Félix e Niko precisavam subir até a cobertura do prédio mais alto de Angra. Eles tinham uma reunião de negócios, em um resort da cidade, e a administração ficava no último andar.

Logo que entraram no elevador, Niko sacou o celular e, de frente para o espelho, começou a tirar uma selfie.

– Sorria, Félix.

– Carneirinho, calma. Vou contar até três e aí você tira a foto.

Niko estava distraído prestando atenção no celular e olhando para o espelho, não percebeu o que Félix fazia atrás dele. Félix contou...

– Um, dois, três e já!

E logo o elevador parou, dando um sacolejo. As luzes se apagaram, ficou tudo escuro. Com o susto, Niko deixou cair o celular no chão e não conseguiu mais encontrar.

Félix fingiu estar apavorado.

– Niko! Que foi isso?

– O elevador parou...

– Vamos cair! Nós vamos cair!

– Cair? Calma, Félix... o elevador... teve algum problema...

Félix o agarrou.

– Não! Não! Vamos morrer... eu sei... esse elevador nunca foi bom!

– Félix, você está me assustando!

– Carneirinho, me abraça. Me abraça, pelas contas do Rosário!

– Calma amor... eu... eu acho que foi um problema simples...

– Niko, eu acho que foi algo grave! Mas... mas se vamos morrer... quero morrer fazendo amor.

– Oi??

Niko sentia um mix de sensações. Ele achava que não era nada sério, mas Félix o estava deixando com medo. Ele chegou a sentir vontade de rir mas, ao mesmo tempo... sentiu um certo pânico. E se fosse verdade? Era muita informação pra ser processada pela cabecinha de cachinhos dourados enquanto Félix tirava a camiseta dele e o beijava no pescoço.

– Vem, meu Carneirinho, vem. Tira a roupa, vamos fazer amor gostoso...

– Félix... eu... eu não sei... eu... nós vamos cair mesmo?

– Vamos Niko! Mas antes... vem, vamos transar pela última vez.

Félix já tinha aberto a sua própria calça e ajoelhou, abriu a do companheiro e, equanto puxava a vestimenta para baixo com boxer e tudo, deixando Niko pelado... alguém bateu, em algum andar, na porta do elevador e gritou:

– Solta o elevador!

Seguiram-se mais batidas e mais gritos:

– Quem está prendendo o elevador? Tem gente aqui querendo descer!

Niko não pensou duas vezes e gritou também.

– Nós estamos presos!

– Presos? Como assim? – Perguntou a pessoa que batia na porta.

Félix não se fez de rogado e falou bem alto:

– Como assim, como assim? Estamos presos, criatura! E correndo risco de vida! Mande chamar o corpo de bombeiros para nos tirar daqui! Sinceramente...

Então o silêncio se fez, ninguém gritou mais nada nem bateu na porta. Os dois continuavam no escuro. Félix voltou a fazer o que estava fazendo e Niko buscava entender o que aconteceia.

– Amor, nós não vamos cair. O elevador só parou e já já nos tiram daqui.

– Eu sei, Niko, eu sei. Que bom, né? Não vamos morrer. Mas... é... vamos aproveitar que vai demorar pra chegar o socorro, e vamos dar uma rapidinha, hein? Vamos?

– Félix! Em algum momento você acreditou mesmo que fossemos morrer... e... Félix... Féeelix...

Quando Niko decidiu que o que estava sentindo era mais importante do que entender o que estava acontecendo e decidiu se entregar... pela caixa de som do elevador pôde-se ouvir uma voz.

Senhor, aqui é da portaria. O sistema de segurança indica que foi daí que apertaram o botão de emergência, o que fez o elevador parar. O senhor pode, por favor, aperta-lo de novo para colocar o elevador em movimento?

Félix fez a egípcia:

– Não apertamos nenhum botão, não senhor. Verifique direito esse... esse sistema aí.

Senhor, inclusive as luzes, elas se apagaram quando o botão foi apertado. Mas basta aperta-lo de novo e a luz voltará, se bem que daqui eu posso...

Félix interrompeu o porteiro insistindo, mais uma vez, que não foi ele quem apertou o botão e, portanto, não sabia onde ficava.

– Como vou apertar algum botão se está escuro e eu nem sei onde fica esse botão?

Niko começou a ligar os fatos e achou melhor vestir-se. Ele não é tão bicha burra assim e adivinhou que iria acontecer o que, de fato, aconteceu:

As luzes se acenderam. A voz no sistema de som continuou:

– Pronto senhor, pelo menos daqui, a luz eu posso controlar. Agora que já tem iluminação, procure o botão vermelho e aperte para que o elevador volte a se movimentar. E, a própósito, estou vendo vocês pela câmera de segurança.

Quando a luz retornou, Niko apenas colocava a camiseta. Para a sorte dele, a boxer e a calça ele já havia recolocado. Félix não teve tempo e tinha a blusa e a calça abertas. Não lhe restava nada a fazer além de apertar o tal botão vermelho, que ele sabia muito bem onde ficava, e recompor-se.

Quando terminou de vestir-se, passou o dedinho na sobrancelha e, de relance, olhou pra Niko, que estava furioso e vermelho como um tomate.

– Você me paga, Félix!

Mais tarde, quando saíram da reunião, Niko foi olhar as fotos no celular e viu o que ele já sabia. A última foto mostrava claramente o momento quando Félix disse “já!” e virou-se para apertar o botão que fez o elevador parar repentinamente.

Enquanto Félix dirigia de volta até a casa, Niko batia no braço dele. Félix pedia desculpas.

– Ai, Carneirinho! Para! Desculpe... para...

– Seu... seu doido... menino mau... você não tem jeito!

– Não me bate Niko...

– Maligna! Eu vou te punir quando chegar em casa.

– Me punir? Adoooroooo!

Ambos quase choravam de tanto rir.

–-- Fim da cena ---