Chamas e Brisas

Capítulo 31 - Em meio aos Dragões


Enquanto o dirigível avançava pelos céus em direção a Fortalium, o grupo observava atentamente a paisagem abaixo. O mar se estendia até onde a vista alcançava, suas águas azuis cintilando sob a luz do sol. Ao longe, uma frota imponente de navios com as bandeiras de Sagacia navegava em formação, enquanto dirigíveis da Nação do Fogo pairavam sobre a cidade, ainda não revelando sua lealdade ou traição.

À medida que se aproximavam do porto de Fortalium, mais detalhes se tornavam visíveis. Navios de guerra de Atlantis estavam ancorados no porto, prontos para proteger a cidade em caso de qualquer ameaça. No centro da movimentada área portuária, uma plataforma de pedra erguia-se majestosamente sobre as águas, atraindo o olhar de todos a bordo do dirigível.

Era ali que duas figuras se destacavam: a Rainha de Sagacia, Valeria, e a Anciã Natasha. Esta última, exibia um corpo atlético com músculos definidos que denotava sua longa experiência como guerreira. Seu cabelo ruivo e longo estava amarrado em um rabo de cavalo, com poucos fios caindo sobre sua testa. Seus olhos verdes transmitiam determinação e sabedoria, refletindo uma vida dedicada à proteção de seu povo.

A vestimenta de batalha de Natasha era leve, projetada para facilitar seus movimentos ágeis e precisos. Uma ombreira de metal adornava seu ombro esquerdo, enquanto seu braço direito estava livre, exibindo uma tatuagem tribal semelhante àquela orgulhosamente exibida por Aeris. A braçadeira no braço esquerdo complementava sua proteção, oferecendo uma defesa adicional sem comprometer sua mobilidade.

Enquanto o dirigível se aproximava, Aeris e seus companheiros observavam atentamente as duas figuras proeminentes na plataforma, sabendo que estavam prestes a testemunhar um momento crucial na história de seus reinos.

Aeris se levanta abruptamente de sua cadeira, sua expressão séria e determinada enquanto ele se dirige em direção à rampa de acesso. Sua vestimenta, composta por uma camisa branca por baixo de um casaco preto longo, transmite uma aura de autoridade e prontidão. A calça escura e as botas de couro completam seu visual, enquanto a cinta de couro segura sua espada embainhada ao seu lado.

O grupo observa com surpresa enquanto Aeris sai da cabine, seus passos determinados ecoando pelo corredor estreito do dirigível. Lyra segue-o de perto, sua expressão calma e confiante em contraste com a urgência de Aeris. O silêncio tenso preenche a cabine enquanto todos observam a cena, aguardando para ver qual será o próximo movimento deles.

- As coisas vão ficar divertidas. - comenta Zara para si mesmo enquanto observa Luna e Elian trocando olhares sem entender nada.

Aeris chega perto da alavanca, seu olhar determinado fixo nela por um momento. Então, ele volta seu olhar para trás, onde Lyra para ao seu lado, observando-o com um olhar curioso e atento, tentando compreender o que seu amado pretende fazer. Os olhos deles se encontram por um instante, e mesmo sem palavras, há uma comunicação silenciosa entre eles, uma troca de entendimento e confiança que transcende as necessidades de explicação verbal.

A voz de Lyra soa com um toque de surpresa e curiosidade enquanto ela questiona:

- Vai voar até aquela plataforma no mar? - Suas mãos repousam em sua cintura, expressando sua intriga diante da decisão de Aeris.

- Basicamente. - Aeris responde com um sorriso enquanto baixa a alavanca.

O vento forte da atmosfera do céu batia contra eles, fazendo seus cabelos voarem e suas roupas balançarem. Lyra não pôde conter um sorriso ao observar Aeris de frente para ela, enquanto ele se aproximava da borda da rampa. Trocaram olhares por um instante antes de Aeris se virar de costas para a rampa e, sem hesitação, saltar para fora, desaparecendo rapidamente na vastidão do céu.

- Bobo. - ela murmura.

Aeris voava pelo céu com uma sensação de liberdade indescritível, sentindo o vento acariciar seu rosto e sua energia fluir livremente. Sua animação transbordava conforme ele se movia graciosamente pelas correntes de ar, sem conter a alegria que pulsava dentro de si.

Ao se aproximar da plataforma no mar, Aeris preparou-se para o pouso, ajustando sua posição e controlando sua velocidade. Com uma leveza impressionante, ele aterrissou suavemente entre Valeria e Natasha, sua mãe, que esboçou um sorriso ao reconhecê-lo como seu filho.

Valeria observou o dirigível sobrevoando e soltou um estralo com a língua, indicando que o mestre do ar havia obtido a informação da traição do príncipe da Nação do Fogo. Seu olhar se voltou para Aeris, lembrando da última vez que estivera frente a frente com ele, quando ele estava ajoelhado e sangrando após ser derrotado.

Valeria lançou um sorriso debochado enquanto comentava:

- Você está com uma aparência ótima.

Aeris respondeu com um sorriso irônico:

- Obrigado, mas não posso dizer o mesmo de você. - o olhar do loiro indica a ferida em seu braço, da queimadura feita pela chama azul de Lyra.

- Vejo que as notícias que me trouxe sobre ter matado meu filho e os príncipes são mentiras. - comenta Natasha, com a voz firme, fitando os olhos da Rainha.

- Temo dizer que são meias verdades, seu filho pode confirmar a morte dos príncipes da nação da terra.

Natasha encontrou os olhos azuis de seu filho, lendo a verdade neles. Ao fundo, a risada da Rainha ecoava, ecoando uma atmosfera tensa e carregada de desconfiança.

- A partir de agora, não existirá mais Nação da Terra. Apenas Sagacia, meu reino.

Valeria ergue os braços com um sorriso maligno nos lábios, proclamando sua decisão de renomear a nação da terra para Sagacia, consolidando seu poder absoluto sobre o reino.

- Deixarei vocês conversando pelo tempo que ainda restam. Pois ao anoitecer de amanhã, nos invadiremos essa cidade. O coração da Aliança das Nações e lar da grande Anciã.

Valeria gira o corpo com uma graça sinistra enquanto caminha em direção ao mar, criando plataformas de pedra sob seus pés até chegar ao seu navio mais próximo. Enquanto ela desaparece da vista de Aeris e Natasha, os dois se envolvem em um abraço, expressando o alívio de estarem juntos novamente em meio à tensão da situação.

Natasha sussurra suavemente em meio ao abraço:

- Bem-vindo de volta, meu filho.

A luz do sol filtrava-se pelas cortinas finas, lançando uma suave luminosidade na sala do conselho. Os mapas nas paredes refletiam essa luz, mostrando os contornos das nações e as divisões territoriais. No centro da sala, uma grande mesa de madeira polida dominava o espaço, com cadeiras ao redor, onde Lyra, Aeris e Natasha estavam sentados.

O ambiente era solene e silencioso, com uma atmosfera carregada de expectativa e tensão. Natasha observava os mapas com uma expressão pensativa, enquanto Aeris e Lyra trocavam olhares significativos, compartilhando um entendimento mútuo. A sala, com seus detalhes de madeira escura e os mapas detalhados, transmitia uma sensação de importância e gravidade para as discussões que ali ocorreriam.

- Agora entendi por que queria uma reunião com apenas nós. - murmura Natasha, tentando assimilar as informações da traição de Braz.

- Minha avó está na cidade? - pergunta Lyra.

- Não, ela voltou para Soleria. - a Anciã observando o olhar sombrio que a princesa demonstra, logo complementa. - Sua mãe e irmã foram juntas, estão seguras.

Lyra soltou um suspiro de alívio ao ouvir as palavras de sua mãe, sentindo o peso da preocupação se dissipar gradualmente. Saber que sua mãe e irmã estavam seguras ao lado de Solara trouxe um conforto imenso para seu coração atribulado.

- E o que faremos quanto ao Principe Braz? - pergunta Aeris, fitando os olhos de sua mãe.

- Ele não se encontra na cidade, está sobrevoando em um dos dirigíveis no céu. - a ruiva responde com um olhar baixo, então logo complementa. - O dragão, o que ele falou?

Aeris arqueia a sobrancelha, assim como Lyra, que logo indaga:

- Ele não falou nada. É apenas uma fera domesticada.

- Impossível. - comenta Natasha, com os dedos em seu queixo.

- Como assim? - pergunta Aeris, curioso.

- Um dragão não é uma fera, eles têm raciocínio, são anciões que surgiram antes das civilizações.

- Mas eles foram extintos. - comenta Lyra.

- Não, apenas sumiram do mapa, vivendo escondidos, pelo menos os antigos. - Natasha continua, mas ao se levantar, caminhando em volta da mesa. - Sendo 4 dragões portadores um elemento cada e seu pai, o Ancião, que controlava todos.

- As histórias e lendas, sabemos disso. Como isso é relevante? - pergunta Aeris.

- Estranho você perguntar, que foi escolhido como Guardião do Ar pelo Dragão do Ar. Ele não fala com você pelas brisas? - Natasha pergunta, fitando os olhos de seu filho.

- Posso ter cortado um pouco minha relação espiritual, não ando...

Natasha percebe o olhar sombrio se formando nos olhos azuis de Aeris, ele escondia sua dor atrás de um sorriso, mas estava tentando ignorar a dor e o lado espiritual que tenta se comunicar come ele. Então ela logo indaga em seguida:

- Princesa, nós de um momento.

Lyra assentiu em resposta ao pedido de Natasha, percebendo a tensão nos ombros de Aeris. Ela se levantou da mesa com um olhar preocupado para o mestre do ar, mas confiante de que Natasha poderia oferecer-lhe algum conforto ou orientação. Com um aceno silencioso, ela deixou a sala, deixando mãe e filho a sós.

Então num pulo rápido, a Anciã sobe na mesa, sentando-se ao centro dela e fitando os olhos de seu filho, como se pedisse para que fizesse o mesmo e se sentasse na sua frente.

Aeris se surpreendeu com a atitude da mãe, mas prontamente seguiu suas instruções, subindo na mesa e sentando-se em frente a ela. O ambiente solene da sala do conselho agora parecia mais íntimo com apenas os dois ali, encarando-se com uma mistura de emoções que transparecia em seus olhares.

- Estenda as mãos e feche os olhos.

Com as mãos unidas, Aeris sentiu a força reconfortante do contato com sua mãe. Ele fechou os olhos, permitindo-se mergulhar na conexão emocional entre eles, preparado para ouvir as próximas palavras de Natasha.

- Esvazie sua mente, deixe a brisa falar com você. Deixe-a guia-lo.

Ele sente a brisa a sua volta, tentando sussurrar algumas palavras, mas logo tem um lapso de lembrança. Dorran surge em sua mente novamente, os gritos e gemidos dele enquanto morria. Outros gritos de pessoas impediam que a brisa se comunicasse com ele. A ruiva ao perceber a mão de seu filho tremendo, diz gentilmente e suave:

- Não tenha medo. Serei sua guia.

Com a mente inundada por lembranças dolorosas, Aeris sentiu a mão firme de sua mãe transmitindo segurança. Ele se esforçou para bloquear as vozes do passado e se concentrar na voz suave e tranquilizadora de Natasha. Com um suspiro profundo, ele se entregou à orientação dela, confiando em sua mãe para ajudá-lo a encontrar o equilíbrio e a clareza que tanto necessitava.

Aeris sentiu uma onda de calma e serenidade o envolver quando se entregou à brisa, permitindo que ela o levasse além do mundo físico. Ao ouvir a voz suave de sua mãe, ele abriu os olhos, apenas para se ver diante de uma cena deslumbrante e surreal. Quatro majestosos dragões, cada um representando um dos elementos, estavam diante dele, emanando uma aura de poder e sabedoria. No entanto, os olhos dos dragões não estavam fixos nele, mas em algo ainda maior atrás dele: o Grande Dragão Ancião, a fonte de todos os seus poderes e a figura que moldara o destino de sua mãe.

Aeris ficou imerso na magnificência da cena, absorvendo a energia e a presença imponente dos dragões ao seu redor. Ele sentiu uma mistura de reverência e humildade diante dessas criaturas lendárias, e ao mesmo tempo, uma sensação de dever e responsabilidade. Sabia que estava diante de um momento crucial em sua jornada, e que precisava estar à altura dos desafios que viriam pela frente.

Com um riso, Natasha solta:

- Como vai velhote? - o dragão ancião ri como resposta, abaixando seu rosto mais perto para poder ver Aeris e Natasha.

O Dragão Ancião responde ao cumprimento de Natasha com um rugido profundo, que reverbera pela paisagem ao seu redor. Ele abaixa gentilmente a cabeça para ficar mais próximo de Aeris e sua mãe, revelando olhos sábios e penetrantes que parecem atravessar a alma.

Natasha sorri diante da resposta do dragão, demonstrando uma intimidade e familiaridade única com a criatura lendária. Ela então se volta para Aeris com um olhar tranquilo, como se transmitisse confiança e determinação.

Então com uma voz forte e vibrante, ele comenta:

- Você envelheceu minha cara, mas continua com o olhar forte.

O comentário do Dragão Ancião arranca um sorriso nostálgico de Natasha, enquanto ela responde com um tom respeitoso:

- E você continua imponente como sempre, guardião dos segredos antigos.

Aeris observa a interação entre sua mãe e o dragão com fascinação e reverência. Ele sente um misto de admiração e temor diante da presença majestosa da criatura lendária.

O Dragão Ancião, Draconis, com um olhar sábio e perspicaz, observa Aeris com curiosidade enquanto se prepara para falar. Então, com uma voz profunda e imponente, ele se dirige ao jovem mestre do ar:

- É uma hora conhecê-lo Aeris, Guardião do ar e filho de Natasha.

- Senhor...

Draconis solta uma risada profunda e calorosa ao perceber o nervosismo de Aeris, mas sua expressão transmite uma sensação de calma e compreensão. Ele então volta seu olhar para Natasha com um brilho divertido nos olhos, como se compartilhasse um momento de cumplicidade com ela.

- Vejo que estão aflitos, o que desejam perguntar?

- Draconis, estamos enfrentando uma Rainha, que possui o controle de todos os elementos, assim como eu. E tem um dragão que segue suas ordens, como isso é possível?

- O dragão é a sombra do que nós fomos um dia, uma criação das mãos de espíritos malignos, assim como sua portadora. - com a voz sabia e serene, ele continua. - Essa rainha, não usa os poderes da mãe natureza. Foram concedidos por alguém que um dia pensei ter selado. Então tomem cuidado, por mais que ela seja uma cópia, ainda é tão poderosa quanto você.

Com um olhar decidido e determinado, Natasha ergue a cabeça, demonstrando sua confiança diante dos dragões. Ela parece pronta para enfrentar qualquer desafio que possa surgir, demonstrando sua força e coragem inabaláveis.

Os quatro dragões batem suas imensas asas, criando uma corrente de ar que envolve Aeris e Natasha, fazendo-os sentir como se estivessem flutuando em meio a uma tempestade tranquila. O olhar penetrante do dragão do ar recai sobre Aeris, transmitindo uma mensagem de confiança e orientação. Aeris sente a presença reconfortante da brisa e dos espíritos ao seu redor, acalmando sua mente e fortalecendo sua determinação.

Natasha troca olhares com Aeris ao ver que estavam de volta na sala, e riem quando a ruiva comenta:

- Pelo menos você não desmaiou.

Aeris solta uma risada nervosa ao ouvir o comentário de sua mãe, aliviado por estarem de volta à sala sem nenhum incidente. O encontro com os dragões deixou uma marca profunda em sua mente, mas ele se sentia mais confiante e centrado agora.