P.O.V Nathaniel

Todo o carrinho estava desmoronando. Segurei uma garotinha, antes que ela caísse. Os bombeiros colocaram a escada perto de nós. As crianças desceram, o carrinho deu um solavanco e estava se soltando. O casal foi em seguida. Ema estava quase conseguindo chegar na escada, mas o carrinho se soltou por trás, por reflexo a agarrei. Tentei ajudá-la a alcançar o bombeiro, mas então todo o carrinho se desprendeu. Fração de segundos e senti um empurrão, fui segurado pelo bombeiro... mas Ema estava caindo. Tentei me soltar, mas o bombeiro me jogou para a área de proteção na escada e me segurou. Gritei o nome dela e a vi cair em um dos ferros do trilho de uma maneira horrível. Quando desci, a ambulância estava levando os corpos. Quando pegaram o dela, me aproximei. Tinha sangue por todo seu rosto e ela estava desacordada.

Fomos levados ao hospital. Fiquei na sala de espera. Liguei pro Leigh, pedi pra ele trazer algo que pudesse ajudar. 15 minutos depois, ele, Rosalya, Lysandre e Castiel chegaram apressados. Castiel partiu pra cima de mim, segurou minha camisa e cerrou o punho.

—Que merda você pensou que estava fazendo, idiota ?

—Relaxa. -Falou Leigh.- Ela é uma híbrida, esqueceu?! Não vai morrer!
Castiel me soltou, contrariado. Contei o que tinha acontecido. Começamos a pensar em um plano para conseguir tirar a Ema dali.

—Fiz uma dose mais forte com verbena. Não vai matá-la, mas a deixará parecendo morta.

—Nossa única saída é forjar a morte dela ?! -Eu disse.

—A não ser que você queria um monte de idiotas cientistas e médicos loucos perguntando como ela conseguiu sobreviver àquela queda. -Falou Castiel.

Combinamos de assim que ela ficasse sozinha no quarto, Leigh iria entrar e aplicar a dose. Quando vimos a oportunidade, ele entrou e pouco tempo depois saiu, em segundos os pais da Ema chegaram no hospital. Estavam agitados procurando a filha. Então, médicos de todo lado vinham correndo e entraram no quarto dela. Os pais foram atrás. Um tempo depois a mãe saiu chorando junto com o pai. Vi o momento em que um dos médicos cobriu o rosto da Ema. Sei que ela ainda estava viva, mas senti meu coração pesar me senti estranho, muito culpado. Voltei pra casa.

No dia seguinte, recebi uma mensagem da Rosalya, dizia que o enterro da Ema seria às 16:00h. Cheguei lá e fiquei tenso, e desconfiado. Só haviam os pais dela e nós lá. A mãe falou alguma coisa, mas chorava tanto que eu não entendi nada. Talvez eu estivesse enganado, mas parecia meio forçado. O caixão foi abaixado, fomos embora e voltamos uma hora depois.

Desenterramos e a levamos pra casa da Rosalya, os pais dela viajam muitas vezes. Colocamos Ema deitada no quarto e fomos para a sala.

P.O.V Ema

Vi meus pais verdadeiros, estávamos na sala de casa. Eles pareciam exaustos e, aparentemente, fracos.

—Mãe, pai. O que houve ?- Perguntei me aproximando.

—Tentamos proteger você. -Disse meu pai.

—Usaram todas as forças só para sussurrarem no meu ouvido ?!

—Tinha um demônio nos bloqueando, por isso você não conseguiu usar sua magia.- Falou minha mãe.

—Por isso todas aquelas pessoas morreram... -Fitei o chão.

—Por enquanto estamos seguros aqui. -Meu pai mudou de assunto.

—Anh, então podem me contar a verdade. -Disse.

—Bem. -Falou minha mãe. -Seu pai e eu sempre tentamos ajudar as pessoas... mas às vezes as coisas não iam conforme o esperado.-Eu sabia do que ela estava falando.

Me lembrei do Kentin. Minha mãe o dera mais uma chance de vida se, em troca, ele me protegesse. Mas ela não o salvou, apenas atrasou a morte dele. Senti um fogo me consumir. Como em um terremoto, a sala tremeu.

—Filha, por favor. -Falou meu pai. -Não deixe ele ter controle sobre você.

—Quem? -Falei impaciente.

—Sinto muito, querida.- Disse minha mãe. -Eu achei que tinha curado.

—Mas não o curou! -A interrompi, elevando a voz.

De repente, o cenário mudou. Eu estava em um calabouço, iluminado apenas por tochas nas paredes. Andei um pouco, parecia um labirinto. Ouvi uma risada de criança. Corri na direção oposta, já tive minha experiencia com criança encapetada, não precisava de mais uma. Cheguei em um portão enorme, assim que o toquei fiquei enjoada. Abri e dentro era uma sala medieval enorme. Tinha um trono, não vi quem estava sentado nele. Olhei em volta e havia corpos nus por todo lado, alguns em decomposição. O lugar fedia muito, meus olhos ardiam. Me virei para sair, mas o portão tinha desaparecido. Segui em frente, me aproximei do trono. Piorei, comecei a ficar tonta.

—Até que enfim você chegou, minha doce Ema.

Congelei. Aquela voz, devia ser o mesmo demônio que possuíra a Ambre. Tentei vê-lo, mas sua imagem era embaçada. Ouvi ele descer do trono. Passos pesados se dirigiam até mim. Não aguentei a pressão e caí ajoelhada. Ele se aproximou e tocou meu rosto, sua mão me queimou. Tentei recuar mas caí de vez no chão. Senti ele subir em cima de mim. Cada parte do meu corpo que ele encostava queimava.

—Ah, Ema... já quer ir pra ação?!

Sua voz me fez ter um calafrio na espinha. Tentei empurrá-lo, mas quando o encostava, minhas mãos queimavam ainda mais.

—S-sai... -Consegui falar.

—Vou deixar você com um brinquedinho novo. -Falou ele. -A cada dia que passa, fica mais perto do nosso verdadeiro...-Ele suspirou. -Encontro. -Perdi a consciência.

Abri os olhos. Estava em uma cama, a cama da Rosa. Me levantei, lembrei do acidente, verifiquei se estava inteira. Saí do quarto e fui pra sala, todos estavam lá. Rosa correu e me abraçou.

—Como ousa nos assustar desse jeito?!

—Ema...-Falou Nathaniel. -Me desculpa, eu não queria que você tivesse passado por aquilo. Me perdoa foi minha culpa todos... -Eu interrompi dando um abraço nele.

—Não se preocupe. Eu estou bem.- Disse me afastando. -Não foi culpa sua o que aconteceu. Sei de quem foi.

Contei a eles o meu encontro com o demônio. Enquanto bebia sangue, Nath me falou o que aconteceu depois que, digamos, "morri".

—Pelo menos preciso contar aos meus pais que estou viva. Eles vão entender. -Disse.

Todos se entreolharam.

—Tudo bem. -Disse Leigh. -Mas se eles não entenderem iremos apagar suas memórias.

—Ok. -Falei com um nó na garganta.