P.O.V Nathaniel
Caí em um lugar muito escuro. Apalpando a parede que era de pedra achei uma porta. Consegui ver que ela era azul quando abri e a luz de fora a iluminou. Eu estava em um campo cheio flores. Andei mais um pouco e avistei uma silhueta, era a Ema.
–Ah, que bom. -Falei me aproximando. -Que tipo de lugar é esse? Algo assim já apareceu no seu sonho?
Ela não disse nada, apenas me encarava. Então ela me abraçou e afundou o rosto no meu peito.
–Anh, E-Ema.. o que foi? -Perguntei um pouco constrangido, ela me pegara de surpresa.
Mais uma vez ela ficou calada. Senti seu corpo amolecer. Fiquei de joelhos e ela se apoiou em mim. Parecia ter adormecido. Quando tentei afastá-la, ela segurou minha camisa e subiu o rosto me encarando. Ela estava muito perto, eu sentia sua respiração se misturar com a minha. Antes de eu tomar qualquer decisão, ela me beijou. Meu coração acelerou desesperadamente. A língua dela passava pela minha, que ficou paralisada no início, mas começou a entrar no ritmo. Sem perceber, minhas mãos estavam alisando o corpo dela. Ela foi deitando, eu fiquei em cima dela. Eu não conseguia me controlar. Eu sabia que não podia, mas era impossível parar. De repente minha consciência meio que voltou e eu afastei bruscamente nossos corpos. Eu me sentia acordando de um transe. Minha cabeça latejava. "Prazeres humanos são proibidos para anjos!" eu repetia essa frase na minha mente.
–O que foi? -Disse ela inocentemente. -Não gostou?
–Sim... quer dizer, não.... Ema! O que deu em você ?
–Eu tinha vontade de fazer isso há muito tempo... -Falou ela desviando o olhar de mim.
–Mas e o Lysandre? Você está grávida dele! -Aquelas palavras me machucaram.
–E... se eu tirasse essa criança e fizesse uma com você? -Ela me olhou nos olhos.
Notei que ela estava falando sério. Levantei e me afastei. Saquei minha espada de ouro celestial e a apontei pra "Ema".
–Quem é você?
Ela me encarou confusa. Em seguida começou a rir freneticamente. Quando parou, seu corpo inteiro se dissolveu em sangue. O cenário mudou. Era a casa da Ema. Tinha muitos brinquedos espalhados pelo chão. A TV estava ligada em um desenho animado. O relógio marcava 06:45 h da manhã. Então me vi na frente de uma porta, abri. Ela dava para um quarto. Tinha uma cama de casal. Nela estavam deitados Ema, uma menina e um menino de cabelos loiros e... eu. Estavam dormindo. Uma voz começou a falar... Era a minha voz.
–Lindo, não ?
–O q..? -Ele me interrompeu.
–Essa seria a sua vida! A minha vida! Dois filhos e a mulher que ama. A vida perfeita!
–Sou um anjo! Jamais poderia...
–Deixasse de ser! -Ele gritou. -Veja sua irmã...
Uma TV apareceu ao meu lado. Minha irmã estava fazendo sexo com um cara estranho em um beco. Me virei tentando o máximo esquecer a cena.
–Ela é uma prostituta. -Falou ele. -As amiguinhas dela também. E elas gostam.
–Se elas fossem anjos nada disso estaria acontecendo.
–Foi a escolha delas. Anjos são limitados demais. E pra quê? O que você ganha no final? A morte de velhice, como todos os humanos. Então por quê não aproveitar como tal?
–Anjos trilham o caminho do bem para, após a morte, trilharem o caminho do bem ao lado de Deus! -O lugar tremeluziu com a pronúncia do nome divino.
–Você é um virgenzinho idiota de merda!
O quarto foi desaparecendo como uma foto sendo queimada. Me vi de novo no campo. Mas as flores estavam todas manchadas de sangue. Parado mais a frente, estava eu. Uma versão demoníaca de mim. Saquei minha espada. Ele sacou uma igual, mas ao invés de ouro era totalmente negra. Começamos a luta. Ele tinha as mesmas agilidades que eu. Dei um chute na lateral seguido com um golpe de espada. Ele defendeu. Dei mais golpes combinados. Não fazia diferença, tanto eu quanto ele desviávamos. Depois de um tempo eu já estava exausto, mas notei que ele parecia muito bem.
–Eu disse. -Falou ele. -Anjos são limitados demais.
Numa incrível velocidade, ele me distraiu com uma golpe de espada por cima, mas seu verdadeiro ataque era um chute em minha barriga. Fui lançado alguns metros de distância. Minha visão ficou embaçada, eu não conseguia me mover. Senti que se eu não fizesse nada, iria morrer no próximo golpe.
–Por favor.. por favor, me ajude. -Pedi de todo o coração.
Antes de perder a consciência, senti um choque na espinha. Eu não sabia o que era, mas me levantei e me senti bem de novo. Foi então que reparei, o meu eu estava com a cara aterrorizada, olhei para os lados e vi... asas. Grandes asas brancas. Eu podia movimentá-las como se fossem meus braços. Claro, me sentia mais forte e mais confiante. Avancei com um golpe de espada reta, o trajeto todo meus pés não tocaram o chão. O meu eu tentou defender-se, mas foi em vão. Minha espada atravessou completamente seu coração. Ele caiu de joelhos e começou a rachar. Antes de queimar de dentro pra fora, me aproximei de seu ouvido.
–Limitado! -Falei.
Ele deu um meio sorriso e se transformou um milhares de pequenos insetos. Que desapareceram conforme voavam. Guardei a espada e minhas asas sumiram.
–Obrigado. -Falei olhando pra cima.
Em seguida, uma porta azul apareceu à minha frente. Caminhei até ela e a abri.