Chamas e Brisas

Capítulo 9 - Chamado


Natasha apreciava uma xicara de café enquanto lia o jornal, já com uma roupa casual, uma camiseta preta sem manga que continha uma pequena gola que cobria parte do pescoço. Em seus braços musculosos ainda não trajava nenhuma braçadeira, apenas uma pulseira de prata que ganhará de sua filha e em seu anelar esquerdo contendo a aliança de casamento.

Isabel que trajava um vestido branco se encontrava perto da cafeteira com alguns documentos em mãos, ela havia ido ao centro para resolver problemas, pois foi convocada após um incidente na madrugada.

- Vai dar a noticia para Aeris hoje? – pergunta Isabel com os olhos perdidos nas paginas de seu documento.

- Caso o encontremos, ele não dormiu em casa. – suspira após terminar.

- Ele esteve ocupado. – a dona da pele cor de ébano abre um sorriso sapeca.

- Como assim? – pergunta a ruiva, fitando sua esposa.

- Bom, não vou entrega-lo. Mas ele fez uma pequena missão secreta. – complementa com um sorriso orgulhoso. – Que acabou dando uns resultados inesperados.

Natasha segura a pergunta ao ouvir gritos vindo de longe, que se aproximam aos poucos a cada segundo que passava. Tal grito que fica evidente quando Luna adentra a porta espumando pela a boca, chamando pelo seu irmão. Tal fúria que desaparece ao ver suas mães na cozinha, ambas com um sorriso esperando uma explicação.

- Oi mamis e mãe, estou procurando Aeris. – ela diz com um sorriso desajeitado.

- Vejo que está animada. – balbucia Natasha após soltar um pequeno riso enquanto trocava olhares com sua amada.

A porta dupla de vidro que dava ao jardim de Isabel abre, dando lugar ao Aeris com um olhar sonolento, segurando sua espada junto do colete longo que usaste noite passada.

- Que barulheira é essa? – pergunta após dar um longo bocejo.

- Onde você dormiu? – questiona Isabel com a sobrancelha arqueada.

- Na arvore no jardim. – responde sonolento. – A porta estava fechada e não queria acorda-las. – complementa com mais um bocejo, depositando sua espada na prateleira perto da porta.

Sua expressão de sono logo some ao ver Luna cerrando os olhos pronta para uma batalha, ela avança para cima dele com toda sua velocidade enquanto o jovem desvia com facilidade e corre perto sofá. Ambos dão volta correndo pelo móvel enquanto Luna gritava xingamentos para seu irmão, que apenas ria de nervoso. Tal correria cessa quando param na frente um do outro ofegantes, com o sofá entre eles, suas mães não deixam de se sentir nostálgica com aquela cena, mas logo fazem uma pergunta:

- O que está acontecendo? – pergunta Natasha.

- Para que essa raiva toda? – pergunta Isabel.

Ambas fazem perguntas ao mesmo tempo.

- Você disse que ficaria fora de meus assuntos! – esbraveja Luna fitando os olhos azuis de seu irmão. – Você prometeu!

- Olha, não me lembro de “prometer” nada. – Aeris com um sorriso faz aspas com ambas as mãos quando chega na palavra. – Por isso acabei me envolvendo. – ainda sorrindo.

- Espera, espera. O que está rolando? – pergunta Natasha com uma expressão totalmente perdida em seu rosto.

Isabel não consegue segurar o riso, pois acaba de ligar os pontos do envolvimento de Aeris na pequena bagunça feita na madrugada anterior. Tal risada que cessa depois que sentir os olhos de sua família em si.

- Não se preocupe amor, ela está brava por que Aeris bancou o irmão mais velho. – solta a matriarca morena com um sorriso enorme.

- O que você fez? – pergunta novamente Natasha, mas fitando Aeris apenas.

- Posso ter entrado na taberna secreta das gangues e criado uma pequena bagunça no recinto para capturar Ash. – diz de forma que não parecesse grande coisa.

- Exatamente! Ainda mais depois de ter pedido para ele me deixar resolver o problema por conta própria. – complementa Luna.

- Não conseguir evitar depois que vi o que fizeram com sua clinica. – ele da de ombros enquanto falava.

- Então me deixe entender. – Natasha caminha para perto do sofá que separava os dois. – Você minha filha estava com problemas, e não contou para suas mães, um problema que poderia ficar fatal? - aponta para Luna, que baixa seus azul-celeste com um certo medo de sua mãe. – E você, se meteu no problema sem nem mesmo chamar ajuda nossa? Você poderia ter morrido lá. – ela diz com um olhar direto e com preocupação ao fitar Aeris.

O loiro dobrador de ar arqueia a sobrancelha, surpreso com o sermão que estava tomando, seus olhos passam pela sua irmã que estava cabisbaixa como ficava em sua infância, essa mesma cena pode ter acontecido varias vezes no passado, por isso um riso incontrolável surge em Aeris, o mesmo que surge em Isabel que estava calada enquanto via a cena.

- Por que estão rindo? – pergunta Natasha mantendo a postura firme.

- Desculpe mãe. – diz depois de algumas tentativas, mas abre um sorriso nostálgico enquanto fitava os olhos verdes da Anciã. – Mas não vejo problema aqui. – solta ainda com seu sorriso.

- Como assim não vê problema? Você e sua irmã poderia acabar se matando. – ela explica com o olhar cheio de preocupação.

- Eu sei, e levei isso em questão. Não fui sozinho nisso, mas não faz diferença agora. – ele salta o sofá, sentando no encosto, agora fitando sua irmã mais nova. – Luna não queria meu envolvimento e nem o de vocês, por que ela consegue se virar. Assim como eu sei do que sou capaz.

- Escute...

- Mãe, não sou mais criança e não pretendo ficar debaixo de suas asas. Mas isso não quer dizer que não pararei de ajudá-la maninha. – com um sorriso gentil ele fitava os olhos azuis celeste de sua irmã, que solta um longo suspiro.

- Se fosse se envolver, deveria pelo menos ter me levado junto. – solta Luna ao se jogar no sofá. – Sinto que fiquei brava atoa. – bufa ao terminar.

Natasha não sabia o que falar e nem como agir naquela situação. O toque de Isabel em seus ombros a tiram de seu pensamento, a mesma apenas lhe lança um sorriso carinhoso e caminha em direção ao Aeris para abraça-lo pelas costas.

- Não vou dizer que não fiquei preocupada, mas fico feliz com o que fez. – Isabel o solta do abraço, bagunçando seu cabelo, o mesmo estava indefeso pois ela estava em suas costas.

- Droga, vocês realmente cresceram. – solta Natasha, enquanto ouve um riso vindo de Luna.

A Anciã senta na mesinha de centro, para ficar de frente aos dois filhos que criou, uma que acabara se tornando uma dobradora de água que tem uma habilidade enorme na cura, mas ainda desconhecida sua força na batalha. E seu filho mais velho, ela não consegue mais ver aquele jovem menino que lhe seguia para todos os cantos, mas ainda tinha aquele sorriso radiante em seu rosto.

- Faça o pedido para ele. – Isabel balbucia ao voltar seus braços pelo ombro de seu filho, fitando sua esposa com um olhar pensativo.

- Que pedido? – pergunta Aeris.

- O conselho deseja fazer uma reunião com ambos príncipes para decidir qual lado apoiar, mas tememos em mandar os lideres e negaram o meu pedido de ir nesta missão. – com um suspiro longo ela continua. – Eles desejam que você me represente nessa missão, por já saber como entrar em Solumia e ter conhecimentos da situação atual naquela Nação. Junto de você a princesa do fogo Lyra se ofereceu como representante da nação do fogo, e o filho mais velho da nação da Água.

- Ele acabou de chegar. E já estão mandando-o embora? – pergunta Luna, fitando os olhos de sua mãe, que evita a troca.

- Não é uma ordem. – diz Isabel ao repousar seu rosto no ombro de seu filho, ao firmar seu abraço mais forte.

Aeris estava imerso em seus pensamentos. Enquanto observava Natasha, uma mulher de expressão serena e olhos que contavam histórias de amor e sacrifício. Enquanto sentia um abraço caloroso que lhe envolvia por trás de sua outra mãe, Isabel. Ele sabia que não era um pedido fácil para elas, pois não faziam muitos dias que ele tinha voltado, mas se esforçavam para se manter firme.

- Me diz que não vai aceitar Aeris. – pede Luna agora fitando os olhos azul de seu irmão.

Um sorriso calmo se forma em seu lábio quando toma sua decisão, pois isso pode ser um chamado, ou apenas uma coincidência de ter voltado na mesma época que iriam fazer a reunião do conselho.

- Eu vou. – diz ao colocar sua mão direita sobre os braços entrelaçado em seu ombro. – Não é um pedido difícil. – disfarça com um sorriso animado.

- Escute Aeris, você viu o que está acontecendo lá, tem certeza que deseja voltar? – pergunta Natasha.

- Meu motivo de ter entrado naquela Nação era de pura curiosidade, que acabou se tornando um sentimento de altruísmo ao tentar ajudar o máximo de pessoas possível. Não digo que tenha tido sucesso em minhas facetas, pois lá contabiliza meus maiores fracassos. – termina com um olhar direto para sua mãe. – Mas vejo isso como uma segunda chance para tentar arrumar as coisas. Então sim mãe, irei como seu representante. Mas prepararei a viagem para amanhã, hoje quero passar o dia com vocês em casa caso seja possível.

- É claro meu filho. – diz Isabel.

Aeris havia tomado sua decisão; ele iria a Nação da Terra em guerra, mas não hoje. Hoje, ele tinha um dia inteiro para estar com suas duas mães e sua irmã, um dia para se encher de memórias antes de embarcar em sua jornada. Eles passaram o dia juntos, rindo e compartilhando histórias, fortalecendo os laços que os uniam. Enquanto o sol se punha, tingindo o céu de laranja e rosa, Aeris saboreava cada momento, gravando em seu coração os sorrisos de sua família. Era um dia de pausas e promessas, um último suspiro de normalidade e calor antes de enfrentar o desconhecido. Com o amor de suas mães e o espírito aventureiro de sua irmã ecoando em suas decisões, Aeris se sentia pronto para o amanhã, sabendo que carregava com ele a força de seu lar.