Chamas e Brisas

Capítulo 7 - Velho Amigo


Na Caneca Virada, Jack estava apoiado no balcão de atendimento com inúmeros documentos a sua frente. Seus olhos passavam cuidadosamente em cada paragrafo para ter certeza do que estava lendo, mas sua leitura é interrompida ao ouvir as portas do estabelecimento se abrindo. Por estar fechado, raramente alguém abriria a porta, e como não era horário de chegada dos funcionários, ele força a vista um pouco contra a luz que vinha do lado de fora.

Quem adentra fechando a porta logo em seguida era Aeris, usando uma roupa diferente da anterior. Com uma camiseta branca feito de linho abaixo de um colete longo preto, por não possuir mangas, podia-se ver as mangas da camiseta dobrada para cima do cotovelo, deixando sua tatuagem do antebraço a mostra. Uma calça marrom folgada que ficava justo ao chegar na panturrilha, sua bota desgastada cobria parte da calça. O cinto de couro se mantem, junto da bainha de sua espada.

- Vejo que não parece mais um mendigo. – brinca Jack dando uma risada em seguida.

- Oi Jack, vejo que está arrumando as coisas. – Aeris com um sorriso termina enquanto via a situação da taberna, limpa e com todas as cadeiras empilhadas em cima da mesa.

- Ainda mais da bagunça que fez no porão, quase o fogo queimou o chão daqui.

- Ossos do oficio, os guardas sabem da arena ilegal abaixo da taberna? – o loiro pergunta ao se apoiar no balcão do bar, dando uma leve espiada do lado de dentro, onde possuía uma grande quantidade de garrafas vazias numa caixa.

- Não pago suborno, ou uma quantidade para eles. Se é o que quer saber. Não somos ilegais de certa forma, pois não permito reuniões de gangues, ou as vendas de drogas em meu estabelecimento. Então a guarda permite que tudo funcione, desde que ninguém morra. – termina com um sorriso enquanto volta a analisar seus documentos.

- Interessante. – balbucia Aeris, logo em seguida da um pulo para se sentar no balcão de frente a entrada.

- Como foi o encontro com sua família? – pergunta Jack, com a voz suave.

- Emocionante, segurei minhas lagrimas vários momentos.

- Elas teriam gostado de vê-lo chorando, para se lembrar de como era um bebê. – solta Jack com um sorriso de canto, ignorando o olhar fuzilante de seu amigo. – Então você está apaixonado pela princesa? – pergunta na lata, pegando Aeris de desprevenido. Jack o fitava nos olhos para que não tentasse escapar da pergunta.

- Acho que pode se chamar disso. – suspira ao responder. – Não sei ao certo que sentimento é esse, mas apenas queria ver seu sorriso mais uma vez.

- Paixão, amor. Chame do que você quiser.

- Quando foi que se tornou um expert em relacionamento? – pergunta em meio a uma risada.

- Não me tornei, mas leio bastante. Então não tenha medo de agir.

- Sim, meu caro guru do amor. – brinca Aeris com um sorriso radiante em seu rosto. – E você, tem algum amor em sua vida?

Jack ri forçadamente, mantendo um sorriso fraco em seu rosto, evitando os olhos azuis de Aeris.

- Não tenho muito o que falar. Mas estive em algumas aventuras amorosas. – Aeris percebe o tom de voz soturno.

- Bom, então acho que teremos que fazer nossa velha jogada. – solta num tom animado, esperando uma reação de seu amigo.

- Não acho que usar essa mesma cantada, vai funcionar com as mulheres maduras. – balbucia com um sorriso fraco.

- Nunca se sabe se não tentar. Assim que acharmos a garota, irei para ela falarei algumas coisas e terminarei com: “Você conhece Jack Wilson?”. Ai você surge com um sorriso galanteador e uma bebida para a jovem dama. – termina rindo.

- Não vejo onde, apenas perguntar se me conhece vai ajudar numa cantada. – debocha.

- Esse é o ponto, não é a cantada que importa, mas você. – Aeris abre um sorriso ao ver seus olhares se cruzando.

- Eu senti falta disso. – dispara Jack com um sorriso nostálgico. – Mas eu sei que não veio aqui apenas para ser meu cupido.

O sorriso de Aeris se desfarela ao tentar encontrar as palavras para um pedido, já que não queria apenas a informação que ele poderia providenciar. Jack abre um sorriso, para que o loiro se sinta mais leve. Uma bufada surge antes de fazer a pergunta:

- Sabe de alguma gangue que anda vandalizando estabelecimentos na Cidade Velha?

A sobrancelha de Jack arqueia ao ouvir o local no qual queria a informação, ainda mais pelo fato de sua irmã ter construído uma clinica lá recentemente. Os pontos batiam, mas em seu coração algo dizia para ele não contar a informação. Como se algo fosse acontecer, algo muito ruim.

- Soube de um grupo rebelde se formando na bandeira de Ash, um dobrador de fogo. Ele anda causando problemas pela região. Mas soube também que denominou a cidade velha como seu território, cobrando uma taxa para proteção.

- E os que não pagam...

- São punidos. – completa a frase do loiro.

- Onde posso encontra-lo? – pergunta com um olhar determinado.

- E o que vai fazer? Ir lá e bater na porta, sair perguntando quem é o Ash?

- Não pretendo fazer questionamento no inicio. – responde com um sorriso descontraído.

- Aeris! – grita o nome de seu amigo ao dar um murro no balcão. – Isso não é brincadeira. Eles são perigosos.

- Eu sei, por isso irei me meter. Quem mais faria isso para os cidadãos da periferia? Minha mãe não daria as costas para isso.

- Esse não é o caso. – tenta argumentar Jack.

- Eu sei que estou me metendo nesse problema por um egoísmo de minha parte, pois se minha irmã não estivesse envolvida nisso, nem mesmo saberia sobre.

- É exatamente por isso...

- É exatamente por isso que não posso virar as costas. – rouba o começo da frase de Jack, para finalizar com seu argumento. – Ainda mais, não dormiria bem se soubesse que existe um cara extorquindo das pessoas, apenas por ter uma dobra de fogo.

Jack sabia que seria difícil de mudar a mente de Aeris, pois ela tinha um código de sempre ajudar os que não podem se defender. Assim como sua mãe que defende os fracos por ser forte, ele segue um caminho ingênuo, mas puro, por isso que não conseguia formular um argumento para que ele não se metesse neste problema. O loiro sempre foi assim, ate mesmo em sua infância.

- Vou pegar uma armadura minha, e podemos ir. – Jack diz ao se render.

- Não posso arrasta-lo para isso. – repreende Aeris, com um olhar preocupado ao descer do balcão, ficando de frente ao seu amigo.

- Assim como não posso impedi-lo de se meter nesse assunto. Você não pode me impedir de ir ao seu lado, caso ao contrário não direi onde fica. – com um olhar forte, sem dar nenhum sorriso, Jack aguarda a resposta do dobrador de ar.

- Ok. Vamos juntos, mas vou ter que dar uma rápida desviada no caminho. – diz Aeris, pensando se não era uma boa ideia cancelar tudo.

- Onde vamos?

- No Hotel 4 flores.

- Não é onde os lideres das nações se hospedaram? – pergunta Jack.

- Correto. Lá Sequestrarei minha sequestradora. – diz com um sorriso de canto.