Voltei com o Kentin já no anoitecer. Senti que ele estava mais relaxado depois de ter me contado seu passado, mas eu ainda me sentia mal. Cheguei em casa um pouco antes que meus pais.

No colégio, até que Castiel e Lysandre apareceram, no entanto estavam distantes um do outro. Castiel escutava música e Lysandre escrevia algo num bloco de notas. Kentin estava como sempre. Conversamos um pouco com todos, mas preferi ficar mais na minha.

Depois das coisas que aconteceram ontem eu não entendia as atitudes de Castiel. A última coisa que queria era prejudicá-los. E Lysandre... Eu fiquei interessada nele desde o primeiro dia, mas não achei que fosse me corresponder. Gostar dele está começando a me enlouquecer.

No intervalo, fiquei sentada em um banco do pátio sozinha. Disse às meninas que não estava me sentindo muito bem e que ficaria tomando ar fresco. Algum tempo depois, Nathaniel veio se sentar ao meu lado.

—Está melhor?

—Bem melhor. —Menti. Minha cabeça ainda estava um turbilhão.

—Isso é bom. Sabe, somos amigos. Você pode me contar qualquer coisa que estiver acontecendo. —Por um momento eu tive vontade de contar tudo. Despejar toda a minha angustia em cima de Nathaniel, mas se fizesse o deixaria em perigo. E era tudoque eu não queria.

—Não é nada. Está tudo bem!

Nath ficou me olhando como se soubesse da minha mentira. Se levantou, estendendo-me a mão.

—Vamos ?

Antes que eu pudesse perguntar pra onde, o sinal tocou avisando o término do intervalo. Segurei sua mão e voltamos para sala.

Naquela tarde, fiz como Lysandre pediu: vesti uma roupa de corrida. Imaginado que eu ficaria completamente suada, peguei um vestido simples, já que não ocupava muito espaço na mochila. Prendi meu cabelo em rabo de cavalo e saí. Vi Kentin sair de casa, também com roupas de correr. Fomos juntos até o apartamento dos rapazes. Mal tínhamos acabado de chegar e Castiel passou por mim, apressado, sem ao menos me cumprimentar e saiu carregando Kentin. Lysandre também usava roupa esportiva. Sua cara não era uma das melhores. Será que eles brigaram?

—Vamos também? —Mudou de assunto.

Deixei minha mochila no sofá, Lysandre pegou alguns papéis na mesa e saímos.

Andamos um pouco pela cidade e depois fomos correr no parque. Obviamente, Lysandre tinha mais resistência que eu. Corremos por mais ou menos uma hora.

—Agora que você já está aquecida, venha comigo.

Saímos do parque e no estacionamento nos esperava um carro preto. Ele abriu a porta e fez um gesto para que eu entrasse. Fiz um voto de confiança nele quando entrei. Em seguida fez o mesmo. O motorista usava um terno e óculos escuros, sem olhar pra gente começou a dirigir. Não demorou muito e paramos na parte de trás de um galpão. Descemos. Lys me guiou até uma porta no canto.

Vários tatames, bastões de madeira, luvas e sacos de pancada preenchiam o lugar.

—Escolha qualquer um. —Incentivou.

Olhei para as diversas opções, pegando um bastão de madeira e Lys o outro. Nos preparamos e atacamos.

Tentei golpeá-lo algumas vezes, mas facilmente esquivava-se de mim. Ele me ensinou alguns golpes mais simples e modos de defesa. Treinamos por algumas horas e fomos descansar em uns bancos que haviam na parede. O clima entre a gente estava descontraído.

—Sem querer ser estraga-prazeres mas podemos estar aqui? —Perguntei.

—Desculpe, por ter sido tão repentino. Sim, este é um galpão de treinamento para caçadores.

—Há mais na cidade?

—Sim, mas é muito difícil eles se estabilizarem em uma região.

Depois do descanso, o mesmo motorista de terno, nos levou de volta para o apartamento.

Entramos. Pude ouvir alguém no chuveiro, devia ser Castiel. Não quero vê-lo irritado de novo. Fui me despedir de Lysandre, que tinha ido pegar água.

Não fui rápida o bastante sendo surpreendida por Castiel saindo ainda molhado. Sua vestimenta era apenas uma toalha na cintura. Usava outra um pouco menor para enxugar o cabelo.

Meu rosto elevou a temperatura rapidamente e tive uma sensação déjà vu. Consegui desviar os olhos de seu corpo, que mais parecia uma agradável hipinose.

Ele andou até mim e me jogou a pequena toalha, segurei por reflexo, surpresa.

—É melhor você tomar um banho ou vai querer voltar com esse cheiro?

E mais uma vez ele estragava dizendo algo desnecessário. Estendi a mão para lhe entregar a toalha, o mesmo fez um movimento com ela e me envolveu, me aproximando de seu corpo. Estávamos muito perto, ele era intimidador e imprevisível. Apenas fiquei sem reação. Minha cabeça se desordenava quando lembrava que a única coisa que separava sua parte de baixo era uma toalha.

—Você prefere tomar banho comigo? —Sussurrou no meu ouvido com uma voz rouca me fazendo arrepiar.

Meu coração estava tão acelerado que tive medo dele não aguentar e parar.

Lutei com aquele transe tentando me afastar. O ruivo me puxou e em sua velocidade descomunal me levou até o banheiro num piscar de olhos. Alguns segundos de enjoo depois, percebi que estávamos debaixo do chuveiro, desligado. Castiel ainda encostado em mim.

—C-Castiel me deixa ir embora agora! —Tentei parecer firme.

—E se eu não quiser? —Ameaçou ligar o chuveiro.

—Está me assustando. Vou chamar o Lysandre.

—Por que você o chamaria? Quer que ele te veja aqui? Comigo? Assim? Você é cruel. —Ligou o chuveiro. Senti como se um balde de água fria tivesse sido atirado contra mim.

Me encolhi numa falha tentativa de me manter aquecida. Castiel me envolveu com os braços, deixando a pequena toalha que me prendia cair. Seria mais fácil agora eu sair dali. Mas Castiel estava estranho. Não me abraçava para me esquentar e nem para me prender. O que ele queria?

Fui, dificilmente, aos poucos, me acostumando com a água gelada, ficamos abraçados por alguns segundos. Tentei decifrar os gestos daquele cara confuso até que fui interrompida pelos passos de Lysandre. Ele não me encontraria na sala.

Droga!