Uma híbrida? Eu?

Fiquei sem reação. Muitas coisas estavam passando pela minha cabeça naquele momento. Vampiro? Bruxa? Eu nunca desconfiei. Eles eram tão bons assim para esconder da própria filha? Vampiro precisa de sangue, será que já atacaram alguém? Jamais! Meu pais nunca machucariam um humano! Certo?

Eu preferi duvidar da bondade de meus pais e me esquecer da fome. Droga, Lysandre!

—Ema, o que você está sentindo? —Perguntou.

—Fome... Lys... não acho que vou conseguir me segurar por muito tempo. —Apertei os braços da poltrona.

—E não precisa. —Disse Leigh. Na mesma hora a campainha tocou.

Rosa abriu a porta e me revelou Nathaniel. Liguei uma coisa com a outra e percebi que era ele no telefone. O que estava fazendo aqui a essa hora da noite?

Ele entrou carregando uma mochila. Meus sentidos se aguçaram e uma vontade louca de avançar nela me tomou.

Levantei. Nath veio até mim e pôs a mochila no chão, a abriu e tirou algumas bolsas de sangue, dessas que se encontra em hospitais. Me ajoelhei e peguei uma bolsa. Analisei. Meus dedos tremiam. Estava tão faminta que não sabia o que fazer. Olhei pro Nath, que se agachou.

—Tudo bem, pode beber. É melhor do que pegar de pessoas.

Não pensei duas vezes e bebi o líquido vermelho. A sensação era ótima, me sentia renovada, não sei como explicar, mas aquele era um sentimento realmente incrível. Terminei de beber e o Nath limpou o canto da minha boca que estava sujo de sangue.

—Isso é pelo festival. —Deu um sorriso gentil.

Sabia que naquele dia o momento tinha sido sabotado pelo Castiel. Sorri de volta.

Eu ainda estava com fome. Bebi mais duas ou três bolsas. Isso me fez sentir normal de novo. Todo aquele mal estar tinha passado.

—O que tem na seringa? —Perguntei ao Leigh.

—Uma mistura que eu fiz com verbena. —Respondeu pondo Castiel na outra poltrona. —É uma planta capaz de deixar vampiros muito fracos, ou como gosto de chamar é um tranquilizante. A quantidade que eu usei não é fatal, mas vai deixá-lo apagado até amanhã.

—Leigh largou o trabalhos de caça para ser um cientista. Um dos melhores. —Falou Lysandre.

—O conheci graças a um acidente que sofri. —Rosa se sentou no sofá. —Meu estado não era de grandes expectativas mas Leigh não desistiu de mim. Ele salvou minha vida. Depois foi questão de tempo até eu me apaixonar.

Os olhos dela brilhavam e os dele também. Eles tinham uma energia harmoniosa única.

—E você? —Perguntei ao Nath.

—Bem... —Ele estava sem jeito.

—Tudo bem, pode contar a ela. —Apoiou Leigh.

—Sou um anjo. —Revelou em um suspiro.

Fiquei de boca aberta. Bem, era possível imaginar com muita facilidade Nathaniel com uma auréola e asas. Sua ótima educação era merecida de típicas idosas o chamando de anjo como adjetivo. Mas na real... isso altera muito as coisas.

—Eu sabia o que estava acontecendo com você desde o ataque no ginásio. —Contou ele.

—O que? E não me disse nada? Por quê?

—Eu não podia, era contra as regras.

—Que regras?

—Nós, anjos, temos uma regra geral: não interferir diretamente com os humanos...de todo e qualquer modo. —Abaixou a cabeça envergonhado.

Também fiquei constrangida. Regra de anjo deve ser muito sério e no festival quase a infringimos.

—Então... é verdade que existe Deus, demônios, essas coisas? —Não pude evitar a curiosidade.

—Mortais sempre perguntam isso. —Riu fraco. —De certo modo, sim. Na verdade, Deus é uma essência, não tem forma física. Se comunica com os anjos através de sinais. Não é muito diferente com os humanos, só que vocês quase nunca percebem que é uma mensagem Dele. Gostam de chamar de destino, coincidência, hora certa, lugar certo. Enfim, já os anjos caídos... —Ele não quis dizer "demônios". Eu já ouvi algo sobre não pronunciar nomes à toa, pois os nomes têm poder ou algo assim. —Os mais poderosos conseguem se apossar de corpos e nós, anjos, batalhamos contra eles pela alma humana. Outros escolhem atormentar de outras maneiras.

—Então, eles podem interferir em sonhos?

—Sim. —Respondeu cabisbaixo. Provavelmente ele sabia do meu sonho.

Senti um aperto no coração. A criatura que eu vi com certeza era do mal e se era forte o bastante para agir em meu sonho... Algo muito ruim está atrás de mim.

—Não se preocupe. —Nath pôs a mão sobre meu ombro.

—Você não está sozinha.—Completou Lysandre.

—Iremos tirar esse demônio do seu pé. —Motivou Rosalya confiante.

—Custe o que custar. —Terminou Leigh.

Mesmo em meio aquele caos que minha vida estava se tornando, vendo meus amigos me apoiando desse jeito fui capaz de expressar meu mais sincero sorriso.