CelleXty Saga

O Vírus Legado - PARTE 3


BOATE MASCARADE

Há poucas semanas a agora vilã conhecida como Cassiopéia, em um ataque ao Aeroporto de Congonhas, lançou sobre São Paulo um vírus mortal conhecido como Vírus Legado e que estava dizimando a comunidade mutante norte-americana já há algum tempo. O vírus, não contamina humanos, mas leva os mutantes a perderem o controle sobre os seus poderes, enfraquecer e finalmente à morte. Em poucas semanas, a doença se alastrou pelo Brasil. Nos EUA o Vírus Legado já havia ceifado a vida de diversos mutantes, heróis e vilões e por aqui, nem mesmo os CelleXtys foram poupados e alguns membros da equipe estavam infectados. Na esperança de encontrar uma cura os heróis que não foram contaminados se dividem e La’Vern decide visitar a Boate Mascarade, um reduto neutro para as tribos undergrounds de São Paulo, mas também o lar da Geração Vamp, os vampiros paulistas! O mutante francês já havia ouvido falar sobre o vampirismo, mas nunca havia “topado” com as criaturas da noite até chegar no Brasil. Basco e Gregory deixam La’Vern à par sobre o lugar e a quem deveria procurar: o líder da boate conhecido como Venâncio.

Aquela, no entanto, era uma noite internacional, pois o Mascarade recebia o show da banda Within Temptation que estava em turnê pela América do Sul com o seu recente álbum, Mother Earth. Quando o local recebia shows marcantes o “abraço” – como era chamado o ataque de vampiros a humanos— era terminantemente proibido e marcado com punições severas aos desobedientes. Naquele ambiente os trajes de guerra de La’Vern, pouco chamavam a atenção. Muitos chegaram a cogitar que o homem com feições nórdicas fazia parte da banda! Alguns vampiros, no entanto, reconheceram o mutante não apenas pelo cheiro, mas pela “fama” perpetrada no confronto do Cemitério da Consolação há algum tempo. Logo na entrada, La’Vern é barrado por dois brutamontes de terno preto que bloqueavam a sua passagem como grandes portões de ferro. O francês sorri em tom de deboche, mas solicita uma fala em particular com Venâncio, porém, dos "grandes muros" à sua frente, não obtém resposta. La’Vern não era de medir muito bem as palavras e deixa isso claro quando com um único golpe, do seu punho em chamas, lança um dos seguranças com grande violência contra uma das paredes da boate. Algumas pessoas ficam assustadas e se afastam enquanto o segundo segurança ameaça chamar reforços, porém, é impedido por uma voz firme e um tanto rouca que ecoa pela escuridão da entrada até o lado de fora. Era Simeão que vem pessoalmente receber o mutante.

— Não imaginei que o viria tão cedo, francês!— Disse Simeão deixando a luz de um dos postes à frente da entrada iluminar parte de seu rosto

— Seu rosto me é familiar…eu já o ameacei, vampiro?— Pergunta La’Vern em tom sarcástico

— Sou Simeão! Eu estava presente no “show” que você e seus amigos fizeram no Cemitério da Consolação!— Responde Simeão se colocando entre o mutante e a porta de acesso a ala VIP e posteriormente apenas a convidados especiais.

— Ah, claro! Lamento por ter atrapalhado o sono de vocês.— Disse La’Vern, recordando do seu embate contra Lucius e os demais CelleXtys no Consolação

— Porque está aqui, mutante?— Questionou Simeão

— Direto ao ponto....gosto disso! Preciso falar com o líder de vocês, Venâncio!

— Venâncio não está disponível no momento! Talvez eu possa ajuda-lo

— A menos que tenha acesso a documentos antigos, não pode!— Respondeu La’Vern cruzando os braços

— O que você procura, afinal?

— Creio que não é da sua conta! — Responde La’Vern enquanto seus punhos começam a manifestar os seus dons sobre o gelo e o fogo

Nisso, os olhos de Simeão brilham em um vermelho intenso, dando a entender que estava disposto a revidar, caso o francês quisesse bancar o valentão novamente, porém, antes que um dos dois perdesse a linha, o segurança ainda de pé na porta se aproxima de Simeão – após receber orientação no seu ponto do ouvido - e sussurra ao lado de Simeão, fazendo os seus olhos voltarem ao normal

— Sua entrada foi liberada, francês. Logo mais teremos um magnífico show aqui e não queremos chamar a atenção pelos motivos errados. Venâncio irá recebe-lo no terceiro andar. É a grande porta vermelho rumo com detalhes portugueses nos umbrais. Não tem erro! Aguardamos você.

Num piscar de olhos, Simeão desaparece da frente de La’Vern e o segurança brutamontes libera a passagem para o mutante. No interior da Casa, uma banda local aquecia o público até a chegada da atração principal. La’Vern percebia entre os participantes que haviam humanos dos mais diversos estilos lado a lado com membros da Geração Vamp. Será que eles sabiam que eram vampiros, se questionou!? O francês segue a orientação de Simeão e no terceiro andar, fica frente a frente da grande porta vermelha. O corredor em si, já era diferente dos demais que passou. Era rico em detalhes e objetos que remetiam ao século XVIII ou menos, mas isso não o intimidou. Fez um gesto que bateria na porta, mas ela abriu sozinha revelando um grande salão onde humanos ou mutantes raramente tinham acesso. Alguns metros à frente Simeão encontrava-se sentado em uma cômoda poltrona de veludo enquanto bebia uma taça de....vinho? La’Vern entendeu que não se tratava de vinho, mas tentou não pensar nisso. Havia outros vampiros na sala. Quando a porta se fecha às suas costas, todos os sons dos andares inferiores são silenciados. Atrás de uma grande mesa de marfim no fundo da sala uma névoa carmim toma forma sentada na cadeira…Venâncio chegara no recinto!

— Simeão me disse que gostaria de uma audiência comigo, mutante. Embora eu não aprecie a sua laia, e tenho outros problemas a resolver, vocês insistem em frequentar o nosso espaço. Por acaso visitamos vocês nos esgotos onde residem ou nos intrometemos nos assuntos de sua raça?

— Lamento os inconvenientes, Venâncio, mas vim aqui pedir ajuda! Não sei se está à par da maldição que nos foi imposta e...

— O Vírus Legado! Sim...estou à par. Nossos contatos nos EUA nos mantém informados sobre essa pandemia. O vírus faz os mutantes perderem o controle sobre os seus poderes e rapidamente os matam. Eu estaria satisfeito de ver a sua raça ser extinta da face da terra, porém, o vírus sofreu uma mutação: ele também extermina aqueles nascidos como vampiros! O vírus “entende’ que são mutantes. Nisso, coloca em risco toda a Geração Vamp, independente do seu clã! Que ironia não é mesmo? Antes precisávamos nos preocupar apenas com os humanos!

— Sinto muito por isso!— Responde La’Vern em tom de pesar

— Eu sei porque veio. Quer saber se dentre os nossos conhecimentos de épocas e mundos diversos, não conheceríamos uma cura para essa maldição que aflige vocês. A resposta é simples, La’Vern: não conhecemos!

— Talvez se pudéssemos falar com os seus anciões e....

— Acha mesmo que já não fizemos isso?— Responde Venâncio com certa fúria na rouquidão de sua voz. — Venha comigo, quero lhe mostrar algo.

La’Vern acompanha Venâncio e Simeão por uma porta lateral do grande salão e em seguida descem por uma escadaria que os levam a uma câmara secreta e pouco iluminada. Em seguida, o mutante visualiza uma grande sala, provavelmente nos porões do Mascarade. Lá, Vampiros de jalecos e humanos “voluntários”, trabalhavam entre frascos de destilação, beckers, tubos de ensaio, cabine de fluxo laminar, capela de exaustão e demais materiais de trabalho químico. Mais à frente uma sala esterilizada, mantinha alguns vampiros mais jovens sedados e deitados em macas.

— Construímos este lugar, poucas horas após os primeiros casos de vampiros infectados pelo Vírus Legado começarem a aparecer.— Explica Venâncio que após passar pelos jovens nas macas, leva La’Vern até um grande espelho que lhes permitiam ver uma outra sala esterilizada. No local, mais vampiros e humanos trabalhavam sem nem olhar para os lados. Por um telão, um casal monitorava 16 telas que mostravam outras salas onde pacientes estavam mantidos em quarentena. — Diferente de vocês, mutantes - Interrompe Simeão - o vírus ataca a nossa raça, não no organismo em si, mas sim nos faz passar por uma metamorfose. Essa praga nos faz regredir à condição humana, porém, sem estarmos vivos de fato. Perdemos a nossa condição vampírica e nos tornamos humanos sem fluxo sanguíneo, multiplicação celular ou batimentos cardíacos. Somos rebaixados a uma espécie de “zumbis vivos” e em menos de 24 horas, morremos!

Simeão aponta para a tela alguns “ex-vampiros” morrendo ao vivo! Quando um vampiro chega ao estágio de humano-zumbificado, não há volta, divaga, Venâncio. - Mesmo que receba sangue vampírico, ou seja, abraçado novamente, o vírus já está em seu organismo. Como um hospedeiro silencioso, quando percebe que um humano-zumbificado retorna a forma vampírica ele age de maneira mais agressiva e a morte que demora dias, vem em questão de menos de 2 horas. - Explica o líder da Geração Vamp.

— Então...não há nada que possamos fazer?— Pergunta La’Vern

— Eu não disse isso!— Responde Venâncio. — Apenas deixo claro que pelas mãos da ciência ou de nossos conhecimentos seculares, não há uma solução. Por isso também recorremos a outros meios.— Venâncio aponta para uma das telas onde uma bela jovem de longos cabelos longos e loiros, pintava o retrato de um jovem vampiro à sua frente, infectado e amarrado com grossas correntes à uma maca. A cada pincelada no quadro, o jovem se contorcia e parecia ter algo expelido de seus poros. Um homem alto, de corpo esguio e feições andrógenas se aproxima da maca. Ele abre um grande livro que carrega consigo e recita palavras antigas em latim!

— Aqueles são Beatrice e Noah — Afirma Simeão. - Ela é mutante como vocês! Beatrice tem o dom sobre Realidades Artísticas: a capacidade de dar vida a tudo aquilo que produzir como textos, desenhos, esculturas. As criaturas que ela cria, por exemplo, podem seguir as suas ordens. Beatrice consegue controlar os objetos de grande porte e dar a vida a desenhos/esculturas de grandes animais, humanos e coisas abstratas. No caso, Beatrice, desenha o vírus legado na tela sendo extirpado do corpo do hospedeiro e ordena que ele saia. O vírus é obrigado a obedecê-la.

— E quanto ao Noah?— Indaga La'Vern

— Ele “fecha” o corpo do hospedeiro para que o vírus não retorne.— Responde Venâncio

— Como ele faz isso?

— Magia, francês!— Disse Venâncio com um leve sorriso no rosto.