Na manhã seguinte fui bombardeada por mensagens das chiquititas. Elas não podiam me ligar porque eu estava no orfanato e não podíamos abusar da sorte mas parecia que ela estava a nosso favor pois havíamos encontrado a primeira testemunha pra solucionar nosso caso.

CH

— Mama? É isso mesmo?

As meninas estavam esparramadas no chão do meu apê com listas telefônicas, notebook, celular e tudo que nos ajudasse a encontrar uma mulher totalmente desconhecida pra mim.

— Sim. _ respondeu Adriana_ Ela era meio italiana. No começo você estranha mas depois se acostuma...

— Mas vocês não fazem ideia de como seria o nome verdadeiro dela? Como vamos achar ela assim?

— Laureen, _ disse Renata_ acredito que o nome verdadeiro dela não seja usado pra quase nada, ela era bem conhecida nos orfanatos, sempre vinha orientar e ajudar por um tempo e depois ia embora como aconteceu com a gente.

Mama era o nome dela. A mulher que apareceu depois que eu saí do orfanato, já sabíamos que Soraya não queria que ela viesse mas por causa de sua falta de experiência e do estado em que o orfanato estava, Mama teve que intervir... ela era como um supervisora, conselheira tutelar... ninguém sabia ao certo, mas as meninas sabiam que ela poderia nos ajudar.

Pelo menos assim eu esperava, isso se ela ainda estivesse viva.

CH

Na manhã seguinte cheguei no orfanato e tudo estava silencioso. Até as crianças pareciam estar dormindo mas as encontrei na cozinha tomando café mecanicamente.

— Onde está Soraya? _ perguntei para Brenda que estava de saída.

— Ela está no quarto dela. _ sussurrou a menina.

— Por que você está sussurrando? _ sussurrei de volta.

— Porque a Soraya está irritada esses dias...

Fiquei apreensiva mas quando Audalice passou por mim e tentou sorrir percebi marcas roxas em seu braço.

Miserável.

CH

Soraya apareceu no escritório no meio da manhã e não estava com cara de bons amigos ainda mais quando me viu mexendo no celular. Tiago ficava me mandando mensagens diariamente.

— Bom dia Soraya.

Ela me olhou e depois se sentou à minha frente.

Uma raiva ainda mais agressiva percorria minhas veias, queria deixar marcas nos braços dela como ela havia deixado no de Audalice.

— Já terminou aqueles relatórios?

— Já. _ fingi estar mexendo no computador, havia ficado todo aquele tempo organizando aquela geringonça e agora não tinha nada pra fazer, além de procurar provas pra incriminar aquela vadia.

— Quero que você faça uma faxina no escritório, essa poeira faz mal pra minha pele.

Que poeira?

— Faxina?

— Sim. Isso mesmo que você ouviu.

— Mas não tem uma diarista que faz isso pra você?

— Mas ela não fez como deveria, e eu quero que você faça. _ disse ela olhando nos meus olhos.

— Tudo bem. _ murmurei.

Ela se levantou. Mas não sairia dali antes de eu saber sua reação diante das suas agressões.

— Soraya, com que frequência as crianças vão ao médico?

Ela se virou com o cenho franzido.

— O quê?

— Médico pediatra. É que eu vi Audalice meio estranha, acho que ela caiu ou brigou com alguém e pensei que...

— Você não pensa nada Laureen. _ respondeu ela com raiva_ Eu sou responsável por essas crianças e você é paga para lidar com essas burocracias chatas então faça o seu trabalho, que infelizmente me fez até perder um documento importante!

— Um documento importante?

—Sim! Aquela peste negra deve ter jogado fora, só pode porque não encontrei em lugar nenhum. _ Soraya de repente me encarou _ Espero que esteja perdido mesmo e que eu não tenha que revirar outros lugares para encontrá-lo... Termine tudo antes do meio dia. Vou estar no meu quarto e não quero ser incomodada.

Soraya saiu batendo a porta e eu fiquei lá com o coração a mil. Ela havia desconfiado de mim.

Pelo menos a carta estava em casa mas quantas outras crianças ela iria bater pra descontar a sua raiva por causa de um documento inútil?

CH

Não consegui terminar antes do meio dia mas estava de saco cheio que nem me importei, voltei à tarde para terminar e já estava enfadada. Soraya estava quieta desde aquela hora e isso me dava nos nervos.

Odiava aquele silêncio.

Silêncio?

Puta merda.