Bastou apenas uma madrugada acordada pra eu descobrir o que estava por trás da fortaleza que Soraya havia construído. Os saques e transferências feitos no banco tinham uma empresa como aliada, uma empresa fantasma que simplesmente não existia, porque eu tinha vasculhado cada buraco da internet e até mapas online e não havia encontrado. E quem era o responsável pela mesma? Nilson. Ele mesmo, que inclusive era vereador da cidade e sempre permanecia em algum cargo político a mais de dez anos, ele era bem mais velho que Soraya, e tinha preparado o caminho dela enquanto ela era uma adolescente revoltada com a mãe.

A empresa dele fazia gastos continuamente, uma antiga amiga advogada me deu acesso a alguns sistemas que eu precisava e depois de passar todas as evidências para um pen drive me joguei na cama, exausta. No dia seguinte, mesmo com poucas forças, eu iria atrás do ponto mais forte de Soraya, e a desestabilizaria por completo.

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Nilson costumava tomar o café da tarde em um lugar bem tranquilo, nunca tinha ido ali, segui Nilson depois que ele saiu da Câmara dos vereadores da cidade e estacionei o carro perto do estabelecimento, eu estava com meus sapatos de salto, gostava de usá-los em situações que exigiam mais do meu controle, coloquei meu óculos escuro e entrei no ambiente confortável.

Nilson estava sentado de frente para a porta e logo me notou no vestido salmon justo que eu usava, a pasta que eu tinha nas mãos parecia ficar pesada a cada passo que eu dava mas até que por fim, me pus diante dele e tentei sorrir.

— Essa cadeira está ocupada?

— Não, _ disse ele_ estou sozinho.

— Vou me sentar aqui então.

Nilson sorriu pra mim meio desconfiado.

— O senhor é o vereador?

Nilson arqueou as sobrancelhas como se entendesse o porquê de eu estar ali falando com ele.

— Sim, sou eu mesmo.

— Ótimo. Sem mais delongas, _ coloquei a pasta sobre a mesa e tirei os papéis de dentro. _ Encontrei provas de que o senhor é proprietário de uma empresa que faz altos investimentos, e que por curiosidade não existe. _ Enquanto eu espalhava os papéis sobre a mesa percebia Nilson segurando a respiração. _ Soube também que essa empresa tem ligação constante com o orfanato do bairro periférico da cidade, o senhor tem algum grau de parentesco com a diretora responsável?

— Quem é você?

Sorri.

— O senhor não deveria se preocupar com esse detalhe.

— Quem é você? Porque quer saber de tudo isso? Quem te mandou aqui?

— O senhor faz perguntas demais... eu fiz apenas uma.

— O que você quer saber de Soraya?

— Hum... Soraya. Ela é sua esposa?

— Esposa? Não, nunca me casaria com ela.

— Interessante... está explicado o fato de estarem juntos por mais de dez anos e ninguém saber...

— Você quer dinheiro, é isso?

— Eu não quero nada que venha de você, seu idiota.

— Como é que é?

Tirei meu óculos, já estressada.

— Eu acho que você ainda não entendeu, não é? Então, vamos explicar, eu sei do sistema de lavagem de dinheiro que existe aqui, disfarçado por uma empresa de merda e com doações para um orfanato que está caindo aos pedaços. Sei que você e a Soraya são os mentores disso e você é um vereador corrupto que compra os votos dos seus eleitores porque não tem prestígio, e a Soraya, é uma vagabunda que não trabalha e agride crianças quando se estressa com o namorado.

Nilson me encarava.

— E talvez você não me conheça, mas garanto que é melhor que continue assim. Saiba que Soraya será presa, eu vou fazer isso acontecer. E você, se não quiser ir com ela, é melhor que desapareça, porque eu vou desenterrar até a Carlota, antiga diretora desse orfanato, pra descobrir a verdade.

Nilson arregalou os olhos quando falei de tia Carlota.

— Como você sabe da Carlota?

— Eu era próxima dela enquanto estava viva, e o resto não te interessa.

Peguei os papéis e os coloquei de volta na pasta.

— Mais uma coisa_ continuei_ você vai ligar pra Soraya e vai terminar o relacionamento de vocês.

— O quê?

— Sim, eu preciso dela em desequilíbrio.

— Você é louca garota?

— Não mais que a sua mulher.

— Ela não é minha mulher!

— Então termina com ela agora.

— Agora?

— Sim, agora. A não ser que queira que eu jogue todos esses documentos na internet. Assim seus eleitores poderão ver de perto quem você é.

Nilson pegou o telefone.

— Tudo bem, vou ligar.

Esperei.

— Está dando caixa postal.

— Deixa um recado. Fala tudo e desliga o telefone. Se puder joga o chip fora e compra outro.

Nilson estava trêmulo mas fez o que eu mandei.

— Soraya, eu sei que o que tivemos foi bom mas... tem que acabar. Eu não posso mais me envolver com você.

Escrevi num papel algumas palavras e Nilson continuou com a farsa.

— Sinto muito, mas não te amo mais. Estou indo embora. Não me procure.

Quando Nilson terminou a ligação eu o encarava com a mão sob o queixo.

— Você foi muito bem.

— O que eu ganho com isso?

— Liberdade, otário. E talvez uma nova mulher se você tiver sorte de ir pra um lugar decente.

— Quem é você?

Sorri.

— Não se preocupe Nil, vai ficar tudo bem.

Dei uma piscadela e saí em direção à rua com um homem amedrontado a me encarar.

Por isso Soraya fazia o que queria com ele, ele recuava diante de uma mulher que o dominasse.