Chamas e Brisas

Capítulo 26 - Não me subestime!


No seu pesadelo, Aeris encontrava-se imerso na escuridão sufocante, onde apenas ecos de vozes distantes penetravam em sua mente atormentada. Cada passo era como uma jornada em direção ao abismo, enquanto ele tentava desesperadamente encontrar uma saída da escuridão opressiva que o cercava.

De repente, uma tocha solitária irrompeu na escuridão, lançando sombras distorcidas nas paredes próximas. Aeris avançou cautelosamente em direção à luz, seu coração batendo descontroladamente em seu peito.

E então, horrorizado, ele se deparou com a visão terrível de Dorran caído no chão, os olhos vazios e sem vida, um hematoma grotesco marcando seu pescoço quebrado. O corpo inerte do príncipe, vítima do ato cruel da rainha Valeria, ecoava como uma condenação silenciosa no pesadelo de Aeris, provocando uma mistura de dor, raiva e culpa avassaladora em sua alma atormentada.

O corpo inerte de Dorran de repente ganhou vida, seus membros se contorcendo e seus dedos se fechando em torno dos braços de Aeris com uma força sobrenatural. Sua voz ressoou no ar, carregando uma mistura de dor e acusação que cortava como uma lâmina afiada.

A voz de Dorran era um sussurro fantasmagórico, ecoando com um tom angustiado e cheio de sofrimento, como se carregasse todo o peso do seu destino trágico.

Enquanto Aeris enfrentava o horror do pesadelo, um lampejo de memória o atingiu como uma punhalada, trazendo de volta à cena terrível da morte de Dorran. Ele viu nitidamente Valeria, com um sorriso cruel em seus lábios, enquanto as mãos da rainha se fechavam em volta do pescoço frágil de Lyra. Os olhos da princesa imploravam por ajuda, repletos de desespero e dor, enquanto Valeria ria macabramente, seu domínio de fogo e terra uma ameaça sinistra pairando sobre eles.

Aeris despertou de seu pesadelo em um arrepio violento, um grito rasgando sua garganta enquanto suas mãos tremiam. Lágrimas inundaram seus olhos, e sua respiração estava ofegante, como se tivesse sido arrancado à força daquele mundo de tormento.

A dor dos ferimentos que ainda o afligiam veio logo em seguida, uma sensação pulsante que o lembrava da realidade cruel na qual estava mergulhado. Cada movimento era uma agonia, e cada respiração uma luta contra a dor que o consumia por dentro.

Com a mente turva pela angústia do pesadelo e a dor física de seus ferimentos, Aeris se viu confrontado não apenas com os horrores do passado, mas com a terrível incerteza do futuro que se estendia diante dele.

A luz do sol banhava o rosto de Aeris quando ele sentiu as mãos gentis de Lyra segurando seu rosto. Seus olhos dourados irradiavam preocupação enquanto murmurava palavras de conforto, mas para Aeris, tudo o que ele conseguia ouvir eram ruídos distantes, ecoando como gritos em sua mente atormentada.

- Aeris!

A voz preocupada de Lyra chamou Aeris de volta à realidade. Ele levou sua mão trêmula até o rosto da princesa, seus dedos tocando suavemente sua pele enquanto ele esboçava um sorriso fraco em resposta ao seu chamado.

Aeris olha para Lyra com um olhar perturbado, lutando para encontrar as palavras certas. Finalmente, ele deixa escapar em um sussurro tenso:

- Às vezes, você está lá nos meus sonhos. Mas não são lembranças felizes... - sua voz vacila, revelando a profundidade de sua angústia.

Lyra franze a testa, preocupada com a revelação. Ela coloca delicadamente sua testa contra a dele, buscando confortá-lo. Sussurrando suavemente, ela promete:

- Nós vamos dar um jeito, Aeris. Juntos, vamos superar isso.

Aeris assente, grato por sua presença reconfortante. Ele pede ajuda para se levantar, e Lyra prontamente oferece seu apoio. Com cuidado, ele se ergue, usando a espada como uma bengala improvisada para ajudá-lo a sustentar o peso de seu corpo. Juntos, eles se preparam para enfrentar os desafios que estão por vir, unidos em sua determinação de superar as provações que os assombram.

Aeris observa com olhos pesarosos a devastação que se estende diante dele. O que antes era o coração pulsante de Solumia, agora se reduzira a nada mais que ruínas fumegantes. A cidade, outrora vibrante e cheia de vida, agora jazia em silêncio, seus habitantes tendo fugido para escapar do caos da guerra.

Os destroços se estendem em todas as direções, testemunhando os horrores que haviam ocorrido ali. As casas estavam em chamas, seus tetos desabados e suas paredes desmoronadas. Os gritos dos feridos e o cheiro de fumaça pairavam no ar, ecoando a tragédia que se desenrolara.

Aeris sente um aperto no peito ao ver a destruição que assolava a cidade. Em meio à desolação que o cerca, ele se sente impotente diante da enormidade da tarefa que tem pela frente. Mesmo assim, uma determinação silenciosa começa a brotar dentro dele, fortalecendo sua resolução de fazer o que for necessário para trazer esperança de volta a essa terra devastada.

- Daremos um jeito. - murmura a princesa do fogo.

- Elian, onde ele está? - pergunta voltando seus olhos para Lyra, que observava o horizonte.

- Nos localizando, não sabemos onde estamos na nação da terra e estamos sem o mapa.

- Temos...

Com um esforço visível, Aeris tenta caminhar apoiado na princesa Lyra, determinado a enfrentar a devastação ao seu redor. Cada passo é uma batalha contra a dor que o consome, mas ele se recusa a sucumbir. No entanto, quando a dor atinge um ponto insuportável, seu joelho cede, enviando uma onda de agonia por seu corpo. Aeris solta um gemido abafado enquanto sua mão involuntariamente solta a espada que usava como bengala, deixando-a cair no chão com um baque abafado. Lyra, ao seu lado, expressa sua preocupação, mas Aeris força um sorriso, determinado a continuar avançando, apesar da dor agonizante.

- Vá com calma. - sussurra Lyra, com um olhar de preocupação. - Não se esf...

Lyra sente um calafrio percorrer sua espinha ao perceber o olhar perdido nos olhos de Aeris. Era como se uma sombra tivesse se apoderado de sua determinação, deixando para trás apenas uma vaga expressão de confusão e desorientação. O coração da princesa aperta com a preocupação, enquanto ela luta para compreender o que se passa na mente de seu amado.

Lyra auxilia Aeris a se aproximar da árvore, onde ele se recosta no tronco, deixando-se envolver pela brisa suave que sussurrava entre as folhas. A princesa observa com atenção, preocupada com a aparente desconexão de seu amado. Ela se senta ao seu lado, buscando confortá-lo enquanto a natureza ao redor parece tentar transmitir-lhe alguma mensagem.

Elian se aproxima rapidamente, seus passos carregados de urgência, e o olhar preocupado denuncia que algo está errado. Sua expressão alerta Lyra e Aeris para a iminência de um problema, deixando-os tensos e prontos para enfrentar qualquer desafio que se apresente.

Lyra e Aeris observam Elian se aproximando, ofegante e suado. Quando ele finalmente alcança o local onde estão, solta as palavras com urgência:

- Navio grande atracou na doca seguindo aquele caminho, não parece ser muitos soldados.

- Temos que sair, nos mover. - balbucia Aeris em meio a sua agonia.

- Com essas feridas? - pergunta Elian, vendo o estado que o loiro se encontrava.

- Me deixem para trás e encontrem Luna. - dispara o dobrador de ar, mas dessa vez fitando os olhos de Lyra.

Lyra fixa seu olhar decidido em Aeris e pede ao príncipe Elian para encontrar um ponto estratégico para surpreender os soldados. Assim que Elian concorda e sai, ela volta sua atenção para Aeris, determinada.

- Não pense nem por um segundo que eu vou simplesmente te abandonar - ela afirma com convicção.

Aeris murmura em resposta:

- Não posso deixar você morrer por mim.

Lyra o puxa para mais perto, seus olhos faiscando com raiva.

- O mesmo vale para mim. Meu coração dói só de pensar na possibilidade de você se sacrificar por mim. - seu olhar baixa, ficando nublado, mas logo volta sua cor dourada vibrante ao continuar. - Sou Lyra Ardorius, herdeira da nação do fogo. Não me subestime!

Aeris observa o rosto de Lyra com uma mistura de surpresa e admiração, percebendo cada detalhe em seus traços. Os olhos dourados da princesa ardiam com uma determinação feroz, sua expressão era uma combinação de coragem e preocupação. Os cabelos negros caíam suavemente emoldurando seu rosto, enquanto sua postura firme denotava uma força interior inabalável.

Aeris sente o peso do seu próprio egoísmo ao perceber que desejar que Lyra fugisse e o deixasse para trás era uma atitude injusta. Da mesma forma, reconhece que o desejo dela de mantê-lo vivo a todo custo também era um pedido egoísta. Com um suspiro pesaroso, ele repousa sua cabeça no peito da princesa, segurando as lágrimas que ameaçavam escapar. Naquele momento de silêncio compartilhado, ele compreende que o amor verdadeiro é sobre sacrifício mútuo e apoio inabalável, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.

- Deixarei isso em suas mãos então. - solta o mestre do ar.

Lyra sentiu seu coração se aquecer ao perceber a confiança depositada em suas mãos por Aeris. Com ternura, ela envolveu os braços ao redor dele, sentindo as lágrimas do dobrador de ar molharem o tecido de seu peito. Era um momento de vulnerabilidade compartilhada, mas também de força mútua, um elo entre os dois que transcendia palavras. Nesse abraço, encontraram conforto e determinação para enfrentar os desafios que os aguardavam.

Aeris observou Lyra se afastando em direção a Elian, seu coração apertando com a preocupação e o desejo de protegê-la. Uma última troca de olhares entre eles expressou uma mistura de amor, determinação e confiança mútua, mesmo que as palavras não fossem necessárias.

A princesa do fogo juntou-se ao príncipe de Atlantis, escondendo-se nos escombros próximos ao porto. Dali, observaram os soldados emergirem do navio, descarregando caixas vazias para fora. A tensão era palpável enquanto planejavam sua próxima jogada, seus corações batendo em uníssono, determinados em derrotar seus inimigos.

- Como faremos? - sussurra Elian. - Não sabemos a quantidade e nem se são dominadores de algum elemento.

Escondidos nos escombros perto do porto, observavam atentamente os soldados que desembarcavam do navio. A princesa do fogo se preparava para atacar, mas Elian a segurou pelo braço, indicando para que esperasse. Ambos prestaram atenção às conversas dos soldados, que sem saber de sua presença, falavam abertamente.

- Vamos, rápido. Precisamos checar a fumaça que vimos ao longe. - um dos soldados disse, ajustando sua armadura dourada. - Não deve ser nada, mas o comandante quer ter certeza.

Outro soldado assentiu, já montando uma pequena patrulha.

- Deve ser apenas um acampamento de viajantes ou alguns aldeões deslocados. Mas não podemos arriscar. Enviaremos uma pequena patrulha para garantir.

Lyra sentiu um aperto no coração ao ouvir essas palavras. A fumaça só podia ser do acampamento onde Aeris estava descansando. Ela se voltou para Elian, seus olhos dourados refletindo preocupação e determinação.

- Eu vou voltar e ver a situação de Aeris. - ela sussurrou, segurando firme a espada de Aeris que estava consigo. - Não posso deixá-lo vulnerável com esses soldados se aproximando.

Elian assentiu, olhando para a direção onde a patrulha já havia partido. "Vai, Lyra. Eu ficarei aqui e bolarei um plano para derrotar o restante dos soldados no navio. Precisamos garantir que eles não possam seguir-nos ou enviar mais reforços."

Lyra lançou um último olhar para os soldados no porto, prometendo a si mesma que protegeria Aeris a qualquer custo.

- Cuidado, Elian. - ela disse antes de se virar e correr em direção ao acampamento.

Elian observou enquanto Lyra desaparecia entre os escombros, então voltou sua atenção para o navio e os soldados restantes. Ele começou a avaliar a situação, planejando cuidadosamente sua abordagem para garantir que pudessem neutralizar a ameaça sem chamar atenção desnecessária.

O príncipe de Atlantis se esgueirava silenciosamente entre os caixotes empilhados do lado de fora do navio, tentando não chamar atenção. Seu coração batia forte, e seus olhos azuis escaneavam o ambiente em busca de qualquer sinal de perigo iminente. No entanto, um urro repentino vindo de trás o fez congelar.

- Intruso! - gritou o comandante dos soldados, um homem corpulento e imponente, com armadura dourada. Sem perder tempo, ele começou a manipular a terra ao seu redor, levantando destroços e disparando-os em direção a Elian com força brutal.

Elian correu, tentando desviar dos projéteis que voavam em sua direção. Seus movimentos ágeis e o corpo franzino permitiram que ele se esquivasse da maioria dos ataques, mas um pedaço de entulho o atingiu de raspão, desequilibrando-o. Ele não tinha tempo para pensar, apenas para reagir. Com um último salto desesperado, ele pulou para dentro do navio, bufando e arfando ao se levantar.

Dentro do navio, a situação não era melhor. Elian se encontrou cercado por mais soldados, todos prontos para o combate. Eles se moveram rapidamente, formando um círculo ao redor dele, suas armas e dobras prontas para atacar. O príncipe sentiu a pressão da situação, mas sabia que precisava agir rápido se quisesse ter uma chance.

Elian ergueu as mãos, manipulando a água que estava armazenada em barris próximos, transformando-a em lâminas afiadas. Com um movimento fluido, ele lançou as lâminas de água contra os soldados, forçando-os a recuar momentaneamente. Ele precisava ganhar tempo e espaço para formular um plano.

Os soldados avançaram novamente, mas Elian continuou a manipular a água, criando barreiras e ataques rápidos para mantê-los à distância. No entanto, o comandante estava se aproximando rapidamente, a terra ao seu redor tremendo com o poder de sua dobra. Elian sabia que enfrentá-lo seria um desafio monumental, mas não tinha outra escolha.

Elian se encontrou cercado pelos soldados dentro do navio, a tensão no ar palpável. Ele sabia que precisava de algo grandioso para virar a maré a seu favor. Com uma concentração intensa, ele estendeu as mãos e começou a manipular o mar ao redor do navio. As águas responderam ao seu comando, começando a se agitar e elevar.

Com um esforço hercúleo, Elian criou uma imensa onda que se formou rapidamente, crescendo em altura e força. Ele controlou a onda com precisão, direcionando-a para engolir o navio. Os soldados gritaram em pânico enquanto a massa de água os envolvia, levando-os para fora do navio com uma força avassaladora.

Elian, em um movimento ágil, usou a própria onda como transporte, surfando sobre a crista da água com destreza. Seus olhos estavam fixos no comandante, que se mantinha firme no convés. O comandante, percebendo o perigo iminente, rapidamente dobrou a terra ao redor de seus pés, criando um pilar robusto que o mantinha ancorado, impedindo-o de ser levado pela correnteza.

A onda finalmente quebrou, espalhando-se pelo porto e levando consigo os soldados que estavam dentro do navio. Elian deslizou pela água até parar diante do comandante, a expressão em seu rosto determinada e inabalável. O comandante, ainda sobre o pilar de terra, olhou para Elian com uma mistura de surpresa e raiva.

Elian observou a água sob os pés do comandante e um sorriso astuto surgiu em seu rosto. Com um movimento hábil das mãos, ele fez a água congelar instantaneamente. O comandante, pego de surpresa, perdeu o equilíbrio e caiu de costas, seus pés agora presos no gelo.

Aproveitando a oportunidade, Elian se moveu rapidamente. Ele deu um empurrão firme no comandante, que deslizou pelo gelo, se debatendo inutilmente. Com um último gesto decisivo, Elian fez o gelo se estender até a borda do navio, lançando o comandante preso diretamente para dentro do mar.

Enquanto o comandante caía, Elian soltou um sorriso vitorioso e declarou:

- Que a maré decida seu destino.

O príncipe observou enquanto o comandante, ainda com os pés congelados, era levado pela correnteza. A sensação de triunfo encheu seu peito. Com a maior parte dos soldados neutralizados e o comandante fora de combate, Elian sabia que havia dado um passo crucial para garantir a segurança de seus amigos e o sucesso de sua missão.

No acampamento, o fogo estava apagado, e Aeris se escondia em meio aos escombros, controlando sua respiração e tentando ao máximo ignorar a dor que ainda latejava em seu corpo. Os passos das botas dos soldados ecoavam claramente pelo local. Eles conversavam entre si, as vozes graves e despreocupadas. Um deles se separou do grupo, dizendo que iria checar a fumaça.

Os olhos azuis de Aeris estavam atentos a cada passo do homem que entrava no prédio abandonado. O soldado movia-se com cautela, verificando cada canto escuro e sombrio. Ele parou por um momento ao avistar os trapos de roupas manchados de sangue, uma evidência clara de que alguém ferido estava por perto.

A respiração de Aeris tornou-se mais lenta e silenciosa enquanto ele observava o soldado se aproximar. O dobrador de ar sabia que precisava agir rapidamente, antes que o soldado desse o alarme. A dor em seu corpo era intensa, mas ele se concentrou, reunindo suas forças restantes.

O soldado, ainda desconfiado, se abaixou para examinar mais de perto os trapos ensanguentados. Era o momento que Aeris esperava. Ele ergueu uma mão tremendo, sussurrando um comando silencioso ao vento. Uma pequena rajada de ar soprou pelo local, distraindo o soldado por um instante crucial.

Com um movimento rápido e preciso, Aeris se levantou, usando o impulso do ar para lançar uma corrente de vento que jogou o soldado contra a parede. O impacto foi forte o suficiente para deixá-lo inconsciente, mas não antes de soltar um gemido abafado que poderia alertar os outros.

Aeris caiu de joelhos, sentindo a dor aumentar com o esforço. Ele sabia que o tempo era curto e que precisava se mover rapidamente. A visão começou a turvar, mas ele manteve o foco, ouvindo os passos dos outros soldados se aproximando.

Os soldados começaram a entrar em desespero ao perceberem que estavam sendo atacados por uma poderosa dobradora de fogo do lado de fora. Aeris sabia exatamente quem era. Um fraco sorriso de alívio surgiu em seus lábios quando reconheceu a força e a determinação de Lyra, que sempre chegava nos momentos mais críticos.

Enquanto os soldados tentavam se defender das chamas, Lyra se movia com a graça e a fúria de uma tempestade de fogo, neutralizando cada um deles com golpes precisos e implacáveis. As chamas dançavam ao seu redor, iluminando seus olhos dourados com um brilho intenso. Um a um, os soldados caíam, incapazes de resistir à sua poderosa dobradora de fogo.

Quando o último soldado caiu, Lyra ficou de pé no campo de batalha, respirando fundo, seus olhos varrendo a área para se certificar de que todos os inimigos estavam fora de combate. Satisfeita com o resultado, ela se virou e correu em direção ao prédio onde sabia que Aeris estava escondido.

Ao entrar no prédio, as sombras se afastaram enquanto ela avançava, sua presença iluminando o espaço sombrio. Ao avistar Aeris, um olhar de alívio e preocupação cruzou seu rosto. Ela correu até ele, ajoelhando-se ao seu lado, sua voz cheia de urgência e ternura.

— Aeris. - ela murmurou, colocando uma mão gentil em seu rosto.

Aeris tentou falar, mas sua voz saiu fraca e rouca. Ele estava exausto, a dor e o esforço começando a cobrar seu preço. Mas ver Lyra ali, lutando por ele, deu-lhe forças.

- Eu sabia que você viria. - ele murmurou, sua voz quase inaudível.

Lyra assentiu, seus olhos brilhando com uma mistura de raiva e ternura.

- Sempre. - ela respondeu, ajudando-o a se levantar. - Agora vamos sair daqui antes que mais soldados apareçam.

Ela envolveu um braço ao redor dele para apoiá-lo, guiando-o com cuidado para fora do prédio. Lá fora, a cena de destruição e os corpos dos soldados neutralizados por Lyra eram testemunhas da batalha feroz que ela travara para proteger Aeris.

Com a visão turva, Aeris questionou Lyra com um fio de voz:

- O que eu vejo no céu é uma ilusão?

Lyra levantou os olhos, seguindo o olhar de Aeris. Lá, no céu, uma águia branca sobrevoava graciosamente, sua plumagem brilhando à luz do sol. A mesma águia que os acompanhara na Floresta Vermelha, enviada pelo Espírito Guardião. Lyra sorriu suavemente, seus olhos brilhando com uma mistura de surpresa e gratidão.

- Não, Aeris. - ela respondeu, sua voz firme mas cheia de ternura. - Não é uma ilusão.

A águia desceu em um arco majestoso, pousando suavemente à frente deles. Sua presença irradiava uma calma serena e uma força silenciosa. A princesa observou o pássaro com reverência, sentindo a graça e o poder que ele emanava, como se fosse um sinal de que estavam sendo protegidos e guiados.

Aeris, mesmo fraco, sentiu uma onda de esperança ao ver a águia. Ele sabia que não estavam sozinhos nessa jornada. Com um sorriso fraco, ele encontrou força para continuar, apoiando-se em Lyra enquanto a águia os observava, um silencioso guardião em sua missão.

Lyra olhou para a águia branca, sua voz carregando uma mistura de curiosidade e reverência.

- Qual é o motivo da sua visita? - perguntou, tentando entender a presença repentina do majestoso pássaro.

A águia apenas grunhiu em resposta e, com um poderoso bater de asas, voltou a voar, traçando um arco no céu que indicava claramente que deveriam segui-la.

Pouco depois, Elian retornou, ofegante e com um brilho de realização nos olhos. Sem dizer uma palavra, ele colocou o braço de Aeris em volta de seu ombro, ajudando-o a caminhar junto de Lyra. Com o grupo unido, começaram a seguir o caminho indicado pela águia.

A jornada pela cidade destruída era um contraste sombrio com as lembranças que tinham de Solumia. Os edifícios, antes majestosos e imponentes, agora eram apenas esqueletos de pedra e madeira, com destroços espalhados pelas ruas. O chão estava coberto de cinzas e escombros, e o silêncio era perturbado apenas pelo vento que sussurrava entre as ruínas.

Enquanto avançavam, evitavam cuidadosamente os perigos escondidos sob os destroços – vigas caídas, buracos profundos e paredes prestes a desabar. A estrada os guiava para longe do porto, em direção à entrada principal da cidade, que levava a uma estrada rumo a outra cidade da nação.

Ao se aproximarem da entrada, foram surpreendidos por uma visão inesperada. Luna e Zara caminhavam em sua direção, guiadas pela mesma águia que agora pairava no céu como um guardião vigilante. As duas mulheres pareciam cansadas, mas determinados, seus olhares se iluminando ao verem seus amigos.

- O que está acontecendo aqui? - perguntou Elian, seu olhar passando da águia para Luna e Zara.

- Acho que a águia nos trouxe até vocês. - respondeu Zara, seu tom carregado de alívio e surpresa.

Luna, ao ver seu irmão, não consegue conter a emoção e corre para abraçá-lo. Apesar do gemido de dor que escapa dos lábios de Aeris, ele envolve a irmã em seus braços, compartilhando o caloroso abraço.

Enquanto isso, Lyra se aproxima da águia que pousou perto de um destroço, expressando sua gratidão pela ajuda com suaves carícias em sua asa. A ave majestosa parece entender, inclinando a cabeça em um gesto de reconhecimento.

Elian, aproveitando o momento para se reorganizar, dirige sua atenção para Zara.

- Onde está o Veleiro? - ele pergunta, ansioso para continuar sua jornada. Zara aponta na direção que a estrada segue.

- Está escondido mais ao norte. - ela responde. - Podemos chegar lá rapidamente se nos apressarmos.

Com um aceno de concordância, o grupo se reúne e começa a seguir em direção ao norte, determinados a alcançar o Veleiro e prosseguir com sua missão. A águia branca permanece ao lado deles por mais um momento, antes de alçar voo e desaparecer no horizonte, deixando para trás um sentimento de gratidão e esperança em seus corações.