O sol iluminou meu quarto em cheio aquela manhã através da janela que ficou aberta desde a noite passada. Eu estava com o cabelo sobre o rosto, provavelmente cheio de nós, sentei devagar e observei Renata encolhida do outro lado da cama. Fui ao banheiro e retomei os acontecimentos da noite passada, desde as revelações das meninas quanto o compartilhamento de nossos sonhos e projetos para o futuro. É certo que escondi algumas coisas delas, ou não. Na verdade até eu não sabia o que seria de mim dali pra frente, meu futuro não podia ser premeditado, porque ele era cheio de “talvez”.

Depois que saí do banheiro, já de banho tomado, me deparei com Renata fazendo o café. Ela sorriu pra mim.

— Já estou tomando conta da sua cozinha...

Sorri de volta.

— Preciso estar antes das oito na universidade. _ ela resmungou.

Olhei para o meu celular e logo a avisei.

— Então é melhor se apressar, são quinze para as oito.

Ela arquejou.

— Meu Deus Lauren! Termina de coar por favor!

Renata saiu em disparada para o banheiro e eu fui terminar de fazer o café, contente ao mesmo tempo ao perceber que meu novo nome soava tão bem dos lábios da minha grande amiga...

CH

Renata e eu tomamos o café juntas e como eu precisava ir a uma concessionária fui junto com ela de táxi pra aproveitar a viagem. Acabei descobrindo que a Universidade onde Renata estudava era a maior da cidade, e por um descuido descobri também que alguém que eu conhecia estudava lá: Tiago.

Quando Renata desceu eu permaneci dentro do carro; ela saiu em disparada pelos portões já que estava atrasada. O motorista ficou me encarando enquanto perguntava pra onde deveria ir, mas eu estava confusa, sabia que deveria me manter quieta por um tempo mas minha curiosidade era maior...

— Senhorita? _ perguntou ele novamente.

— Eu... eu vou descer aqui mesmo. Obrigada.

Quando o taxista saiu me senti desprotegida. Caminhei rapidamente e entrei num prédio. E agora? Como eu saberia onde Tiago estudava? Aquela universidade era enorme.

Um grupo de alunas com cara de nerd passaram por mim e seguiram para o elevador, elas foram para o quinto andar, fiz o mesmo trajeto que elas logo depois, quem sabe o destino não estaria me ajudando?

Quando cheguei no quinto andar estava tudo deserto, com certeza todos já estavam nas suas salas, me escorei em uma coluna e comecei a vasculhar o celular enquanto pensava numa desculpa pra caso alguém me perguntasse o que eu estava fazendo ali. De repente ouvi uma voz, uma voz familiar, mas quem estava falando sozinho ali?

Olhei de canto de olho usando a coluna como meu esconderijo e vi um rapaz de costas largas falando ao telefone, ele usava uma camisa branca e tinha cabelos pretos.

Do nada uma garota baixinha apareceu, suas maças do rosto eram bem salientes e ela abraçou o rapaz por trás. Quando ele se virou percebi que o destino me guiou até ali para ver o que eu não queria.

No mesmo instante outro grupo de estudantes saiu do elevador, aproveitei e entrei no mesmo o mais rápido possível deixando pra trás Tiago e sua possível namorada...

CH

Saí andando sem rumo até que decide comprar uma comida e tentar botar em pratica o que Ellén havia me ensinado.

Cheguei em casa molhada de suor, com raiva mas triste ao mesmo tempo. Cortei a carne e fiz um guisado, depois que tomei banho e almocei me joguei na cama e tentei relaxar, mas ainda tinha uma coisa que me perturbava... o orfanato.

CH

Pesquisei no google mesmo, quem sabe não aparecia algo, mas o máximo que eu vi foram anúncios pedindo doações e tal, até que eu vi uma foto.

Duas mulheres, uma ao lado da outra, como mãe e filha. A que parecia mais velha me fez estremecer, eu reconheceria aquele olhar em qualquer lugar, era Soraya.

Já a outra... era bem mais jovem e tinha as maçãs do rosto bem salientes, ela era Maíze sem dúvida alguma! Mas eu sentia que já tinha visto ela em algum lugar... mas onde? Nesses dias eu não tinha visto muitas pessoas... não. Não podia ser ela.

Lembranças do dia me invadiram e meu corpo todo amorteceu. Eu tinha visto Maíze naquele mesmo dia, na universidade, com Tiago...

CH

Minha cabeça estava a mil. Como Maíze poderia estar com Tiago? Ele não a suportava! E porque ela estava naquela foto com Soraya? Ela era a nova diretora?

Isso era informação demais pra mim.

Liguei para Adriana e no instante que ela atendeu me arrependi, Railsom estava perto dela...

— Alô? _ disse ela.

— Mana, desculpa ter ligado agora, é que eu estou precisando muito da sua ajuda, preciso que você e a Renata me esclareçam algumas coisas sobre o orfanato.

— Hum... Tá ali amor... Mana, daqui a pouco eu vou aí, tudo bem?

— Hum... Tá, tudo bem...

Ela desligou logo mas depois recebi uma mensagem.

Laurinha, só vou poder ir aí a partir das 15 hs, o Railsom ainda tá aqui então preciso esperar ele ir, ok?

Ok

Voltei a deitar na cama pra ver se minha cabeça não explodia mas depois de alguns minutos ouvi uma batida na porta.

Adriana era fera mesmo, conseguiu se livrar do Railsom antes do previsto.

Quando abri a porta senti meus pés fincarem no chão.

Era ele.