Charlies Angels: Before The Beginning

Capítulo 11: Pontos de ataque e dor


Jill correu desesperadamente, percebendo que a trilha tortuosa e folhosa virava para a esquerda. Sabrina corria atrás dela, com o olhar fora de foco. Sempre e sempre que via Kelly, e a cada vez que se separavam, ela sentia aquela desolação e sensação de que a outra era um ser frágil que precisava de proteção.


- Bri! – gritou Jill de repente, sorrindo. – Se essa trilha continuar assim, podemos pegar Hyde por trás de surpresa! Estamos dando a volta na área seca!


Sabrina acordou de seu transe e captou a idéia. – Mas claro! Vamos, Jill. Temos que ajudá-los o mais rápid...


Ouviram um tiro que as paralisou. As pernas de Sabrina bambearam. Jill era inteira marshmallow derretido. Prontas para cair de joelhos e chorar, foram surpreendidas por uma aparição gigante.


Totalmente descomposta e com assustados olhos azuis, Harper derrapava pela trilha. Pelo jeito, o caminho dava mesmo no lado oposto, fazendo frente à cabana, e pela expressão de Melissa Harper, ela se perdera na trilha. Trazia um envelope nas mãos e nenhuma arma.


As três se encararam, Harper mais confusa que assustada. Compreendendo rapidamente que as duas recrutas eram fugitivas, ela jogouo envelope no chão, onde foi possível ver um emblema de laboratório e se pôs em posição de luta. Supusera corretamente, elas também não tinham armas.


Sabrina permaneceu atenta e calada. Jill relaxou e riu:


- Acha mesmo que pode com duas? – zombou ela. – Podemos...


Não chegou a terminar a frase. Harper deu-lhe tal soco na boa do estômago que Jill desmontou no chão. Sabrina reagiu impedindo um próximo golpe. Segurou os braços de Harper a uma distância suficiente para evitar um chute certeiro. Contudo, esta tomou-lhe o pulso em um movimento veloz e virou-a de cabeça para baixo. O mundo girou para Sabrina, que caiu pesadamente no solo, muito mais tonta que antes.


Entretanto, não desistiu. Levantou-se de um salto e enxergando só um vulto à sua frente, tentou se posicionar para um ataque. Felizmente (ou não), nunca chegou a atacar. Foi empurrada para o lado com pouca gentileza e ouviu:


- Ah, sua vaca!


Harper gritou no instante seguinte e Sabrina fez um esforço para ver. Se não estivesse tão exausta, riria do que viu. Superando toda frustração do primeiro golpe, Jill pegou Harper totalmente desprevenida pelos cabelos e deixou-a de cara no chão. Despejando insultos e palavrões se assemelhava muito, segundo Sabrina, a um cão raivoso (faltou apenas babar).


- Toma aqui, todas as drogas de folhas que eu engoli... tem uma pinha por aí? Bom, as folhas servem! Sua...


Bri levantou-se e impediu – muito relutante – que Jill afogasse Harper em folhas e xingamentos.


- Não temos tempo pra ela, Jill. Ouvimos uma coisa preocupante. – disse Sabrina tentando convencer amiga a esquecer a agressora que virou vítima.


- Tem razão... – rosnou Jill malevolamente. – O que faremos com essa... mulher?


- Hum... talvez... – Sabrina pensava na melhor solução para mantê-la fora do caminho quando ouviu um barulho de água corrente.


- Bri... isso é...! – exclamou Jill incerta.


- Sim! – respondeu Sabrina feliz. – Um afluente! Aquele rio macabro tem um afluente!



Dez minutos depois, Harper se viu amarrada por cipós fortemente atados a um tronco de árvore. Ela boiava pela água com toda a decência que a situação permitia. Mas não sem protestos.


- Eu sou sua superior! Quando Taylor ficar sabendo disso... vocês serão expulsas da Academia! Suas... garotinhas vis! Infames! Como têm coragem?!


- Isso se você sair viva daí. – replicou Jill apontando para a superfície lisa da água. Ela olhou para Sabrina. – Tem certeza que vamos precisar resgatá-la do outro lado?


- Bem, um dia ela vai chegar até o local onde esse afluente deságua. Ou não.


E as duas voltaram para a trilha folhosa, deixando a água fazer o serviço.


Harper agora enfrentava um problema de dentes afiados que parecia especialmente irado nesse dia.



Kelly gritou. Ela viu o corpo de Trevor cair à sua frente e lágrimas rolaram novamente por seus olhos. Em um estado de profundo ódio, ele pulara para cima de Hyde ao ouvir a provocação. Instintivamente, o Sargento puxara o gatilho. Acertou Trevor entre o coração e o ombro, aparentemente. Hyde ficou desorientado por um segundo, mas logo retomou a expressão fria e apontou a arma para Kelly, que desabara de joelhos ao lado de Trevor.


- Trevor! Fala comigo! N-não faz isso comigo! – ela soluçava acariciando o rosto do rapaz. Ele não fez nenhum movimento. O sangue escorria pelo peito dele, brilhando vermelho à luz do sol.


Kelly arrancou com violência a blusa de algodão que já estava rasgada, ficando só com uma camiseta de mangas curtas. Fez a blusa em tiras e amarrou no ombro de Trevor para tentar estancar o sangramento. Ele gemeu, mas não reagiu depois disso. Hyde ficou olhando a cena estupefato. Kelly permaneceu de joelhos encarando o nada, com os olhos opacos e indiferentes como na primeira vez em que Jill e Sabrina a tinham visto.


Hyde relaxou um pouco. Só teve tempo de ver poeira levantando. Dois segundos de distração e ele estava imobilizado no chão, com o cano de uma espingarda apontado para sua cabeça.


- O q... ? – tentou dizer, mas o cano afundou ainda mais em sua testa. – Ei, garota! Tira isso daq...


Hyde sentiu o sangue voar de seu rosto. Levara um chute violento no nariz.


- O que pensa que está fazendo?! Sai de perto de mim, sua louca! – Hyde, todo corpulento, estava visivelmente amedrontado diante de uma recruta duas vezes mais nova que ele.


Levou um susto muito maior quando, prevendo um golpe pior, sentiu que a arma era retirada da sua cabeça. Abrindo os olhos verificou que Kelly jogara a espingarda no rio e esperava que ele se levantasse.


Incrédulo, Hyde se ergueu lentamente e encarou-a.


- Você não acha que vai me derrubar, acha? – riu ele zombeteiramente.


Kelly não esboçou reação, apenas se pôs em posição de defesa.


- Já te machuquei uma vez... por que pensa que vai ser diferente? – avisou Hyde.


- Porque você pode continuar o mesmo idiota de algumas horas atrás... mas eu mudei. – respondeu Kelly séria.


Hyde olhou para Trevor e riu. Riu até gargalhar.


- Por causa desse moleque? Um fraco como esse não merece suas lágrimas.


Kelly perdeu a paciência de vez.


- Pode falar o que quiser, mas Trevor é mil vezes melhor que você, seu nojento! Ridículo!


E partiu pra cima dele. O Sargento desviou-se displicentemente do primeiro golpe, mas quem pode com uma mulher nervosa (e teimosa)? No segundo, foi atingido nas costas e um “creck” pôde ser ouvido. Sem dó nem piedade, Kelly aplicou um terceiro golpe no estômago que gerou mais sangue, um quarto novamente no nariz (com direito a outro “creck”) e um quinto em partes que deixaram o Sargento imobilizado de vez. Ele caiu desmaiado com um gemido e Kelly o prendeu entre alguns galhos de árvores.


Ela voltou a cair de joelhos ao lado de Trevor, passando a mão em seu rosto brando.


Quando ela fez menção de levantá-lo, ele ofegou. Kelly parou e deitou-o no chão de novo.


- Trevor...? Eu... vou te tirar daqui, você vai a um hospital e a gente pode...


- Não... – disse ele, mal respirando. – Você... sabe que... não... não adianta. – ele sorriu tristemente. – Não... por favor, não... chora... não por mim...


Kelly nem conseguiu responder de tanto soluçar. Trevor segurou a mão dela entre as suas com força.


- Eu... acho que nunca te disse isso com todas as letras... – ele tossiu sem ar. – Eu... te am...


E não completou a frase.


Kelly gritou de frustração quando o aperto em sua mão afrouxou. Ela se jogou em cima do corpo, chorando convulsiva e descontroladamente.



Jill e Sabrina irromperam pela trilha em frente à cabana.