Chrono Crusade - After Heaven

Capítulo 37 - Amitiel, Gabriel e Lúcifer


Amitiel era uma das únicas arcanjas conhecidas. Há muito, muito tempo atrás, mesmo antes de Madalena ou o filho Dele ter nascido, Amitiel tinha-se apaixonado por um dos mais bonitos arcanjos alguma vez criados: Lúcifer.

Lúcifer pertencia originalmente à primeira tríade, classificado como serafim, o braço direito do ser mais poderoso a seguir a Ele - o Anjo da Morte, comandante dos serafins. No entanto, quando os planos de Lúcifer tinham sido descobertos, ele tinha sido banido para a terceira tríade, para a classe dos arcanjos.

Para quem não sabe, os seres celestiais são divididos em três tríades. A primeira sendo a mais próxima a Ele e a terceira mais próxima aos humanos. Dentro das tríades havia sub-classes, sendo a mais poderosa na primeira os Serafins e a mais fraca da terceira os anjos.

Pura hierarquia.

Passar de um serafim para um arcanjo era uma bofetada na cara e só incentivou mais Lúcifer para continuar com o seu plano e ultrapassá-Lo.

O Anjo da Morte, que continuava a ser seu amigo, aconselhava-o a esquecer a vingança e reconquistar a confiança Dele para voltar para a primeira tríade.

–Vais acabar a ser um anjo. - avisara-lhe o Anjo da Morte, um dia.

–Não preciso de conselhos de uma criatura que tem medo de mostrar a cara nem de ficar na sua própria tríade. - respondera Lúcifer e tinha sido a última vez que falara com o seu restante amigo da primeira tríade.

Estava completamente sozinho até encontrar alguém que também estava sozinho.

Amitiel não tinha ninguém que a suportasse como arcanja. Tinha sido "promovida" de anja a arcanja há pouco tempo e, apesar de o ter merecido, todos os arcanjos diziam que era porque Amitiel era a preferida Dele - o que também não era mentira. Amitiel tinha sido criada para executar grandes planos mas Ele preferira fazê-la trabalhar para chegar a serafim. Por isso, transformara-a numa anja e observava-a constantemente para garantir que ela se estava a esforçar-se.

Lúcifer diria que isso era cruel, se soubesse. Mas ninguém sabia.

Ninguém sabia que Amitiel tinha sido criada para parar o futuro e inevitável Apocalipse.

Bastaram um par de encontros para que Amitiel se apaixonasse por Lúcifer. Já ele, só pensava em usá-la para completar o seu plano.

Tinha ouvido do favoritismo que ela tinha e Ele não desconfiaria de nada se Lúcifer estivesse ao lado ela. Então, enquanto continuava com Amitiel, que não sabia de nada, pensava em como chegar até ele.

Quando tentou, os comandantes de todas as tríades juntaram-se para decidir qual seria o castigo dele. Foi o Anjo da Morte - Metatron - que foi designado a transmitir a mensagem.

–Lúcifer, foi determinado que tu vais ser banido para o Pandemonium indefinidamente. - começou Metatron.

–Para o Inferno!? - gritou Lúcifer, que estava em frente a Metatron e ao lado de Amitiel.

–Tenta manter-te vivo. Eu vou tentar convencê-Lo a trazer-te de volta. - disse Metatron, virando-se depois para Amitiel - Quanto a ti, vais ser presa por tanto tempo quanto o Lúcifer.

–Indefinidamente? - murmurou Amitiel, com as lágrimas nos olhos.

–A tua jaula está a ser construída neste preciso momento. - disse Metatron - Agora, Lúcifer, como sou o único que pode entrar e sair do Inferno, vou escoltar-te.

–Os demónios vão comer-me! - exclamou Lúcifer, numa última tentativa.

–Tu és um serafim. - lembrou Metatron - Hás de safarfar-te.

Como sabia que não podia ir contra Metatron, deixou-se ir sem protestar.

–Espere! - gritou Amitiel para Metatron, enquanto dois arcanjos a escoltavascoltavam para a sua jaula - Ele não fez por mal!

Sem parar, Metatron olhou para trás e viu lágrimas a escorrerem pela face de Amitiel. Suspirou, voltou-se para a frente e abanou a cabeça.

–Tinha de ser ela, Lúcifer? - perguntou Metatron, mas não obteve respos resposta.

Finalmente, quando estavam no Inferno, com todos os demónios a olharem para eles, Lúcifer virou-se para Metatron.

–Desde que não a magoem, eu vou ficar aqui até virem buscar-me. - avisou Lúcifer - No entanto, se souber que ela está a sofrer, vou formar uma revolução que vai destruir toda a vida no céu e na terra.

Metatron anuiu com a cabeça e saiu do Pandemonium, deixando Lúcifer para trás.

Passadas algumas décadas, Lúcifer já era o governador daquele lugar. De vez em quando, olhava para o céu mas só via escuridão, sabendo que, enquanto não o tão o tirassem dali, não tirariam Amitiel da prisão.

Ele era a razão para ela estar lá.

Um dia, ouviu de um anjo caído que Amitiel estava a ser chicoteada uma vez em cada sete dias, como castigo adicionado a tê-lo ajudado. O que nem era verdade, já que ela nunca soubera de nada.

Por isso, Lúcifer manteve a sua promessa e organizou uma rebelião e subiu à terra. Ele saiu em Magdala aonde encontrou uma mulher chamada Madalena. Ela tinha-lhe contado brevemente sobre o filho que Ele tinha criado para salvar os pecadores e lembrou-se de -se de Amitiel.

Não sabia porquê, mas atacou a mulher. Uma má escolha, já que ela acabara por tornar-se uma santa e ele acabara no Inferno, outra vez.

Foi aí que começou a construir Trugy. Naquela altura, queria programá-la para subir aos céus e libertar Amitiel.

No entanto, conforme o tempo passava, Lúcifer foi conhecendo mais anjos caídos. Chrno tornou-se o seu único amigo depois de Metatron.tatron. No entanto, tal como ele, estava a tomar decisões que um dia virar-se-iam contra ele. Ao descobrir os planos de Aion, mudou Trugy para que ela subisse à terra e matasse as reencarnações antes de Aion conseguir chegar a ela.

Pediu que Chrno nomeasse a sua criação de propósito. Na altura, já sabia que provavelmente iria morrer nas mãos de Aion. Depois disso, Chrno iria sentir a necessidade de proteger a sua "filha".

Olhou para o véu negro e pensou que, pelo menos quando ele estivesse morto, eles libertariam Amitiel. Deixou a Trugy a única coisa que tinha guardha guardado de Amitiel: o seu punhal.

Enquanto lutava contra Aion, perguntou-se se Amitiel algum dia conheceria Trugy.

Passadas algumas semanas, Metatron voltou ao Inferno para ir buscar o corpo decapitado de Lúcifer para o levar para o céu. Quando lá chegou, deu ordem imediata para libertar Amitiel. Apesar de saber dos planos de Aion para retirar a cabeça de Lúcifer, Ele não tinha feito nada, completamente cego pelo seu filho. Isso deixava Metatron irritado. E ainda ficou mais irritado ao ver Amitiel chorar quando lhe contaram ao pormenor o que tinha acontecido a Lúcifer.

Ainda mais irritado quando voltaram a levar Amitiel para o grupo dos anjos já que ela tinha agora os requisitos suficientes para ser uma serafim.

Já que estava a treinar o filho para parar o Apocalipse, tinha praticamente descartado Amitiel.

Quando deu por si, viu-se incapaz de ficar naquele lugar por isso, criou uma dimensão para si próprio e ficou lá, saindo apenas para recolher as almas dos mortais. Mas nunca voltou ao céu.

No entanto, Amitiel acabou por ficar agradecida por ser uma anja pois estes eram os mais próximos aos mortais, o que a permitiu ir à terra para acabar com aquilo tudo.

E ali estava ela, em frente a Trugy, sem saber que ela fora originalmente planeada para a salvar, construída pelo arcanjo que ela ainda considerava inocente.

Tinha saído do céu sem permissão. Tencionava morrer ali, depois de travar aquilo por isso, não precisava da permissão daquele que tinha condenado um inocente ao Inferno.

–Amitiel? - perguntou Trugy, sem conseguir sequer se mexer - O meu pai...

–Ele era...

–Espera um pouco. - interrompeu Amitiel, olhando na direcção de Aion, apesar de nem sequer conseguir vê-lo - Vais aproximar-te ou esconderes-te como um covarde?

Aion suspirou e começou a dirigir-se a ela. Afinal, se tinha conseguido matar Lúcifer, podia muito bem matar a namoradinha dele.

–Lúcifer. - disse Trugy, obtendo a atenção de Amitiel - O Lúcifer é o meu pai.

Depois, mostrou-lhe o punhal.

...

Enquanto Trugy contava a sua história a Amitiel e Aion a aproximava-se, Remington olhava pela janela onde, apesar do seu do Vaticano estar preenchido de nuvens negras, um fio dourado em frente à Ordem caía do céu.

Ele franziu as sobrancelhas. Não podia ser Rosette. Ela estava no quarto.

–Anjo? - murmurou Remington.

–O que é que disse? - perguntou Madalena.

Remington olhou para ela. - Madalena, preciso que fiques aqui, enquanto eu vou ver uma coisa.

–Está bem. - respondeu Madalena mas, passados alguns segundos, seguiu-o silenciosamente.

Remington aproximou-se do grande portão e, afastadas dali, estava Trugy e outra mulher. Quando viu a outra mulher a olhar para ele, deu um passo atrás.

Amitiel sorriu, estendeu as seis asas brancas, surpreendendo Trugy, e, em dois segundos, já estava encostada ao portão. Ao verem as asas, os guardas baixaram as armas e foram relatar o acontecimento ao papa, a correr e de bocas abertas.

–Gabriel? - perguntou Amitiel, olhando para Remington.

–Amitiel. - Remington aproximou-se cuidadosamente - Esconde as asas.

–Ah! - como se se tivesse esquecido, dobrou as asas e escondeu-as debaixo do vestido - O que é que estás aqui a fazer? Devias estar com os outros arcanjos.

–Não sabes o que aconteceu, pois não? - perguntou Remington, vendo-a a inclinar ligeiramente a cabeça - Ouve, daqui a pouco vão estar aqui algumas pessoas à procura das tuas asas. Preciso que me chames Remington.

–Porquê, Gabriel? - perguntou Amitiel.

–Porque é o meu nome terrestre. - explicou ele - E também não podes dizer o teu nome.

–Porquê? Eles nem sequer devem saber que existe uma arcanja. - disse Amitiel, encolhendo os ombros. Depois soois sorriu, dando um novo significado à palavra "brilhante" - Sabias que o Lúcifer criou uma "filha".

Remington olhou para Trugy, que se estava a aproximar lentamente. Aquilo estava a ficar cada vez pior.

–Estás errada, Amitiel. - disse Remington - Aqui é o Vaticadoticado. Eles provavelmente reconhecem-te melhor do que reconheceriam Madalena.

–Madalena? - Amitiel inclinou outra vez a cabeça - Quem?

Remington suspirou. Ela tinha estado presa durante demasiado tempo. No que é que a sua amiga inocente pensava no que se estava a meteava a meter.

–Eu quero entrar. - disse Amitiel, naturalmente - Acho que é aí que tenho de estar para parar tudo.

–E o que é que achas que "isto tudo" é? - perguntou Remington, sabendo que ela não sabia a resposta.

–Rosette Christopher. - respondeu Amitiel, surpreendendo Remington - A única coisa que eu sei é que tenho de protegê-la e que o Aion está a aproximar-se. A Trugy pode dizer-me o resto.

–A Trugy não pode entrar aqui. - informou Remington?

–Porquê? - perguntou Amitiel, irritando Remington com a sua inocente ignorância.

–Olha...

Remington parou de falar quando viu os dois guardas a voltarem juntamente com o assistente do papa.

–Gabriel? - chamou Amitiel, quando ele parou de falar.

–O que é que se está a passar aqui? - perguntou o assistente, olhando para a mulher atrás de Remington - Quem é?

–Ela é... - Remington olhou para ela - Ela é uma exorcista de Nova Iorque que veio de propósito para tomar conta da Santa.

–Então aonde é que está o uniforme dela? - perguntou o assistente.

–Ela não teve tempo de se trocar. - Madalena saiu de trás do arbusto aonde estava escondida até ali - Fui eu que pedi para que ela viesse.

–Senhorita. - o assistente olhou para ela e depois para Amitiel outra vez - Está bem. Deixem-na entrar.

Quando abriram os portões, Amitiel sorriu e entrou. Foi acompanhada por Madalena e Remington.

Ao ver uma pena branca no cabelo de Amitiel, Madalena tirou-a discretamente. Mesmo assim, o assistente viu e começou a achar que a história que os guardas tinham-lhe contado não era só uma ilusão.

–Podem escoltar a exorcista até ao quarto da Santa. - disse o assistente - Eu vou avisar o papa que temos mais uma visita.

...

–Um anjo? - o papa levantou-se subitamente da sua cadeira.

–Pelo menos. - corrigiu o assistente - Mas os guardas dizem ter visto seis asas.s.

O papa ficou branco. Pegou num livro poeirento, começou a virar as páginas até chegar a uma com uma imagem aonde uma arcanja de longos cabelos dourados estendia a mão para o anjo caído condenado ao inferno.

–É parecida? - perguntou o papa.

–Sim. - respondeu o assistente, vendo os dedos da mulher a esticar-se, quase a tocarem nos do anjo que também estendia o braço na sua direcção - Mas não pode ser.

–É a Amitiel! - gritou o papa - Trá-la até mim.

...

Do lado de fora dos portões, Trugy ouviu tudo e cerrou os punhos.

Quando Aion pousou ao seu lado, ela nem olhou para o seu lado.

–Preciso da reencarnação para entrar lá dentro. - disse Trugy.

–Para que é que queres entrar lá dentro? - perguntou Aion - Eles não vão deixar que te aproximes da...

–Preciso que lhes digas que a reencarnação não entra sem mim. - continuou Trugy.

Tinha perdido o pai. Não ia perder a mulher que o pai tinha amado até ao fim dos seus dias.