Mais um dia começava no Polo Norte onde, na oficina de Norte, os yetis faziam brinquedos, os duendes aprontavam pela oficina, Norte criava mais de suas maravilhas de gelo enquanto comendo biscoitos e, em um quarto novo da oficina, Jack já havia se levantado.

Não tinha exatamente seu lugar para ficar como os outros guardiões, então sempre voltava para o lago onde foi escolhido pelo Homem da Lua; porem, agora que tinha novamente suas lembranças, o lugar tornou-se solitário e triste – mais do que o usual pelos últimos 300 anos que viveu ali.

Tendo ganhado a chance de poder morar na oficina de Norte era um excelente acontecimento e que o ajudou a pensar em muitas coisas nos últimos meses. De fato, já faziam meses que derrotaram Breu e havia sido algo extraordinário estar ao lado de cada guardião, compartilhar com eles e as crianças diversão e descobrir seu cerne. Mas, havia uma dúvida que ele não conseguia afastar.

Como seria se celebrassem seus cernes juntos? Eles apenas se reuniam em raras ocasiões ou quando as crianças estavam em perigo, sabiam como suas celebrações eram, mas não as partilhavam... isso tornou-se muito estranho quando Jack entendeu. Durante a luta contra o Bicho Papão ele viu que ha muito os guardiões não tinham contato real com as crianças e, mesmo sabendo quais são seus cernes, não estavam acostumados a celebrá-los juntos e haviam detalhes que escapavam.

Seu cerne era a Diversão! Diversão é algo que você pode ter não importa sua idade, onde estiver ou o que estiver fazendo. Diversão é algo que pode ser diferente para muitos e igual para outros. Cada pessoa tinha sua noção de diversão e Jack a entregava com seus dias de neve prazerosamente... Mas como seria um dia de diversão para os guardiões com seus poderes? Planejou cuidadosamente aquele dia para ver acontecer!

Saiu da oficina e foi entregar dias de neve as crianças, aproveitando para assistir Jaime, Sophie e seus amigos se divertirem e lembrarem dele e dos outros. Em cada canto do mundo várias crianças sorriam e cada vez mais acreditavam nele através da diversão que espalhava e de sua presença criando nevascas e congelando locais necessários – como lagos onde as pessoas costumavam patinar.

Feito seu trabalho, foi dar vida a seus planos com a ajuda do vento.

A Fada dos Dentes estava com suas fadinhas no castelo, quando sentiu a temperatura cair. Aquele frio não era normal e foi verificar o que acontecia para uma bela surpresa. Cristais de gelo se misturavam ao brilho de seu castelo, em um show de luzes que o vento carregava junto as pétalas de flores de suas árvores

Toda montanha brilhava nas mais variadas cores e formas, preenchida pelo eco fino do vento, suave da água e alegre da risada das fadas. Elas voavam pelas luzes, subiam e desciam com o vento e perseguiam os cristais de gelo. A Fada dos Dentes se divertia igualmente, já tendo certeza de que aquilo era obra de Jack.

Na oficina de Norte, os yetis e duendes estavam estranhando o súbito congelamento de algumas janelas e partes do piso. O Papai Noel saiu para averiguar o que acontecia, quando sentiu o vento empurrá-lo e conduzi-lo pelo piso congelado em movimentos diversos e acrobacias – ele ria alto e os yetis e duendes foram experimentar também.

A maior das surpresas veio quando a luz penetrou pelas janelas congeladas refletindo as cores e desenhos de uma pequena aurora boreal dentro da oficina. Os brinquedos brilhavam, os duendes saltavam pelas cores da aurora, as renas podiam ser ouvidas junto aos yetis e Norte ainda ria de estar deslizando em acrobacias por sua oficina – ele tinha certeza que um certo espírito do inverno estava por trás disso.

Dentro de sua toca o Coelho da Páscoa organizava seus ovos e novos modelos de pintura e desenhos para a próxima Páscoa, parando ao sentir uma certa irritação. Viu que o vento trouxe neve e gelo para sua toca, já querendo explicações de Jack Frost por aquilo! Só poderia ser ele e atrapalhar sua caça aos ovos no feriado era uma coisa, mas esfriar sua toca já era exagero!

Ele, porem, parou para admirar um fenômeno interessante: do gelo e da neve, esculturas de botões de flores, coelhos e ovos surgiam. Eram belas e delicadas esculturas e que ganharam vida! As flores se abriam com brilhantes cristais de gelo e ovos como em sua toca, os coelhos saltavam velozes pelos túneis e os ovos congelados realizavam o trajeto de pintura dos outros, criando um diferente padrão de cores no gelo.

Tudo bem, admitia ser uma bela surpresa, não sendo capaz de se conter em correr pelos túneis atrás dos coelhos e guiar os ovos congelados que tinha para os mais diferentes e incríveis padrões de pintura que possuía. Certo, era oficial, ele estava se divertindo muito!

A noite se estendia e Sandman já estava dando vida aos sonhos das crianças e Jack realizou a última parte de seu plano. Com a neve criou um boneco em tamanho real do Sandman e começou a imitar seu jeito de falar, fazendo-o persegui-lo pelo céu. Sandman criava as mais variadas de suas esculturas para participar da brincadeira de pega-pega que realizavam; até seu boneco de neve se atirar sobre ele em pequenos bonecos de Sandman.

A neve lhe dava pequenas cocegas com seu toque e os cristais de gelo ampliavam o dourado brilho de sua areia. Sandman se divertiu muito e sabia que apenas Jack poderia ter feito aquilo.

Jack decidiu deixar os guardiões se divertirem com sua surpresa sem atrapalhar. Saltou em manobras altas e rápidas pelo vento até o lago. Ficaria ali esta noite, já que, mesmo sabendo que conseguiu divertir os outros guardiões, sabia que eles tinham seus trabalhos a fazer e aquela pausa para diversão poderia ter dado uma pequena atrapalhada.

Admirou o local onde a vila em que ele e sua família viviam ficava e o ponto no lago onde ele e sua irmã se divertiram pela última vez juntos. Subiu no costumeiro galho de árvore e ajeitou-se para dormir.

— Jack. – uma voz feminina despertava o guardião da diversão – Bom dia dorminhoco.

— Bom dia. – ele se espreguiçava – O que trouxe você até aqui Fada? – ele continuava deitado no galho, pois era bem cedo ainda.

— Estamos procurando um certo espírito do inverno, que também é um guardião, e ontem fez uma brincadeira conosco. – a voz masculina chamou sua atenção e ele reparou que Norte, Coelhão e Sandman estavam na base.

— Eu não vi esse espírito do inverno, mas se o encontrar avisarei que vocês o estão procurando. – ele se divertia, conseguindo tirar risadas de Norte.

— Você trouxe gelo e neve para nossos esconderijos ontem, Jack. – o Coelho da Páscoa cortou a graça.

— Vamos Coelhão, eu sei que você se divertiu ontem com minha surpresa. Eu nem invadi sua toca, por mais que a ideia tenha me ocorrido. – Jack caminhava pela neve alguns breves passos – Eu pedi a ajuda do vento para a surpresa dar certo.

— Nós conversamos sobre sua surpresa e todos nos divertimos muito ontem. – a Fada confirmava.

— Apenas queríamos saber de onde você tirou fazer isso. – Norte a completou.

— Eu queria saber como seria se um guardião experimentasse o cerne do outro. – eles se entreolharam surpresos – Cada guardião tem um cerne e conhecemos as celebrações um do outro, mas não passamos os momentos juntos e existem detalhes sobre nossas celebrações que não sabemos. – ele foi até o lago e começou a desenhar com seu cajado – Como o meu cerne é a Diversão, tentei fazer algo divertido para vocês. – ele deslizou pelo gelo e subiu com o vento, rindo até tocar o chão novamente.

— Isso é um pensamento gentil seu. – o Coelho colocou sua opinião surpreso e feliz.

— Eu não estava tentando ser gentil, Coelhão. Apenas queria que todos se divertissem.

— Nós sabemos! E isso me deu uma ideia! – Norte estava animado com seus grandes olhos arregalados em encanto – Vamos tentar celebrar nossos cernes juntos assim como fizemos ontem!

— É uma ótima ideia! – a Fada se animava.

— Essa vai ser boa. – Coelhão ria batendo seus pés no chão.

— Isso sim será diversão. – Jack achava graça – O que você acha Sandman?

Com a pergunta, os guardiões deram pela fata do silencioso guardião dos sonhos. Achando areia dourada na neve, seguiram para encontrá-lo em um amplo espaço aberto, sem muito a vista.

— Sandy, não suma desse jeito! – Norte o alertou.

O guardião então começou a criar imagens com sua areia para se comunicar. A primeira era de Jack, a segunda tinha o vento, depois uma seta apontando para o chão e uma interrogação no final. Depois ainda acumulou e estourou uma pequena esfera de areia, seguida de um ‘x' e um gesto como se especificasse novamente a área onde estavam.

— Eu ainda sou meio novo nisso, alguém pode traduzir por favor? – Jack coçava a nuca em dúvida.

— Acho que ele está perguntando por que você veio para cá ontem já que não tem nada aqui. – Coelhão pensou ter entendido e recebeu confirmação de que era exatamente isso.

— Eu queria deixar vocês se divertindo, além de ter certeza de que atrapalhei os trabalhos de vocês um pouco, e vim para cá. – ele caminhou até um ponto da área em que estavam – A vila onde eu nasci era aqui, minha casa ficava nessa parte e o lago onde me encontraram foi onde minha irmã e eu brincamos pela ultima vez. – os quatro guardiões se surpreenderam.

Sandman começou a fazer vários pontos de exclamação e interrogação ao mesmo tempo e em alta velocidade.

— Calma, Sandman. – Jack suspirou – Eu não tenho um esconderijo ou coisa assim, então sempre voltava para cá nos últimos 300 anos, até ganhar o quarto na oficina. Ontem voltei pela primeira vez em meses. – ele concluiu.

— Jack, nenhum de nós fez seus esconderijos da noite para o dia. – a Fada parecia segurar sua emoção o máximo possível – Mas chega o dia em que encontramos um lugar ao qual decidimos pertencer, que nos dá o acolher que precisamos para seguir. Você precisa ter paciência, pois pode demorar para acontecer.

— E enquanto você espera, pode ficar na oficina! – Norte a complementou – Afinal, o esconderijo de um guardião também é sua casa. É uma escolha feita com o coração!

Sandman começou a fazer sinais positivos, concordando com ambos e Coelhão concordou também. Era a mais pura verdade!

Usando seu globo de neve, Norte ajudou a Fada e Sandy a voltarem a seus lugares, Coelhão já abria um túnel para voltar a sua toca e Jack subia no trenó para voltar a oficina com ele – estava animado, pois aquele dia de diversão traria muitos mais ainda.