Era um dia de folga em Angra e os dois foram passear pela região. Caminhavam a pé pela calçada que beira o mar quando Niko quis tirar uma foto.
– Tira uma foto minha, Félix?
Ele sentou de costas para o mar e fez pose de modelo, caprichou no olhar sensual e tudo.
– Carneirinho você vai tirar uma foto sua sozinho ai?
– Ai, Félix, só uma... mas... tá bom, vamos tirar juntos. Coloca a câmera no automático em cima daquele banco e corre pra cá.
E assim foi feito. Félix preparou a câmera para o disparo e foi para perto de Niko, que não se mexeu, continuou fazendo pose de modelo. Félix achou graça e não seria ele mesmo se não provocasse o Carneirinho.
– Criatura, você está se achando, hein?
– Oi?
– É Carneirinho... agora que emagreceu, malhou, pegou sol...está se achando um modelo, um fashion model!
– Que bobagem, Félix! Eu apenas deixei de ser a coruja gorda ou Orca, a baleia assassina...
– Há, há, há... Niko stop! Você nunca foi. Eu já disse que era brincadeirinha.
Niko voltou a ficar parado, fazendo a mesma pose esperando a câmera disparar, até que reparou que Félix olhava pra ele.
– O que foi Félix?
– Nada. Estou achando engraçado você aí parado, nem pisca, praticamente não respira... vai ficar assim até o apocalipse?
– Não, Félix! Só até tirar a foto... eu hein...
Niko então se calou. Mas Félix não. Não só ele achou engraçado Niko ali sentado imóvel fazendo pose, como queria distraí-lo, tira-lo da posição para que, quando a câmera disparasse, pegasse eles em uma pose discontraída. Niko continuava daquele jeito, posando para a fotografia. E félix, como é do seu jeito, seguiu brincando.
– Carneirinho, você parece um boneco sem pilha... ou um manequim na vitrine de loja... quem olha pensa que é uma réplica no museu de cera...
Enquanto fazia piadas provocando Niko, tentando fazer com que ele risse ou se mexesse, Félix notou que duas bicicletas se aproximavam pela ciclovia e percebeu que passariam por ali, bem ao lado deles. Ele insistiu no jogo de provocar o Carneirinho:
– Olha lá, vem gente aí, vão pensar que você é uma estátua. Pelas contas do Rosário, é capaz de pararem para tirar foto, quem sabe vão até sentar no seu colo... ou dar uma gorjeta, achando que você é uma daquelas estátuas vivas que fazem pose para turistas...
Finalmente Niko reagiu:
– Félix! Escuta aqui, você está com ciúmes porque estou chamando atenção com meu novo look?
– Eu?
– Você está com inveja porque vão querer tirar foto minha?
– Eu devo ter salgado a Santa Ceia pra escutar uma coisa dessas...
– Se for esse o problema, você pode ficar como eu se malhar também, sabia?
– Malhar é para os mortais, eu não preciso disso para ser lindo. Eu chamo atenção naturalmente!
– Então tá... vamos ver!
– Tá então! Vamos ver mesmo!
Niko não respondeu mais nada e voltou a fazer a mesma pose. Félix continuava olhando para ele e rindo. As bicicletas vieram trazendo em cada uma delas uma moça. Elas reduziram a velocidade e passaram lentamente, bem em frente de onde eles estavam. Conforme se afastaram, fizeram comentários que eles puderam ouvir.
– Nossa! Você viu o gato de camisa preta?
– Ô lá em casa!
– Ô na minha cama!
O que escutaram foi o suficiente para Niko sair da posição, pelo menos um pouquinho. Com um gesto, ele puxou Félix mais para perto e apertou com força o braço do companheiro. Félix finalmente ficou quieto e sorriu para a câmera que, logo nesse momento, finalmente disparou.
Depois do click, eles se olharam e sorriram. Félix comentou:
– Carneirinho possessivo... adoroooo!
Enquanto isso, as moças na bicicleta haviam feito a volta onde a ciclovia terminava e passavam mais uma vez perto deles. Ao se afastarem, uma delas disse:
– O loiro também é um gato!
Eles escutaram. Félix piscou para Niko, eles olharam para os lados e, como não havia ninguém, se beijaram apaixonadamente. Dali caminharam pela calçada que beirava o mar por alguns minutos até Niko quebrar o silêncio:
– Félix, como você gosta mais de mim, assim como estou agora, ou como era antes? E se eu ganhar peso de novo, você ia gostar mais... ou menos?
Félix não dizia nada apenas olhava pra ele rindo. Niko continuou:
– E o meu cabelo? Você gosta dos cachinhos ou prefere quando eu puxo eles, faço escova...
– Ai Carneirinho... você está me perguntando uma coisa mas já sabe a resposta!
– Eu sei? Não...
– Coloca esses seus cachinhos pra funcionar, criatura!
– Ai, Félix... Você pode ter uma preferência, eu não sei por isso pergunto...
– Niko, importa pra você se eu sou magro ou não tenho um corpo musculoso? E se eu tiver barriga, ficar careca um dia... isso importa?
– Claro que não!
– Então! Para mim também não importa. Você é lindo de qualquer jeito e vai ser lindo sempre.
– Félix... – Niko o olhava com alegria, sorrindo enquanto brilhavam seu lindos verdes olhos... parecia hipnotizado...e Félix esperava... esperava... até que decidiu falar:
–É... Niko... e eu? Hein, criatura?
Niko saiu do transe e se deu conta.
– Você também Félix. Você é lindo de qualquer jeito e vai ser lindo sempre.
– Ah, bom! Aaah boom!
E dali foram pra casa, com presssa.
Fim de cena.