Capítulo VIII

>Cassie

Os lábios dele são suaves contrastando com a barba dele que arranha ligeiramente.

Ele retribui o meu beijo e ficamos assim por uns segundos e inclina-se mais sobre mim deixando-me totalmente deitada sobre ele e ele por cima de mim, mas com os braços apoiados para não fazer o corpo dele pesar sobre o meu.

Este é o meu primeiro beijo. Será que ele vai reparar? É claro que vai e provavelmente nem vai gostar, mas também eu sou a única gaja junto a ele, será por isso que ele me está a beijar? E eu, porque é que o estou a beijar?

Poxa, nem acredito que só estou a beijar alguém porque estou no meio de uma invasão extraterrestre e estou a (sobr)viver sozinha com um rapaz!

Ele está com uma mão na minha cintura e outra apoiada na cama, enquanto eu tenho as duas mãos no rosto dele tateando cada centímetro do seu rosto perfeito.

Passado um bocado, um minuto talvez? Perdi total noção do tempo assim que os lábios dele me tocaram, ou melhor os meus tocaram os dele. Bom, mas como eu ia a dizer, passado um bocado ele afasta os lábios dele dos meus e vai-me dando beijos pelo meu rosto até chegar ao meu ouvido e sussurra-me:

—É melhor dormirmos.

—Huhum- respondo, envergonhada.

Ele deita-se a meu lado, puxa os cobertores para cima e passa um dos seus braços à volta da minha cintura.

Consigo sentir a respiração dele a fazer-me cócegas no meu pescoço o que diga-se de passagem é uma sensação muito gostosa tal como sentir os lábios dele nos meus.

—Boa noite, Cassie- sussurra-me docilmente.

—Boa noite, Evan- respondo.

Estou feliz por ele não ter tentado avançar, como será o clima entre nós depois disto? Seria bem pior se aquilo acontecesse.

Mas por raio é que eu o beijei? Eu gosto dele? Acho que não, pelo menos não sinto por ele o mesmo que eu sentia pelo Ben Parish. Então beijei-o porque estou carente? Que estupidez Cassie! Não podes estar carente por uma coisa que nunca experimentaste antes, mas se calhar foi por isso que ele retribuiu, mas se fosse isso ele tentava avançar, ou não?

Mas que confusão! Uma coisa é certa eu nunca devia ter beijado o Evan Walker.

>Evan

Mas o que é que eu fiz? Porque é que eu a beijei?

Bom, foi ela que me beijou, eu só retribui. Se eu não retribuísse seria pior, o clima entre nós ficaria estranho, mas se calhar vai ficar estranho à mesma com o beijo. Porque será que ela me beijou? Será que ela gosta de mim? Eu nunca me devia ter aproximado tanto dela, devia ter sido frio com ela e nunca tão carinhoso. Eu sei que gosto dela mas ela não pode gostar de mim, eu sou um Outro, sou responsável pela morte dos pais dela, pela destruição da vida dela, a causa do sofrimento dela e do irmão. O que pensaria a minha família e a Lauren de mim? O que a Cassie fará quando souber? Eu tenho de lhe contar, mas ela não vai reagir bem, eu conheço-a, sei que ela me vai matar ou pelo menos tentar. Eu não lhe posso contar, é a única maneira dela confiar em mim mas se eu não lhe contar como posso explicar-lhe o plano dos Outros para ajudá-la a salvar o irmão?

Quando a encontrei pensei para comigo mesmo: ‘’Um dia de cada vez’’, mas está a ser mais complicado do que pensava…

…

Apesar de não conseguir dormir muito bem, e na verdade também não preciso porque sou um Outro portanto estou ‘’otimizado’’, acabei por adormecer abraçado à Cassie e durmo por duas ou três horas seguidas o que é quase um recorde para mim.

Quando acordo verifico se Cassie ainda está a dormir ou já está acordado. Ela ainda dorme.

E agora, levanto-me ou será melhor se ela acordar e eu ainda estiver ao lado dela? Sinceramente não sei mas só espero que as coisas continuem a ser como eram e é por isso que opto por me levantar e esperar que ela acorde na sala.

>Cassie

Acabei de acordar e sinto-me estranha, como se me faltasse alguma coisa. Tento recordar-me do que aconteceu no dia anterior e lembro-me da surpresa do Evan, do jantar delicioso de Natal, dos chocolates fenomenais que não entendo como é que Evan os conseguiu guardar sem comer durante tanto tempo e... do beijo!

Viro-me na cama e o Evan sumiu.

Estou profundamente irritada comigo mesma! Ele deve achar que sou uma parva, até já nem está aqui para não ter de me confrontar! Por outro lado a culpa é dele por ter sido carinhoso demais comigo e me ter feito confundir as coisas! O melhor é agir normalmente como se nada tivesse acontecido!

Levanto-me, ajeito o cabelo, visto mais um casaco e calço-me tal como faço todas as manhãs. Desço as escadas e o Evan está sentado no sofá da sala, com os braços apoiados nos joelhos e a fitar as mãos, será que está a pensar no nosso beijo? Ou melhor, o que será que ele pensou do meu beijo? Porque afinal fui eu que o beijei…

—Bom dia- digo quando chego ao fundo das escadas.

—Bom dia- responde ele encarando-me.

Ok, momento constrangedor no ar!

—Já tomaste o pequeno almoço?

Definitivamente não vou falar do beijo!

—Não… ham… eu estava à tua espera.

E definitivamente eu também não sou a única pessoa aqui que está envergonhada!

—Ok, então vamos comer?

—Sim, claro, vamos!- diz levantando-se e caminhando na direção da cozinha.

Começamos então a preparar o pequeno almoço, pequeno-almoço é como quem diz, porque estamos a comer enlatados visto que já se acabou a farinha e afins para fazer o pão.

E, ok, eu admito o ambiente está muito, muito estranho. Parabéns, Cassie! Estás no meio de uma invasão extraterrestre estiveste na merda durante uns meses sozinha e agora que estavas bem mediante as circunstâncias tinhas de estragar tudo, não é!?

—Bom, o que é que vamos fazer hoje?-pergunto assim que acabamos de comer e arrumar as coisas.

E sim, eu tenho noção que se ele já me achava parva quando eu o beijei agora deve achar ainda mais depois da minha atitude de ignorar tudo.

—Bem, logo à noite eu tenho de ir à caça, de resto o costume.

O costume, pois bem, ótimo! Que boa ideia, tirando a parte em que o costume significa nós passarmos o dia inteiro juntos a falar de tudo e de nada. Dos nossos momentos vergonhosos, das nossas histórias da infância, dos nossos sonhos, dos nossos filmes preferidos, dos nossos gostos musicais,…

Que belo dia devo ter pela frente!

…

Eu começo por lavar a roupa que apesar de nós não lavarmos muitas vezes já temos algumas peças acumuladas, enquanto ele trata de rasgar mas lenha para depois acender a fogueira para secar a roupa, aquecer a casa e fazer o almoço.

Até aqui tudo bem porque nos mantivemos à distância o pior veio depois quando fomos os dois tratar do almoço pois foi como ao pequeno almoço e mantivemo-nos em silêncio o tempo todo o que é bastante desconfortável.

Desta vez não treinamos a pontaria pois o Evan diz que eu já estou a ficar boa e ele não quer gastar muitas munições. Ok, ótimo! Menos uns momentos constrangedores!

Vocês já devem estra a imaginar o quão péssimo estava ser o meu dia mas o pior ainda estava para vir, sabem aquela amiguinha das mulheres que nos visita uma vez por mês? Essa mesma, a menstruação! Decidiu fazer mais uma das suas visitas! Olhem só que bom…

Já é segunda vez que me vem desde que eu estou em casa do Evan mas da outra vez ainda tinha alguns tampões e encontrei alguns pensos na casa de banho, mas agora estou a usar o último portanto como devem calcular tenho de arranjar mais rapidamente e a única maneira de consegui-los é falando com o Evan!

Tipo, merda! Porque é que não foi uma mulher a salvar-me? As coisas, todas as coisas, ficariam bem mais fáceis.

E agora vocês perguntam-se, vais falar com o Evan sobre isso? E eu respondo sarcasticamente: tenho outro remédio!?