Fitei Castiel um pouco ofendida.
–Minha mãe... nunca machucaria alguém! Ela era bruxa, sim. Mas uma bruxa boa!
–Então me diz por qual motivo uma "bruxa boa" mataria quase um vilarejo inteiro?! -Ele estava gritando.
–Tenho certeza que não foi essa a intenção.. Conheço minha mãe...
–Aposto que não!
–Hey, cara, não precisa falar assim. -Falou Lys colocando a mão no ombro de Castiel. -Se acalme, vamos conversar melhor.
–Acalmar é o caralho! -Gritou ele tirando mão do Lys. -Você só está defendendo porque tá comendo ela!
A expressão de Lysandre mudou e ele deu um soco em Castiel, que cambaleou, atordoado com a reação do amigo e até com as próprias palavras. Rosa e Nath puxaram Lys, antes que desse outro golpe. Me aproximei do Castiel.
–Eu não estava lá quando tudo aconteceu... Mas sei que tem uma explicação.
–Eu deveria ter percebido... -Ele desviou o olhar de mim e fitou o chão. -Esse tempo todo... Eu devia ter me tocado de que tinha algo errado... Você... Você roubou tudo de mim. -Um meio sorriso triste foi visto.
–Castiel, sabe que não é assim. Vamos achar a resposta, juntos! -Segurei os ombros dele.

Ele levantou a cabeça e eu vi os olhos dele marejados.
–Tudo vai ser diferente agora... -Ele segurou minha mão.
–Castiel...
–Desculpe, mas não vou conseguir olhar pra você sem me sentir um idiota patético. -Ele se aproximou e me deu um beijo na bochecha. -Adeus, Ema. -Sussurrou no meu ouvido, com a voz tremula e vacilante.
Ele se afastou e fez sinal de "tchau" para Lys, com o olhar pedindo desculpas. Depois correu floresta adentro e desapareceu.

.......

Já haviam se passado horas desde que anoiteceu. Nenhum sinal de Castiel... Voltamos pra casa da Rosa. Minha tia foi devolver o corpo da hospedeira Sophia. Ela disse que se precisasse, iria aparecer pra mim num sonho, como uma aparição ou qualquer coisa do gênero. O tal Richard foi encontrado pelos policiais vagando pela estrada e não se lembra de nada. Cuidei dos ferimentos do Lys. Ele não disse uma palavra desde que retornamos. Rosa contou tudo o que aconteceu para o Leigh.
–Uau... Bem, vou tentar descobrir alguma coisa sobre sua mãe Ema. Mas o foco agora é o Asmodeus. Temos que estar preparados para o próximo passo dele. - Falou Leigh.
–Certo. -Disse cabisbaixa.
Depois de um tempo com esse clima pesado, decidi ir embora. Lys disse que iria me acompanhar. Devia ser quase duas da manhã, só tinham uns bêbados e mendigos nas ruas. Lysandre continuava calado, o que me matava. Sua expressão era fechada, sem sentimentos. Ele aparentava estar morto. Segurei sua mão. No momento do toque, ele parecia ter voltado a vida por alguns segundos.
–Lys.... Eu sinto muito...
Ele apertou minha mão e deu um sorriso gentil.
–Você não tem culpa disso. Acredito que sua mãe tenha uma explicação para tudo.
–É... -Comecei a pensar se minha mãe fazia mesmo o certo.
–Hey, vai ficar tudo bem. -Ele se pôs na minha frente e segurou meu rosto.
–Você tem um certo controle sobre Castiel... Por que não pediu pra ele ficar? -Falei sem pensar.
–Castiel é meu melhor amigo. Vi nos olhos dele que ele precisava de um tempo. Eu não podia obrigá-lo a continuar aqui... seria pior...
–Lys.... Tudo o que Castiel disse... sobre eu não conhecer direito minha mãe... tem uma ponta de verdade. Hoje eu descobri que ela tinha uma meia irmã.-Mudei de assunto.
–Que por sinal nem ela sabia que tinha. -Ele acrescentou.
–Tá mas, ela nunca nem me disse como eram os meus avós, a infância dela, como ela conheceu o papai... nada.
–Como era.. quando eles ainda estavam vivos? -Lys já me guiava para um parquinho. Nos sentamos nos balanços de madeira.
–Meu pai era um ex-militar e minha mãe era dona de uma confeitaria. Quando eu tinha 4 anos, ela largou o negócio e começou a viajar. Dizia que era pra um trabalho que ia começar com meu pai. Revezava com ele e, a cada viajem, um tomava conta de mim. Desde que me lembro, vivi um pouco com cada um. Era divertido e tal, mas nunca me satisfazia não ter sempre os dois por perto. Ficávamos juntos só no café da manhã, às vezes. E aí, quando eu tinha 6 anos, minha mãe foi em uma viajem, mas não voltou no tempo determinado. Meu pai ficou preocupado, me deixou com uns vizinhos e foi atrás dela. Algumas semanas depois, uns policiais chegaram e deram a notícia de que os dois tinham sofrido um acidente de avião na volta pra casa. O avião caiu no mar e ninguém encontrou os corpos. Depois disso, fui para o orfanato, onde conheci Kentin. Nancy e Jason Popper me deram a chance de ter uma família unida. E agora... eu não tenho mais nada. -Não tentei segurar. Deixei as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas.
Lys se levantou do balanço, agachou em minha frente e segurou minhas mãos. Seus olhos de cores diferentes pareciam ler a minha mente.
–Você tem a Rosalya, o Nathaniel, todos os seus amigos. E sempre vai ter a mim. Nunca vou te deixar sozinha. -Ele deu um sorriso gentil e consolador.
Me levantei e Lys se pôs de pé.
–Castiel sabe se cuidar. -Acrescentou. -Quando estiver de cabeça fria, vai voltar.
O abracei. Era o que os dois precisávamos, um abraço consolador. Depois ele me levou pra casa. Mal consegui entrar. Sem notar já estava chorando. Lys ficou na porta, esperando qual decisão eu ia tomar. Me virei pra ele e perguntei decidida.
–Dorme aqui?