Charlies Angels: Before The Beginning

Capítulo 4: Três vigias na noite


- Recapitulando – começou Jill, andando com Sabrina pelo jardim no intervalo daquela tarde – ganhamos uma companheira e vamos ter que fazer a vigia hoje. Espero que a amiga compense a chatice da noite – comentou rabugenta.


- Eu vejo as coisas assim: você dorme enquanto eu mando sinais de lanterna pelas árvores para assustar algum gato perdido. – a “torre de vigia” dava para o jardim -Eu te acordo após algumas horas, e vamos dormir nas nossas quentes caminhas. Está bem?


- Bri, eu ainda não entendi porque não chamamos a Kelly para ficar conosco... e por que todo mundo está olhando pra gente? Bri...? – Sabrina parara de andar e olhava para trás.


- Aquilo é que nos rendeu olhares – Sabrina apontou pelas árvores que tinham ficado para trás. O queixo de ambas caiu pela segunda vez no dia.


- Eeeei! Jill, Sabrina, estava procurando vocês! Aonde foram? Pensei que... ah, bom dia garotas! – uma Kelly Garrett toda sorrisos corria em meio ao verde e cumprimentava cada um que passava por ela. Fora o fato de estar gritando por Jill e Bri fazia algum tempo.


- Isso é impossível! – exclamaram Sabrina e Jill juntas.



Noite. Pátio de treinamento armado, segundo andar. Sacada bem localizada focalizando os jardins centrais, dez horas. Duas recrutas sentadas entre caixas de armamentos que as escondiam de alguém que visse de baixo. E lanternas piscando no outro prédio, que foram completamente ignoradas pelas recrutas.


- Sabrina, estou com sono. Meus olhos nem abrem mais.


- Ao menos tente abri-los. Você nem está se esforçando.


- A combinação sua cabeça e aquela manga no quarto me parece boa. Tem idéia do que vou...?


- Shhh, fique quieta! – sussurrou Sabrina ignorando a ameaça que certamente a levaria à enfermaria de novo.


- Ainda não entendo por quê não trouxemos a Kelly!


- Jill, você é bem pouco observadora. Kelly estava com olheiras enormes. Deixemos que ela durma um pouco...


- Sabrina, a observadora... ei, não é a Harper ali? – Jill forçara os olhos a abrirem agora.


- Mas o que ela está fazendo...? – Sabrina mal enxergava a si mesma.


- Nesse instante olhando para os lados, e agora... hã? Tá enfiando a mão num tronco de árvore! – Jill enxergava bem no escuro.


- Vá buscar Kelly agora!



Sorrateira como um gato, Jill percorreu o segundo andar do alojamento sem ter a menor noção do quarto em que Kelly estava. Infelizmente, pisou numa tábua solta que produziu um ruído arrastado e virou em diagonal, ficando exposta.


Imediatamente a luz do corredor se acendeu.


- O que, exatamente, está acontecendo aqui?


- M-Miss Harper? – Jill estava mais assustada ao ver quem era do que em ser descoberta. Isso era impossível, a mulher deveria ter escapulido do jardim para seu escritório e não ido fazer uma ronda no dormitório.


- Munroe, o que faz aqui a essa hora? – Melissa Harper ergueu a cabeça em sinal de superioridade. Não era necessário, ela era mais alta do que qualquer um ali. – Este, que eu saiba, nem é seu andar. – Um par de olhos azuis faiscou de severidade.


- B-bem... é que... hã... s-sabe...


Uma porta rangeu, abrindo-se.


- Jill! Ah, mas que coisa, me atrasei não é? – Kelly fechou cuidadosamente a porta e desembainhou uma lanterna.


- Ah! É? – Jill não acompanhara a jogada da nova recruta.


- Garrett? – Harper entendia cada vez menos.


- Miss Harper.


- Kelly, você atrasou?


- Por que está aqui, Garrett?


- Sim, estou atrasada para a vigia. – Kelly sorriu para Miss Harper e piscou para Jill. – Que lapso, não devia deixar uma colega esperando. Suponho que tenha se preocupado e veio ver se eu ia deixar você na mão, certo?


- Eu... – Jill, impressionada com a rapidez de mentir de Kelly.


- Olha, me desculpe tudo isso, Miss Harper, sabe... eu acho que devíamos fazer o que temos que fazer. – Kelly, desmanchando-se em sorrisos para a assistente geral.


- E o que vocês tem que fazer?


- E o que temos que fazer?


Kelly riu amistosamente para encobrir a falta de tato da amiga. Arrastando Jill pelos cotovelos gritou um “boa noite” pelo corredor e saiu para o pátio.


- Como você sabia que estávamos vigiando esta noite? – Jill, ainda sendo arrastada.


- Eu não sabia. – Kelly estava séria agora.


- Isso é mais impressionante ainda!



Ouvindo os passos, Sabrina virou-se para ver uma loira abobalhada e uma morena curiosa olhando para ela.


- Jill, que demora! Harper já se foi, mas estava realmente estranha.


- Harper estava aqui? – indagou confusa Kelly.


- É, mas...


- Ah, cara! Eu a encontrei no corredor do segundo andar. Quase me matou do coração, a mulher. Kelly, como você nos ouviu? Você mente bem rápido! – Jill se recuperando do susto.


- Eu não estava dormindo. Só ouvi vozes e minha cabeça começou a trabalhar assim que te vi encrencada. – Kelly olhou para Sabrina e comentou: - A mulher parecia que ia engolir a Jill viva!


- Você é sonâmbula? – Jill sobre o óbvio hábito de Kelly não dormir à noite, após reparar nas olheiras gigantes.


- Isso é estranhíssimo. – Sabrina raciocinava rapidamente. – Não posso entender. Jill, ela desistiu do tronco e simplesmente recolheu uma banana. Talvez ela não estivesse mexendo no tronco. Podia estar procurando uma banana.


- Não, não foi isso! Eu enxergo muito bem e posso jurar que ela tentava... não sei, abrir o tronco. – Jill retrucou absolutamente confusa.


Relataram a história para Kelly, que ouviu em silêncio e depois sentou-se ao lado de Sabrina, pensando.


- Acaba de me ocorrer que... – Sabrina levantou-se, agitada com a idéia.


- ...que haveria um buraco no tronco? – Kelly completou.


- É, foi isso. – Sabrina arregalou os olhos para Kelly e sentou-se de novo. – Você acha que não?


- Essa é a minha opinião. – Kelly fez uma pausa, pesando as palavras. – Se... havia... alguma coisa de valor naquela árvore... não poderia ter um buraco. Senão qualquer um poderia ir até lá e... pegar. Entendem? – Kelly olhou para as colegas.


- Mas... e se fosse só uma fruta? Não é... algo de valor. – Sabrina ressaltou.


Kelly concordou acenando com a cabeça:


- Esse é o furo da teoria.


- Mas... – Jill manifestou-se – Caso... a fruta fosse algo mais...


- O que você quer dizer com isso? – perguntaram Kelly e Sabrina ao mesmo tempo.


- O que eu quero dizer... – Jill olhava séria para as duas – É que Harper pode ter muito a esconder fazendo uma visita às suas amadas frutas na calada da noite.


- Isso faz sentido, Jill. – disse Sabrina. – Ela não deixa ninguém tocá-las, então porque tirar uma quando ninguém está vendo? Deve haver... algo... dentro das frutas.


- Como drogas? – Kelly supôs.


- Eu não sei. Quem sabe diamantes? – Sabrina contrapôs.


- Temos que chamar a polícia!


Uma lanterna voou em direção a Jill.