Caçadora de Demônios

A História Dos Meus Pais.


Ele hesitou um pouco, mas fez "sim'' com a cabeça e entrou na casa.
–Vou tomar banho e depois deixo preparado pra você. -Eu disse.
–Certo.
–Anh, fique a vontade.
Estávamos envergonhados. Lys se sentou no sofá e mandou uma mensagem pra Rosa dizendo que passaria a noite na minha casa. Subi e fui tomar banho. Terminei e deixei tudo pronto para o Lys. Coloquei umas roupas do meu pai na pia. O chamei e depois fui fazer algo pra comermos. Um tempinho depois, Lysandre desceu. Fiquei ainda mais envergonhada. Caramba, é o Lysandre não usando todas aquelas peças vitorianas e sim uma roupa casual, deixando seu corpo definido alinhado na camisa. Jantamos e depois fomos nos preparar para dormir. Fui pro meu quarto e ele me seguiu. Eu já estava um pimentão, não tinha pensado em como minha frase soou quando o convidei. Entrei no quarto e ele ficou na porta.
–O-oque foi ? -Perguntei me virando.
–Anh, só queria pedir um travesseiro e uma coberta.. Vou dormir na sala.-Respondeu ele.
–Ah, e-eu pensei.... -Piorei meu estado e comecei a me atrapalhar com as palavras.
Lys percebeu o que eu queria dizer e ficou muito vermelho também. Decidi parar de falar e fui pegar as coisas. Entreguei pra ele. O mesmo se aproximou e me deu um beijo. Depois sussurrou no meu ouvido:
–Eu não sei se conseguiria me controlar se dormisse na mesma cama que você..
Se afastou e me deu um selinho. Pude ouvir seus batimentos cardíacos muito acelerados.
–Boa noite. -Terminou.
–Boa noite.
Sua voz sensual ainda repetia a frase na minha cabeça. Ele desceu e eu fui dormir.
Sonhei com meus verdadeiros pais: Eu estava em um lugar cheio de flores e com uma única imensa árvore. Meus pais estavam na minha frente. O vento era tudo que se ouvia. Eu queria perguntar tanta coisa... mas as palavras não saiam.
–Querida.... -Minha mãe finalmente disse. Sua voz era vacilante, ela queria chorar.
–Você disse que mais cedo ou mais tarde eu ia descobrir tudo... Acho que é agora. -Prontifiquei.
Ela olhou pro meu pai e ele fez "sim" com a cabeça. Ela respirou fundo e começou.
–Conheci seu pai na guerra... A equipe dele foi bombardeada e eu fui ajudar. Mas ele foi o único sobrevivente... pois era um vampiro, apesar de ser iniciante. Por conta do destino, nos encontramos em diferentes lugares. E como éramos jovens, acabamos nos apaixonando. Me amaldiçoei para nunca envelhecer. Depois de um tempo, descobri que estava grávida. Seu pai e eu decidimos nos acomodar em uma cidade calma e viver uma vida normal. Eu abri uma confeitaria e ele me ajudava na casa. Você nasceu e foi o momento mais feliz de todos. Tínhamos tudo para ter a vida perfeita. Mas aí, quando você fez 4 anos... eu tive um sonho com um demônio... Ele te queria de uma maneira que me apavorava. Tentei feitiços que te protegesse... mas nada funcionava. Dei uma chance de vida para Kentin em troca dele ser seu protetor. Você não ficaria sozinha se algo acontecesse conosco. Às vezes eu ouvia e via o demônio ameaçando te levar...Eu estava desesperada. Foi quando seu pai ouviu um boato de uma magia negra, poderosa o bastante para matar qualquer um..Até um demônio, seja ele quem for. Larguei tudo e comecei a investigar mais a fundo. Eu descobri um vilarejo bem isolado que, pelas informações, era o local onde a magia era guardada. Fui pra lá.. Mas o vilarejo estava sob proteção de dois vampiros poderosos. Eles sabiam da magia que eu procurava. Na verdade, eles eram os guardiões dela. Descobri que a magia não estava guardada em uma caverna ou uma urna... Estava nas pessoas do vilarejo. Especificamente, nas almas. Passada de geração à geração. Como uma bruxa, tudo que eu precisava era ter acesso as almas. Eu não ia matar ou machucar ninguém. Mas por causa da maldição que lancei em mim mesma... meu sangue se tornou diferente. Virou uma droga para os vampiros. Os deixavam loucos assim que experimentavam. O homem, o guardião, foi o primeiro... ele enlouqueceu e sua mulher o tirou de perto de mim. Tentei correr mas fui atacada pela mesma depois. Consequentemente enlouqueceu e, junto com o marido, atacou todos do vilarejo. Quando recobrei a consciência, tudo estava em chamas. Tentei ajudar alguém mas a maioria já estava morta. Encontrei um garotinho. Os que sobraram do vilarejo estavam perseguindo ele, com tochas e estacas. Os guardiões estavam sendo cremados em frente a casa. Foi quando o menino atacou todos os outros, em defesa. Eu juro, tentei de tudo para chegar a tempo. Mas eu havia perdido muito sangue enquanto corria. Quando me aproximei, ele estava muito ferido. Fiz magia de cura e percebi a fraca presença de todas as almas dos moradores. Então peguei a parte da alma que continha a magia... Também joguei uma feitiço no menino. O fiz ficar sempre ao lado da primeira pessoa que o visse como amigo, pra ter alguém em quem confiar. Bem, como eu não queria que ele se descontrolasse... o fiz obedecer a essa pessoa também. Uns caçadores chegaram e eu precisei fugir. Fiquei hospedada em uma cabana longe dali. Mas precisei ficar tempo demais pra me recuperar.
–Como ela não voltava... -Continuou meu pai. -Deixei você com os vizinhos e fui atrás dela. Cheguei até o vilarejo e identifiquei o cheiro da sua mãe nas montanhas próximas de um ilha. Foi complicado mas eu a encontrei. Depois eu consegui um avião com meus antigos companheiros de batalha, também vampiros. Quando estávamos decolando.. fomos atacados pelo demônio.. Não conseguimos sair do avião, e ele caiu no mar... Sua mãe e eu usamos todas as forças para mandar a magia para algo precioso pra você... Por sorte foi o colar que ela te deu. Com isso, acabamos nos interligando e sendo capazes de aparecer em sonhos pra você.
–Vamos usar tudo o que temos agora para permanecer no colar e deixá-lo mais ao seu controle.
–Espera. -Eu interrompi. -Vão parar de aparecer em sonhos pra mim ?
–Meu bem, tudo o que tínhamos que fazer era deixar você ciente do que era.... -Falou minha mãe.
–E agora você já sabe se cuidar sozinha... e também tem os seus amigos e aquele tal...Lysandre certo? -Falou meu pai.
–Sim. -Respondi meio sem graça.
–Queríamos nos apresentar adequadamente ao seu namorado.-Falou minha mãe.
–E eu queria ter uma conversinha... -Meu pai foi interrompido por um leve tapa no ombro dado pela minha mãe.
–Só quero que ele seja bom pra minha filha! -Continuou ele em defesa.
–Gente.... -Falei envergonhada.
Eles pararam e deram uma risadinha. Não me lembro da última vez que os vi rindo.
–Mãe... sobre...
–Minha meia irmã fada?... -Disse ela. -Bem, eu também fiquei chocada. Mas.. todos têm aquela marca de nascença.. É o símbolo da família! E ela não parece ser uma má pessoa. Mas é sempre bom ficar alerta.
–Ok.
Eles se aproximaram e me deram um abraço.
–Sempre estaremos contigo.-Falou meu pai.
–Nunca pense que está sozinha.-Falou minha mãe.
–Certo.
Deixei uma lágrima cair. Um vento forte soprou e eu os senti dissolverem em meus braços.
Acordei chorando, mas ao mesmo tempo com um sorriso no rosto. Levantei, tomei banho e desci. Lys estava fazendo o café da manhã. Eu ficava mais calma com ele por perto.
–Bom dia. -Eu disse chegando na cozinha.
–Bom dia. -Respondeu ele. -Tomei a liberdade pra te recompensar pelo jantar de ontem.
–Aquilo não foi nada. E eu disse que você podia ficar à vontade.
Tomamos café e depois eu saí pra ir para o colégio. Lys tinha recebido uma chamada do irmão e foi encontrá-lo. Cheguei poucos minutos antes de bater o sinal. Vio e Kim estavam no maior clima romântico. Íris estava conversando animada com a Melody. No intervalo, fui para o pátio e me sentei em um dos bancos. Poucos minutos depois Nath se sentou ao meu lado.
–Oi..
–Oi... Alguma notícia do Castiel ? -Fui direta.
–Pela minha "amizade" com ele, duvido eu saber.. ou querer saber.... onde a sombra dele foi vista.
–Esqueci.. vocês se odeiam...
–E ele é bom em se esconder.. tanto quanto é forte pra cuidar de si mesmo. -Senti que ele se forçou pra dizer isso.
–Sim...
–O que vai fazer em relação ao.... -Ele nem precisava terminar a frase.
–Leigh disse que vai pesquisar sobre ele....
–E como você está ?
–Sinceramente... muito, muito assustada... Só de pensar...
–Você vai ficar bem. -Falou ele segurando minha mão. -Estamos do seu lado.
–Obrigada.
Melody chegou arrastando a Íris, que tinha um enorme sorriso no rosto.
–Gente, gente. -Disse Íris empolgada. -Vocês não vão acreditar...
–O que houve? -Perguntei.
–No próximo mês vamos ter um baile. -Falou ela dando gritinhos e pulinhos.