Chamas e Brisas

Capítulo 8 - Chamas e Laminas


Lyra vestia apenas um moletom com uma camiseta larga, seu cabelo negro estava molhado devido a ducha que havia tomado alguns minutos antes, depois que treinou algumas horas com seu pai, já queria que ela estivesse em boa forma durante a missão que lhe foi passada.

Uma brisa fria vinha da varanda, balançando a cortina branca de seu quarto. Acima da cama estava sua vestimenta usada durante a reunião do Conselho da Aliança, ao lado um pequeno baú onde guardava sua braçadeira.

Ela senta-se numa cadeira perto da escrivaninha, onde ficavam seus produtos para o cabelo, alguns passos da varanda. Seus dedos já com o creme, deslizam em seus fios de cabelo com certa delicadeza, tal processo que a princesa adorava fazer, lhe fazia sentir uma garota normal.

- Cheiro gostoso desse creme. – uma voz suave a tira de sua concentração.

A princesa empurra a cadeira para trás já entrando em posição de combate, pronta para convocar uma tempestade de fogo no invasor. Mas o sentimento de perigo some, ao ver Aeris escorado na porta entre aberta da varanda.

- Calma. – solta ao vê-la pronta para o combate. Ambas as mãos levantadas a frente de seu rosto como forma de rendição.

- O que faz aqui?! A essa hora?! – esbraveja de forma sussurrante para que ninguém soubesse da visita em seu quarto.

- Sei que vai soar estranho, mas vim para te sequestrar. – abre um sorriso desajeitado, ainda com as mãos erguidas.

Após uma longa bufada de Lyra, ela faz um gesto com a mão para que ele parasse de se render. Sua mão sobe ao seu rosto, deslizando a mesma pelo queixo, tentando entender o motivo dele estar vindo ao seu quarto durante a noite.

- Fale serio. – balbucia ela, com um certo cansaço em sua voz.

- É que nada mais justo de sequestrar minha sequestradora da noite anterior, para uma pequena missão perigosa. – argumenta com um sorriso de canto.

- Então sua mãe já falou com você? – ela pergunta sem pensar.

- Sobre o que? – pergunta Aeris com a sobrancelha arqueada.

Lyra logo se toca que ele não está a procurando por causa da missão do Conselho, então ele ainda não falou com a Anciã e nem mesmo sabe como foi a reunião. Parte da morena queria contar logo tudo, mas a outra queria deixar para as mães deles, já que haviam requisitado isso.

- Que tipo de missão? – pergunta Lyra, para evitar que o assunto anterior continuasse.

- Infiltração e “Bate-Bate”. – responde ainda com um sorriso de canto.

- “Bate-Bate”?

- Soco e mais soco, normalmente é o que acontece quando se entra numa briga. – ele explica como se fosse algo obvio.

Lyra faz todo o esforço do mundo para não rir, pois ele mantinha uma cara seria ao explicar.

- E em quem você pretende bater, normalmente é contra tais ações? – pergunta novamente Lyra agora com um sorriso curioso, voltando a se sentar na cadeira que agora estava virada para a direção de Aeris.

- Uma gangue na periferia, ela anda extorquindo os comerciantes locais como forma de proteção. – seu olhar sob para as estrelas no céu, enquanto se apoiava melhor na porta da varanda. – E também queria poder ver minha sequestradora novamente. Mesmo que isso venha com pedido perigoso. – complementa com um sorriso ao fitar os orbes dourados da moça.

- Ousado. Me ganhou quando disse que iremos para uma luta. – brinca com um sorriso.

Lyra levanta-se rapidamente com o destino certeiro, sua mala de roupas perto da cama, onde retira um kimono de tecido suave branco com detalhes de chamas a sua borda. Ela o veste, mantendo-o aberto e colocando em seus pulsos a braçadeira.

- Belo Kimono. – elogia Aeris ao dar passagem para a moça para ir a varanda.

- Ganhei de presente da nação do ar. – balbucia ao sentir a brisa gelada da noite, refrescando seu corpo. Seus olhos logo procuram os de Aeris, que arqueia a sobrancelha, como se esperasse uma pergunta. – Irei ajuda-lo, mas ao terminar essa missão, quero que responda 5 perguntas minhas com total sinceridade. – diz com um olhar firme esperando a resposta do dobrador de ar.

- Sempre sou sincero. – responde com um sorriso.

- Sem resposta nubladas e otimistas. – o sorriso do loiro some de seus lábios.

- Por quê? – solta Aeris, com um olhar sombrio.

- Por que você é o único que conheço que andou por todas as nações e viu suas falhas. E seu sorriso carrega um pensar que nem mesmo percebe. Quero saber mais sobre o homem parado na minha frente, para assim tomar minha decisão. – ela responde sem desviar os olhares, estava seria.

- E que decisão é essa? – pergunta novamente Aeris.

- Não importa no momento, é uma decisão minha. Para traçar meu próprio caminho. – ela para em frente ao loiro, com seu olhar decidido.

- Muito bem, responderei suas perguntas ao final da noite. – termina com um sorriso tímido, o qual parecia que estava cometendo um erro, mas seu coração vacilava perto dela e ele queria saber o que vai acontecer.

- Resolvido. – ela diz com um sorriso animado. – Onde vamos? – pergunta agora olhando para a cidade coberta pela luz do luar.

- Agora vamos nos encontrar com Jack, ele nos levará para o estabelecimento em questão.

Ambos saltam o prédio do ontem como se não fosse nada, cada um usando seu elemento para pousar com facilidade. Jack os esperava na esquina do Hotel, o mesmo abre um sorriso ao ver a princesa, pronto para fazer uma reverencia, a qual já recebe uma risada da morena.

- Não precisa se preocupar com isso grandalhão. – ri enquanto analisava a postura dura do homem barbudo se desmontar completamente.

Ele trajava uma roupa de seda preta por baixo da de uma capa de pele da mesma cor, sua sinta de couro marrom carregava uma pequena bolsa, pelo volume parecia ser algo pesado, ou um amontoado de pequenas coisas na bolsa. Sua bota não combinava com a roupa de seda, uma bota preta com detalhe de metal na ponta, ela estava desgastada de certa forma, com algumas manchas que não se via a olho nu.

- Nos vamos num local no centro mesmo, tem uma taberna conhecida que possui um salão de apostas no fundo. Ash é conhecido por se encontrar com muitas pessoas naquele local enquanto joga um carteado. – Jack falava enquanto apontava para uma rua ao norte, lado contrario do Salão do Conselho, mais perto do caminho que pega para ir a periferia.

- Ash é o líder da gangue? – pergunta Lyra.

- Não contou nada sobre o que iremos fazer? – lança outra pergunta Jack, mas essa direcionada com Aeris, que abre um sorriso sapeca.

- Ash é o líder, nos vamos tentar ter uma conversa de boa com ele primeiro. E ela gosta de uma boa luta, não precisei de muito para convence-la. – o loiro responde ambos, mantendo um sorriso.

Lyra faz uma careta, pois concordava com a missão por pelo fato de poder bater em alguém.

- Muito bem, vamos. – diz Jack com uma voz sombria, pois não tinha percebido onde tinha se metido, mas agora é tarde para voltar atrás.

Eles vagam pela cidade de certa forma rápida, as ruas estavam se esvaziando por causa do horário, poucas pessoas andavam, tirando bêbados e jovens que estavam festando. Jack para enfrente a um prédio grande, com uma pintura nova branca, cheio de neon em inúmeras partes para se destacar na rua. O estabelecimento possuía duas entradas, com portas duplas de madeira maciça, nenhuma placa indicando o nome do lugar e o que fazem, apenas atiçavam a curiosidade de quem passava.

- É mesmo uma taberna? – pergunta Aeris sem perceber.

- Para quem sabe onde está indo. Vamos.

Jack entra no estabelecimento rapidamente, caminhando com certa pressa em direção a primeira mesa vazia e sentando. Aeris e Lyra, adentram o local com certa calma, observando seus arredores a taberna é um labirinto de salões iluminados por tochas, onde o ar é sempre espesso com o fumo de cachimbos e os murmúrios de conspirações. As paredes de pedra, cobertas de tapeçarias desbotadas e armas antigas, testemunham negociações sombrias e alianças traiçoeiras. Neste refúgio de renegados, onde o vinho flui tão livremente quanto os segredos, as gangues tramam seus próximos movimentos ao som de músicas folclóricas tocadas com violinos e acordeões, ecoando pelo espaço como um hino à clandestinidade.

Aeris abre um sorriso ao se sentar na mesa que seu amigo havia escolhido, tal sorriso que Jack sabia que vinha problema. Lyra analisava discretamente todos os rostos que via, para tentar memorizar caso um dia precise ir atrás deles.

- Não façam nada que chamem atenção. Muitos deles controlam dobras elementares, mas outros são guerreiros fortes o bastante para não se importar com dobradores da guarda. – sussurra Jack, fazendo com que ambos a sua frente o fitassem. – Não poderei acompanhar lá dentro. – seus olhos apontam para uma escada que leva para os andares superiores. – Meu rosto é conhecido por aqui, então peço que obtenham a informação que precisam para irmos na base de Ash.

- Como ele é? – pergunta a princesa do fogo.

- Não tenho muita informação dele, mas dizem que carrega uma longa cicatriz que cruza seu rosto, da sobrancelha direita a bochecha esquerda.

- Teme uma bebida enquanto espera. – Aeris diz com um sorriso brincalhão ao se levantar.

Lyra caminha ao lado do dobrador de ar em direção a escada, mas ela logo indaga uma pergunta:

- Se vamos tentar pegar a informação da local onde Ash opera, por que esse medo todo? – pergunta depois de ver Jack, um homem de estatura enorme com um certo medo em seus olhos.

- Pois podemos ter que lutar para sair, e a informação vamos entregar para a guarda da cidade, para que eles resolvam os problemas legalmente. – responde olhando para frente, mas sente um o olhar da morena, provavelmente pronta para fazer outra pergunta. – Pretendia bancar o herói, batendo na porta da entrada da base caso soubesse, mas estava tomado por uma raiva grande. Esse plano de Jack é melhor, mas coloca ele em risco muito grande, pois ele pode ser o alvo das gangues.

- Então vamos ter muito cuidado. Ou pelo menos bater neles para que esqueçam do que viram. – ela ri baixo, num tom maligno.

- Vamos torcer para que não chegue nesse ponto. – balbucia Aeris.

No segundo andar da taberna, longe dos olhares curiosos, encontra-se um cassino ilegal que é o coração pulsante do submundo. As escadas rangentes levam a um salão amplo, onde o luxo clandestino reina entre mesas de jogos cobertas de veludo verde e fichas de marfim. Croupiers habilidosos com olhares penetrantes comandam o espaço, enquanto jogadores de expressões inescrutáveis apostam fortunas ao sussurro dos dados e ao estalar das cartas. Lustres de cristal pendem baixo, lançando um brilho dourado sobre a multidão diversificada que se mistura com a fumaça do tabaco e o perfume doce da intriga. Aqui, a sorte é uma dama caprichosa, e cada jogada pode ser a última em um jogo muito mais perigoso do que parece.

Os olhos de Lyra passam com certo cuidado por cada um que estava jogando, mas param ao ver um grupo mais ao fundo jogando poker. Em meio as fumaças vindas de charutos, um rosto com a cicatriz descrita por Jack estava, mas um rosto feminino com outras cicatrizes abaixo do queixo. Seus olhos, de um cinza penetrante, refletem a determinação e a astúcia necessárias para manter seu domínio. Com cabelos negros que caem em ondas rebeldes sobre os ombros, Ash move-se com a graça de uma predadora, pronta para defender seu território e sua gente com uma estratégia tão afiada quanto a lâmina que sempre carrega consigo.

- Achei ela. – sussurra Lyra, puxando Aeris pelo braço até a mesa que havia visto.

Duas cadeiras vazias se encontravam ao canto da mesa, lado oposto em que Ash sentava-se. A croupier levanta seu olhar em direção aos dois indivíduos que haviam sentado em sua mesa:

- Apostas acima de 50 moedas de ouro. – sem demonstrar nenhuma expressão, ela aguarda a resposta de ambos.

- Compro fichas equivalentes a 200 moedas. – Aeris pousa a quantidade sobre a mesa, ao retirar da saco vermelho preso em sua cinta, o mesmo ganhado da luta contra Lyra.

- Muitas moedas para um jovem usando roupas de plebeu. – Ash solta com um olhar feroz fitando os olhos azuis do jovem, que apenas abre um sorriso.

- Obrigado pelo elogio, normalmente me chamam de mendigo. – ainda sorridente, seus olhos voltam para a mesa ao ver as fichas sendo empilhadas ao sua frente.

Aeris separa metade, colocando na frente de Lyra. Tal ato que não passa despercebido pela líder da gangue, que solta uma risada de fumante, e tragando seu charuto em seguida enquanto analisava a jovem ao lado dele, uma mulher com porte atlético e roupas elegantes, seu kimono valia três vezes o que estava sendo apostado.

- Vejo que seus olhos não desgrudam de mim. – Lyra diz com um olhar forte. – Posso não ser tão gentil como meu parceiro caso queira dizer uma ofensa. – a mandíbula da líder de gangue se contrai.

- Vejo que você mostra suas garras quando precisa, ele a esconde com um sorriso gentil. Mal posso esperar por nosso jogo e vê-los perdendo tudo.

A mesa de poker estava tensa, iluminada apenas pela luz vacilante de velas que lançavam sombras dançantes sobre os jogadores. Aeris, com seus cabelos loiros e olhar concentrado, manipulava discretamente as correntes de ar ao seu redor, tentando ganhar vantagem. Lyra, a princesa da nação do fogo, exibia uma postura majestosa, seus olhos ardentes fixos nas cartas, enquanto pequenas chamas dançavam entre seus dedos, refletindo sua confiança. Ash, a líder da gangue, observava cada movimento com um sorriso enigmático, a cicatriz em seu rosto parecendo mais feroz à meia-luz. Os dois bandidos, figuras sombrias e imponentes, completavam o círculo, suas expressões indecifráveis. As apostas subiam, e o silêncio era cortado apenas pelo som das fichas sendo empilhadas e pelo ocasional murmúrio de um blefe bem colocado.

À medida que a noite avançava, o jogo de poker se intensificava, e os dois bandidos, embora astutos, não eram páreo para os poderes ocultos à mesa. Aeris, com um sutil movimento de mãos, criou uma brisa que desviou a atenção dos adversários no momento crucial, enquanto Lyra, com um olhar ardente, intimidava-os com a promessa de chamas incontroláveis. Ash, sempre estrategista, aproveitou o momento de distração para revelar uma sequência de cartas imbatível. Derrotados, os bandidos se levantaram, lançando olhares fulminantes sobre a mesa, antes de se retirarem para as sombras da taberna, suas cadeiras arrastando-se ruidosamente contra o chão de madeira, deixando para trás apenas o eco de suas derrotas e a promessa silenciosa de revanche.

Uma baforada vinda de Ash, solta uma grande fumaça sobre a mesa, a qual logo é dispersa por Aeris com o balançar de seus dedos. Ela sabia que o loiro manipulava as cartas, mas não conseguia ler as expressões da princesa, ambos jogavam em conjunto para não se atrapalhar, mas não usavam nenhum sinal para demonstrar isso.

- Estou em desvantagem. – solta a dona do olhar cinza, que repousa suas cartas sobre a mesa, para manter sua total atenção ao casal na outra ponta. Eles não bebiam nada e não fumavam, apenas jogavam. – O que pretendem?

- Está desistindo? Tão cedo assim? – pergunta Lyra com um sorriso de deboche.

- Não brinque comigo garota. Um dobrador de ar e uma de fogo, sentam na minha mesa. Neste estabelecimento. – seu sorriso atrevido, continha uma pequena quantidade de fumaça saindo ao canto de seu lábio. – Eu sei quem é você loirinho, mas ainda não sei quem é você. – diz com seus olhos fixados na morena dona dos olhos dourados.

A atmosfera da taberna se carregou de tensão quando Ash, com um olhar de desafio, confrontou Aeris e Lyra. A conversa havia se tornado suspeita, e Ash não estava disposta a deixar qualquer traição passar despercebida. Com um movimento rápido e preciso, ela atirou a mesa de poker ao chão, revelando não apenas a lâmina que sempre carregava, mas também o poder que mantinha oculto: a habilidade de dobrar o fogo. Chamas irromperam de suas mãos, dançando ao redor de seu corpo em um espetáculo de força e fúria. Aeris, surpreso, tentou criar uma barreira de ar, enquanto Lyra, a princesa do fogo, reconheceu a familiaridade das chamas e preparou-se para o confronto. A luta que se seguiu foi um balé de elementos, com Ash no centro, sua cicatriz iluminada pelo brilho do fogo que agora a reconhecia como uma de suas próprias.

Ambas laminas se chocam com a espada sacada por Aeris, o som de metal tinindo invadia suas orelhas, assim como o brilho vermelho vindo do cristal da espada. Seus olhos se cruzam por um momento breve, que logo é interrompido por uma barreira de fogo feito por Lyra para separa-los. Ela logo se junta ao seu parceiro ficando de costas um para o outro ao verem outros bandidos se aproximando da para a luta.

- Vejo que teremos mesmo que lutar para sair. – balbucia Aeris com um sorriso nervoso.

- Foca na Ash, vou me encarregar desses demais. - ela diz com a voz firme, demonstrando total confiança.

- Não os mate.

- Não prometo nada.

A batalha se desenrolava com uma ferocidade selvagem na taberna. Lyra, cercada por um grupo de bandidos, movia-se com a graça e a precisão de uma dançarina de guerra, suas chamas formando um redemoinho ardente ao seu redor. Cada gesto seu era um comando para o fogo, que obedecia, lançando-se contra os adversários em ondas de calor e luz. Enquanto isso, Aeris enfrentava um oponente formidável em um duelo mano a mano. Sua espada cortava o ar com um zumbido metálico, cada golpe parado apenas pelo choque contra a lâmina do inimigo. O jovem dobrador de ar lutava com uma determinação feroz, seus movimentos tão fluidos quanto o elemento que ele comandava, transformando a luta em uma dança mortal onde cada passo poderia ser o último.

Ash com som grito ensurdecedor chuta a barriga do dobrador de ar, fazendo o mesmo ser jogado contra uma parede e derrubando a espada longe de si. Com um caminhar feroz, a líder da gangue baforava fumaça de sua boca, com os olhos presos do homem levantando-se com o apoio da parede. Enquanto solta um riso de deboche, chamas sobem nas laminas em que empunhava e ao cortar ao ar, elas são direcionadas para Aeris. Ele bate a palma da mão, criando uma enorme ventania em direção a lamina de fogo, que são dissipadas, mas a ventania se choca com Ash, que é jogada ao chão, mas logo se recupera ao prender uma das laminas na madeira em que seus pés estavam, se segurando contra a ventania.

- Eu soube que tinha voltado a cidade Aeris, mas não sabia que estava preocupado com os cidadãos. – Ash solta com um sorriso provocador, ao se colocar em pé novamente. – Ou talvez seja por causa de sua irmãzinha? – pergunta com um sorriso maligno se formando em seus lábios.

Aeris contrai a mandíbula para não perder a calma, ela queria o provar e faze-lo comer um erro que custaria sua vida, não apenas a dele, mas da moça que dançava entre chamas enquanto lutava contra inúmeros bandidos para que ele pudesse ter uma luta sem interferência.

- Não irei cair em seus joguinhos, mas não preciso me justificar para uma mulher forte que reprimi os fracos. – suas palavras soam de forma debochada, mas sutil.

Enquanto cruzam olhares, o dobrador de ar retira suas botas. Desarmado e diante de sua oponente, Aeris assumiu uma postura defensiva, seus pés descalços firmes no chão de madeira da taberna. Seus olhos azuis encontraram os de Ash, e um entendimento silencioso passou entre eles – este seria um duelo de habilidades puras, sem armas para decidir o destino. Com as mãos levantadas à frente, Aeris canalizou sua conexão com o ar, preparando-se para desviar qualquer ataque com a graça de um bailarino e a precisão de um mestre. A tensão entre eles era palpável, uma dança de olhares e intenções, enquanto a taberna segurava a respiração, antecipando o confronto iminente entre o dobrador de ar e a mestra do fogo.

Com um movimento ágil, Aeris desviou das lâminas gêmeas de Ash, usando o fluxo do ar para impulsionar seu contra-ataque. As espadas de Ash caíram ao chão com um clangor metálico, deixando-a desarmada diante do dobrador de ar. A tensão entre eles era como uma corda esticada, pronta para estourar. Aeris, agora com a vantagem, não hesitou; ele avançou, seus movimentos tão rápidos quanto o sopro do vento, forçando Ash a recuar. Mas ela não era uma líder de gangues sem recursos. Com um grito desafiador, Ash convocou o fogo interior, suas mãos tornando-se tochas vivas, e o embate se transformou em um espetáculo de elementos em conflito. O ar girava em torno de Aeris, enquanto faíscas e chamas dançavam ao redor de Ash, cada um usando seu domínio para tentar subjugar o outro em um duelo de poder e vontade.

A batalha entre Aeris e Ash atingiu seu clímax sob o olhar atento dos espectadores da taberna. Com uma série de movimentos rápidos e precisos, Aeris desviou das chamas de Ash, criando correntes de ar que extinguiram o fogo e desequilibraram a líder da gangue. Em um golpe final, ele usou o vento para arrancar as armas das mãos de Ash e empurrá-la suavemente contra a parede. Ela deslizou para o chão, derrotada, mas com a consciência clara, seus olhos cinzentos ainda queimando com a intensidade de mil sóis. Aeris, respirando fundo, com seus olhos procurando Lyra, que estava em pé com corpos ainda vivos dos bandidos que enfrentará.

Um sorriso se forma no lábio do loiro, ao ver seus olhos cruzarem com os dourados de Lyra, que ofegava após a luta, mas abre um sorriso de canto. Com o olhar baixando baixa para cruzar dessa vez com os cinzas de Ash, que mantinha uma raiva em seu interior, mas não tinha nada que pudesse fazer para sair vitorioso desse embate. Seus soldados estavam no chão depois de uma luta contra apenas uma mulher, e ela estava sendo observada de cima pelo seu oponente que acabara de finalizar a luta.

- Não pretendo matar, pois isso apenas me faria parecido com você. – Aeris agacha enfrente a líder da gangue, com um olhar calmo e sereno. – Mas pretendo saber onde fica a base de suas operações, e logicamente, você vira conosco para uma visita a guarda da cidade.

Um riso fraco vindo de Ash, faz com que Lyra arqueia a sobrancelha ao se aproximar deles, pois queria ouvir a conversa.

- Então o filho da Anciã é o herói dos fracos. – sua voz fraquejava. – “O forte protege os fracos”, acho que esse deve ser seu dogma. – ri novamente.

- Não sou um homem bom, mas também não gosto de ver injustiça. Por ser alguém forte, posso fazer esse dogma uma verdade, mas existe um limite, pois não posso sempre estar ajudando. As pessoas tomam suas próprias decisões, que a levam para o mal caminho, ou para bom. Outras são forçadas a tomarem, como seu caso. – seu olhar analisava sua oponente, que evitava seu olhar, pois tinha medo do sentimento que poderia vir com isso. – Mas uma coisa eu sei, o poder corrompe.

Ash cerra seus dentes como se estivesse pronta para soltar um grito, mas nada sai de seu interior, ela se esforçava para segurar as lagrimas. Suas mãos sobem para rosto, para esconde-lo de Lyra e Aeris que a fitavam.

- Me levem para a sede da guarda, irei contar tudo lá. – sua voz estava mais fraca.

- Muito bem. – diz Aeris com um sorriso gentil.

Aeris e Lyra escoltam Ash para fora da taberna, onde encontram Jack parado do outro lado da rua, eles se despedem com um sorriso. A escolta termina quando ambos deixam a líder, talvez ex líder, na sede da guarda da cidade, onde tiveram que escrever inúmeros relatórios e dar informações sobre a taberna que visitaram. O envolvimento de Jack foi não foi mencionado em nenhum relatório, para não causar problemas a ele e seu estabelecimento, mesmo que ilegal, não prejudicava ninguém.

Aeris e Lyra encontravam-se sentados lado a lado numa varanda de hotel, o silêncio confortável entre eles preenchido apenas pelo som suave da brisa noturna. Acima, o céu noturno desdobrava-se em um manto de escuridão aveludada, pontilhado pelo brilho cintilante de incontáveis estrelas. Enquanto Aeris inclinava a cabeça para trás, contemplando o cosmos, Lyra acompanhava seu olhar, os reflexos prateados das estrelas dançando em seus olhos. Havia uma paz profunda nesse momento compartilhado, uma trégua tácita após as tempestades de fogo e ar que haviam enfrentado. Juntos, eles permitiam-se esquecer as lutas e intrigas da taberna, perdendo-se na imensidão do universo e no silêncio eloquente que só a noite sabe oferecer.

- Sabia que seus olhos brilham contra a luz do luar? – Lyra solta com a voz suave.

- É a primeira que diz algo assim. - argumenta com um sorriso desajeitado.

Ele esperava as perguntas que havia prometido responder, mas desde sentaram na varanda, o silêncio e a companhia dela tem sido algo que desejava manter por mais algum tempo. Ao cruzar olhares com Lyra mais uma vez, ele sabia que faria a primeira pergunta, então se prepara.

- O que viu quando visitou a nação do fogo? – pergunta Lyra com os olhos brilhando de curiosidade sobre sua nação, a visão de um homem que visitou vários outros lugares.

- Não sei se quer saber sobre as paisagens, mas me recordo de ver sorriso de crianças correndo pelas ruas de sua vila. Pois estavam seguros. Acho que posso dizer que uma atmosfera otimista sempre me invadia quando conversava com eles. – diz com um sorriso enorme em seus lábios enquanto voltava seus olhos para as estrelas.

- Por que gosta de seguir esse dogma? – Aeris solta um curto riso.

- Em minhas viagens me via ignorando o que acontecia com as pessoas, mas quando passei por um problema de vida e morte, me vi ser ajudado por uma dessas pessoas que tinha ignorado. Então entendi por que minha mãe usa esse dogma, não o uso a risca, mas gosto de utiliza-lo, pois o sorriso gentil vindo da pessoa que lhe agradece é muito satisfatório.

- O que viu em Solumia?

Aeris se matem em silencio por um tempo ao perceber que era essa a pergunta que ela queria, com total honestidade, ela queria saber como está a situação da nação da terra, por não ter informações passando para fora da fronteira.

- Não é nada bonito.

- Isso eu sei, uma guerra esta correndo naquela nação. – um sorriso fraco surge nos lábios do dobrador de ar.

- A guerra de fato da uma quantidade enorme de mortos, mas a economia quebrada da nação está fazendo com que pessoas morram de fome. Andem para as ruas pedindo ajuda, ou roubem para comer. A situação é crítica, não apenas pela guerra, mas pelo relaxo dos dois príncipes em deixar seus cidadãos naquela situação. – ele volta seu olhar para Lyra, que prestava atenção em cada palavra dita por ele. – Satisfeita? – ela percebe que na voz do loiro, que não é fácil falar disso.

- Desculpe. – solta Lyra ao baixar seu olhar, fitando sua mão perto da do jovem, uma mão com cicatrizes na parte de cima e provavelmente com calo na palma.

- Não precisa de desculpar, é algo de querer informações, mesmo que não seja fácil falar sobre, quero compartilha-la com você. – a mesma mão que ela fitava, sobe para seu queixo, levantando-a com delicadeza ao ponto de seus olhares se cruzarem novamente. – Qual sua próxima pergunta?

Ela pretendia fazer uma outra pergunta sobre a nação da terra, ou até mesmo uma sobra a nação do ar que atiçava sua curiosidade. Mas os olhos azuis de Aeris a fizeram fazer a pergunta guardada em seu coração.

- O que sente por mim?

Aeris arqueia as sobrancelhas com a pergunta, surpreso na verdade. O silêncio entre ambos fazia com que o loiro ouvisse a respiração dela, consequentemente seu coração batia no mesmo ritmo, que acelerava mais com os segundos.

- Eu... – gagueja, algo que faz com ela solte um riso encantador. – Eu estou apaixonado por você. – solta ao sentir os olhos dourados da jovem sobre si.

A mão no queixo desliza sobre sua pele suave, subindo até sua bochecha. Sob o manto prateado do luar, Aeris e Lyra compartilhavam um momento de intimidade, isolados do resto do mundo em sua varanda suspensa no tempo. Os olhos azuis de Aeris refletiam a luz da lua, tão profundos quanto o céu noturno, enquanto os olhos dourados de Lyra brilhavam com o fogo de mil sóis distantes. Eles se aproximaram lentamente, a tensão entre eles dando lugar a uma atração magnética inegável. Quando seus lábios finalmente se encontraram, foi como se duas forças da natureza colidissem, suave mas intensamente. O beijo foi um elo de paixão e promessas, selado sob o testemunho silencioso das estrelas e da lua, que banhava a cena com sua luz etérea, abençoando a união dos elementos em perfeita harmonia.

A noite estava tranquila, e o beijo entre Aeris e Lyra parecia selar um momento perfeito sob o luar. No entanto, a comédia do destino tinha outros planos. Enquanto estavam envolvidos em seu abraço, o som repentino da porta do quarto se abrindo os fez saltar separados como dois adolescentes pegos em flagrante. O dobrador do ar logo salta da varanda, usando a brisa como guia em seu voo até o chão da calçada.

Lyra, com um rubor dourado refletindo seu embaraço, soltou uma risada nervosa, tentando disfarçar a situação enquanto via sua pequena irmã entrando no quarto com um olhar curioso. A pequena logo solta a pergunta:

- O que faz ai fora? – pergunta ao se aproximar da porta da varanda.

- Vendo um pequeno pássaro na noite. – responde ao ver no canto dos olhos Aeris pousando na calçada.

- Pássaro? – pergunta a garotinha.

- Não é nada. Veio dormir com sua irmã mais velha? Está com medo do que?

Brinca Lyra enquanto caminha para dentro de seu quarto com um sorriso, pensando consigo mesma enquanto ouvia sua pequena irmã falando do mostro em baixo de sua cama, quando verá Aeris novamente?

O dono dos pensamentos da jovem princesa, também estava na cabeça do dobrador do ar, que caminhava alegremente pela calçada assoviando ao se lembrar do garota que havia acabado de beijar, fazendo a mesma pergunta que ela.

“Quando a verei novamente?”