de acabar a frase.

Confusa, Rosette começou a olhar em volta. Aquilo significava que havia uma emergência. Por hábito ela ia correr para se preparar para a luta mas o Padre parou-a, lembrando-a que ela já não era uma exorcista da Ordem…e não tinha um parceiro para a acompanhar.

Pelo contrário, Bobby nem se mexeu, esperando que fosse Myriam a dirigir-se a ele. Isso irritou Rosette mais do que devia, cumprindo a vontade de Bobby. Se ela realmente fosse apenas uma freira, não iria ter aquela reação.

- Um dos selos na cidade foi quebrado! – disse Myriam que estava claramente a entrar em pânico. Os seladores não estavam habituados a lidar com os demónios diretamente. Isso era o trabalho dos exorcistas, no passado – Alguns demónios saíram antes de os seladores no local tivessem tempo de o reparar! Alguns deles são demónios de quinto grau! O que é que devemos fazer!?

- Demónios de quinto grau? – perguntou Rosette, confusa.

- Atualmente, os demónios são categorizados em graus, sendo o quinto o mais alto e perigoso. – explicou Remmington virando-se depois para Myriam. Os exorcistas que ainda existiam eram velhos e só estavam ativos para emergências pequenas para demónios de primeiro, segundo e no máximo, terceiro grau. Não chegariam para demónios de quinto grau! Demónios de quinto grau eram quase tão fortes como Aion e Chrno. – Tenham calma. Em primeiro lugar, têm que começar a evacuar os civis que estão no edifico e levá-los para longe. Os seladores que estão habituados a lidar com armas devem começar a eliminar os demónios de primeiro grau que saíram e comecem a reforçar o selo para que não aconteça novamente.

- Mas…

- Padre Remmington. – chamou Rosette interrompendo Myriam – As munições que os seladores usam não vão chegar para demónios de maior grau. Eu encontrei algumas balas abandonadas na arrecadação que o Elder inventou e sabe que posso lidar com os demónios.

- Nem penses nisso, Claire! – disse Myriam imediatamente – Não tens treinamento para estes casos.

Rosette admitiu mentalmente que o corpo não estava particularmente em forma, mas ainda tinha a agilidade da sua vida anterior e as habilidades também. Olhou para o Padre e viu que ele estava a pensar seriamente no assunto.

- Rosette. – disse Remmington que não estava habituado a chamar-lhe Claire – Nesta situação, não tenho outra hipótese a não ser mandar-te. – decidiu ele fazendo Rosette sorrir vitoriosamente – No entanto, tens de me prometer que não vais correr perigo e não vais usar o relógio mesmo que encontrares o Chrno, entendido?

- Encontrar o Chrno? – repetiu Rosette.

- Sim. – confirmou o Padre – Não sei se a quebra do selo depois do Bobby ter aberto o relógio será propriamente uma coincidência.

- Está a dizer que pode ter sido o Chrno a quebrar o selo? – perguntou Rosette vendo Remmington anuir com a cabeça. Em vez de ficar preocupada, ficou feliz pela hipótese apontada pelo Padre – Isso seria…

- Estou a falar a sério, Rosette! – insistiu Remmington sem se importar com Myriam e Bobby que assistiam à conversa – Se correres algum perigo, quero que recues, percebido!?

- Percebido. – confirmou ela com pouca vontade – Eu vou buscar as armas.

- Esperam! Esperem! – pediu Myriam – O que é que se passa aqui?

- Oh, desculpa. – pediu Rosette – Deixem apresentar-me de novo. – ela piscou o olho. – Eu chamo-me Claire Rosette Christian e sou uma exorcista!

Era bom admitir finalmente, que era uma exorcista, mesmo que tenha que mentir em relação ao nome.

Agora, estava na hora de ir encontrar o Chrno!