''I don't cry for my self.

I cry for the Cassie that's gone''

>Evan

Acabámos de almoçar e arrumar a cozinha e visto que não vamos treinar mais uma vez a pontaria, eu sento-me no sofá folheando pelo milionésima vez a mesma revista, mas Cassie sobe para o quarto.

O ambiente está estranho, nenhum de nós falou sobre o beijo e eu sei que ela se culpa por me ter beijado, eu queria-lhe dizer que eu também a teria beijado caso ela não o tivesse feito, queria contar-lhe que gostei do beijo e que gosto ainda mais dela, mas não sei como o fazer e talvez isso tornasse as coisas ainda mais estranhas. Se é que isso é possível...

O meu Décimo Segundo Sistema avisa-me que ela está a descer as escadas.

—Hum, Evan- diz- Eu preciso de falar contigo.

Merda, ela vai falar do beijo!

—É que... hum... Evan, estás a ouvir!?

—Eu, hã, sim! Claro...

—Bom, é que sabes... veio-me o período e eu já não tenho mais tampões nem pensos, então eu... estava a pensar se podíamos ir até a algum antigo supermercado ver se encontramos alguma cena...

—Ahhh, sim podemos, claro!...

Eu não escondo o meu alívio, por outro lado Cassie está bastante envergonhada, apesar de ser a coisa mais natural do mundo uma rapariga menstruar-se.

—Então... ham... podemos ir agora ou...

—Sim, vamos- digo levantando-me.

Pegamos nos nossos casacos, nas armas e ainda numa mochila para trazer as coisas que encontrarmos e acharmos úteis e saímos de casa.

Andamos um bocado e eu decido meter conversa.

—Estás com dores?- ok, talvez não tenha sido a pergunta mais indicada visto que ela se sente envergonhada ao falar do assunto.

—Não, eu nunca tive muitas dores.

—Sorte a tua então.

—É.

—O supermercado mais perto fica a 2 horas a pé, mais perto de minha casa só havia mesmo uma mercearia mas os donos tiraram tudo de útil de lá, entaiparam as janelas e as portas e depois quando as pessoas tentaram entrar acabaram por destruir tudo.

—O que o desespero não faz às pessoas, vamos começar a matarmo-nos uns aos outros. Mas não sei porque não fico tão chocada, não é nada que eu já não tenha feito.

—A culpa não é tua Cassie.

—Qual é a diferença entre nós dois, hein? Ambos encontrámos alguém à beira da morte mas a diferença é que eu acabei com ele e tu optaste por me salvar!

''Mas é diferente! Porque eu sou um Outro!''

Era isto que eu lhe devia dizer mas não posso...

—Cassie, são circunstâncias diferentes. Tu estavas desmaiada e fraca, não representavas qualquer perigo para mim, e o homem do cruxifixo podia muito bem ter uma arma escondida e matar-te a qualquer momento.

—Até pode ser verdade mas se nós não podemos confiar uns nos outros como vamos conseguir parar os Outros e reaver a Terra?

—E se pensássemos numa coisa de cada vez? Começarmos a entrar em pânico não nos vai ajudar em nada.

—Olha desculpa se eu não consigo estar sempre calma como tu!

Prontos, lá está ela na defensiva! Este outro lado dela irrita-me, às vezes ela age como se fosse a única humana à face da Terra que sofreu terríveis perdas com tudo isto. Mas como sempre decido ignorar, não vale a pena começar uma discussão que não nos vai levar a lado nenhum...

Passados mais uns minutos chegamos perto dos primeiros edifícios da vila mais perto de minha casa.

—Estamos quase, agora seguindo esta estrada sempre em frente quando chegares a um cruzamento onde tinha um banco viras à direita e encontras o supermercado uns metros mais à frente.

—E porque é que me estás a dizer isso? Não vens comigo?

—Claro que vou! Mas se acontecer alguma coisa tu corres para lá, o supermercado será o nosso ponto de encontro.

—Então se acontecer alguma coisa é suposto eu deixar-te para trás e fugir!?

—Cassie, eu sei me virar sozinho. E assim pelo menos um de nós tem probabilidade de sobreviver e resgatar o Sam.

—É, convenceste-me.

>Cassie

Continuamos a andar e interiormente eu rezo para que não aconteça nada, que nós consigamos chegar ao supermercado, pegar o que precisamos e voltar para a quinta tranquilamente.

Mas como devem calcular não é bem isso que vai acontecer...

—Espera!- ordena-me o Evan.

Ok, os problemas vão começar.

—O que f...

—Vem- interrompe-me ele.

Não estou a entender absolutamente nada mas ele está a puxar-me e eu começo a ouvir tiros portanto corro atrás dele, o que não tem nada a ver com o que combinámos antes.

Corremos até a um antigo prédio e subimos até ao primeiro andar, e aproximamo-nos de janela que estava entaipada, mas dava para ver para o exterior.

—Não era suposto eu correr até ao supermercado!?

—É, mas se tu fosses naquela direção os tipos que atiraram contra nós apanhavam-te facilmente. Eles estão ali, olha- diz ele apontado para o topo do edifício do outro lado da rua.

—E como é que reparaste que eles estavam lá?- pergunto desconfiada.

—Vi movimentos e quando te mandei parar eles voltaram a mexer-se, e pelo sim pelo não daqui temos uma boa visão para abatê-los.

—O quê!? Nós vamos matá-los? Eles são Outros?

—Não sei, duvido porque se fossem não tinham falhado.

—Então porque é que os vamos matar?- pergunto incrédula dando os passos atrás, ainda mais desconfiada.

—Cassie- ele diz aproximando-se de mim e segurando-me nos ombros para me obrigar a encará-lo- Se nós não o fizermos eles vão nos matar a nós, ou então seguir-nos até à quinta, nós não podemos arriscar. Não há outra solução, eu queria que houvesse mas não há- o olhar dele transmite-me segurança.

—Ok, então o que é que é preciso de fazer?- dêem as boas vindas à Cassie prática!

—Vais te posicionar aqui e se algum deles tentar subir tu disparas, ok?

—Hum...

—Certo e eu fico ali na janela e disparo contra eles, eu contei pelo menos três.

—Ok.

Evan vai para junto da janela e passado um bocado começa a disparar. Felizmente ninguém tenta vir ter connosco portanto não tenho que disparar contra ninguém.

—Eu já abati três, não sei se são mais se não, de qualquer das maneiras não podemos ficar aqui.- diz-me passados uns minutos.

—Ok- eu estou tão aterrorizada que nem sei o que dizer.

—Tu estás bem?

—Sim, estou. Vamos? Quanto mais depressa nos despacharmos melhor!

Digo isto para não o preocupar porque na verdade não me estou a sentir nada bem e precisava mesmo que ele me envolvesse nos seus braços fortes para me acalmar. Mas tenho de manter o foco.

Seguimos então rumo ao supermercado mas junto aos edfícios e por vezes entre eles, demorando mais tempo do que o planeado devido ao cuidado que temos de ter para ninguém nos ver. Chegamos ao cruzamento do banco e até aqui tudo bem, até que ouvimos um disparo que parece acertar bem perto de nós.

—Corre!- grita-me o Evan

Bom agora deve ser para seguir o plano.

Não exito em correr e oiço vários tiros, provavelmente alguns são do Evan, só espero que ele tenha mesmo razão e que ele realmente se consiga safar.

Chego ao supermercado num instante e com a arma em riste percorro o local que não era muito grande.

Após observar o local e constatar que não está lá ninguém não hesito em pegar no que preciso: tampões e pensos.

Depois passo para os toalhetes que ainda haviam algumas embalagens e visto que dá muito trabalho preparar um banho nesta altura é o melhor que se tem. Pego também uns sabonetes, papel, álcool para desinfetar feridas, milagrosamente encontrei um quilo de farinha intacto, peguei também em fermento, sal, uma lata de feijão, velas, fósforos e foi só porque o resto estava totalmente revirado e sem nada que se aproveitasse.

E estava tudo bem até ouvir um barulho na entrada do supermercado, primeiro assusto-me mas depois oiço a voz dele.

—Cassie- chama-me não muito alto.

—Evan, está tudo bem?- respondo indo ao seu encontro.

—Sim, era só um e já estava ferido.

—Ok, eu também já peguei no que precisava e no que ainda estava em bom estado, vamos embora?

—Eu não sei já está a escurecer e fica mais difícil se alguém nos apanhar.

—Então vamos passar aqui a noite?

—Sim, num desses prédios.

—Ok, vamos?

—Sim.

Confesso que a ideia de passar aqui a noite não me agrada nada. As cidades, ou neste caso vila, são perigosas é onde há mais sobreviventes, mais possibilidade de contrair alguma doença, o cheiro é horrível devido aos corpos, ao lixo e aos esgotos. Vêem-se corpos por todos os cantos e muito provavelmente vamos ter de matar mais alguém.

Mas neste momento é mais seguro ficar aqui, e é só uma noite, vai passar num instante e amanhã estaremos de volta à quinta.

Ficamos num antigo apartamento no centro da vila com uma porta ainda em bom estado para podermos fechá-la e ouvirmos se alguém entrar. Instalamo-nos num quarto onde temos também uma janela totalmente entaipada e ainda forrada com cobertores o que não permitirá que a luz das velas se veja de fora, o único problema é mesmo o frio. A temperatura desceu imenso e agora estamos parados, apesar da cama ter vários cobertores acho que vamos ter de dormir agarradinhos para não termos frio. Que problema!

E estava tudo a correr bem até que…

—Evan!!

—Shiu Cassie não grites! O que é que foi?

—Tu... tu levaste um tiro!- exclamo quando ele abre o casaco para ficar mais à vontade o e vejo a mancha de sangue na camisola dele.