POV Narradora

Chegando lá os dois se surpreenderam ao ver, parada na sala de estar dos Johnson’s uma mulher, provavelmente da mesma idade de Jessica, cabelos ruivos, olhos azuis, pequenas sardas e, o mais importante, um uniforme da polícia com a estrela de xerife pendurada ao peito. A primeira reação de Julia ao uniforme foi pensar se não havia deixado nenhuma arma a vista. Ford pareceu se recuperar mais rápido.

–-Xerife Peterson, o que faz aqui? – ele perguntou fazendo as cabeças das três mulheres se virarem na direção dos dois parados na porta que ligava sala e cozinha.

Quando os olhos da xerife pararam em Julia a morena teve vontade de recuar. Os olhos azuis da mulher se fixaram nela com uma intensidade enorme fazendo-a franzir o cenho preocupada. A xerife começou a caminhar na direção dela com aquele mesmo olhar firme. Ford não sabia se entrava no meio ou se falava alguma coisa parar ver se elas saiam daquele estado. As duas estavam se encarando como se fossem começar a brigar a qualquer momento. Mas não o fariam na realidade. Quando estava a poucos passos de Julia a xerife Peterson parou. As duas continuaram se encarando.

– Xerife? – perguntou Ford.

De repente um sorriso calmo apareceu nos lábios da ruiva. Ford não estava entendendo nada, mas Jessica começou a rir. Lia também tinha uma cara parecida com a de Ford, mas parecia mais preocupada. E estava mesmo, não era muito legal para pessoas como elas ter um policial (ainda mais um xerife) as encarando daquele jeito.

POV Julia

Desconforto. Era a palavra que eu usaria para descrever o que senti quando aquela mulher vestida de policial e usando a estrela de xerife me encarou. Era estranho pra dizer pouco. Quando os olhos dela encontraram os meus pareceram frios e calculistas e eu quis dar um passo atrás, mas eu nunca recuei na vida e não começaria naquela hora.

Mas daí ela avançou na minha direção e eu disse pra mim mesma: “Eu já encarei gente pior que uma mulher, xerife de um condado pequeno na fronteira, com olhos azuis congelantes e sardas no rosto”. Por isso encarei ela de volta com um olhar tão firme, frio e sério quanto o que ela estava usando comigo. Senti Ford ficar tenso do meu lado; queria dizer pra ele se afastar, mas não quebraria o contato visual pra isso então fiquei quieta; ele que percebesse sozinho se a coisa ficasse feia.

Ela parou e diversas coisas passaram pela minha cabeça. A principal: eu tinha uma arma na cintura; se ela visse eu estava ferrada. A que me fez pensar mais: quem foi o imbecil que deixou um oficial da lei entrar na porcaria da casa!?!?!?!

– Xerife? – escutei Ford chamar.

Mas daí ela sorriu e do nada a Tia Jes começou a rir e então eu não entendi mais nada mesmo. Mas minha cara confusa provavelmente disse isso por mim.

O sorriso dela aumentou e ela riu me deixando ainda mais confusa, mesmo eu não achando que isso não era possível. E daí a doida com um distintivo fez algo que me deixou ainda mais por fora: Ela simplesmente se aproximou de mim e segurou meu rosto, deu uma risada baixa e me abraçou. E eu pensei: “WTF?!?!?!?!?”. Pela cara da Lia ela tava tão surpresa quanto eu; provavelmente se perguntando a mesma coisa.

– Você se parece tanto com sua mãe – disse ela ainda comigo nos braços e as coisas finalmente fizeram sentido. Tive que sorrir e abracei ela de volta.

POV Narradora

– Tá; podem me dizer o motivo dessas duas terem se encarado como se fossem se matar? – perguntou Ford sacudindo a cabeça e indo sentar numa das poltronas.

– Bem, eu é que gostaria de uma explicação – falou Lia séria e irritada por não estar entendendo nada.

– Lia; essa é Katerine Peterson, Xerife do condado e uma velha amiga – disse Jessica sorrindo.

Katerine se afastou de Julia. A morena estava sorrindo até que sentiu a ruiva puxar a arma dela. No segundo seguinte a xerife tinha a mão esquerda no punho da pistola e Julia segurava a mão da ruiva e parte do cano da 9mm. Elas se encararam e a mais velha ergueu uma sobrancelha.

– Não sei se é certo você estar carregando isso assim – disse a ruiva.

– Desculpe-me se não concordo. Mas a senhora não tem ideia de quem eu sou e o que é ou não certo para mim – respondeu Julia com um olhar sério.

– É; eu sei – disse Katerine soltando a arma e dando um sorriso calmo – Você é pior que sua mãe, sabia garota? – ela comentou indo se sentar na outra poltrona.

– É; acho que já ouvi bastante isso – responde Julia com um suspiro.

– O que há de errado?? – pergunta Katerine ficando séria e alternando o olhar de Julia para Jessica.

Todos na sala ficam um tanto tensos. Julia se afasta deles indo para uma das janelas e olhando para fora; só quando ela para é que Jessica suspira e começa a falar. Ela resume para a xerife Peterson tudo o que aconteceu a Amélia e a Julia e então conta sobre a situação atual. Quando ela termina Julia está de braços cruzados encarando a paisagem, por estar de costas para o resto das pessoas na sala nenhum consegue ver a expressão de raiva e as mãos em punhos tão apertados que os dedos tinham ficado quase brancos.

– O que fazemos agora então? – pergunta Katerine com uma expressão séria; ela também estava nervosa com o assunto.

– Primeiro – fala Julia surpreendendo a todos – Temos que pegar tudo o que minha mãe pode ter deixou naquele carro. Mas independente de tudo eu quero o boné do meu pai de volta. Depois – ela faz uma pausa se virando para os outros na sala, mostrando uma expressão séria e decidida – Depois eu vou atrás de alguém que vai poder me ajudar a analisar os dados que ela me mandou. E então eu vou atrás deles. Por que se algo aconteceu a minha mãe então tem a ver com os Cloud’s.

– Eu vou com você – fala Ford se levantando.

– Mas nem ferrando – diz Julia balançando a cabeça e começando a andar para a cozinha – Eu vou fazer isso sozinha.

– Não vai não – ele fala seguindo-a.

Lia, Jessica e Katerine olham uma para a outra; Jessica com um sorriso, Lia com uma cara de tédio e Katerine completamente confusa com a cena. Os dois não notaram isso e Ford caminhou atrás de Julia até o lado de fora da casa.

– Julia eu vou com você sim. Quero ajudar, posso não ter tanta utilidade, mas tem que ter algo que eu possa fazer. Eu quero fazer alguma coisa – ele fala quando os dois já estão perto do celeiro.

– Você não pode ajudar, Ford. Acostume-se com isso. Não há nada que você possa fazer. Te deixar ir é apenas te colocar um perigo ainda maior do que o que você já está e eu me recuso a fazer isso – diz Julia ainda caminhando para dentro do celeiro.

POV Julia

Quando eu comecei a sair e ele me seguiu eu quis manda-lo voltar, mas sabia que não faria diferença então apenas continuei me afastando sabendo que logo aquilo se tornaria uma conversa.

– Julia eu vou com você sim. Quero ajudar, posso não ter tanta utilidade, mas tem que ter algo que eu possa fazer. Eu quero fazer alguma coisa – ele fala e posso até imaginar a expressão decidida no rosto dele, mas não me viro para ver.

– Você não pode ajudar, Ford. Acostume-se com isso. Não há nada que você possa fazer. Te deixar ir é apenas te colocar num perigo ainda maior do que o que você já está e eu me recuso a fazer isso – digo caminhando para dentro do celeiro esperando que ele pare de me seguir; como se isso fosse mesmo acontecer.

– Eu não vou te deixar sozinha nisso – escuto ele dizer num tom mais baixo que os nossos quase gritos anteriores, mas nem assim eu paro.

– Eu sempre estive sozinha nessas situações; isso não será novida... – começo a falar mas sinto a mão dele segurar meu pulso e me fazer virar rápido até eu bater contra o peito dele – Novidade – sussurro olhando pra cima e encarando o rosto dele.

– Porque não me quer junto com você? – ele pergunta baixinho me encarando com um olhar sério.

– Vai ser perigoso – respondo suspirando.

– Vai ser perigoso pra você também – ele insiste.

– Eu tenho treinamento.

– Me treine então.

– Como é que é??? – pergunto encarando ele com uma cara muito surpresa – Você não sabe o que tá pedindo Ford – digo me afastando; era uma ideia idiota essa a dele, eu não podia treiná-lo.

– Por quê??? – escuto ele perguntar e encaro o outro lado do celeiro.

– Não tem como você aprender algo útil em tão pouco tempo – digo firmemente.

– Não to pedindo pra me ensinar a lutar como você em uma semana. Não sou idiota Julia. Conheço minhas limitações. Acontece que você não conhece os meus limites também – ele responde da mesma forma.

Me viro e vejo uma expressão que não imaginava no rosto dele. Uma expressão séria, dura, firme, até fria eu diria. Era estranho ver aquele tipo de expressão com os mesmos olhos castanhos, que pra mim pareciam mel, que poucas horas antes tinham me encarado de um jeito quente e aconchegante. Mas eu reconheceria aquele tipo de expressão em qualquer lugar e em qualquer um. Ford tinha seus segredos, como qualquer pessoa teria, mas para ele fazer uma expressão como aquela esses segredos só poderiam envolver coisas das quais ele não se orgulhava nem um pouco.

– Não entendo sobre o que você pode estar falando – digo tentando entender aquele olhar dele.

– Sabe que faculdade eu fazia Julia? – ele me pergunta – Eu estudava Matemática Computacional. Voltada para a parte de algoritmos e codificação e decodificação de sistemas. Era muito bom nisso, muito bom mesmo. Tão bom que acabou me ajudando a continuar no curso – ele falou com um suspiro.

– Você era um hacker – eu falo arregalando os olhos – Mas que Droga, Ford!!!!!! Você era um hacker!!!!!!!

Ele ri e isso me faz bufar irritada. Não acredito que o desgraçado era um hacker. Hacker são doidos e sempre tem planos malucos nas mentes malucas deles. Fora que hackers são magrelos, usam óculos de grau; eles não tem músculos, um olhar penetrante, um rosto másculo e..... Ah droga. Coloco a mão sobre meu rosto. Sinceramente não dava pra acreditar que o Ford era um hacker. Então sinto braços em volta da minha cintura e acerto uma cotovelada que faz ele se afastar.

– Isso dói, sabia? – me pergunta Ford; me viro vendo ele com uma mão nas costelas.

– Pois é, né – digo estreitando os olhos e o estupido ainda ri – Era só pra mim achar engraçado – digo cruzando os braços e encarando-o.

– O que é que você tem contra hackers, Julia?? – ele me pergunta rindo.

– Nada, na verdade – respondo – O problema é: Devia ter me contado isso antes!! – digo irritada.

– Não tivemos muito tempo pra conversar caso não tenha notado – ele fala rolando os olhos e, apesar de concordar com ele, eu não admito isso – Vai me levar com você agora?

– Não – respondo fazendo ele suspirar.

– Um hacker não seria útil pra você?

– Não se ele for você – respondo e suspiro – Não muda o fato de que, dependendo do que eu tenha que fazer depois, as coisas possam ficar perigosas, Ford. Não quero te colocar em perigo.

– Eu estou tão envolvido nisso quanto você. É problema meu também Julia – ele fala chegando perto de novo – Não tem que resolver tudo sozinha dessa vez. Pode me ensinar o básico que tenho que saber para não arrumar confusão porque eu já tenho uma habilidade para usar e te ajudar.

– Você nem sabe o que pretendo; como pode saber se será útil pra mim essa sua habilidade? – pergunto encarando os olhos dele.

– Eu tinha que tentar um argumento, né – ele responde sorrindo me fazendo rolar os olhos.

– Vou me arrepender disso depois – fala com um suspiro – Vem, vamos voltar lá pra dentro – digo passando por ele e caminhado para a saída – Tenho coisas a resolver com a Lia e a xerife Peterson. Depois decidimos pra onde vamos e o que faremos.

– Isso quer dizer que você vai me levar junto? – ele pergunta me seguindo e pelo tom de voz posso até imaginar o sorriso que ele tinha no rosto.

– Vai com calma aí, cowboy – digo rindo – Decido o que fazer com você depois também – falo e olho por cima do ombro pra ele que está com uma expressão de tédio por causa do apelido.

Saio do celeiro com ele ainda me seguindo e vamos os dois de volta para a casa. Era hora de começar a agir.