No dia seguinte amanheci com a notícia de que Adriana daria um jantar na casa dela, fiquei nervosa é claro, mas ela achava que já estava na hora de reencontrar os velhos amigos que não ofereciam nenhuma ameaça a mim.

Fui ao shopping depois do almoço e comprei um vestido justo, preto e cheio de lantejoulas e ainda pensava sobre o comportamento silencioso de Soraya... da última vez que ela havia agido assim as coisas não tinham terminado bem.

E do nada, como se uma lâmpada tivesse se acendido sobre minha cabeça lembrei de uma peça chave.

Saí rapidamente dali e peguei um táxi.

CH

— Bom, estamos hospedados num hotel perto da saída da cidade.

— Rangel, eu pedi pra você que não deixasse nenhuma chance de contato entre Maíze e...

— Não precisa se preocupar, já cuidei disso. Estou de férias do trabalho e Maíze está sem celular... vamos viajar não muito tarde, vamos voltar daqui a três semanas.

Eu tinha três semanas.

Olhei para a pista apreensiva, o taxista nos guiava com cuidado pelas ruas da cidade enquanto eu falava com Rangel pelo telefone.

— Mas você tem certeza disso? Essa ideia me parece um pouco precipitada... _ disse ele.

— E por que você acha isso? _ já estava me irritando.

— É que eu vi o estado em que ela ficou depois daquele dia no restaurante...

— Não me importa Rangel. Se ela teme a minha presença melhor ainda porque vai pensar duas vezes antes de falar. Eu vou vê-la, e de hoje não passa.

CH

O hotel suntuoso estava à minha frente, provavelmente Rangel e Maíze agiam como se nem fossem da cidade. Segui as informações que ele me deu e em poucos minutos estava à porta do quarto. Passei as mãos na calça branca que usava e respirei fundo.

Rangel abriu a porta rapidamente e me recebeu com um sorriso contido enquanto eu analisava o ambiente, tudo de primeira linha... dinheiro não faltava pra ele. Então dei um passo pra trás institivamente quando pus os olhos nela.

Maíze.

Ela não parava de mexer as mãos e me olhava com o rosto vazio de expressão.

Olhei bem naqueles olhos cor de chocolate ao leite e senti como se fosse parar anos atrás...

CH

— Bem que eu gostaria que Suely estivesse aqui... _ pensei alto.

— Não quero ouvir ninguém falando sobre essa mulher aqui!

Me assustei quando vi Soraya me olhando apoiada no corrimão, ela falou novamente.

— Suely foi embora!

Fiquei espiando pra ver se Soraya ia embora mesmo para poder raciocinar com calma. Suely havia ido embora então... mas pra onde? Pra onde ela poderia ir? Não iria pra um lugar que não quisesse... a não ser que fosse obrigada...

Mas quem poderia me dar mais informações? Soraya não me diria nada, ela me odiava, mas Maíze... me odiava também, mas não odiava Tiago!

Saí dali e fui correndo para o andar dos meninos.

***

— Com dinheiro se consegue tudo.

— Só isso?

Falei com Tiago e o convenci a ir conversar com Maíze, ele não queria fazer aquilo mas eu insisti tanto que ele acabou indo. Perguntou à Maíze sobre Suely e ela apenas respondeu isso: “Com dinheiro se consegue tudo.”

— Mas então, quer dizer _ falei _ que elas deram dinheiro pra Suely ir embora?

— Eles não deram simplesmente, né Laurinha.. _ retrucou ele _ eles com certeza forçaram Suely...

CH

— Boa tarde Maíze, como tem passado?

Ela ficou calada. Me sentei no sofá a frente do seu.

— Ah... não vai responder? _ olhei para Rangel pra que ele se retirasse. _ Mas eu vim aqui pra gente conversar...

Ela ficou encarando o carpete.

— Então vou esperar um pouco... quero que você se sinta à vontade para responder algumas perguntas...

Maíze levantou a cabeça rapidamente.

— Você sabe por que eu vim aqui?

— Por que você faz isso? _ murmurou ela.

Suspirei.

— Você... cega as pessoas.

Dei um sorrisinho.

— Eu só dou o que elas querem.

— E o que você quer? _ perguntou ela.

Sorri.

— Com dinheiro se consegue tudo não é?

Maíze franziu o cenho.

— Suely. _ disse por fim.

Maíze arregalou os olhos e percebi que ficou desconfortável.

— Onde ela está?

— Por que eu deveria contar pra você?

Mordi o lábio e respirei fundo.

— Por que você sabe mais do que ninguém que Soraya está enterrada na lama até o pescoço pelas coisas erradas que já aprontou e se você não se cuidar, vai junto com ela. E eu te garanto Maíze, que sou uma das poucas pessoas, se não a única que pode te tirar dessa. A não ser que você queira perder o pouco que ainda tem... eu e o Rangel somos grandes amigos agora. _ dei uma piscadela.

— Você é uma vaca.

— Ah não... posso ser sínica, mas vaca... _ dei uma gargalhada. _ Não me compare com animais querida, eu sou superior a eles. Você não tem ideia do que eu sou capaz de fazer.

Maíze ficou paralisada. Nunca vi um blefe dar tão certo.

— E então, vai colaborar?

— Anota o endereço.