Chrono Crusade - After Heaven

Capítulo 18 - O Começo


Azmaria tinha nascido para ser um dos Apóstolos que pertenciam à terceira revelação de Fátima. Por ter nascido com os poderes celestiais, ela tinha sofrido e perdido todas as pessoas que amava, até conhecer Rosette e Chrno.

Não tinha demorado muito tempo até perdê-los também.

O resto da vida dela tinha sido dedicada a vinga-los depois de descobrir que Aion tinha sobrevivido e, mesmo assim, também tinha falhado nessa parte.

Depois tinha voltado para outra época e, mesmo antes de conseguir dar um passo, tinha sido brutalmente espancada por um ladrão e entrado em coma.

A sua vida era um desastre até agora.

Por isso, quando finalmente acordou, olhou pela janela e viu um mundo negro e cheio de demónios, Azmaria pensava que ainda estava a sonhar.

Duas Horas Antes

Chrno e Aion estavam a trabalhar para destruir o selo à quase um dia quando ouviram alguém abrir a porta e descer as escadas que iam dar até eles. Mesmo assim, nenhum deles se mexeu. Se algum fizesse isso, aquelas horas teriam sido para nada.

- Já chega. – disse Remington – Não vou deixar-vos quebrar o selo.

Eles não disseram nada, nem quando Remington apontou a espada à cabeça de Chrno que já tinha voltado à sua forma adulta.

- Chrno, se vieres comigo agora, eu não te faço nada. – mentiu Remington – É o meu último aviso.

Mas continuou sem resposta. Por isso, suspirou e preparou para matá-los.

- Não! – gritou Rosette, apontando a pistola a Remington – Baixe a espada, Padre! Ou eu atiro!

- Rosette? – Remington baixou a espada e virou-se – Como é que estás aqui? Quem é que te deixou sair? Foi o Bobby, não foi? Sai daqui! É perigoso!

Quando Chrno ouviu a voz de Rosette, levantou a cabeça mas, como estava de costas, não conseguia vê-la a não ser que se virasse.

- Não podes mexer-te. – avisou Aion, quando viu a expressão de Chrno – Isto é só um plano para enganar-te. Tu próprio viste-a a morrer. Se pararmos, nunca vamos conseguir concretizar o nosso sonho.

Chrno cerrou os dentes, lutando contra o desejo de se virar, mas Aion tinha razão. Ele tinha presenciado a morte de Rosette. Não era possível que ela estivesse ali. Por outro lado, já tinham voltado à vida uma vez. Será que poderia ter acontecido outra vez?

- Já está quase. – anunciou Aion, olhando para Rosette de lado com um sorriso – Em breve, este mundo já não será dos humanos que tu odeias.

Chrno concordou e concentrou-se no selo. Mesmo que ela estivesse ali, não mudava o facto de ela ter sido morta por humanos antes. E isso merecia vingança.

- Tens que deixar-me fazer isto, Rosette. – disse Remington – Se eles quebrarem o selo, milhares de pessoas vão morrer!

- Não vou sacrificar mais ninguém para salvar outras pessoas! – replicou Rosette –Eu consigo convencê-lo! Dê-me uma oportunidade!

Remington estava a pensar nisso quando o selo quebrou e a igreja começou a tremer. Satisfeito por ter sido Rosette a dar-lhes o tempo que precisavam para fazer aquilo, Aion levantou-se e virou-se para a Exorcista e o Padre.

- É melhor que saiam daqui, agora. – avisou Aion – Daqui a nada, esta cidade vai se transformar numa festa de sangue.

Determinado a fazer isso, Remington agarrou Rosette pelo braço e puxou-a, mas ela soltou-se e correu para Chrno quando ele se levantou, abraçando-o por trás. Era a primeira vez que Rosette via Chrno na forma adulta sem ter que voltar para a sua forma demoníaca. Tudo por causa dos cornos, pensou Rosette.

- Chrno! – exclamou Rosette – Temos que sair daqui!

Chrno virou-se, fazendo com que Rosette se afastasse, mas os olhos dele não mostravam nada. Estavam vazios, como se estivesse hipnotizado.

- Quem és tu? – perguntou Chrno, agarrando-a – Porque é que estás vestida como ela?

- Sou eu, a Rosette! – respondeu Rosette.

Sem mudar de expressão, Chrno atirou-a contra uma das paredes da cave. – Tu não és ela. Ela já morreu.

- Consegues sentir, Rosette? Consegues sentir como ele se sentiu quando eu te hipnotizei? – perguntou Aion, divertindo-se com aquela cena. Era algo com que ele podia divertir-se até a porta que ia dar ao Pandemonium estar completamente aberto – Mas, desta vez, consegui convencê-lo de que tu estavas morta.

- Não vou deixar que o leves para o teu lado! – gritou Rosette, já de pé, a apontar a arma a Aion – Ele vem comigo, agora!

- Vais tentar matar-me outra vez com uma pistola? – perguntou Aion – Já não aprendeste a lição na outra vida?

Com as mãos a tremer, Rosette moveu a pistola e apontou-a a Chrno. – Ele não está capaz de escapar à bala! Se não o deixares vir connosco, eu mato-o agora mesmo!

- Não eras capaz. – foi o que Aion disse, mas Rosette não se moveu por isso começou a pensar se ela seria mesmo capaz – Mesmo que ele vá convosco, eu não vou tirar o feitiço.

- Não importa. – Rosette atirou a arma a Remington e deu-lhe sinal para ele a cobrir – Eu vou conseguir trazê-lo de volta sem ajuda.

- Ele vai voltar para mim. – disse Aion, enquanto Rosette empurrava Chrno dali para fora – É bom que não penses que ele é teu!

Com toda a força que tinha, Rosette conseguiu tirar Chrno da igreja. Remington mantinha a arma apontada a Chrno, caso ele se virasse contra eles. Quando Remington tirou um par de chaves do bolso e abriu o carro que estava em frente ao edifício sem sequer lhe tocar, Rosette parou.

- Temos que ir para a Ordem. – anunciou Remington – Rosette, esta é a última coisa que faço por ti. Se quiseres ser Exorcista, vais ter que passar pelos testes outra vez.

Rosette anuiu com a cabeça e empurrou Chrno para dentro do carro. Ele parecia um boneco. Sem vida e sem vontade própria.

- Eu vou ver o meu irmão. – disse Rosette depois de fechar a porta de Chrno – Tenho que levá-lo para um lugar seguro antes que os demónios comecem a sair.

-Venham para a Ordem. – disse Remington antes de entrar para o carro – Nós vamos estar à vossa espera.

Rosette esperou que o carro arrancasse em direção ao Convento para começar a correr em direção a casa. Quando lá chegou, a terra estava a tremer e Joshua entrava em pânico. Fiore, pelo contrário, encontrava-se na janela, a vigiar para o caso de algum demónio atacar.

Não havia muitos terramotos naquela área. Isso queria dizer que Aion finalmente tinha conseguido transformar a terra em inferno. Faltava transformar o céu em terra, a segunda parte do plano dele.

Quando viu Rosette a aproximar-se, ficou um bocado aliviada. Uma Exorcista tinha mais experiência a matar demónios do que ela.

- Vamos embora! – exclamou Rosette, parando durante alguns momentos quando se lembrou de uma coisa.

Chrno tinha visitado Joshua há algumas horas atrás. Se ele estivesse hipnotizado como ela o tinha encontrado, ele nunca seria capaz de dar informações detalhadas a Joshua para ele ir até ao hospital quando aquilo começasse. Isso queria dizer que Aion tinha feito aquilo depois de Chrno ir até sua casa.

- Vamos aonde? – perguntou Fiore, quebrando a linha de pensamentos de Rosette.

- Temos que ir até ao hospital! – respondeu Rosette, olhando para Joshua – Não há tempo para juntar roupas…

Rosette parou de falar quando ouviu uma explosão e pessoas a gritar, sabendo que tinha começado. Automaticamente, rasgou a saia para que se pudesse mover mais facilmente, tirou a arma que tinha presa à coxa e posicionou-se à janela, fechando a cortina quando viu demónios começarem a aparecer nos céus.

- Fiore, eu tenho algumas armas que comprei numa loja, escondidas debaixo da minha cama. – revelou Rosette – Vai busca-las. Temos que chegar ao hospital! Eles têm uma barreira contra demónios, lá. É a única maneira de sobrevivermos.

Normalmente, Rosette não estaria tão preocupada com alguns demónios, porque confiava (talvez demais) nas suas habilidades. Mas aqueles não eram apenas “alguns demónios”. Demónios de todos os tipos e níveis estavam a sair do Pandemonium, ansiosos para provar um pouco da vida dos mortais.

Chrno já estava a salvo. Ninguém podia entrar na Ordem sem ser notado e o Padre tinha-lhe dito que tinham montado uma barreira há pouco tempo.

Apesar de estar preocupada, porque já não havia Exorcistas capazes de lutar com demónios de alto nível na Ordem, agora tinha que se preocupar com Joshua.

Quando Fiore chegou com um par de Berettas, uma Remington 870 e uma caixa de munições, Joshua abriu a boca. Ainda mais quando a irmã começou a manejá-las como se estivesse habituada.

- Só tenho algumas munições sagradas. – murmurou Rosette para si mesma – Tenho que guardá-las para demónios mais fortes.

Depois de dizer isso, Rosette carregou uma Beretta com munições sagradas e prendeu-a à coxa. Encheu as outras três com munições normais e deu a Remington a Fiore.

- Usa-a se eu ficar para trás e leva o Joshua até ao hospital. – informou Rosette, depois de Fiore pegar na espingarda - Aconteça o que acontecer, vocês continuam a andar. Eu vou tentar matar os que puder.

- O que é que está a acontecer!? – gritou Joshua – Porque é que tens armas!? Onde é que vamos!? O que é que foi aquela explosão!?

- Jason, nós temos que ir! – exclamou Rosette, sem tirar os olhos da pequena frincha que tinha aberto entre as cortinas – Os demónios mais poderosos ainda não saíram. Fiore, não entres em batalhas a não ser que seja absolutamente necessário. A tua tarefa é proteger o Joshua!

- Sim, Rosette-sama. – concordou Fiore – E você não pode morrer antes de me ajudar a encontrar a Satella.

Rosette sorriu e anuiu com a cabeça – Vou dar o meu melhor!

Ignorando as perguntas que Joshua continuava a fazer, Fiore puxou-o e seguiu Rosette.

Os demónios mais fracos passaram diretamente por ela, como se tivessem medo. Alguns murmuravam “É a Santa” e corriam na direção contrária.

Rosette não deu importância a isso. Se eles pensavam que ela ainda era a Santa, apesar de estarem engados (ou assim ela pensava), aquilo funcionava em favor deles.

No entanto, não demorou muito até que demónios mais fortes, se aventurassem a ataca-la. Com duas das três Berettas que carregava, nas mãos, Rosette começou a disparar, reduzindo-os a cinzas apenas com balas normais.

- Vão à frente! – gritou Rosette, quando viu um grupo de demónios a aproximar-se – Eu cobro-vos!

Obedecendo, Fiore puxou Joshua atrás de si e foi matando os demónios que fugiam à mira de Rosette, pelo caminho. Mesmo branco, Joshua seguia-a sem protestar.

Rosette tentava ignorar as pessoas que gritavam por ajuda porque não tinha tempo para salvar toda a gente. Reconheceu alguns Seladores e Exorcistas mais velhos a tentar controlar a situação, mas aquilo era demais para eles.

Eles nunca tinham passado por algo assim, onde o mundo estava prestes a ser controlado por demónios e Rosette era só uma pessoa. Seria mais fácil se pudesse trazer as suas amigas para a ajudarem mas, infelizmente, isso não era possível.

Estava tão perdida em pensamentos, que teve que parar violentamente quando viu um demónio parado à sua frente. Por alguma razão, ele não atacava.

- Tu és a Santa. – disse o demónio numa voz noturna – Eu lembro-me de ti. Estavas com o Aion há alguns anos atrás.

- Eu já não sou a Santa. – disse Rosette – Mas sou uma Exorcistas.

Rosette apontou-lhe a arma e preparou-se para disparar.

- Tu és a Santa. – reforçou o demónio – Eu consigo senti-lo. Está no teu sangue como se fosse uma maldição.

Farta daquela conversa, Rosette pegou na Beretta que tinha presa à coxa e atirou, usando a primeira bala santa desde que tinha voltado.

Com os olhos abertos, Azmaria olhou pela janela e viu alguns demónios a tentar penetrar na barreira do hospital e a falhar miseravelmente.

Ela sempre atraíra coisas más. Perguntou-se se aquilo também era culpa dela. Começou a chorar quando viu pessoas a serem possuídas, consumidas, comidas por demónios. Queria fazer alguma coisa.

Só viu o colar de Rosette quando ouviu passos apressados no corredor. Assumiu imediatamente que Rosette estava morta e o choro aumentou.

Só diminuiu quando viu Fiore a entrar, seguida de Joshua. Tentou levantar-se mas ainda estava ligada às máquinas. Os médicos só a tinham libertado do tubo que a ajudara a respirar enquanto ela estivera em coma.

- Joshua!