Chamas e Brisas

Capítulo 10 - Noite sob as Estrelas


A jovem princesa do fogo caminhava de um lado para o outro nervosa, pois era o dia que iria em sua jornada para Solumia, nervosa não apenas pelo objetivo da missão, mas por estar ido ao lado do homem que beijou duas noites antes.

Solara abre um sorriso enquanto via sua neta nervosa já usando a roupa escolhida por ela. Sua roupa é uma mistura de funcionalidade e tradição real. Ela usa um manto vermelho e dourado, cores que refletem o calor e a energia de seu povo. O tecido é resistente, mas flexível, permitindo-lhe mover-se livremente em combate ou diplomacia.

As braçadeiras são feitas de um metal brilhante e leve, gravadas com símbolos antigos que contam a história de sua linhagem. Elas não apenas protegem seus antebraços, mas também servem como um símbolo de sua posição e poder. As botas são robustas, com solas grossas para terrenos difíceis, mas adornadas com detalhes em metal que combinam com as braçadeiras, conferindo-lhe uma aparência coesa e imponente.

Para completar seu traje, Lyra usa uma túnica longa sob o manto, com aberturas laterais para maior mobilidade, e um cinto largo que acentua sua silhueta e onde ela pode prender pequenos itens essenciais. A armadura é discreta, mas presente, uma lembrança constante de que, mesmo em tempos de paz, uma princesa deve estar preparada para defender seu povo a qualquer momento.

- Se acalme querida. – Solara ri.

Elas se encontravam na saída da cidade, perto do estaleiro o qual estava os cavalos que vão usar em sua viagem. Passos de metal incertos soam ao se chocar com o cimento da rua, um jovem se aproximava, O príncipe da nação da água, apesar de seus 17 anos, carrega uma presença que transcende sua juventude. Seu porte é franzino, uma estrutura delicada que contrasta com o peso da coroa que está destinado a usar. Seus olhos, grandes e expressivos, são como poços profundos de água cristalina, refletindo um medo que ele não consegue esconder.

A armadura da nação da água é uma obra de arte em termos de proteção e estética, mas para ele, é uma vestimenta que lhe traz desconforto. Feita de placas de metal azul-escuro, ela é incrustada com pedras preciosas que imitam o brilho do gelo e a profundidade do oceano. As ombreiras são elevadas e intimidantes, projetadas para intimidar os adversários, mas elas restringem os movimentos suaves que ele prefere. O peitoral é robusto e ornamentado, com a imagem de uma onda em alto relevo, simbolizando o poder de sua nação, mas é pesado e faz com que ele se sinta aprisionado.

As grevas e as manoplas são igualmente imponentes, adornadas com símbolos de sua herança real, mas cada passo e gesto são lembranças constantes da armadura que ele deve carregar. Mesmo as botas, embora reforçadas para a batalha, parecem desajeitadas e rígidas em seus pés acostumados à liberdade do contato direto com a água.

- Príncipe Elian Rivério, vejo que está em companhias muito grandes. – brinca Solara com um sorriso gentil.

Os soldados que acompanham o príncipe Elian Rivério são leais e destemidos, vestidos em armaduras azul-prateadas que refletem a luz da lua sobre as águas. Eles movem-se com uma graça silenciosa, cada um habilidoso na arte da guerra aquática, seus olhares determinados e suas posturas, inabaláveis. São a elite da nação da água, protetores do príncipe e guardiões de seu povo.

A Rainha do fogo segura a pergunta ao ver seus olhos de um azul profundo, quase turquesa, capturando a essência da água que ele comanda. No entanto, essa cor vibrante é ofuscada por uma névoa de hesitação, como se as ondas de seu destino estivessem constantemente mudando, deixando-o à deriva em um mar de dúvidas. O menino não estava acompanhado de seu pai, isso lhe dava medo, pois estava indo para uma jornada na qual ainda não está pronto mentalmente e fisicamente.

- Ele não passa de um garoto. – solta Lyra em sussurros ao se aproximar de sua avó, que permanecia sentada no banco enfrente ao estabulo.

- Não cabe nos julgar o menino. – um olhar triste toma Solara enquanto analisava a suavidade em seu rosto, ainda não endurecido pelas adversidades da realeza, e seus cabelos, negros como a meia-noite, caem desordenadamente sobre sua testa, como as ondas inquietas do mar que ele governará. – Essa jornada ditara se ele poderá um dia se tornar um rei de Atlantis competente.

- Ele é baixo, com uma armadura enorme. – ela sussurra para si mesmo enquanto analisava o menino.

- Vejo que estão todos reunidos. – Natasha surge em meio aos soldados, com um sorriso enorme. Usando a mesma vestimenta no dia do conselho, ela gostava de chamar aquela roupa de traje de batalha.

- O senhor Aeris ainda não chegou? – pergunta Elian, com a voz sussurrante, pois a grande Anciã havia parado ao seu lado.

- Ele está aqui sim. – diz com as sobrancelhas arqueadas. – Ele está deitado no telhado. – diz apontando para o telhado do estaleiro, onde veem apenas um braço acenando para eles.

- Desculpe, estava dando uma cochilada, dormi pouco noite passada. – explica-se ao ficar de pé no telhado.

Aeris usava uma túnica leve cinza, com as calças marrons que usara anteriormente. Botas de couro que são macias, dando a impressão de serem silenciosas quando precisar. Em sua cintura esta sua cinta usual, onde carregava sua espada que esbanjava um pequeno brilho no cristal em seu cabo. Sua capa continha um capuz, sendo da cor preta por ser discreta.

Num salto ele pousa usando rajadas de ar em seus pés, parando ao lado de Lyra, laçando um sorriso encantador para a jovem ao cruzarem olhares.

- Tenho que dizer, a armadura do jovem da nação da água vai chamar muita atenção. – solta o dobrador de ar, analisando o príncipe em questão.

- É uma tradição. – responde Elian com um olhar curiosa da figura que surgiu, pois ninguém tinha percebido sua presença desde que chegara.

- Silencioso como um gato. – solta Solara, com uma risada de avó que vem em seguida. – Como pretende se infiltrar na Solumia? – pergunta a rainha, mas ela apenas recebe um sorriso sapeca vindo de Aeris. – Não pretende compartilhar conosco?

- Temo que não minha rainha, minha mãe havia feito a mesma pergunta noite passada, mas temo que ambas não possam saber. – se explica com um olhar determinado. – Iremos cruzar a floresta vermelha, cortaremos caminho para chegar o mais rápido por lá.

- A floresta é cheia de espirito. – diz o jovem príncipe.

- Sim, não vejo problema. – um sorriso surge ao final da resposta.

- Senhora. – um soldado da nação do fogo surge ofegante, após correr entre os soldados da nação da agua. – Estamos prontos para a partida. – ele diz após pousar seus joelhos sob o chão, esperando as palavras de sua rainha.

- Bem, temo que não poderei vê-los partindo. – ela levanta-se, logo dando um abraço em sua neta, que sente o conforto e calor do abraço. – Que as chamas da nossa paixão iluminem seu caminho e o calor do nosso amor permaneça com você, até que os caminhos se cruzem novamente. – sussurra o mantra perto do ouvido da princesa.

- Levarei o brilho de suas chamas no coração e a lembrança de nosso laço me aquecerá até que nos encontremos novamente sob o mesmo céu ardente. – sussurra de volta Lyra.

Solara segura suas lagrimas com um olhar forte e com a postura de uma rainha guerreira. Seu olhar recai ao soltado ajoelhado perto dela, o mesmo logo se levanta para indagar:

- A carruagem a espera minha rainha. – diz apontando para a entrada da cidade, com sua carruagem dourada e vermelha parada perto da calçada.

- Me mostre o caminho. – o soldado assente, virando seu corpo para ir me direção ao veiculo. Os olhos dourados da rainha cruzam com de Aeris. - Custodite ignis.

Aeris pode não saber o que aquelas palavras significam, mas ele sabia o que o olhar que lhe fora lançado significava. “Proteja minha neta”, o loiro apenas abre um sorriso radiante em direção a rainha, que retribui com um sorriso gentil.

- Vossa alteza, nos retiraremos agora. – um dos soldados diz ao se aproximar do príncipe de Atlantis. - Que as marés da fortuna guiem seus caminhos. – complementa batendo em seu peito.

- Que as mares lhes protejam. – diz Elian ao ver os soldados caminharem pelas ruas de Fortalium.

O sol nascia, tingindo o céu de tons suaves de rosa e laranja. Aeris e Natasha, mãe e filho, encontravam-se frente a frente, seus olhares entrelaçados em um silêncio eloquente. Não havia palavras, apenas o compartilhar de respirações e o brilho mútuo em seus olhos, uma dança silenciosa de emoções. Natasha estendeu a mão, tocando suavemente o rosto de Aeris, traçando as linhas de um futuro incerto com a ponta dos dedos. Aeris, por sua vez, colocou sua mão sobre a dela, um gesto de gratidão e amor inabalável. Eles se abraçaram, um abraço que falava de proteção, saudade e esperança, um abraço que dizia tudo sem precisar de palavras. Então, lentamente, se afastaram, cada um carregando consigo a promessa silenciosa de um reencontro, enquanto o dia despertava para a vida ao redor deles.

Eles partem ao montar em seus cavalos. Natasha observava os três sumindo em sua visão, eles trilhavam seu caminho pra essa jornada.

Alguns metros depois de cavalgar Luna, a irmã de Aeris, está montada em seu cavalo com uma postura de rainha guerreira, a silhueta dela recortada contra o horizonte que se ilumina com os primeiros raios do sol. Seu cabelo cor de mel, com pontas loiras, flutua ao vento, como se estivesse em sintonia com as ondas do mar distante. Ela veste uma túnica azul-celeste que complementa seus olhos e a faz parecer parte do próprio céu. A expressão dela é de determinação tranquila, os olhos fixos no caminho que Aeris tomará para se juntar a ela. O cavalo, um majestoso corcel negro, pisa inquieto, compartilhando a antecipação de Luna. Juntos, eles esperam, prontos para a jornada que os aguarda, unidos pelo sangue e pelo destino.

Ele abre um sorriso ao ver o corcel de sua irmã caminhar ao lado ao lado de seu cavalo, não pretende impedi-la de se juntar na jornada.

- Vejo que não pretende reabrir a clinica. – balbucia Aeris.

- Não quando posso entrar numa pequena aventura ao seu lado. – ela abre um sorriso em seus lábios.

- Como nos velhos tempos?

- Como nos velhos tempos.

À medida que o sol começava a se esconder atrás do horizonte, tingindo o céu de tons ardentes de vermelho e laranja, Lyra, Aeris, Elian e Luna chegavam ao fim de mais um dia de viagem. A Floresta Vermelha, com suas árvores altas e folhas que pareciam chamas ao pôr do sol, servia de pano de fundo para o acampamento que começavam a montar.

Lyra, com sua destreza de princesa da nação do fogo, acendeu uma fogueira que logo crepitava, iluminando os rostos cansados mas satisfeitos de seus companheiros. Aeris, o dobrador do ar, usou suas habilidades para inflar as tendas, que se ergueram como se fossem mágica, enquanto Elian, o príncipe da nação da água, garantia que havia água fresca suficiente para a noite. Luna, com sua conexão com a água, ajudou a preparar uma refeição simples, mas reconfortante.

Juntos, eles compartilharam histórias e risadas, a luz da fogueira dançando em seus olhos, refletindo a união e a força de seu vínculo. Quando a noite finalmente caiu, e as estrelas começaram a brilhar no céu, eles se recolheram às suas tendas, o som suave da floresta ao redor embalando-os para um sono merecido.

A noite havia se estabelecido sobre o acampamento, e a fogueira crepitava suavemente, lançando um brilho dourado sobre a cena. Aeris estava um pouco afastado, seus olhos azuis refletindo as chamas enquanto observava Lyra. Ela estava sentada perto do fogo, a luz iluminando seu rosto em um jogo de sombras e luz que realçava sua expressão contemplativa. Seus olhos estavam fixos no céu noturno, onde as estrelas cintilavam como joias incrustadas na abóbada celeste.

Lyra parecia completamente absorta pela vastidão acima dela, cada estrela contando uma história que apenas ela podia ouvir. O calor da fogueira contrastava com o frescor da noite, e o silêncio era apenas quebrado pelo crepitar da madeira e pelo sussurro do vento nas folhas. Aeris abre um sorriso ao sentir os olhos dourados da princesa lhe fitar.

- Venha, sente ao meu lado. – com a voz suave, ela bate no gramado ao seu lado, indicando o local.

Aeris senta ao lado dela sem pestanejar. Podendo sentir o perfume que exalava em seu cabelo quando a brisa da noite batia contra seus fios negros. Lyra logo puxa a mão do dobrador do ar, que fica surpreso, mas deixa ela.

- Existe uma forma de ler o futuro apenas vendo a palma da mão. – ela diz enquanto deslizava seus dedos na palma da mão de Aeris.

- Onde ouviu isso?

- De soldados. – diz rindo. – Nunca encontrou algum desses videntes em suas viagens?

- Posso ter visto alguns, mas eles usavam elementos como forma de vidência, como por exemplo a sacerdotisa do fogo.

- Profetiza. – corrige o loiro, ao mencionar a Thelma.

- Não digo que ela passa mensagens erradas, mas o mundo tem inúmeros espíritos que não podemos ver, pois não desejam ter interação conosco.

- A floresta vermelha, meu pai tem arquivos de lá, muitos deles dizendo que perdemos soldados contra espíritos. – seu dedo para de deslizar contra a pele de Aeris, agora colocando sua palma contra a dele, vendo a diferença do tamanho das mãos, soltando um pequeno riso sem perceber.

- Espíritos são seres além da energia que usamos para dobrar, eles são poderosos ao ponto de poder controlar mais de um elemento, mas nunca todos.

- Então são perigosos?

- Não desde que respeitamos a ordem natural da natureza, a qual eles reinam. – Aeris abre um sorriso.

A fogueira crepitava, lançando um brilho quente sobre Lyra e Aeris enquanto eles compartilhavam uma conversa íntima, sentados lado a lado. As palavras fluíam entre eles como uma melodia suave, cada frase tecendo uma conexão mais profunda. O céu estrelado acima servia de testemunha para o momento que se aproximava.

Enquanto a conversa dava lugar a um silêncio confortável, Aeris virou-se para Lyra, seus olhos encontrando os dela em um olhar que falava volumes. Havia uma pergunta silenciosa ali, e uma resposta igualmente tácita brilhava nos olhos de Lyra. Lentamente, como se movidos por uma força além deles, seus rostos se aproximaram. O calor da fogueira parecia se intensificar, refletindo o calor que surgia dentro deles.

E então, sob o manto da noite e o brilho das estrelas, seus lábios se encontraram em um beijo. Era um beijo que selava promessas não ditas, um beijo que era o começo de uma jornada compartilhada. O mundo ao redor desapareceu, deixando apenas a chama da fogueira para dançar em harmonia com o batimento dos corações deles. E naquele beijo, Lyra e Aeris encontraram um novo universo de possibilidades.