Dormi no quarto junto com a Rosalya. Lysandre, Leigh e Nath dormiram no quarto ao lado, eram dos pais da Rosa, mas eles estavam viajando. Castiel ficou pela sala. Ao acordar, fiquei com fome.

Desci as escadas e caminhei até a cozinha, usando o único vestido da Rosa que coube em mim, já que o meu estava sujo.

Abri a geladeira e peguei uma das bolsas de sangue. Dei um gole e me encostei na bancada. Fiquei pensando em tudo o que ocorreu noite passada, todas as descobertas. Diferente das outras vezes, essa noite não tive sonho. Estava perdida nos meus pensamentos.

—Bom dia. —Castiel se aproximou.

—Bom dia. Está se sentindo bem? —Ainda me lembro de seu olhar assustador.

—Me sinto de ressaca. Mas... acho que eu quem deveria perguntar se você está bem.

—Posso me acostumar. —Sorri.

—Me desculpe. —Ele estava falando do surto?

—Tudo bem. Leigh disse que algo no meu sangue te alterou. Ele ainda não sabe o que é, mas não se preocupe com isso.

—Ontem foi horrível. Eu queria me desculpar por tudo. Sobre o chuveiro e sobre o festival.

—É verdade que você agiu muito esquisito. Eu fiquei surpresa, mas estamos bem agora. Temos que nos apoiar, certo? E além do mais, você e Lysandre estavam estranhos ultimamente, está tudo bem?

—Não precisa se fazer de idiota.

—Já acorda assim? Pensei que fizesse um esforço pra ser babaca. Para com isso, eu quero ajudar.

—Lysandre ficou puto quando viu nosso beijo. Quando descobriu sobre o festival, perdeu a cabeça. Dá pra acreditar? —Riu. —Ele gosta de você. Tá apaixonado.

—O que? —Meu rosto aqueceu.

—Sem espanto, ok. Não é difícil perceber isso. Tenho certeza que você já desconfiava. Ou sua paixão por ele a cegou completamente?

Eu não tinha uma resposta. Eu não queria dar uma resposta. O que eu sinto por Lys é recíproco?

Castiel pegou uma bolsa de sangue da geladeira e colocou em uma garrafa térmica. Em seguida, foi até a porta da entrada.

—Onde vai?

—Estou saindo.

—Tá, mas...

—Estou saindo. —Interrompeu. —Não tem como eu competir com Lysandre. Também não é difícil perceber isso.

—Castiel, você... —Ele passou pela porta antes que eu terminasse.

Então toda aquela provocação dele era real? O beijo? Castiel sentia alguma coisa por mim?

Que droga!

A medida que o pessoal foi acordando, acabei não pensando muito nesse assunto.

***

Nathaniel e eu fomos para o colégio depois que passei em casa. Odeio mentir para meus pais, mas não é algo que ele entenderiam. Não agora.

—Então... como se sente? —Perguntou Nath.

—Se estiver preocupado com minha transformação, relaxa. Já é mais fácil me controlar, não vou atacar ninguém. Tenho uma garrafa cheia do que preciso.

—Acredito em você. Eu me referia a tudo.

—Acho que consigo dar conta. Quer dizer, não estou sozinha. Sei que vocês irão me ajudar. O que mais me preocupa são meus sonhos. Tenho medo de na próxima vez... —Nathaniel me interrompeu segurando minha mão. O encarei e sorri, recebendo um sorriso também.

Chegamos na escola e encontramos o grupo.

—Está atrasado, Nathaniel. Aconteceu alguma coisa? —Melody perguntou com um humor não muito bom.

—Nada em especial, apenas acordei mais tarde.

—Ema, não respondeu minhas mensagens. Está tudo bem? —Kentin se dirigiu a mim em cochicho.

—Sim. Mais tarde eu te conto tudo.

Conversamos um pouco e depois assistimos as aulas.

***

Depois de almoçar, me encontrei com o Lys no parque. Corremos por uma hora e depois fomos para o galpão. Treinamos diferentes golpes. Não toquei no assunto do beijo com Castiel ou em qualquer coisa da noite passada. Gradualmente esquecemos disso.

Antes de escurecer, fomos para casa da Rosa, onde Lysandre e Castiel estão ficando por ora. Lá se tornou nosso ponto de encontro. Rosa era muito bem preparada com armas e até livros de magia antigos. Leigh me ajudava a fortalecer minha magia e controlar meu desejo de sangue em público.

***

Por quase um mês foi assim, todos os dias. Eu me acostumei com o treinamento e já conseguia manusear armas. Aprendi a usar minha magia.

Nesse meio tempo, Castiel treinava o Kentin também. Rosa estava investigando sobre o paradeiro do lobisomem que roubou meu colar, nosso objetivo é recuperá-lo. E meus pais nem desconfiaram de nada.

Como todo final do mês há um festival no bairro, dessa vez iriam comemorar a independência do país, decidimos ir para relaxar um pouco.

A organização da decoração não era muito diferente do festival anterior, tirando apenas as bandeiras por todo o lado.

Igual ao da outra vez, jogamos e comemos em diversas barracas. Depois de um tempo, Rosa foi para algum lugar com Leigh. Kim e Viollete também. Era imaginável que alguma coisa iria rolar entre elas.

Juntando o grupo do colégio com a dupla de caçadores, dava bastante gente, e como estava mais lotado, resolvemos marcar nosso lugar no gramado do parque.

Ficamos conversando até que ouvi alguém gritar. Somente eu e Castiel escutamos graças a super audição. Nos entreolhamos e eu me levantei, disse que iria ao banheiro. Castiel mentiu dizendo que compraria algo pra berber. Não gostava da ideia de deixar Lys e Nath para trás, mas com certeza Melody e Íris desconfiariam.

Fomos em direção aos gritos, que nos guiou a um templo não utilizado. Entramos e os gritos pararam. De cara encontramos três garotas, uma loira, uma morena e outra de cabelo castanho claro. Todas estavam ajoelhadas e de costas para nós.

—Ei, vocês estão bem? Viemos ajudar. —Me aproximei devagar. Castiel destravou uma pistola.

As garotas permaneceram caladas. Já que jovens em um templo abandonado não era estranho o suficiente, senti uma presença além de nós.

Me aproximei mais da loira e antes que eu pudesse tocá-la, ela se virou em um pulo, como uma marionete. Recuei.

Ela começou a levitar com os braços abertos e as pernas dobradas. Castiel apontou a arma pra ela, mas fiz um gesto para que não atirasse. As outras duas garotas gritaram novamente. O templo inteiro tremeu, como em um terremoto.

—Ema... —A loira falou com uma voz grossa que claramente não era dela. Estava possuída? Era o demônio do meu sonho?

—Quem é você? —Ousei.

—Escolhi bem em apostar em você e não na fracassada da sua mãe.

—Já chega! —No segundo que Castiel puxou o gatilho teve seu corpo arremessado até a parede. Fui socorrê-lo. Havia um corte na testa e o mesmo estava desacordado. Olhei para a parede em que bateu. A sensação de ficar perto dela me deixava desconfortável.

Carvalho branco!

—Quem é você? —Gritei com raiva apontando a arma.

A garota apenas sorriu debochando.

Ouvi a porta do templo ser aberta com força. Me virei e vi Nathaniel. Ele parecia surpreso. O lugar parou de tremer, as garotas pararam de gritar e a loira ficou séria.

—Ora, ora... —Ela disse.

—Ambre? —Nathaniel estava incrédulo.

—Quem? De onde você conhece ela? —Perguntei.

—Ambre, ela é minha irmã!