Chamas e Brisas

Capítulo 25 - Noite Perturbadora


A luz bruxuleante da fogueira iluminava Lyra e Aeris, criando sombras dançantes ao redor deles. Aeris estava sem a parte superior da roupa, com remendos improvisados servindo como curativos, já manchados de sangue. Seu rosto estava marcado pela agonia, com uma palidez evidente e gotas de suor escorrendo por sua testa.

Lyra, ajoelhada ao lado dele, mantinha uma expressão de preocupação profunda, sua mão segurando a de Aeris com firmeza. Seus olhos dourados, refletindo a luz da fogueira, revelavam a determinação de não perder o homem que amava.

Elian estava do lado de fora do prédio destruído que usavam como acampamento, seu olhar nublado enquanto observava o horizonte. A cidade em ruínas ao redor deles era um lembrete constante da devastação que enfrentavam. O príncipe de Atlantis sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros, buscando desesperadamente saber qual seria o próximo passo a tomar. A brisa noturna acariciava seu rosto, mas não trazia consolo algum, apenas o frio da incerteza.

Dentro do acampamento, Aeris gemia de dor, e Lyra apertava mais forte sua mão, sussurrando palavras de encorajamento.

- Você vai ficar bem, Aeris. Eu estou aqui com você. - ela dizia, tentando convencer a si mesma tanto quanto a ele. Cada movimento parecia causar-lhe dor, mas ele se forçava a abrir os olhos, encontrando os de Lyra.

Elian, ainda do lado de fora, sabia que precisavam de um plano. Precisavam de forças renovadas, de aliados, de esperança. O próximo passo era crucial, e ele não podia falhar. Com um suspiro profundo, ele se virou para entrar no prédio, determinado a proteger seus amigos e encontrar uma maneira de vencer a escuridão que os cercava.

Aeris gemia de dor, cada respiração uma tortura, e com um esforço quase insuportável, ele murmurou:

- É minha culpa... minha culpa. - as palavras saíram entrecortadas, carregadas de um peso que ia além das feridas físicas.

Sentimento de frustração e culpa o consumiam, misturando-se à dor intensa que irradiava de seus ferimentos. Ele se sentia responsável por tudo que havia acontecido, cada decisão errada, cada momento de hesitação que levou ao sofrimento daqueles que ele amava. O suor escorria por seu rosto, misturando-se às lágrimas que ele tentava, em vão, conter.

A palidez de seu rosto refletia não apenas a perda de sangue, mas também a sombra da culpa que o assombrava. Cada gemido era uma confissão de sua falha, cada espasmo de dor um lembrete de que ele não conseguira proteger aqueles que dependiam dele.

Lyra, ao seu lado, segurava sua mão com força, tentando transmitir-lhe alguma forma de conforto, mas sentia a frustração dele invadir seu próprio coração. Ela podia ver nos olhos dele o tormento que ia além do físico, um abismo de autoincriminação que o fazia tremer.

- Você não pode se culpar, Aeris. - Lyra sussurrou, sua voz suave tentando atravessar a barreira da dor. - Fizemos o melhor que podíamos.

Mas Aeris apenas fechou os olhos, apertando os lábios para conter um novo gemido, a frustração crescendo dentro de si como uma tempestade. Cada pulsar de dor parecia amplificar seus sentimentos de impotência e arrependimento.

Ele queria gritar, queria chorar, mas estava preso entre a dor física e o tormento mental.

- É minha culpa... - repetiu, a voz quebrada, a certeza esmagadora. E naquele momento, a fogueira parecia a única testemunha silenciosa de seu sofrimento, lançando sombras que dançavam cruelmente ao redor de seus corpos feridos e almas aflitas.

Antes de sucumbir ao sono, Aeris sentiu o peso da exaustão tomar conta de seu corpo. Seus olhos, semicerrados pela dor e cansaço, vagaram pela sala até se fixarem na espada próxima à parede. A luz bruxuleante da fogueira refletia na lâmina, lançando faíscas de luz que dançavam como pequenos espectros.

Finalmente, Aeris caiu em um sono inquieto, onde sombras e luzes dançavam em sua mente, carregando consigo as promessas de redenção e os pesadelos de suas falhas. Ao seu lado, Lyra continuava a vigília, determinada a não deixar o homem que amava enfrentar seus demônios sozinho.

Lyra observou Aeris adormecer, o rosto ainda marcado pela dor, mas finalmente em paz. Com um suspiro pesado, levantou-se silenciosamente e caminhou para fora do prédio em ruínas que usavam como acampamento.

O ar noturno estava fresco, proporcionando um alívio bem-vindo após o calor opressivo da luta. Lyra encontrou Elian de pé, olhando para o horizonte com um olhar distante e preocupado. Ela se aproximou dele, os pés silenciosos no chão desgastado.

Elian virou a cabeça ligeiramente ao perceber a presença de Lyra ao seu lado, mas não disse nada. Ambos ficaram em silêncio por um momento, compartilhando um entendimento tácito do peso da situação.

Finalmente, Lyra quebrou o silêncio.

- Ele está descansando. - disse ela, sua voz suave. - Mas está muito machucado, Elian.

Elian assentiu, o olhar ainda perdido no horizonte.

- Eu sei. Todos nós estamos.

Lyra olhou para ele, vendo o mesmo cansaço e preocupação que ela sentia refletido em seus olhos.

- Precisamos encontrar um plano. - disse ela, tentando manter a firmeza na voz. - Não podemos deixá-lo lutar sozinho de novo.

Elian soltou um suspiro profundo.

- Eu sei, Lyra. Mas estou com medo. Medo de voltar lá e enfrentar Valeria novamente.

Lyra colocou uma mão reconfortante no ombro de Elian.

- Nós somos mais fortes juntos. Precisamos encontrar uma maneira de derrotá-la, por Aeris, por todos nós.

O príncipe de Atlantis olhou para a princesa do fogo, encontrando um vislumbre de determinação em seus olhos dourados.

- Você está certa. - disse ele finalmente, com um tom mais firme.

A presença dos soldados de Sagacia em Eldoria traz um clima de apreensão e preocupação para Zara e Luna. Enquanto observam as tropas marchando pela cidade, elas sentem o peso da incerteza no ar. As armaduras negras e douradas dos soldados destacam-se na multidão, uma visão imponente e intimidadora.

Zara e Luna compartilham um olhar carregado de preocupação, cientes de que a presença dos soldados de Sagacia pode significar problemas iminentes para Eldoria. Mesmo que ainda não tenham iniciado um ataque, a simples presença das tropas estrangeiras é o suficiente para acender os alarmes.

Enquanto a bandeira de Sagacia é erguida pelos soldados, Zara e Luna sabem que precisam agir com cautela e estar preparadas para qualquer eventualidade. A situação em Eldoria torna-se ainda mais tensa diante da imprevisibilidade dos próximos acontecimentos.

Enquanto caminham de volta para o Veleiro, Zara não consegue evitar a pergunta que paira em sua mente:

- O que aconteceu com Aeris e os outros? - ela sussurra para Luna, sua voz carregada de preocupação.

Luna, com um olhar igualmente tenso, responde em um sussurro também:

- Não sei, mas espero que estejam bem. - seu semblante reflete a angústia de não ter informações sobre seus companheiros.

Zara concorda, sentindo o peso da incerteza.

— Temos que sair dessa cidade. - ela declara, decidida. - Ir para onde? - indaga para Luna.

- Para a Capital. - responde Luna com determinação, seu olhar fixo no horizonte. A decisão está tomada, e elas sabem que é preciso seguir em frente, mesmo diante das incertezas que aguardam.

Com passos rápidos e cautelosos, Zara e Luna se aproximam do Veleiro, seus olhos atentos para qualquer sinal de perigo. O silêncio ao redor é perturbador, e o ranger das tábuas do convés parece ecoar alto demais aos seus ouvidos.

Com mãos ágeis, elas sobem a bordo do Veleiro, o coração batendo descompassado em seus peitos. Cada movimento é feito com precisão e urgência, sabendo que cada segundo conta.

Ao alcançarem o convés, elas se dirigem rapidamente aos controles, preparando o Veleiro para partir. O vento parece conspirar a seu favor, soprando suavemente em suas velas enquanto elas se preparam para zarpar.

Com um último olhar para a doca, Zara e Luna sentem o alívio ao ver o Veleiro se afastando lentamente. O coração ainda acelerado, elas sabem que escaparam por pouco, deixando para trás os soldados de Sagacia que ainda não perceberam sua fuga. O horizonte se estende à frente delas, cheio de incertezas, mas também de esperança enquanto seguem em direção à Capital.

Enquanto Zara e Luna observavam o horizonte do veleiro, avistaram à distância um navio imponente de Sagacia se aproximando lentamente. Suas velas eram vastas, capturando o vento e impulsionando-o através das águas com uma majestade intimidante. As linhas do navio eram escuras e elegantes, destacando-se contra o crepúsculo do entardecer.

Com o coração acelerado, Zara e Luna tomaram uma decisão rápida. Sabiam que não podiam arriscar serem detectadas pelo navio inimigo, então apagaram todas as luzes no veleiro, mergulhando-o na escuridão da noite. Com movimentos silenciosos e rápidos, apagaram todas as velas e lanternas, obscurecendo sua presença na água.

Enquanto se aproximavam sorrateiramente do navio de Sagacia, a tensão era palpável. Cada som do vento e das ondas parecia uma ameaça iminente, e o ranger do casco do veleiro ecoava como um sussurro nervoso. Quando passaram próximo ao navio inimigo, um soldado que patrulhava o convés da embarcação se aproximou da borda, seus olhos vasculhando a escuridão em busca de qualquer sinal de intrusos. Por um momento agonizante, Zara e Luna prenderam a respiração, temendo serem descobertas. Por sorte, o soldado não percebeu sua presença oculta e continuou sua ronda, permitindo que as duas escapassem por um fio da detecção.

Enquanto o veleiro se afastava silenciosamente da costa, Zara e Luna ouviam o eco distante de gritos desesperados e o estrondo das explosões vindas da cidade que acabavam de deixar para trás. O som da destruição ecoava pelos mares, penetrando profundamente nos corações das duas mulheres.

Luna não conseguiu conter a emoção, sua respiração tornando-se irregular enquanto as lágrimas começavam a escorrer por seu rosto. Instintivamente, ela procurou refúgio nos braços reconfortantes de Zara, buscando consolo na presença da maruja que a protegia.

Enquanto Luna se agarrava a ela, Zara observava com olhos preocupados a luz das explosões brilhando na escuridão da noite, destacando-se como estrelas cadentes fugazes no horizonte distante. Cada explosão era um lembrete sombrio do perigo que enfrentavam e das vidas perdidas na batalha iminente.