Cenas Inéditas Feliko
Jayminho tem dois papais
A inevitável pergunta surgiu:
– Vocês tão namorando? – Jayminho queria saber, é claro. Curiosidade é algo natural em um menino de oito anos.
O casal se entreolhou, riu e ambos balançaram a cabeça em sinal afirmativo. Niko disse, com orgulho, um sonoro "sim". Só que o menino queria saber mais:
– Você também vai ser meu pai, tio Félix?
Félix já sabia a resposta para a pergunta, muito embora ainda não tivesse conversado com Niko à respeito. Niko também sabia, ou melhor, intuía. O envolvimento dos dois ficava mais sólido à cada dia que passava, apenas ainda não haviam feito planos.
Félix se antecipou e decidiu ele mesmo responder.Ao jeito dele.
– Jayminho, você gostaria de ter um pai magnífico?
– Sim.
– Um pai elegantérrimo, bonito e charmoso?
– Ia ser legal.
– Imagina um pai que fosse a criatura mais inteligente que você já conheceu.
– Maneiro!
– E que fosse engraçado, brincalhão e doce, cheio de mel, que só perdesse em doçura para esse seu pai aqui, o Niko.
– Nossa... bacana!
– O melhor de todos, aquele que igual não há, imagina ele sendo seu pai. O que você acha? Você quer?
– Claro!
Jayminho sorria, Félix também. Niko só observava. Seguiram-se alguns segundos de silêncio até o menino disparar:
– E quem é esse?
Félix ficou indignado. Colocou as mãos na cintura.
– Como assim? Como assim quem é esse? Mas eu devo ter feito chapinha nas madeixas de Maria Madalena...
Niko interveio, sério. Sério por fora. Por dentro ele ria mais do que platéia de show de comédia.
– O Félix está falando dele mesmo, filho...
– Eu sei! - Jayminho gargalhou. – Eu estava brincando, só queria pegar o tio Félix.
Félix acabou entendendo a brincadeira. O menino tinha senso de humor e era inteligente, como ele. Ele achou graça, mas se fingia aborrecido.
– Há, há, há! Que engraçado... nossa, nunca ri tanto! Olha aqui, criaturinha, não me chama de tio, já disse!
– Posso chamar de pai, então?
Félix olhava pro menino e não sabia o que dizer. Olhou para o Carneirinho que também esperava por essa resposta. Aquele que se proclamava o magnífico, o mais inteligente e o melhor de todos, estava acuado entre os dois. Olhava para um e para outro, tentando articular algumas palavras:
– É... veja... Isso é outro assunto... – Ele gaguejava, passava o dedo na sobrancelha e a mão no cabelo. – Tem que ter calma... não é assim... de repente...
Jayminho até pegou um brinquedo no chão para brincar, desistindo de ouvir uma resposta.
Niko também desistiu, levantou-se do sofá, ajeitou a camisa e disse: – Vou colocar o jantar, que é o melhor que eu faço. – Só que, enquanto caminhava em direçao à cozinha, a conversa continuou entre futuros pai e filho. Niko ficou de lá, escutando o que falavam.
– Jayminho, o que você acha de me chamar de papi?
– É o mesmo que pai?
– É criatura!
– Papi é legal... então você vai ser meu pai. Não vai?
– Aff... pelas contas do Rosário... – Félix resistiu um pouco, mas acabou puxando o menino para um abraço. - Vou! Vem cá.
O menino comemorou, disse que estava feliz. Mas Félix tinha uma recomendação à fazer:
– Só não conta ainda pro seu pai Niko, ok?
– Por que? - Jayminho não entendeu.
– Porque eu sou meio... quer dizer... um pouco... enfim, os adultos que são... adultos são complicados, problemáticos, confusos, ás vezes burros, medrosos, inseguros...
– Quem é esse adulto? Porque você é magnifico, inteligente, elegante, engraçado...
– Ah, Jayminho...
Félix não resistiu e puxou o menino para mais um abraço, antes que o garoto percebesse que seu mais novo pai tinha os ohos cheios de lágrimas.
Lá da porta da cozinha Niko ouvia tudo. E sorria.
Fale com o autor