Charlies Angels: Before The Beginning

Capítulo 9: Aventuras na floresta


Era como estar na borda de um grande e assustador buraco negro. Uma imensa depressão arredondada se projetava abaixo delas, lotada de água, muita água . Não era possível ver as outras bordas, muito menos andar de onde estavam até o fim. Era muito estreito e corriam o sério risco de serem levadas para dentro do rio negro que sugeria, borbulhante, o quão difícil seria saírem de lá.


Jill torceu o nariz diante das alternativas que tinham. – Bri, o que fazemos agora? Só tem água, pra todo lado!


Mas Sabrina não estava ouvindo. Trepara num galho baixo de pinheiro e tentava passar para outra árvore. Contudo, não alcançou-a antes de começar a cair, então agarrou o pinheiro e ganhou alguns arranhões no rosto. Jill abriu a boca em protesto, mas entendeu a idéia. Parecia-lhe razoável ante a perspectiva de encarar a depressão escorregadia.


Assim, como macacas com pouca agilidade, as duas foram escalando as árvores, passando de uma a outra, evitando galhos quebradiços e recebendo pequenos cortes cada vez mais fundos. Não conversaram, só seguiram com determinação.



Depois de algum tempo, Sabrina começou a entender porque chamavam o lugar de floresta. Até ali era só uma planície molhada por causa do rio. No entanto, quanto mais elas escalavam, mais altas as árvores iam ficando, até que as duas se viram pisando em galhos firmes de enormes coníferas. Não havia água em volta, só as plantas altas que ainda encobriam a visão da Academia.


Desceram em terra úmida, se vendo à beira da continuação daquele rio fundo e escuro. A paisagem em volta era de plantas mais baixas afundadas em parte na água. Sem chance de subirem. Seria um desafio se manter acima da água.


Encaravam o misterioso rio procurando uma alternativa.


- Jill...


- O que foi? Alguma idéia?


- Não, mas... acho que Kelly está por perto.


Jill encarou-a entre esperançosa e descrente. – E como você pode saber?


Sabrina andava perto da água, examinando as plantas.


- Bom, estamos à beira de um típico rio que corre pelo interior de uma floresta. Ele deve ter alguma nascente limpa não muito longe mesmo que aqui seja seu fim, já que a área não é muito grande. Se eu precisasse manter um prisioneiro sob vigia num lugar isolado desses, iria precisar de água. – Sabrina sorriu. – Ainda mais uma prisioneira rebelde.


Jill devolveu o sorriso se reanimando. – Tem toda a razão... mas isso não nos ajuda a chegar lá.


Sabrina encarou-a. – É só seguir o curso do rio.


- É mesmo? Nadando, eu suponho? – respondeu Jill ironicamente.


- Não. – replicou Sabrina, séria. – Remando.


Ela começou a puxar algo pesado de entre as herbáceas. Jill percebeu que era um pedaço do tronco de um pinheiro.


- Não nos afunde, por favor.


- Se Hyde se sentou nisso e ainda está inteiro... – respondeu Jill ajudando a amiga a colocar o tronco na água.


Observaram por um minuto. O tronco apenas boiou sem vida sob a superfície negra e lisa. Estavam na parte calma e sem correnteza. Sabrina subiu, sentando-se na parte da frente do tronco, pronta para remar com as próprias mãos. Jill sentou-se com as pernas de lado na parte traseira, para equilibrar a madeira na água. Entreolharam-se confirmando com a cabeça. A esse sinal, iniciaram o movimento com a força dos braços, coordenadamente.


À medida que atravessavam o lago e começavam a sentir dor nos músculos, a água se tornava mais límpida; Sabrina estava certa, não tardariam a encontrar a nascente clara e pura. Já era possível divisar um novo trecho seco de floresta. Que região estranha, pensou Sabrina, o clima é o mesmo, mas a vegetação alterna-se entre seca e úmida. Não é propriamente uma floresta, pois a umidade não se lança por toda a área. A secura se deve, com certeza, a alguma queimada. Nos momentos em que a água sobe e inunda tudo, forma-se um verdadeiro pântano.


Foi interrompida por uma ondulação na água que chamou sua atenção. Parou de remar, aguardando.


- O que foi? – perguntou Jill, em meio a um movimento de colocar a mão na água. – Algo errad...?


Antes que concluísse a pergunta, Sabrina se pôs de pé no tronco, observando a corrente de água que se tornara estranha. Jill baixou a mão à água e Sabrina gritou.


Dentes afiados rapidamente alcançaram os dedos de Jill. Ela tentou retirá-los da água, mas não foi preciso: no puro reflexo desesperado, Sabrina chutou a boca de dentes afiados. A coisa grunhiu e Jill passou ao outro lado do tronco, pois Bri se afastara da ponta e elas começavam a afundar. Em choque, ela observou uma sequência de chutes espetaculares da Sabrina. A coisa nem se atreveu a abrir a boca de novo. Quando Sabrina parou para tomar fôlego, as escamas desapareceram na água.


- Que... RAIOS... foi... isso? – perguntou Jill, arfando.


- Meu Deus, isso é um rio! – descabelou-se Sabrina.


- Crocodilo, então?


- Suponho que você saiba o que é um.


- Me sinto num safári!


Sabrina quase levara uma mordida, mas tivera sorte: um arranhão imperceptível. Ignorando a dor lancinante, disse a Jill:


- Vamos sair logo daqui, antes que nosso amigo volte com companheiros.


- Duvido que cem deles quisessem enfrentar você. – comentou Jill.


Sabrina fez Jill conduzi-las até a margem folheada e cortou dois galhos, recomendando que era melhor ficarem de pé até que desembarcassem. Estavam bem perto da terra firme. Sabrina reassumiu sua posição à frente do tronco.



Remaram mais uns dois minutos antes que a madeira batesse na terra, levantando um pouco de pó. Estavam prestes a abandonar o tronco quando a embarcação improvisada tremeu inteira. Com medo de afundarem, as duas paralisaram.


Jill olhou na direção do movimento, mas nada viu, pois Sabrina puxou-a pela blusa com toda a força, para fora da água. Três crocodilos abocanharam o nada impacientes, enquanto Sabrina continuava arrastando Jill para longe da água. As feras desistiram de lutar em terra seca e lançaram olhares malignos para as duas, voltando lentamente para a água. O tronco também iniciara um movimento; seguia o curso do rio, fazendo o percurso contrário ao que acabara de percorrer, enroscando-se ocasionalmente nas plantas à margem.


Sabrina e Jill se entreolharam, mal acreditando que estavam vivas. Suavam furiosamente, estavam cobertas de pó, terra e sangue seco. Olhando em volta, a parte seca era praticamente uma ilha, cercada de herbáceas úmidas. A parte oposta à visão das garotas era uma espécie de pequena cachoeira que desaguava numa fonte natural outrora depressão vazia: a nascente. Pouco maior que o refeitório da Academia, a “ilha” continha um nada de terra batida e areia misturada. Exceto pelo que certamente as interessava: a uns vinte metros de distância, uma cabana bem malfeita de madeira velha resistia ao vento que soprava inefável. Era minúscula, não caberiam mais do que duas pessoas lá dentro.


Enquanto observavam a frágil construção, a porta se escancarou de repente. Sabrina arrastou Jill de novo, dessa vez para longe da vista de quem quer que fosse. Esconderam-se atrás de um precário arbusto quase desfolhado. Era possível vê-las se olhassem com atenção. Torcendo para não serem descobertas, prenderam a respiração.


Não foi difícil adivinhar quem vinha por ali. Corpulento e grisalho, o Sargento Hyde saía tranquilamente, portando uma espingarda. Arma pessoal, sem dúvida. Espingardas não eram comuns na polícia.


Ele olhou para dentro, enquanto alguém lhe dizia alguma coisa. Sorriu forçadamente, sacudiu um vidrinho que continha um líquido vermelho e bateu a porta. Caminhou até a fonte, bebeu um pouco de água e entrou por um trecho de floresta que milagrosamente não estava inundado pelas bordas impenetráveis do rio.


- Bri... aquilo é sangue, não é? – sussurrou Jill, observando a cena. – Pensando bem, você dizia algo sobre tráfico... acho que começo a entender... Bri?


Sabrina suava desesperadamente, não resistindo mais à dor.


- Você está ardendo em febre! – disse Jill pondo a mão na testa da amiga.


Sem forças para responder, Sabrina somente olhou para Jill. A loira começou a sair de foco. Desmaiou, por causa de um dente de crocodilo.